domingo, 12 de dezembro de 2021

O Natal, de São Nicolau ao Vovô Índio, e uma Nova Proposta

 

Durante centenas de anos, cerca 1200 a 1500, São Nicolau foi o incontestável distribuidor de presentes nas celebrações que se fazia no seu dia, 6 de dezembro. O santo guardava algumas similaridades com as primeiras divindades indo-européias, o Saturno romano ou o nórdico Ódin, que aparecia como um homem de barba branca que tinha poderes mágicos, como, por exemplo, conseguir voar. Ele também se certificava se as crianças andavam na linha, recitavam suas orações e se comportavam bem. Até que no Séc. XIX surge a figura atual do papai noel, que mais tarde será difundido para o resto do mundo pela Coca-Cola. 

O Natal só passou a ser celebrado no século IV, pela mão do Papa Júlio I, que fixou a data de nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro, quando então se começou efetivamente a festejar esta data, que coincide com a Saturnália dos romanos e o Solstício de Inverno dos germânicos e celtas. Assim esses festejos pagãos foram cristianizados. Alguns países, no entanto, optaram por celebrar o Natal em seis de janeiro, data que depois foi sendo associada à chegada dos três Reis Magos.

A figura do "Papai Noel" vem de São Nicolau, santo grego, nascido 280 anos depois de Cristo e que foi bispo de Myra, uma cidade romana da Turquia. Nicolas não era nem gordo, nem alegre, mas criou reputação de ser explosivo, um rijo defensor da doutrina da Santa Igreja Católica durante a “Grande Perseguição”, quando as bíblias eram queimadas e os padres forçados a renunciar ao cristianismo sob pena de morte. Nicolau desafiou estes editais e passou anos na prisão antes de Constantino ter trazido o cristianismo para um lugar de destaque no seu império. A fama de Nicolau sobreviveu muito tempo depois da sua morte (a 6 de dezembro de algum ano desconhecido em meio do século IV) porque ele esteve associado a muitos milagres e a reverência à sua figura continua até hoje, mesmo para além da sua ligação ao "Papai Noel".

Nicolau ficou conhecido entre os santos porque ele era o padroeiro de muitos grupos, desde marinheiros até nações inteiras. Por volta de 1200, se tornou conhecido como padroeiro das crianças e distribuidor de presentes mágicos por causa de duas fantásticas histórias da sua vida. No conto mais conhecido, três jovens garotas foram salvas de uma vida de prostituição quando o jovem bispo Nicolau entrega em segredo, três sacos de ouro ao pai das moças, que estava endividado, para serem utilizados como dote. A outra história muito difundida na idade média, conta que: Nicolau entrou numa estalagem na qual o estalajadeiro havia morto três rapazes e feito picles com os seus corpos desmembrados, que guardava em barris no porão. O bispo não só descobriu o crime como também ressuscitou as vítimas. E assim se tornou padroeiro das crianças. 

Em locais em que ocorreram a reforma protestante como Inglaterra, Holanda e alguns reinos no que hoje é a Alemanha, santos como Nicolau deixaram de ser adorados. Na Inglaterra protestante a comemoração do Natal, chegou a ser proibida. De modo que a data foi alterada para a do dia de Natal em vez do dia 6 de dezembro. 

O Sinterklaas holandês:

Sinterklaas com seus ajudantes Zwarte Piet.
Os identitários acusam o papai noel holandes
de ser "racista".

Na Holanda, crianças e famílias simplesmente se recusaram a abdicar de São Nicolau como distribuidor de presentes. E levaram para a América, em Nova Amsterdam, atual Nova Iorque, o “Sinterklaas" (Santa Claus), onde a tradição perdurou. Mas nos primórdios da América, o Natal nada tinha haver com o feriado moderno. O feriado foi evitado na Nova Inglaterra, e noutros locais tornou-se um pouco como o advento pagão chamado Saturn Ália que outrora ocupou o seu lugar no calendário. O Sinterklaas holandês é representado vergando uma longa capa vermelha ou casula sobre um bispo branco tradicional alva e, um cajado de pastor. Ele tradicionalmente monta um cavalo branco, e carrega um grande livro vermelho em que registra se cada criança foi boazinha ou travessa no último ano. Sinterklaas tem como ajudante o Zwarte Piet ("Pete Negro"), um ajudante vestido em trajes mouros e com rosto negro. Zwarte Piet apareceu pela primeira vez na imprensa como o servo sem nome de São Nicolau em Sint-Nikolaas en zijn knecht ("São Nicolau e Seu Servo"), publicado em 1850 pelo professor Jan Schenkman em Amsterdam, em que apresentava imagens de Sinterklaas entregando presentes pela chaminé, cavalgando sobre telhados de casas em um cavalo cinza e chegando da Espanha em um barco a vapor, que na época era uma excitante invenção moderna. Talvez com base no fato de que São Nicolau historicamente é o santo padroeiro dos marinheiros (muitas igrejas dedicadas a ele foram construídas perto dos portos), Schenkman poderia ter se inspirado nos costumes espanhóis e nas ideias sobre o santo quando o retratou chegando via água em seu livro. Schenkman introduziu a canção Zie ginds komt de stoomboot ("Olhe ali, o barco a vapor está chegando"), ainda popular na Holanda. No entanto, a tradição parece remontar pelo menos ao início do século XIX. O vestido colorido de Zwarte Piet é baseado em trajes nobres do século XVI, quando a Holanda se encontrava sob domínio espanhol. Ele é tipicamente retratado carregando uma sacola que contém doces para as crianças, que ele joga ao redor, uma tradição supostamente originada na história de São Nicolau que salvou três meninas da prostituição jogando moedas de ouro pela janela à noite para pagar seus dotes. 

Diz-se que Sinterklaas veio da Espanha, possivelmente porque, em 1087, metade das relíquias de São Nicolau foram transportadas para a cidade italiana de Bari , que mais tarde passou a fazer parte do reino espanhol de Nápoles. Outros sugerem que a laranja tangerina, tradicionalmente presentes associados a São Nicolau, levou ao equívoco de que ele deveria ser da Espanha. Esta teoria é apoiada por um poema holandês documentado em 1810 em Nova York e fornecido com uma tradução em inglês. É a primeira fonte mencionando a Espanha em conexão com Sinterklaas . Pintard queria que São Nicolau se tornasse o santo padroeiro de Nova York e esperava estabelecer uma tradição Sinterklaas. Aparentemente, ele obteve ajuda da comunidade holandesa em Nova York, que lhe forneceu o poema original em holandês Sinterklaas. A rigor, o poema não afirma que Sinterklaas vem da Espanha, mas que precisa ir à Espanha colher as laranjas e as romãs. Assim, a ligação entre Sinterklaas e Espanha passa pelas laranjas, uma iguaria muito apreciada no século XIX. Mais tarde, a conexão com as laranjas se perdeu e a Espanha tornou-se sua casa.

Tradicionalmente, ele carregava também uma vara de bétula (holandês: ova ), uma vassoura de limpar chaminés feita de galhos de salgueiro, usada para bater em crianças travessas. Algumas das canções mais antigas dos Sinterklaas mencionam crianças travessas sendo colocadas na bolsa de Zwarte Piet e levadas de volta para a Espanha. Esta parte da lenda se refere aos tempos em que os mouros invadiram as costas europeias, e até a Islândia, para sequestrar a população local como escravos. Essa qualidade pode ser encontrada em outros companheiros de São Nicolau, como Krampus e Père Fouettard. Em versões modernas da festa Sinterklaas, no entanto, Zwarte Piet não carrega mais as ovase as crianças não são mais informadas de que serão levadas de volta para a Espanha na bolsa de Zwarte Piet se forem malcriadas. Tradicionalmente, o rosto de Zwarte Piet é considerado negro porque ele seria um mouro espanhol. Curiosamente no Brasil, pervive fragmentos, do "homem do saco" que levaria embora crianças danadas. Reminiscência da colonização holandesa? 

A Invenção do "Papai Noel":

Nas primeiras décadas do século XIX, uma série de poetas e escritores se empenharam em transformar o Natal numa celebração da família, ao recontar a história e fazer renascer São Nicolau.

O livro de 1809 de Washington Irving, Knickerbocker's History of New York, foi o primeiro a retratar Nicolau como um fumador de cachimbo, elevado em cima dos telhados num trenó voador, a distribuir presentes as crianças que se portaram bem e ramos aos que se portavam mal. Em 1821, um poema anónimo, ilustrado, intitulado “The Children's Friend" (O amigo das crianças) contribuiu mais ainda para a construção do Papai Noel moderno e o associou ao Natal. Aqui temos finalmente a aparência de um Papai Noel, pegaram a parte mágica da distribuição de presentes da história de São Nicolau, retiraram-lhe todas as caraterísticas religiosas e o vestiram com as peles dos distribuidores de presentes alemães desgrenhados. Essa figura trouxe presentes às crianças que se portaram bem, mas também trazia uma vara de bétula, referia o poema, que “orientava a mão dos pais para o uso quando o caminho da virtude for recusado pelos seus filhos.” O pequeno trenó do Papai Noel era puxado apenas por uma única rena. Em 1822, Clement Clarke Moore, professor de literatura grega em Nova York, escreveu "A Visit From St. Nicholas"(“Uma visita de São Nicolau”), também conhecido como “The night Before Christmas"(“A noite de Natal”) para os seus seis filhos, sem nenhuma intenção de contribuir para o novo fenómeno do Papai Noel. Tendo sido publicado, de forma anónima, no ano seguinte, e é esse até hoje, o Papai Noel com as características que conhecemos: amável e alegre que conduz um trenó, puxado, agora, por oito renas. É dele também a versão do bom velhinho entrar pela chaminé, inspirado nos antigos lapões, na Finlandia, que viviam em pequenas tendas, semelhantes a iglus, cobertos com pele de rena, sendo a entrada para essa “casa” um buraco no teto.

Depois de se estabelecer de forma consistente, o Papai Noel americano sofreu uma espécie de migração reversa para a Europa, substituindo os assustadores distribuidores de presentes e adotando nomes locais como Père Noël (França), Father Christmas (Grã Bretanha), Papá Noel (Argentina, Colômbia, Espanha, Paraguai , Peru e Uruguai),  Nikolaus ou Weihnachtsmann (Alemanha), Santa Claus (Estados Unidos e Canadá), Kerstman (Países Baixos), Babba Natale (Itália), Pai Natal (Portugal) e no Brasil "Papai Noel".

O "Véi da Coca" e sua difusão:

É amplamente divulgado que a Coca-Cola teria criado o atual visual do Papai Noel (roupa vermelha com detalhes em branco e cinto preto), mas é historicamente comprovado que o responsável por sua roupa vermelha foi o cartunista alemão Thomas Nast, em 1886 na revista Harper’s Weeklys. Até então, a figura do Papai Noel era representado com roupas de inverno, porém na cor verde ou marrom (com detalhes prateados ou brancos), tipico de lenhadores . O que ocorre é que em 1931 a Coca-Cola realizou uma grande campanha publicitária vestindo Papai Noel ao modo de Nast, com as cores vermelha e branca, o que foi bastante conveniente,  já que são as cores de seu rótulo. Tal campanha, destinada a promover o consumo de Coca-Cola no inverno (período em que as vendas da bebida eram baixas na época), fez um enorme sucesso  e a nova imagem de Papai Noel espalhou-se rapidamente pelo mundo. Portanto, a Coca-Cola contribuiu para difundir e padronizar a imagem atual, mas não é responsável por tê-la criado.

A Politização do Papai Noel pelo Mundo:

O Papai Noel mantém-se como uma figura politizada por todo o mundo. As tropas americanas espalharam pelo mundo, a sua versão do homem alegre, imediatamente nos anos que se seguiram à Segunda Grande Guerra, e foi bem recebido de forma geral, como um símbolo da generosidade americana na reconstrução das localidades assoladas pela guerra.

Na Rússia, Stalin não gostava do Papai Noel. Antes da revolução russa, o Avô Gelado (Ded Moroz) era uma figura privilegiada do Natal que adotou as características dos proto-pais-natais, como o Sinterklaas holandês. Quando da formação da União Soviética, os comunistas aboliram a celebração do Natal e dos distribuidores de presentes. Mais tarde, nos anos 30, quando Stalin precisou de apoio, ele permitiu a reaparição do Avô Gelado, não como distribuidor de prendas do Natal, mas sim do ano novo. As tentativas russas de deslocar o Natal foram malsucedidas, tal como as tentativas soviéticas de espalhar a versão secular do Avô Gelado, de casaco azul, como forma de evitar confusões na europa com a versão do Papai Noel.

Ded Moroz (Avô Gelado) o "papai noel" russo.
Os soviéticos tentaram substituir os distribuidores de prendas locais em todos os locais onde foram depois da Segunda Guerra Mundial, por exemplo na Polónia ou na Bulgária, mas as populações locais conservaram até ao colapso da União Soviética, em 1989 e depois disso voltaram às suas antigas tradições.

Na atualidade pessoas de diferentes nações têm o Papai Noel como uma figura controversa, quer seja porque a figura representa a comercialização do Natal em detrimento da figura de Cristo ou como uma invasão em suas próprias tradições nacionais. Em países como a República Checa, a Holanda, a Áustria e a América Latina houve fortes tradições de movimentos anti-Papai-Noel, na tentativa de proteger suas tradições do norte americano.

O Vovô Índio.

No Brasil essa resistência ao "papai noel" estadunidense, se deu nos anos 30, na figura do "Vovô Índio", contando com apoio oficial do Presidente Getúlio Vargas, quando em dezembro de 1932, no estádio de São Januário, prestigia o lançamento do Vovô Índio como a versão brasileira do "papai noel". 

A ideia do Vovô índio nasceu de uma campanha idealizada pelo escritor Cristovam de Carvalho, em 1932, com a publicação do "Fabulário do Vovô Índio", e não como alguns difundem do integralismo. Gustavo Barroso, inclusive, era contra, pois via no movimento indigenista, uma manobra maçônica para des-lusitanizar o Brasil, dividindo-o, o apartando de suas raízes. Oque em verdade, nós castilhistas, concordamos com Gustavo Barroso. Muito do anti-lusitanismo que marcou a independência do Brasil, bem como a proclamação da República foi estimulado pelas Lojas Maçônicas, em que seus membros promoviam o indigenismo, e o africanismo, como meios de atacar as bases da identidade brasileira, como até hoje fazem.  Contudo, no que pese esse cavalo de troia malicioso por trás do indigenismo, a imensa maioria dos escritores, ignoravam essa maledicência, alçando a figura do índio como a de verdadeiro símbolo da nacionalidade brasileira. A lembrar que o próprio Plínio Salgado, em antagonismo ao Gustavo Barroso, se filiava como um indigenista, foi ele que introduziu a "saudação": "Anauê!", e que certamente, foi o mentor do integralismo ter abraçado a figura do Vovô Índio. E ao menos nesse contexto histórico, é que insere a figura do Vovô Índio, a de um símbolo de resistência brasileira a importação estrangeira. 

O lançamento do Vovô Índio, provocou um debate no meio intelectual, com uns se posicionando a favor outros contra. Houve um concurso para a escolha da imagem do Vovô Índio, vencida por Euclides da Fonseca. E mesmo com oposições e críticas, o Vovô Índio resistiu por algumas décadas, até meados da década de 50, ele permeou o imaginário natalino das crianças brasileiras. O seu declínio vem com o fim da segunda guerra, e uma maior invasão de multinacionais e propagandas estrangeiras, em especial estadunidense, na imprensa brasileira. O papai noel estadunidense, tinha e tem até hoje um padrinho forte, a Coca-Cola, e toda máquina cultural dos EUA o alçando a símbolo do consumismo. E assim ele se impôs não só no Brasil, como se tornou prevalente em todo o planeta

O Papai Natal Brasileiro, Um Nova Proposta:

Pandigueiro galaico
arte: Luis d'Avila
As críticas ao Vovô Índio, no geral pesavam sobre sua suposta "artificialidade". Concordamos em parte com as críticas. A verdade é que quase todas as atuais figuras "distribuidoras de presentes" são resultado de criações literárias do séc. XIX. O Vovô Índio, não foge a regra, é uma criação literária, como seus congêneres, peca por ser tardio.... seus críticos parecem esquecer esse pequeno "detalhe". Vê-se, claramente, que desconheciam as origens do "bom velhinho".

E mais das vezes, essas criações literárias, apresentam variações locais, como é o caso de Sinterklaas na Holanda, Ded Moroz na Rússia, o próprio Santa Claus estadunidense, que foi o genérico difundido para o resto do mundo. Porque negar a variação nacional brasileira? 

A crítica desse que vos escreve em relação ao Vovô Índio, se centra na falta de lastro dele com a tradição natalina portuguesa. Na Espanha, a figura do Papai Noel estadunidense, só recentemente, tem sido difundido, havendo longínguas variações locais, com as crianças escrevendo cartas aos três Reis Magos, e não a algum "papai noel". Na Espanha a figura do "papai noel" esta relacionada ao folclore local. Na Euskadi, tem-se a figura do Olentzero, na Catalunia: Tío de Nadal, na Cantábria: Esteru, e na Galiza, que mais nos interessa, por ser a zona que também abrange todo norte português, de onde sairam majoritariamente os colonizadores brasileiros, a figura do Pandigueiro ou Apalpador

Pandigueiro ou Apalpador, segundo a tradição do Natal galaico, é um carvoeiro que mora nas montanhas e que desce, nas noites de 25 ou 31 de Dezembro para tocar a barriga dos meninos para ver se comeram bem durante o ano, deixando-lhes um montezinho de castanhas, eventualmente algum presente e desejando-lhes que tenham um ano vindouro cheio de felicidade e fartura. A figura claramente se relaciona a antiga divindade galaico-lusitana Reue, que habita as montanhas, com seu equivalente na mitologia irlandesa Dagda, retratado como um homem ruivo, de porte avantajado, generoso, e que carrega um caldeirão, como simbolo de abundancia. 

A figura do Pandigueiro, havia sido extinta há algumas décadas, e foi retomada recentemente, em 2006 na Galiza. Penso que esse antecedente é o lastro no qual deve se basear uma versão brasileira do "papai noel". 

Papai Natal, o papai noel brasileiro
Assim concebemos, que o "papai noel" brasileiro, seja um montanhês vestido a maneira dos antigos tropeiros das montanhas de Minas, São Paulo e Serra Geral, redutos das populações montanhesas brasileiras: poncho vermelho, calça e camisa verde, chapeu verde ou vermelho, retratando as cores das vestes de São Nicolau, botas, e luvas. Mantendo a tradicional aparência do Pandigueiro Galaico: ruivo de olhos azuis, e corpo avantajado. Eventualmente com cachimbo. O cachimbo, na tradição galaica, certamente é uma importação, um elemento exógeno, posto que é uma difusão brasileira. E sendo o cachimbo uma criação brasileira, acaba abrasileirando mais o personagem, no que pese a posição contrária no que toca a questão do fumo como má influência para crianças. Por hora, nos interessa mais a concepção original, questões alhures ficam para depois. Junto a ele a inseparável figura do jumento, carregado de presentes. O jumento, tão injuriado, é uma dos principais símbolos da natividade, foi ele quem carregou Nossa Senhora, presente também no nascimento de Cristo, e dos animais de maior préstimo aos homens em toda história, como no Brasil, presente em todos os seus rincões. 

Assim, temos um tropeiro montanhês, que desce das montanhas nas noites de Natal, para distribuir presentes para as crianças brasileiras. Chamamos a essa figura de "Papai Natal", substituindo o "Noël" francês pelo seu equivalente em português "Natal", tal como já ocorre em Portugal a que chamam o bom velhinho de "Pai Natal", aqui "Papai Natal". 

A Manutenção da Tradição dos Presépios:

Toda essa tratativa sobre "papai noel" seria estéril, se nos esquecermos, como vem ocorrêndo, que o  principal foco e razão da celebração natalina é o nascimento de Cristo. Em nenhuma hipótese a celebração de Cristo pode ser secundarizada. E os presépios são, especialmente, um símbolo dessa celebração, e que não por acaso, vem se perdendo com a comercialização do Natal e a centralização do "papai noel" como simbolo do consumismo. 

A tradição do presépio surge com São Francisco de Assis, e é uma das mais longínguas tradições no Brasil, desde 1552, quando Padre Anchieta faz o primeiro Presépio no Brasil que se tem registro. E desde então a tradição dos presépios tem sido uma das principais manifestações natalinas no Brasil, e que aos poucos, vem se perdendo. Quando diante do ataque aos mais básicos conceitos de família e de integridade da pessoa humana, perpetrados pelo identitarismo, a representação da Sagrada Família nos presépios é um símbolo de resistência e proteção da nossa família, da nossa fé, da nossa brasilidade.

Presépio de Natal

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