domingo, 23 de outubro de 2016

Nacionalidade e Nacionalismo.

"Um Estado gigante, um verdadeiro continente,
uma nação-continente!"

Pierre Deffontaines,
proeminente geográfo francês
ao se referir ao Brasil.


Ante o deturpamento generalizado do conceito de nacionalidade, devemos nos ater ao conceito de nação e por desiderato de nacionalismo.

Nação como denuncia a própria terminologia significa “nascidos de...”, oque compreende uma ascendência comum. Nem precisaríamos recorrer ao termino grego “genos”, que também remete a uma ancestralidade comum.  

Na Gália, Júlio César reporta, que todos os gauleses afirmavam descender de Dis PaterOs irlandeses guardaram essa tradição mítica e referiam à Galiza, como o berço do qual descendiam. Cria-se que Breogan era o avô-divino da teuta.

Para os celtas, mesmo os filhos adotivos, não provindos diretamente dos laços matrimoniais, eram tidos como parte da teuta(nação), por possuírem essa descendência comum.

No atual hino da Galiza, seu autor, Pondal, alude a Breogan como mítico progenitor de todos os galaicos. A "nação de Breogan", de todos aqueles com ascendencia em Breogan, e por conseguinte, galaicos, seriam todos os seus descendentes. 

De modo que, o conceito de "nação", remete a uma descendência comum de algum personagem mítico, ou sanguíneo (o genitor)". Na antiguidade a transmissão cultural: valores, crenças, línguas, etc.... estavam intrinsecamente interligados a descendência, porque assim se operava a transmissão cultural, de forma orgânica. Mesmo povos eventualmente submetidos, tendiam a se integrarem e assim eram absorvidos.

De sorte que o deturpamento ideológico atual, de “nacionalismo” no Séc. XX, é flagrante, em completo desalinho com sua concepção original. Especialmente na idéia difundida da equiparação do conceito de “nação” a um padrão racial. Oque são coisas distintas.

Por “raça” se compreende um padrão homogêneo de caracteres físicos de um agrupamento humano. Quando a antropologia passou a se debruçar com mais vigor sobre o assunto, vários estudiosos da época, já apontavam que os grupos raciais humanos, em especial os da Europa, já se encontravam amplamente misturados.

Então se levarmos em conta a “raça” como equivalente a um elemento definidor da nacionalidade, para efeito de lógica, mesmo recuando no tempo e no espaço, no início das formações nacionais da Europa. NENHUM! Nenhum país atualmente subsistiria como entidade nacional. O caso da Alemanha é sintomático, a Baviera, de raça alpina(majoritariamente, havendo outros elementos presentes), contraposta ao norte saxão. Sem levar em conta as profundas diferenças culturais de credo e língua, completamente antagônicos. De mencionar ainda o berço da “nacionalidade alemã” com a antiga Prússia, báltica, sem qualquer ligação com os germanos. Falamos da Alemanha apenas por uma questão simbólica, de sempre mencionarem-na como exemplo de um corpo nacional. Itália, França, Inglaterra, Espanha, Rússia, etc.... são casos ainda mais gritantes.

Reiteramos que a definição da nacionalidade não se liga a um padrão racial homogêneo, que é um deturpamento ideológico surgido em fins do Séc. XIX. Mas sim, a uma origem comum, consanguínea. Oque não necessariamente resulta em um padrão racial.

É bem possível, e natural, que um agrupamento humano, estabilizado, que não sofra influxos externos, venha constituir com o tempo, e de forma orgânica, um padrão racial homogêneo. Sendo isso conseqüência e não fator original de sua unidade. 

Contudo, não basta a consanguinidade. O fator decisivo para configuração de uma nacionalidade reside na sua unidade política, Assim pois, se explica as diversas tribos celtas, nunca terem constituído uma nação, pois lhes careceram de unidade política, que lhes conferissem esse status quo.E no que pese, antes dominarem praticamente toda Europa continental, todas caíram sob julgo de outros povos, com exceção de Portugal, que se constituiu como nação, e veio a ser o único país de orígem celta com soberania. A Irlanda, só recentemente consegue ascender a soberania e mesmo assim, não conserva seu nome de orígem "Eire", tomará o nome dado por seus algozes ingleses "Ireland". Eslavos, germanos, helenos.... são todos povos que dispõe de uma orígem comum, mas se encontram pulverizados em diversas nações, isso porque reiteramos, o fator decisivo para a nacionalidade reside na unidade política. 

Alguns autores, falam da necessidade de haver consciência da nacionalidade. Somos de acordo, apenas ponderamos que essa "consciência" se materializa mediante uma unidade política. 

Finalmente aplicando esses conceitos aos brasileiros, vemos de forma muito evidente como os brasileiros constituem uma nacionalidade mais do que de quantas haja na Europa ou no resto do planeta. A primeira formação nacional das Américas! Anterior a imensa maioria das atuais formações nacionais europeias.

Todos os brasileiros, praticamente em sua esmagadora maioria, tem como ancestralidade comum aquela proto-célula luso-tupi que lhes deu a base da nacionalidade. Um Estado próprio, um território próprio, uma unidade política incomum para um país de proporção continental, que nem Rússia, nem EUA, nem tão pouco Canadá detém. 

Este Estado do Brasil que desde o Séc. XVI é visto como unidade política, com armas e brasões próprios. Mesmo a política mesquinha da Metrópole quando tenta bipartir o Brasil em dois, o Estado do Maranhão, todo aquele norte, com o Brasil ao sul, não passam de atos infecundos, porque a unidade do Brasil já estava feita e a vida nacional segue normalmente. 

As levas de imigrantes despejadas no Brasil, ao contrário do que sucedeu nos EUA, Argentina e Uruguai, nunca suplantaram a população original, a ponto de se dizer na Argentina, que os seus descendentes dos heróis de 17, foram substituídos por gente outra estranha a sua história. No Brasil não, o contingente imigratório sempre foi ínfimo ao da população original. De se assinalar, que mesmo esse baixo contingente, logo em sua primeira geração se liga aos nacionais. No caso da imigração italiana, a segunda mais numerosa, 70% de italianos imigrados, em sua primeira geração, casam-se com brasileiras e 40% das italianas com brasileiros.  

A ressaltar que o maior corpo imigratório para o Brasil, de longe, foi o português, vindo depois italianos e em terceiros "espanhóis" sendo 80% desses galegos, daí a imigração espanhola ter passado tão desapercebida entre os brasileiros. Contingentes alemães, japoneses tão insistentemente repetidos pela boca de alguns, foram agrupamentos insignificantes. Basta comparar os números dos 3 maiores grupos imigrantes do Brasil (portugueses, italianos e espanhóis) aos dos EUA, para mensurar o quão ínfimo foram os corpos imigratórios para o Brasil. Mesmo a imigração italiana para a Argentina foi muitíssimo maior do que a ocorrida no Brasil.

Em suma, tudo isso apenas para ficar evidente que não houve impacto populacional na recente imigração para o Brasil. 

De mencionar ainda que alguém que analise a distribuição humana no Brasil, notará que determinadas faixas apresentam um maior ou menor grau de determinado biotipos humanos. A Faixa litorânea, que se estende de Pernambuco ao Vale do Paraíba em São Paulo, apresentará um maior número de biotipos mulatos, isso porque era zona canavieira, aonde se empregou mais amplamente o trabalho escravo. Oque não desnatura serem populações com mesma origem luso-tupi presentes em todo o território nacional, apenas variando em seu maior ou menor grau com outros contingentes. 

Tudo isso já foi amplamente dito e repetido por historiadores e antropólogos brasileiros e comprovado geneticamente. Sérgio Penna, geneticista, e profº da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, após realizar amplos estudos genéticos na população brasileira constatou que os brasileiros de diferentes regiões são geneticamente muito mais homogêneos do que se esperava. Segundo o geneticista Sérgio Pena:

“Pelos critérios de cor e raça até hoje usados no censo, tínhamos a visão do Brasil como um mosaico heterogêneo, como se o Sul e o Norte abrigassem dois povos diferentes. O estudo vem mostrar que o Brasil é um país muito mais  integrado do que pensávamos.”.


Ver também:

01. O Castilhismo como Materialização do Período dos "Cinco Bons Imperadores".
17. Uma Grécia nas Ribeiras do Atlântico Sul.