sábado, 22 de fevereiro de 2014

Vargas e a FEB

Desde a deposição de Vargas, os golpistas usaram a FEB como arma de propaganda contra Getúlio. Criaram uma serie de mentiras a respeito da situação do exército, dos intuitos da FEB e do tratamento dado aos pracinhas quando de seu regresso.

Sobre a situação do exército na Éra Vargas.

Os estoques de armas do exército brasileiro, se encontravam abarrotados. O Brasil possuia estocado nos quartéis cerca de 400 mil fuzis provenientes das importações de 1894, 1908, 1922 e 1935 para reservistas em caso de mobilização. Sendo os Mausers M1935 de fabricação alemã e nacionalizados, fabricados pela Itajubá, o de uso padrão do exército. 

Hotchkiss 1914 de uso do exército brasileiro
Também como principal armamento do arsenal da infantaria, contava-se com a Hotchkiss M1914 de fabricação francesa, de emprego em trincheiras e alvos anti-aéreos. 

A cavalaria usava a Hotchkiss M1922, uma metralhadora leve. 

De modo que o exército ao menos até o início da II Guerra, se encontrava de posse de armas atualizadas e muito bem armado. 

Com o frenético desenvolvimento e melhorias de novas armas no curso da II Guerra sim poderíamos dizer terem ficado obsoletas. Contudo, na frente de combate na Itália, os brasileiros receberam e lutaram com armas defasadas, como a ultrapassada Springfield(da I Guerra). Somente já quase ao final de sua participação recebeu armas melhores, ainda sim inferiores as utilizadas pelos alemães.
Vargas prestigiando exercício militar
A guisa de comparação nenhuma fazia frente a metralhadora MG42 alemã (apelidada de "Lurdinha" pelos brasileiros), mesmo a M1919A6 estadunidense, entregue somente em fins de 1944 para 45 era de desempenho inferior e bem mais pesada, por isso só usada em trincheiras, imprestáveis para a guerra de movimento. Ou seja, se se acusa os brasileiros de terem armamentos defasados, esse quadro não se alterou muito na frente italiana e ainda sim foram capazes arrancar vitórias de uma experiente tropa alemã melhor armada.

Das Razões do Envio de Um corpo Expedicionário para a Itália.

A FEB  não foi para Itália lutar contra o nazismo, pela liberdade e a "democracia", como comumente fazem crer..... a maioria esmagadora dos pracinhas ignoravam por completo as razões políticas, e mesmo a cúpula das Forças Armadas, eram simpatizantes do nazi-fascismo. O envio de um corpo expedicionário, teve como objetivo principal a atualização da doutrina militar brasileira.
Poucos soldados, porém, faziam ideia dos motivos que os haviam levado a combater alemães, o que preocupava os comandos pela ausência de motivação adequada de luta” - César Ferraz.
A II Guerra inaugurou um novo tipo de guerra, dita Guerra de Movimento em contráste a defasada Guerra de Posições ou de Trincheira da doutrina militar francesa. 

Essa inovação alemã, de guerra de movimento, para qual nem franceses, nem ingleses e muito menos os ianques estavam preparados no início do conflito, os fez serem levados de roldão pelos alemães com derrotas militares aviltantes. Apenas depois de sofrerem enormes reveses conseguiram se adaptar a nova realidade. 

Inicialmente a unidade expedicionária a ser criada se destinava a ocupação da Guiana Holandesa, cogitou-se também a francesa, por estarem seus respectivos países (Holanda e França) sob ocupação nazista e o receio que se utilizassem, das até então colônias, como base de apoio para ulterior ataques a países americanos, notadamente EUA e Brasil. 

Vargas recusou a proposta, para que não houve-se dispersão da tropa. Com tropas estadunidenses atuando em território brasileiro seria temerário retirar efetivos para atuar em outro cenário bélico. Ademais, a grande preocupação de Vargas era com a Argentina e as colônias alemãs, italianas e japonesas no Brasil. Vargas sabia que o serviço secreto nazista estava infiltrado nas colônias de imigrantes, inclusive na Ação Integralista, oque motivou sua dissolução, com o próposito de sub-elevar a porção sul do Brasil com eventual apoio militar da Argentina que tinha interesses nos portos brasileiros do sul (Tubarão, Rio Grande) posto carecer de portos de alto-calado. Tudo isso já foi confirmado por documentos "secretos" vindos à tona.  

Não foi por acaso que Getúlio condicionou sua entrada na guerra, além da consecução da CSN a uma forte reestruturação militar, adquirindo 350 tanques de guerra M3 Stuart, logo deslocados para as fronteiras no sul do Brasil.

Tanque M3 Stuart. Não foi usado na Itália
 Assim, o envio de uma força expedicionária para Itália teve como condão a atualização da doutrina militar em um emprego prático. Sem se descuidar da defesa do País, o efetivo da FEB foi relativamente pequeno, adequado a uma unidade de treinamento, com recrutas que não desfalcassem o exército. seguiram desarmados para Itália por 3 razões:

  1. não desguarnecer as tropas locais; 
  2. porque em tese receberiam armamentos mais modernos(oque não ocorreu durante grande parte da campanha) e; 
  3. Por uma questão logística. Levar armas significaria um gasto e uma operação logistica muito maior.

Assim, sem se descuidar da defesa nacional, atualizando e equipando as forças Armadas com oque de havia de mais atual foi que se deveu o envio da FEB para a frente italiana. 

"Farda da FEB seria igual a dos nazistas" 

Farda, cinza, usada pela FEB.
Outra mentira propagada pelos liberais e marxistas. Sobre a farda da Força Expedicionária, apenas a cor, cinza, se assemelhava, e ainda sim não chegou a ser substituída, os soldados passaram a usar a Jaqueta M1, de cor Cáque, do exército dos EUA para diferenciar a longa distância e também por causa do inverno. Lembrando que o Brasil levou casacos de frio também, ao contrário do que se diz que o Brasil não teria levado roupas de inverno, apenas por serem os casacos também cinza não se usou na frente de batalha. Eis o uniforme usado pela FEB:

De mencionar ainda a completa desorganização logística das forças do EUA, que não proviram logisticamente a FEB, que era sua função. Atrasando remessas, quando entregues, fora de tempo, com materiais insuficientes e muitas vezes já usados..... quando não ultrapassados.


Combinação mais comum usado pelos pracinhas

A Desmobilização da FEB e a Queda de Vargas.

Com o retorno da Força Expedicionária ao Brasil, a cúpula militar que fora para Itália bem como a que havia ficado no Brasil foram aliciados pelos EUA com ordens de depor Getúlio Vargas. documentos da CIA revelam que com a morte de Roosevelt, ficou aberto o caminho para deposição de Vargas.

Getúlio era muito popular entre os pracinhas, e concomitante ao desembarque das tropas no Brasil e sua recepção pelo próprio Vargas em pessoa, ocorria a Campanha Queremista, que foi prontamente aderida pelos pracinhas.  Tendo inclusive muitos participado de comícios pró-Getúlio.

recepção aos pracinhas ainda com Vargas
Isso era um problema para a cúpula militar que já tinha em mente depor Vargas, temiam também que ocorrendo uma cisão, essa nova unidade "emergente", a FEB, tomasse seus postos já que se encontravam em franca conspiração golpista.
“Durante muito tempo acreditou-se que Vargas temia a volta dos soldados, que poderiam apressar o fim do seu regime. Mas as maiores desconfianças partiram das principais autoridades militares brasileiras, os generais Dutra e Góes Monteiro, e de setores políticos que teriam a perder com a livre expressão política dos febianos” - César Ferraz.
Outro que desmascara a farsa propagada pelos liberais é Dennison de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que trabalha o tema, entre outros, na pesquisa atual Reintegração social do ex-combatente no Brasil: o caso da Legião Paranaense do Expedicionário (1945-1980):
“A FEB não era bem-vinda por boa parte dos membros do Exército, os militares de carreira que conseguiram, de alguma forma, escapar da ida à guerra. O envio de expedicionários, os cidadãos-soldados, era motivo de piada nos quartéis. Quando eles voltaram com prestígio popular, muitos sentiram que poderiam ‘ficar para trás’ em suas carreiras e se iniciou uma conspiração surda da maioria que temia ser ultrapassada em suas promoções e cargos” - Dennison de Oliveira
“Havia temores políticos: a ameaça que representava para o ‘Exército de Caxias’ esse novo tipo de força militar, mais profissional, liberal e democrático; o medo de que os oficiais febianos pudessem se tornar o fiel da balança político-eleitoral e fossem cooptados pelos comunistas; acima de tudo, temia-se que os expedicionários, entre os quais Vargas tinha grande popularidade, pudessem apoiá-lo e empolgar a população para soluções diferentes daquelas do pacto conservador das elites políticas para a sucessão de Vargas” - César Ferraz.
Um exemplo desse medo foi o veto à distribuição de medalhas para todos os soldados pelos americanos. Afinal, poderia ser “fonte de vexação” para os militares de carreira que haviam ficado no Brasil e teriam que medir forças políticas e profissionais com militares moldados em combate.
“Havia uma flagrante má vontade para com a FEB por autoridade do governo e muitos militares temiam ser preteridos nas futuras promoções da carreira pelos oficiais e praças expedicionários que podiam exibir experiência de guerra” - César Ferraz.
Diante dessas suspeitas a FEB foi rapidamente desmobilizada, negado promoções, completamente postos na reserva relegados ao ostracismo, perdendo uma imensa oportunidade com soldados com experiência de guerra para modernização do exército objeto para qual Getúlio destinou a FEB. Pondere que deposto Getúlio nada foi feito pelos veteranos da FEB, mesmo após o Golpe de 64, somente com a constituição Federal de 88 foram reconhecidos direitos expressos aos veteranos da Campanha.

Em situação ainda pior e mais desesperadora, foram legados aos "soldados da borracha" que ficaram completamente abandonados no imenso vale amazônico em um ambiente mais mortífero do que as frentes de batalha no norte da Itália. Algo que deveria ter se desdobrado em uma magnífica ocupação racional das terras oestes do Amazônas, operando-se uma reforma agrária tal como feita na colônia agrícola de Ceres em Goiás, um dos mais exultosos modelos de ocupação do espaço territorial brasileiro.

Mais essa é outra história....


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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Posições do Castilhismo-Trabalhista.

CASTILHISMO

01. Capitalista anti-liberal, refratário ao liberalismo econômico.
02. A favor do Estado intervencionista e regulador da economia.
03. Democrático, a favor de mecanismos de participação direta como Plebiscitos e Referendos populares.
04. Contra o Sistema Representativo Liberal, anti-oligárquico.
05. Pela implantação do Estado Positivo, onde as decisções políticas são substituídas por decisões técnicas.
06. Meritocrático, os cargos públicos devem ser ocupado pelos mais competentes, os mais qualificados. Anti-corporativismo.
07. Pela defesa e apoio intransigente da indústria nacional.
08. Pela defesa dos direitos trabalhistas.
09. Promotor da ciência e tecnologia.
10. Defensor da cultura brasileira.
11. Militarista, norteado pelo princípio da não-intervenção e respeito a autonomia dos povos.
12. Federalista-Centralizado, tal como somos, um Estado federal com poderes concentrados na União.
13. Humanista, toda política de Estado gira em benefício da pessoa humana, do seu bem estar social e sua integridade físico e mental.
14. Desenvolvimentista, o desenvolvimento de uma civilização auto-sustentável.


Obs.: Não nos situamos nem à "esquerda" nem a "direita". Essas designações só fazem sentido dentro de um Estado Liberal, o qual deve ser abolido.

CASTILHISTAS
Júlio de Castilhos
Floriano Peixoto; Pinheiro Machado
Goulart, Vargas e Brizola.




domingo, 9 de fevereiro de 2014

Por uma Base Aero-Naval em Trindade



A descoberta dos campos petrolíferos brasileiros em seu pré-sal ativou a cobiça do eixo imperialista(EUA, Inglaterra) sobre o Brasil com a reativação da IV Frota. Mas não só o pré-sal esta na mira dos EUA/Inglaterra, o Golfo da Guiné também tem se convertido em um importante campo de extração petrolífera, bem como o litoral angolano e o leito submarino das ilhas sub-antárticas  já começam ser exploradas pela Inglaterra ao arrepio do Tratado Antártico. Sem mencionar que a posse dessas ditas ilhas sub-antárticas(Geórgia do Sul, Orcadas do Sul e ilhas Sandwich, além das Malvinas) dão o virtual controle à Inglaterra da passagem do Atlântico para o Pacífico.

Diante desse quadro a ilha da Trindade ganha especial relevância na defesa dos campos petrolíferos brasileiros, a instalação de uma base aero-naval na ilha se constituiria em um posto avançado de defesa e controle, capaz de manter à distância eventuais forças hostis. 

Não é de hoje que a Ilha da Trindade é cogitada para vir a ser uma base naval, em 1950 ela foi objeto de uma expedição científica com propósito de instalação de uma base aeronaval. Antes, no curso da II Guerra, pelo seu abandono, chegou a ser usada por submarinos alemães como base de reabastecimento. 

Em 1980, a ilha voltou a ser objeto de atenção. Com o envio de engenheiros de uma empreiteira brasileira encarregados de preparar o estudo de implantação da base aero-naval. Segundo notícia da época:

“O resultado esta contido em três volumes que traçam o perfil, em etapas de um poderoso centro de vigilância eletrônica e alerta avançado. Na primeira fase, a intenção é construir uma atracadouro capaz de receber navios de grande deslocamento (um porta-aviões, por exemplo, ou cargueiros), alojamentos, depósitos, instalações de detecção aérea e marítima de longo alcance (com raio de cobertura da ordem de 400 a 1000 Km) e uma pista para pousos e decolagem com 1500 metros, mas que deverá ter pelo menos 2800 quando concluído o terceiro estágio. Inicialmenteo aeroporto deverá poder receber aviões de carga, tipo Hércules C-130; mais tarde, provavelmente aeronaves de combate e, com certeza, de patrulha.”

Em 82 a ilha foi visitada por técnicos estadunidenses que teriam considerado o projeto brasileiro para aproveitamento militar da área como “perfeito”. Os EUA chegaram a oferecer financiamento para consecução da base, no valor de US$ 300 milhões(na época), com fito, velado, de descapitalizar o programa nuclear brasileiro, direcionando verbas para a construção da base ao passo que o programa nuclear ficaria em um 2º plano, sem verbas.

Recentemente a Marinha converteu Trindade em uma Estação Científica da ilha da Trindade(ECIT). A iniciativa é tímida.

 A Posição Diplomática Brasilera

A posição estratégica do Brasil sempre foi ter o Atlântico Sul como área desmilitarizada. Oque explica a cautela da Marinha em converter Trindade em "Estação científica". Contudo, com a conversão do atlântico sul em uma área petrolífera, a Inglaterra e os EUA cada vez mais militarizam a região: A Ilha de Ascenção, sob posse da Inglaterra, é uma base militar permanente de monitoramento do Atlântico e da América do Sul, foi desse posto que partiram as ações de espionagem dos EUA sobre o Brasil divulgadas pelo wikileaks. A IV Frota foi reativada e a Inglaterra tem militarizado as malvinas posicionando aviões de caça de forma permanente na ilha bem como despachando seus submarinos nucleares para região. 

Conjectura

Diante desse cenário, não há como permanecer com o mesmo discurso nem muito menos deixar desguarnecido nossas ilhas oceânicas que se constituem em naturais postos avançados de defesa. 
No caso da ilha da Trindade, ela se encontra a 1.200 Km da base aeronaval de São Pedro da Aldeia(RJ). Os caças Gripens a serem construídos no Brasil, cobrem um pouco mais dessa distância em combate(1.300 Km) de modo que essa conexão Base de São Pedro e Trindade se complementam de forma perfeita.

Trindade também é fundamental para operação conjunta com o porta aviões brasileiro. Um porta aviões é um vetor de ataque por excelência, porém, extremamente vulnerável, de modo que exige uma considerável força em seu entorno atuando em sua defesa. A base aeronaval da Trindade possibilitaria esse controle sobre toda área de atuação do porta aviões nos campos petrolíferos brasileiros cobrindo, inclusive, sua retaguarda quando esse atuasse mais além da ilha de trindade, possibilitando o virtual controle de ponta à ponta da costa africana à brasileira.