sábado, 7 de novembro de 2015

O Biotipo Antropológico Brasileiro, Seu Caráter e a Nacionalidade Brasileira

É preocupação ociosa e anticientífica pretender que o Brasil seja um dia habitado por um único tipo antropológico (um biotipo uniforme). Só os que, erradamente, configuram raça e nacionalidade idealizam para este país aquela utopia de unidade. Segundo Roquette Pinto, eminente antropólogo brasileiro, os tipos de raça branca poderão um dia por si só crescer e dominar todo país;

Roquette Pinto tendia a crer no futuro branqueamento da nacionalidade ou na estabilização dos ‘tipos antropológicos’ cada vez mais próximos aos Leucodermos (brancos). Roquette-Pinto não acreditava que os “tipos da raça branca poderiam um dia por si só crescer e dominar o país” sem a presença das “gotas de sangue amarelo e negro”, fundamentais para a “aclimatação ao nosso meio”,  "Os alpinos e mediterrâneos é fora de dúvida que se aclimatam muito bem sob os trópicos. Os nórticos já não se pode dizer o mesmo". (Roquette-Pinto, 1929, p. 147)

Na década de 1920, o censo apontava a constituição do país em: brancos, 51%; mulatos, 22%; cablocos, 11%; negros, 14% e índios, 2%.

Os ‘mestiços do Brasil’ tendiam ao branqueamento, conforme teoria bastante comum no país, visão compartilhada por Roquette-Pinto. Neste caso, o pressuposto do antropólogo seria justificado pela análise mendeliana dos ‘cruzamentos raciais’, que apontavam boa parte das características antropológicas dos “brancos brasilianos” como fatores hereditários dominantes.

A mesma tendência teria ocorrido em relação aos Xanthodermos (Caboclos), sertanejos que, segundo Roquette-Pinto, tendiam a se aproximar dos Leucodermos (brancos) em muitos aspectos. É importante mencionar que, ao longo dos anos 1910, esse tipo antropológico foi alçado por Roquette-Pinto ao lugar de representante da nacionalidade. Seguindo Euclides da Cunha e toda uma geração de intelectuais que se formou na virada do século, o antropólogo definiu os sertanejos como uma “raça forte”, o elemento responsável por fazer a integração do litoral com o sertão (Lima et al., 2005; Santos, 2008).

Roquette se posicionava contra a tese da degeneração racial do Brasil. Arguiu, a contrapelo, a frase enigmática de Euclides da Cunha em Os sertões: progredir ou desaparecer, enfatizando que não iríamos desaparecer em função da miscigenação. Para Roquette Pinto, os sertanejos, os índios e os mestiços que viu no interior do planalto central do Brasil eram representantes de um verdadeiro tipo de raça brasileira.

A nacionalidade devia ser buscada por dentro do Brasil, pelo interior, assim, como descreveu na obra Rondônia, reconhecida, por ele, como a filha caprichosa e sincera de sua dedicação intelectual. Uma
obra que pode ser considerada um divisor de águas da Antropologia Brasileira, uma terceira margem entre Os Sertões e Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Não foi escrito para satisfazer a preocupações literárias, nem traçado no aconchego de confortável gabinete, entre outros livros, à luz carinhosa de uma lâmpada, amortecida à feição das necessidades do trabalho... Foi nascendo pelas quebradas úmidas das serras, pelos caminhos marulhentos dos rios, nos areais desolados.

Contudo, não negava que as “raças humanas” poderiam efetivamente se diversificar, de modo que tanto os “atributos do corpo” quanto o “tipo cerebral de cada qual, não permitem que se as considerem no mesmo grau de semelhança”. De acordo com seus pressupostos, as raças se diferenciariam uma das outras. Nesse sentido, continuava ele: É inegável que há raças mais inteligentes; outras mais sentimentais e terceiras mais pertinazes. Cada raça teria suas qualidades e seus defeitos.

Nas primeiras décadas do século XX, antropólogos do mundo todo procuravam na psicologia das raças a explicação para a relação entre a biologia constitucional dos indivíduos e suas características mentais. Se, para a antropologia física deste período, ‘raça’ era definida enquanto um fato biológico, para a psicologia era uma questão de psicofisiologia humana (Bresciani, 2007, p. 275). Para muitos antropólogos, a ‘conduta moral’ e a ‘disposição mental’ era parte da natureza de cada um dos grupos raciais, de modo que não se poderia pensar na diferenciação dos ‘tipos antropológicos’ sem levar em consideração a classificação de seu ‘caráter psicológico’.

O antropólogo alemão Eugen Fischer, de quem Roquette Pinto foi um leitor entusiasmado, teria sido um dos primeiros a associar os estudos de antropologia física às questões da diferenciação dos temperamentos raciais. Anos depois, especialmente a partir de 1920, estudos como estes se tornariam frequentes no campo da antropologia, seja para auxiliar na classificação das ‘raças’ e dos ‘tipos nacionais’, seja para distinguir comportamentos morais e capacidades intelectuais (Richards, 1997, p. 69-70).

Assim como seus contemporâneos, Roquette-Pinto também associava o temperamento das raças às suas características fisiológicas. Embora se opusesse à ideia da ‘doutrina antropológica da desigualdade’, sua classificação dos ‘tipos psicológicos’ apontava para certas desigualdades de atributos constitucionais. Conforme escreveu na “Revista do Brasil”, no final dos anos 1910, o “conceito de hierarquia das raças, um dos temas prediletos do diletantismo científico”, não passaria de uma fábula que os países imperialistas haviam criado para justificar o domínio sobre os “povos negros e amarelos” (Roquette-Pinto, 1918, p. 34). 

Em uma consulta do Ministério da Educação e Cultura, quando do projeto de uma estátua do "homem brasileiro", feita a diversos pesquisadores e geneticistas, de um parecer sobre as características físicas do futuro homem brasileiro, “não de homem vulgar ou inferior, mas do melhor exemplar da raça”. A opção de Roquette Pinto recai sobre os leucodermos:

de preferência o moreno, que parece bem próximo do mediterrâneo, o branco mais facilmente aclimatado no país”.



Ethos Brasiliensis:
Resultado de um estudo realizado por Roquette-Pinto sobre as características psicológicas de 4 grupos.

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