segunda-feira, 6 de novembro de 2023

A Conquista do Rio Grande do Norte Contra os Franceses (1597-99)

Tantos anos agitados e tão desesperada resistência patentearam a urgência de ocupar o Rio Grande onde os inimigos perenemente se refaziam apoiados nos potiguaras com quem comerciavam. Dali, saíam também a roubar os navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas, e vendendo-as aos gentis para que as comessem. De lá sairam uma vez treze navios para tomar Cabedelo e o combate durara de uma sexta a uma segunda-feira. Em suas águas chegaram a se reunir vinte navios procedentes de França. Muitos franceses mestiçaram com as mulheres indígenas, muitos filhos de cunhãs se encontravam já de cabelo louro: ainda hoje resta um vestígio da ascendência e da persistência dos antigos rivais dos portugueses na cabeleira de gente encontrada naquela e nos vizinhos sertões de Paraíba e Ceará.

Informado el-Rey das cousas da Paraíba e que todo o dano lhe vinha do Rio Grande, querendo atalhar a tão grandes males, escreveu a Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor em Pernambuco, encomendando-lhe muito que logo fosse lá fazer uma fortaleza e povoação o que tudo fizesse com conselho e ajuda de Feliciano Coelho. A quem também escreveu e ao governador-geral D. Francisco de Sousa, que para isto lhe desse provisões e poderes necessários para gastar da sua real fazenda tudo o que lhe fosse necessário, como em efeito o governador lhe passou e lhe pôs logo tudo em execução com muita diligência e cuidado, 

A expedição ao Rio Grande, concebida pelo governador-geral do Brasil: Dom Francisco de Sousa, aparelhada de recursos abundantes, dirigida de Pernambuco por Manuel de Mascarenhas Homem, lugar-tenente do donatário, e Alexandre de Moura, que devia suceder no mando, repartiu-se por terra e por mar. 

Por terra com o capitão-mor Manuel Mascarenhas foram três companhias de gente de pé, de que eram capitães Jerônimo de Albuquerque (que virá a ser no futuro conquistador do Maranhão a que agrega ao seu nome), Jorge de Albuquerque, seu irmão, e Antônio Leitão Mirim, e uma de cavalo, que guiava Manuel Leitão. 

A armada, que veio de Pernambuco, era composta por seis navios e cinco caravelões, e esperava aportada na Paraíba, pela tropa de terra. Trazia por capitão-mor Francisco de Barros Rego, por almirante Antônio da Costa Valente, e por capitães dos outros navios João Pais Barreto, Francisco Camelo, Pero Lopes Camelo e Manuel da Costa Calheiros. 

Com a chegada das companhias por terra, em janeiro de 1598. O capitão-mor Manuel de Mascarenhas, tomou o comando da armada, a que se agregou Jerônimo de Albuquerque. E que Feliciano Coelho fosse por terra com os quatro capitães e companhias da gente de Pernambuco e com outra da Paraíba, do que ia por capitão Miguel Álvares Lobo, ao todo, 178 homens a pé e a cavalo, fora o nosso gentil, que eram das aldeias de Pernambuco: 90 flecheiros, e da Paraíba: 730, com seus principais que os guiavam: Braço-de-Peixe, Assento-de-Pássaro, Pedra-Verde, Mangue e o Cardo-Grande.  

Esse exército marchou para o Rio Grande a 17 de dezembro de 1597, indo as espias e corredores diante queimando algumas aldeias que os potiguares despejavam com medo, como confessaram alguns que foram tomados. A tropa de Feliciano Coelho foi acometido por uma peste de varíola, doença que chamavam de "bexiga", a ponto de morrer de 10 a 12 homens por dia. A que se viu forçado o governador Feliciano Coelho voltar à Paraíba para se curarem e os capitães se foram para Pernambuco com a sua gente que pôde andar, dizendo que cessando a doença tornariam, para seguirem a viagem, exceto o capitão Jerônimo de Albuquerque, que se embarcou em um caravelão e foi ter ao Rio Grande com seu capitão-mor Manuel de Mascarenhas, e na viagem teve vista de sete naus francesas que estavam no porto dos Búzios contratando com os potiguares, os quais, quando viram a armada, fugiram e a nossa não a seguiu por ser tarde e não perder a viagem. 

No dia seguinte pela manhã mandou Manuel Mascarenhas dois caravelões descobrir o rio, o qual descoberto e seguro, entrou a armada à tarde guiada pelos marinheiros dos caravelões que o tinham sondado. Ali desembarcaram e se entrincheiraram de varas de mangues para começarem a fazer o forte e se defenderem dos potiguares, que não tardaram muitos dias que não viessem uma madrugada infinitos, acompanhados de cinqüenta franceses, que haviam ficado das naus do porto dos Búzios, e outros que ali estavam casados com potiguaras. Os quais, rodeando a nossa cerca, feriram muitos dos nossos com pelouros e flechas que tiraram por entre as varas, entre os quais foi um o capitão Rui de Aveiro no pescoço com uma flecha e o seu sargento e outros, com o que não desmaiaram, antes, como elefantes à vista de sangue, mais se assanharam e se defenderam e ofenderam os inimigos tão animosamente que levantaram o cerco e se foram. 

Depois veio um índio chamado Surupiba pelo rio abaixo em uma jangada de juncos, com promessas de paz e de se entregarem. Porém, indo dois batéis nossos com vinte soldados, de que ia por cabo Bento da Rocha, a cortar uns mangues, estando metidos em uma enseada e começando a fazer a madeira, foram emboscados. Um dos batéis, o maior, descobriu o ardil e deu o alerta, para que embarcassem à pressa. E por um milagre conseguiram navegar por um canal, quando já era maré-baixa, e assim se salvar do cerco.  

Em poucos dias, os potiguaras, se apresentavam novamente para o combate. Mascarenhas não quis esperar, nem que chegassem a pôr-lhe cerco, antes os foi esperar ao caminho e, lançando uma manga por entre o mato, os entrou com tanto ânimo que fez fugir os da retaguarda, e seguiu os da vanguarda até o rio. E ainda a nado pela água os foram os nossos índios tabajaras matando, sem deixar algum com vida, amarando-se tanto nesta pescaria, que foi necessário irem os nossos batéis a buscá-los já fora da barra.

Os potiguaras continuaram com contínuos assaltos, e os nossos se encontrando em condições tão penosa, por muito pouco não teve o capitão que abandonar a construção do forte, se não houve-se chegado do reino Francisco Dias Paiva, amo do capitão-mor, que o criou, trazendo artilharia, munições, e outros provimentos para o forte que se fazia, dando assim esperanças que viessem socorro da Paraíba. 

Na Paraíba, Feliciano Coelho mandou recado aos capitães de Pernambuco e, vendo que não vinham, partiu da Paraíba com sua gente a este socorro a 30 de março de 1598, dispondo só de uma companhia de 24 homens de cavalo, e duas de pé, de trinta arcabuzeiros cada uma, das quais eram capitães Antônio de Valadares e Miguel Álvares Lobo, e 350 índios flecheiros com seus principais. Não acharam em todo o caminho se não aldeias despejadas e alguns espias, que os nossos também espiaram e tomaram, pelos quais se soube que uma légua do forte que se fazia estava uma aldeia grande e fortemente cercada, donde saíam a dar os assaltos nos nossos pelo que mandou o governador apressar o passo para que o pudesse tomar descuidados e contudo a achou despejada e capaz para se alojar o nosso arraial. 

Ali veio no dia seguinte Manuel de Mascarenhas para visitar Feliciano Coelho, e tratar sobre a condução da construção do forte, a que se avençou a cooperação da gente de Feliciano na construção, alternando com a de Mascarenhas e de gentios. Mas não deixaram por isto de reservar alguns que corressem o campo em companhia de alguns brancos filhos da terra, os quais foram dar em uma aldeia onde mataram mais de quatrocentos potiguares e cativaram oitenta, pelos quais souberam que estava muita gente junta, assim potiguares como franceses, em seis cercas muito fortes, para virem dar sobre os nossos e os matarem e, se já o não tinham feito, era porque adoeciam morriam muitos do mal das bexigas. 

Neste mesmo tempo que a obra do forte durava, chegou um barco da Paraíba com mantimentos, que mandava a Feliciano Coelho Pero Lopes Lobo, seu loco-tenente, e deu noticias o arrais que no porto dos Búzios estava surta uma nau francesa, lançando gente em terra. Ao qual acudiu logo Manuel Mascarenhas com toda a gente de cavalo que havia, e trinta soldados arcabuzeiros e muitos índios, e deu nas choupanas em que os potiguares estavam já comerciando com eles, onde mataram treze e cativaram sete e três franceses, porque os mais se embarcaram e fugiram no batel, e outros a nado. E, vendo o capitão-mor Manuel Mascarenhas que não tinha embarcações para poder cometer a nau, ordenou uma cilada, fingindo que era ido e deixando na praia um francês ferido para que o viessem tomar da nau no batel, como de feito vieram, mas os da cilada, tanto que viram desembarcado o primeiro, saíram tão desordenadamente que só este tomaram e os outros tornaram a nau e largando as velas se foram.

Parte da divisão terrestre, encabeçada por Feliciano Coelho, capitão-mor da Paraíba, venceu a resistência dos inimigos, mas dissolveu-se ante uma epidemia de bexigas. A praga passou também ao inimigo, e serviu para dar folgas a Manuel de Mascaranhas, aliás acometido mais de uma vez no forte que começara.

Em março, Feliciano Coelho outra vez marchou para o Rio Grande, depois de reunir as suas forças, reduzidas agora à metade pela doença e pela retirada do contigente de Pernambuco. Com este reforço, Manuel de Mascaranhas concluiu o forte dos Reis Magos, e entregou-o a Jerônimo de Albuquerque, nomeado para comandá-lo. À sua sombra se originou o que é hoje a cidade de Natal. Na volta, Mascaranhas e Coelho afastaram-se da costa e fizeram novas devastações entre a indiada do sertão.

Forte dos Três Reis Magos, Natal-RN, na embocadura do rio Potengi / Rio Grande. Construido no começo de 1609, e concluido em 1621. O forte erguido por Mascarenha Homem, entre 1597-99 era de pau e barro e por certo, se localizava na praia e não como o atual sobre os arrecifes. Com a invasão Holandesa foi renomeado como Castelo de Ceulen (Kasteel Keulen). 

Nas veias de Jerônimo de Albuquerque corria sangue tabajara de sua mãe, Maria do Arco-Verde, e disto não se envergonhava, antes o vemos em mais de uma conjuntura proclamando a sua extração. É patente em Jeronimo sua simpatia pelos normandos como se verá repetir no Maranhão, após vencê-los, para que permanecessem na terra. Oque sugere que sua mãe Maria-do-Arco verde fosse fruto dessas relações normando-tupis. Assim devia sorrir-lhe a idéia de conciliar os parentes, reduzidos aos últimos apuros por tantos trabalhos e tão continuada perseguição, e agora forçosamente abandonados pelo franceses. A um índio aprisionado, principal e feiticeiro, incumbiu esta missão, depois de bem instruí-lo no que devia dizer. O pensamento humanitário foi coroado do melhor êxito, graças sobretudo às mulheres que, informa um contemporâneo, enfadadas de andarem com o fato continuamente às costas, fugindo pelos matos sem poder gozar de suas casas, nem dos legumes que plantavam, traziam os maridos ameaçados que se haviam de ir para os brancos, porque antes queriam ser suas cativas que viver em tantos receios de contínuas guerras e rebates. Por ordem de Dom Francisco de Sousa as pazes foram juradas solenemente na Paraíba, a 15 de junho de 1599. Serviu de intérprete frei Bernardino das Neves, filho de João Tavares, escrivão de órfãos de Olinda. Deste ato resultou nascer e criar-se na amizade dos portugueses, Antônio Camarão, que virá a ser um dos heróis da luta contra Holanda.

A conquista do Rio Grande logrou afastar os franceses e desenganar os índios numa grande extensão de terreno; mas significava, mais que isto, o encurtamento da distância ao Maranhão e Amazonas. Desde os primeiros tempos do governador Diogo Botelho surge com força a ideia de consumar a obra, e trata-se de chegar às regiões onde a mão da natureza assentara os limites do país.


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quinta-feira, 20 de julho de 2023

A Presença Normando-Bretã (francesa) na Formação do Brasil


No conceito comum, resultante do ensino corrente, os franceses fizeram duas investidas sobre a colônia de Portugal: no Rio de Janeiro e no Maranhão... Ora, a realidade é bem mais estendida. Descoberto o Brasil, e abandonado pelos seus descobridores, logo, o procuraram os franceses. Acomodaram-se com o gentio, e começaram a explorar o comércio do pau-brasil e outros artigos de escambo.

Praticamente, antecederam aos portugueses, e, até o meio do século XVI, foram mais senhores, e mais usufruíram da terra, que os portugueses, principalmente porque não tiveram que lutar contra o gentio, antes se amparavam nele. Se o gentio do Brasil tanto se opôs aos portugueses, foi porque estava sob a influência dos franceses. Varnhagen, com toda a razão, considera que o Brasil era dos franceses, por efeito das muitas naus que por aqui andavam, e que, a estes é que teve de ser conquistado.

A presença do gaulês foi o maior perigo no primeiro século da colônia. A sua grande força vinha da amizade e da assistência do indígena, e o português, empenhado em desalojá-lo, tiveram que levantar os maiores exércitos vistos até então nas Américas. E cedo compreendeu, que precisava granjear a amizade das tribos, e apoiar-se nelas, faziam-se referências oficiais a essa competência de aliança e de boas relações com o gentio. E, assim, o francês obrigou, indiretamente, o Governo Português a uma política humana para com os naturais.

É na defesa da terra contra os franceses que se forja a nacionalidade brasileira. Foi uma luta que acompanhou toda a iniciação na nova pátria, e se, nos primeiros tempos, ela se faz no valor do colono, desde logo surge, entre os defensores, a energia patriótica dos brasileiros, e que é o mesmo valor dos colonos, renovado em tons de mocidade. Então, à medida que os novos ânimos se afirmam, transfere-se a defesa da terra para os seus, e nos últimos feitos decisivos, já são nomes brasileiros os dos capitães vitoriosos.

Editorial 


No tempo em que o território brasileiro ainda hesitava entre os três nomes de Vera Cruz, Santa Cruz e Brasil, eram principalmente os comerciantes normando-bretões que usavam este último. O nome não se tornou definitivo até o final do século XVI. Este nome gaélico, adotado a partir da homologia entre um produto comercial de grande valor e o espaço onde se situava, indica claramente a aposta que esta terra representava para a França do início do século XVI. Quando o então rei da França, Francisco I, ironicamente, pede a cláusula do Testamento de Adão que excluía a França da partição do novo mundo, incentivando assim os comerciantes franceses virem colher riquezas desta terra: madeira, mas também algodão, papagaios e macacos (animais muito valorizados na Europa ).

Principais portos de origem dos navios franceses para
o Brasil. Rouen era um porto fluvial. 
Os navios franceses partiam especialmente da região da Normandia, antigo assentamento viking, aonde florescia uma indústria têxtil e mobiliária, que demandavam tanto a madeira quanto o pigmento vermelho extraído do pau-brasil. Roupas vermelhas, eram altamente valorizadas à época na Europa. Da Bretanha francesa, ainda hoje um persistente reduto celta, também afluíram muitos, ante sua posição na rota de passagem e tradição portuária. 

Os franceses começam a frequentar o litoral brasileiro, em 1503, pelo capitão normando Binot Paulmier de Gonneville, que aportou em algum ponto do litoral brasileiro (baía de Todos os Santos?). Gonneville partiu com seu navio L'Espoir, do porto de Honfleur, na França, em junho de 1503, com destino ao Brasil, acompanhado de dois navegadores portugueses, secretamente contratados. Aqui, se depararam com índios carijós, ergueram uma grande cruz de madeira, em uma colina, e passados 6 meses, retornaram para França, levando a bordo um filho do chefe da tribo, batizado como Essomeric. Essomeric educou-se na França e nunca retornou. Casou-se com uma das filhas de Gonneville, herdou seus bens, e teve 14 filhos com ela na França, aonde também foi elevado com título de Barão de Binot. O primeiro, de muitos índios brasileiros, que irão para a França. 

O modus operandi dos franceses, consistia em introduzir um ou mais franceses em uma tribo, a fim de coordenar as atividades de tráfico, davam aos seus chefes utensílios trazidos da Europa e recebiam em troca o trabalho necessário para derrubar e transportar madeiras a bordo dos navios. Esse sistema foi tão comumente usado que encontramos na famosa casa da Ilha Brasil, em Rouen, vários painéis de madeira esculpidos, que datam dos anos 1500-1514, representando o tráfego de madeira do Brasil. 


As repetidas incursões normando-bretãs, levarão Portugal a uma redefinição da sua política face ao Brasil. Alarmado com a atividade francesa, Dom João III ao mesmo tempo em que transmitia suas queixas ao rei da França, organizou uma expedição armada sob o comando de Christovam Jacques (1516). Bem como, a emitir um edito ordenando que todos os seus súditos, sob pena de morte, afundassem navios franceses que encontrassem na costa do Brasil. Oportunidade em que faz erguer na margem direita da foz do rio Igaraçu, a primeira feitoria portuguesa em Pernambuco. 

Em 1525, as saídas do porto de Honfleur com o destino ao Brasil, eram tão frequentes que os comerciantes decidiram criar uma empresa para o comércio de madeira brasileira. Entre 1526 e 1531, pelo menos vinte navios normandos, ou bretões, foram enviados ao Brasil, e não se leva em conta os navios que poderiam ter deixado os portos de La Rochelle, Bordeaux ou Marselha. 

Os resultados indefinidos da primeira missão de Christovam Jacques, levam o rei, a enviar uma nova esquadra (1526), ainda sob comando de Jacques, com a missão de combater os franceses e iniciar o povoamento da colônia. Aportando na feitoria de Pernambuco, em Maio de 1527, foi informado, pelo náufrago espanhol D. Rodrigo de Acuña (da expedição de Jofre de Loyassa às Molucas, em 1525), da presença de quatro navios franceses carregando pau-brasil na baía de Todos os Santos. Cristóvão Jaques surpreendeu-os em fins de Junho, matando e aprisionando centenas de franceses. 

Catharina (Paraguaçu), Rainha do Brasil!

Catedral de Saint Malo, aonde a matriarca dos
brasileiros, Catharina (Paraguaçu) foi batizada.
A apreensão dos três navios bretões (o quarto era do próprio capitão português Cristóvão Jaques, que havia sido roubado), geram uma querela, em que bretões de Saint-Pol de Leon, reivindicam terem descoberto uma parte do Brasil: " [....] mercadores de vossa terra e ducado de Bretanha, vossos muito humildes servidores e sujeitos, como os ditos supricantes que são mercadores frequentando os mares e muitas diversas terras e entre outras as terras do Brasil que são muito grandes, as quaes os bretões descubriram e per alguns lugares e os portugueses per outros lugares.". Oque motivou a articulação do navegador bretão Jacques Cartier, junto a Diogo Alvares e Catharina Paraguaçu de seguirem para França, em 1527, aonde foi batizada na Catedral de Saint Malo, na Bretanha, em 30 de julho de 1528, como Katherine du Brézil, o primeiro registro de batismo de uma brasileira, e casou com Diogo Alvares Correia. E assim, foram reconhecidos, pelo próprio rei da França, como soberanos do Brasil. Lá permaneceram três anos, quando então, retornaram para o Brasil.

Saint-Malo na bretanha francesa

Diogo Álvares Correia, "O Caramuru", embora, comumente tratado como náufrago, a verdade, é que sua presença na Bahia é obscura. Diogo Alvares, praticava um ativo escambo com mercadores franceses. Assim, é provável, que tenha vindo com os franceses, e como costumasmente faziam, ficado entre os índios gerenciando a colheita de pau-brasil. As referências a ele, anteriores ao seu casamento com Catharina, indicam que ao seu tempo, ela ainda era um bebê, havendo filhos com outras mulheres indígenas antes, como, principalmente, seria Catharina, não propriamente índia, mas, mameluca, fruto das relações normando-tupinambás. A esse tempo, os mamelucos franco-brasileiros, já eram numerosos. Daí, a conveniência de sua ida a França, na condição de franco-brasileira, tanto preenchendo o desejo de conhecer sua terra ancestral, como sendo filha de cristão, ser batizada, e assim, casando com Diogo, que por certo não se prestaria a casar com uma "índia" qualquer, mas sim, com uma "branca", como era a preferência dos portugueses, e lá proclamado "Rei do Brasil". Estratagema dos franceses de se legitimar na terra (alguma semelhança com oque ocorre atualmente... ?). 😌

Em 1530, o rei enviou Martim Afonso de Souza, juntamente com seu irmão Pero Lopes de Sousa, para reorganizar o sistema administrativo colonial vigente no Brasil, abandonando o sistema de feitorias em favor do sistema de capitania hereditária. Logo na sua chegada, na altura do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, se depara com duas naus francesas, as captura, a tripulação de uma delas foge pra terra. No dia seguinte, avista uma terceira, e após combate que dura toda uma noite, a captura, dando conta de 6 feridos franceses. A expedição, após reerguer a feitoria de Igaraçu, destruída pelos franceses, a guarnece com 13 homens, despacha uma das naus para Portugal com 30 prisioneiros franceses, outra para o Maranhão (foz do Amazonas), e segue para baía de Todos os Santos, e de lá para o Prata. 

Na sua estada na baía de Todos os Santos, Pero Lopes de Souza se surpreende com a população que lá encontra: “A gente desta terra he toda alva; os homês mui bem dispostos, e as molheres mui fermosas, que nam ham nenhúa inveja às da Rua Nova de Lixboa”. A surpresa de Pero Lopes de Sousa, se explica pela relação entre normandos e tupis, que antecederam, em 30 anos, a colonização portuguesa no Brasil e que se prolongará ao longo de todo o primeiro século de formação do Brasil, na guerra de expulsão dos franceses. Assim, é que os primeiros colonos portugueses a virem para o Brasil, se ligarão a essas mulheres fruto dessas relações normando-bretã-tupinambás. É nessa ocasião, que se depara, com o náufrago português Diogo Alvares Correia, o Caramuru, vivendo entre os índios e já com descendência em seu meio. 

A expedição de Martim Afonso de Souza, junto com seu irmão Pero Lopes de Souza, seguem seu curso, e  chegando na baía de Guanabara em 30 de abril de 1531, lá passam três meses. Lá, repete a observação sobre os habitantes do lugar: "A gente deste rio (baía da Guanabara) he como a da baia de todolos Santos; senan quanto he mais gentil gente.".  A baía da Guanabara, a esse tempo, já era bastante conhecida e frequentada por normandos.

Pernambuco, 1530 - A Primeira Tentativa Formal Francesa de se Estabelecer no Brasil:

Os franceses, em retaliação a ação de Cristóvão Jáques, ocorrido três anos antes na baía de Todos os Santos (1527), bombardearam a feitoria portuguesa no rio Igaraçu (Pernambuco) com a nau "La Pelèrine" (Março de 1531), que zarpara do porto de Marselha para a costa do Brasil em dezembro de 1530, sob o comando do capitão Jean Du Péret. Transportava 120 homens, 18 canhões, munição e material de construção, em missão "militar, comercial, agrícola e feitorial". Destruída a feitoria de Igaraçu, entre março e maio de 1531, erguem um forte na ile Saint Alexis (ilha de Santo Aleixo), no litoral sul de Pernambuco, deixando-a guarnecida por 70 homens. Pero Lopes de Souza, voltando de sua expedição no Prata, e zarpando de São Vicente, se defronta com o forte gaulês, bombardeia durante 18 dias forçando a rendição do capitão De la Motte, o enforca com outros 20 franceses, faz 40 prisioneiros e os enviam para Portugal. Essa foi a primeira tentativa francesa, formal, de estabelecimento permanente no Brasil. 

Ainda em 1548, Luís de Góis advertia Dom João III: "se com tempo e brevidade Vossa Alteza não socorre a estas capitanias e costa do Brasil, que ainda que nós percamos as vidas e fazendas, Vossa Alteza perderá a terra".

Essa intensa atividade marítima é acompanhada de inúmeros atos de pirataria, tanto em águas brasileiras, quanto nos pontos de passagem obrigatórios das rotas de retorno (Açores, Mar da Irlanda...). É por isso que, num espírito de apaziguamento, os soberanos franceses e portugueses, após a assinatura em Lyon de um tratado de amizade (14 de julho de 1536), convocaram um Tribunal des Prises em Bayonne em 1537, destinado à resolução de conflitos entre armadores franceses e portugueses. Este Tribunal, no entanto, não trouxe nenhum acordo, exceto que Francisco I se comprometeu a proibir seus súditos de comercializar no Brasil. Mas a partir de 1540 a retomada dos armamentos é considerável: nove navios de Rouen estão armados para o Brasil; quinze navios Dieppe e navios da Bretanha estão equipados para o mesmo destino. Em 1541, trinta a quarenta navios partiram para a América do Sul, e especialmente para o Brasil. Em 1546, uma frota de vinte e oito navios partiu de Le Havre para o Brasil: a bordo de um dos navios um aventureiro alemão: Hans Staden. Em 1548, o agente português Manuel de Araújo informou ao Secretário de Estado que um navio de 55 toneladas sairia de La Rochelle para o Brasil: "alguns me dixeram que ia a roubar... eu soube certo que levava ferramenta e espadas e alguns espelhos". Em 1549, seis navios deixaram a cidade de Rouen sozinhos, alguns deles de grande tonelagem (Le Cable, 200 toneladas). Durante este primeiro século XVI, "o elemento da permanência francesa no Brasil (...) era composto por marinheiros: enraizados por alguns anos ou por toda a vida em uma tribo (...), serviam de intermediários para seus compatriotas que passavam ou retornavam de um ano para o outro".


Festa Brasileira em Rouen!

As regiões costeiras francesas, preocupadas com a proibição do comércio com o Brasil, organizaram em 1550 um "festival brasileiro" em Rouen, por ocasião da visita do rei Henrique II, Catarina de Médici e da corte. Os burgueses de Rouen queriam convencer o seu novo monarca, a voltar atrás na sua proibição de 20 de outubro de 1547, que proibia seus súbditos de "irem para as navegações do Rei de Portugal, como para nenhuma terra descoberta pelos portugueses". Eles apresentaram uma apresentação com 300 índios, incluindo "cinquenta selvagens naturez freschement trazidos do país" e os outros representados por marinheiros franceses. Montaram uma decoração ao ar livre representando a floresta brasileira, com frutas, pássaros e macacos. Várias cenas típicas do Novo Mundo são apresentadas, incluindo o corte e transporte de madeira brasileira, as danças e jogos dos índios, as lutas entre tribos.

O espetáculo foi tão apreciado pela corte que teve que ser repetido. Essa performance só foi possível graças a um intercambio anterior entre França e Brasil. Os navios, centenas de marinheiros, e dezenas de nativos, atestam a antiguidade das ligações entre a costa atlântica francesa, Normandia e Bretanha, principalmente, e a costa brasileira. Também testemunham o entusiasmo desenvolvido, graças às iniciativas dos comerciantes, graças à política real, revelado pelas obras de poetas como Ronsard, pensadores como Montaigne. Henrique II compreendeu o interesse que o Brasil poderia representar na política marítima francesa e enviou Guillaume Le Testu para reconhecer sistematicamente a costa e mapeá-la. Sua Cosmografia Universal foi publicada em 1556.

France Antarctique, A Segunda Tentativa Francesa de se Estabelecer no Brasil:

É assim, que, Henrique II, iniciou uma nova política marítima no Atlântico Sul, com o objetivo de estabelecer um assentamento francês permanente na costa brasileira. William Le Testu foi enviado ao litoral brasileiro em 1551 para elaborar essa nova política. O almirante Coligny foi encarregado pelo rei de fundar uma “França Antártica” na Baía de Guanabara em 1555. Nicolas Durand de Villegaignon, nascido em Provins em 1510, cavalheiro e soldado, cavaleiro de Malta e vice-almirante da Bretanha, foi um dos líderes da expedição. A operação foi originalmente destinada a organizar uma base colonial francesa. Motivos religiosos, não faziam parte do plano original. Coligny não se envolveu na Reforma antes de 1557. Somente após a célebre noite de São Bartolomeu, se previu a colônia como refugio para protestantes. Oque levará ao seu fim!

Nicolas Durand de Villegaignon
De modo que, em 10 de novembro de 1555, Villegaignon, trazendo consigo 600 homens, recrutados, em sua maioria, nas prisões de Paris e Rouen, aporta na baía da Guanabara, à vista do pão de açúcar que os normandos chamavam de Pot de Beurre. Villegaignon estabeleceu-se em uma ilha no centro da baía, que os índios chamavam de Seregipe, e que, atualmente, leva seu nome: Villegaignon. Esta posição tinha a vantagem de controlar o acesso à baía e colocar potenciais inimigos da terra a uma distância segura. Nesta pequena rocha é construído o forte Coligny. Villegaignon proibiu contatos sexuais entre colonos e indígenas. E ao forçar um colono normando, que se recusou, se casar com uma índia, com quem vivia, fomentou a primeira distensão na incipiente colônia francesa, com muitos descontentes, se refugiando no continente aonde uma aldeia foi criada.

O repetido assédio dos índios, e os sucessivos abandonos, levarão Villegaignon a pedir novos reforços ao rei, assim como a seu ex-colega da Universidade de Orleans: Calvino, informando-o da oportunidade de criar no Brasil uma terra de liberdade religiosa. Ele enviou seu sobrinho 's-Herto-Comte e André Thévet para a França para buscar reforços. Desejando o envio de vários milhares de homens, soldados e navios, mas obteve do rei Henrique II apenas três navios e 300 pessoas, enquanto Calvino não conseguiu reunir mais de 14 genebrinos, incluindo um jovem de 22 anos, Jean de Léry, com algumas mulheres (seis no total) e artesãos. Mas logo surgirão conflitos entre Villegaignon, católico, e os recém-chegados, sobre a presença real de Cristo na Eucaristia (Princípio Católico da Transubstanciação). Os calvinistas decidem não participar mais das tarefas, o que resulta serem privados de comida. Depois de algumas semanas, abandonam o forte para encontrar refúgio no continente. Um desses calvinistas, Jean Cointat, se refugiou em São Vicente, onde pregou suas heresias. Foi então que os jesuítas portugueses acorreram para o local, com padre Anchieta explicando que era necessário evitar que Cointat "vomitasse de seu estômago seus erros fétidos". Cointat foi preso, levado para a Bahia, antes de ser transferido novamente para o Rio em 1567, onde foi enforcado. Entre esses calvinistas em fuga, cinco deles, depois de terem renunciado a um arriscado retorno à Europa, retornaram a Villegaignon em janeiro de 1558, que os mandou jogar em ferros, comprometendo-se a trazê-los de volta à força à fé romana, e executou, afogando, três recalcitrantes.

Em fins de 1558, Villegaignon confiou o comando do Forte Coligny a seu sobrinho Bois-le-Comte e retornou a Paris em busca de novos reforços, desta vez defendendo sua causa aos católicos. Mas os acontecimentos políticos na França (o acidente de Henrique II em julho de 1559, a conspiração de Amboise, a morte de Francisco II (1559-60), a ascensão ao trono do jovem Carlos IX (1560-74) e a luta pela consolidação da regência da rainha-mãe Catarina de Médici), relegaram a segundo plano as preocupações sobre a colonização da América. E do outro lado do Atlântico, 's-Herto-Comte rendeu-se a 15 de Março de 1560, enfrentando as forças portuguesas comandadas pelo governador Mem de Sá. O forte foi arrasado, o que pôs fim à colonização oficial dos franceses nesta parte do Brasil. Mas a iniciativa privada continuará lá por muito tempo. 

Malogrado a 2ª tentativa formal dos franceses de se estabelecerem no Brasil, o tráfico de pau-brasil, não para de aumentar na segunda metade do século XVI, mesmo após a União Ibérica (1580). Assim, desde o fracasso de Villegaignon até a morte de Henrique IV, ao longo de quase meio século, pelo menos quinhentos navios normandos mantiveram e desenvolveram as ligações do tradicional tráfego francês com o Brasil. Mas desta vez os comerciantes franceses favoreceram a região norte, sabendo que os navios que tentaram uma incursão entre São Vicente e Cabo Frio, foram agora sistematicamente queimados pelos portugueses, e as tripulações resgatadas tiveram que se refugiar nas florestas. 

Note-se, apenas, estas duas circunstâncias: no tempo enviavam os franceses mais navios ao Rio de Janeiro, do que os portugueses a todo o Brasil. Vindo Villegaignon, o célebre almirante chega a um país que era dos seus. Mesmo sem aceitar as pretensões francesas – de que os flibusteiros da Normandia frequentavam a baía de Guanabara, “por vários anos até agora” (antes de 1503), é inegável que esses aventureiros faziam comércio de longa data com o gentio Tamoio-Tupinambá, e conheciam a costa melhor do que os portugueses. Tinham representantes junto das tribos, e que eram os diretores dos trabalhos, do respectivo tráfico. 

Em 1565, um navio francês com 110 homens é relatada na baía de Guanabara: "a região de Cabo Frio é um entrincheiramento sólido; o último reduto francês caiu em 1567 e os sobreviventes, em quatro navios, tentaram se estabelecer na região de Olinda quando foram repelidos por Jorge de Albuquerque, sem maior dano, e confessam a derrota, explicitamente, no reconhecer que a causa lhes ia de mal en pis... 

Em 1569, ainda eles enviavam regularmente as suas naus a Cabo Frio. O célebre combate de São Lourenço, em que a tática de Arariboia conseguiu bater tamoios e franceses, foi provocado por estes – para castigar o chefe temiminó. Uns e outros vieram afrontar os portugueses do Rio de Janeiro, tão fortes se sentiam, ainda. Conta Frei Vicente que os franceses apresentaram-se em 1587, ainda eles animavam os seus fiéis aliados. Quatro anos depois, a propósito de auxiliar as pretensões de Prior do Crato a coroa portuguesa, apresentavam-se navios franceses no Rio de Janeiro, e ainda houve mister a ação de Cristóvão de Barros, contra os restos do gentio, amigo dos mesmos franceses.

A Intensificação do Tráfico de Pau-Brasil ao Norte: 

É na região entre o Cabo de São Agostinho (PE) e de São Roque (RN) que navios franceses ancoram todos os dias em diferentes pontos da costa, onde a presença portuguesa ainda não é afirmada. Em 1581, os franceses construíram um forte na Paraíba, antes de serem derrotados e terem cinco de seus navios queimados. No mesmo ano, quinhentos homens, certamente huguenotes, partiram de La Rochelle, para o Brasil. 

A década de 1580 foi marcada por um forte tráfico francês nesta região, como evidenciado pelas inúmeras denúncias de mercadores e armadores que foram vítimas de violência por parte dos "espanhóis" (Portugal já se encontrava sob a União Ibérica): em 1582, 18 navios de Rouen foram queimados ao longo da costa brasileira, no ano seguinte, sete outros, ainda de Rouen. Em 1586, sete navios franceses foram relatados chegando à Bahia. Em 1594, dois navios de Dieppe e um de La Rochelle cruzaram Pernambuco. A guerra declarada por Henrique IV contra a Espanha em 17 de janeiro de 1595 dará uma nova intensidade a essas atividades. Em 29 de abril de 1595 cinco navios franceses vêm em auxílio do pirata inglês, Lancaster sitiado pelos portugueses em Pernambuco que ele havia assaltado.

Os Franceses na Paraíba, As Maiores Batalhas Travadas Contra os Franceses no Brasil:

Ao Norte, na Paraíba, franceses, aliados aos Potiguaras, nas boas graças dos Tabajaras: “Todos os anos, chegavam ali vinte, trinta navios franceses. Partiam; mas em terra ficavam sempre muitos homens para dirigir os trabalhos da colheita do pau-brasil e dos produtos do comércio, assim como para adestrar os corpos de índios... ficavam com eles em boa harmonia, penetravam o interior das terras, sem receios de serem surpreendidos e devorados.”. Mantiveram os franceses feitorias, donde faziam partir formidáveis ataques contra os colonos de Pernambuco, e a resistência desses colonos, através de repetidos revezes, por dezenas de anos, é o maior demonstrativo da invencível pertinácia dos portugueses, assim como da inferioridade dos franceses em confronto, ali, com a gente dos donatários. O fato impressionou à própria retórica de Rocha Pitta, que diz, dos de Pernambuco: “... teve de arrancar a terra, às polegadas, aos franceses, à testa de valente gentio”. Finalmente, a luta se situou nitidamente nas margens do Paraíba.

A longa guerra , em verdadeiros transes aí travada, teve como motivo principal a superioridade de número e de situação, a eficácia da tática do gentio aperfeiçoada pela direção dos franceses. O exército enviado de Pernambuco, para ali, foi o maior que, até então, se levantara no Brasil. E foi derrotado. Por isso mesmo, a vitória só veio para os portugueses quando estes, na sua repetida política aqui, procuraram dividir o gentio e achar apoio num dos seus bandos. Martim Leão, conseguindo desligar o tabajara Piragibe, dos franceses e potiguaras, conseguiu, finalmente, vencê-los, em 1585. Mas, era tão sólida e permanente a situação dos franceses, que, batidos, abandonando o gentio, recolheram-se à sua feitoria da Baía da Traição, onde a pertinácia do português os foi afrontar. Escarmentado, o gaulês não quis esperar... No entanto, não eram os franceses fáceis em desanimar. 

Celebrada as pazes com o gentio, o Padre Pires escrevendo dali, de Pernambuco, em 1556, se refere: “se fizeram muitos casamentos com mulheres da terra”. Os portugueses casavam mesmo com mulheres de tribos inimigas, como o fizeram com muitas das potiguaras aprisionadas na Paraíba, e daí resultou que uma delas, mulher de um soldado português, salvou o exército no Rio Grande do Norte, indispondo os seus parentes, aliados do francês Rifaut, e trazendo-os à aliança dos colonos.

A celeridade do casamento entre colonos portugueses e "índias" de tribos inimigas desses, em detrimento as índias de tribos já aliadas, revela, mais uma vez, nas entrelinhas, que essas "índias", mais cobiçadas, deveriam ser mamelucas franco-brasileiras. Na ausência de mulheres brancas, preferiam os portugueses casarem com mamelucas, a índias propriamente.   

Toda essa persistência na Paraíba se fez depois da esmagadora derrota no Rio de Janeiro, e do insucesso no Recife. E eles insistiam na Paraíba, ao mesmo tempo que procuravam firmar-se no Rio Real, sempre amparados nos Tupinambás. 

A Expulsão dos Franceses de Sergipe

Aquela mesma gente batida no Rio de Janeiro, batida no Recife, apesar da dura experiência, ainda não desistiu, e, em parte, voltou para as paragens do Rio Real (Sergipe), onde, desde sempre, franceses comerciavam com o gentio. Então, tornou-se mais intenso o movimento, mais formais e cordiais as relações. Sergipe, ostensivamente abandonado até 1575, era a zona de concentração de todas as tribos malquistas com os portugueses de Pernambuco e da Bahia, e os franceses exploraram, com a sua muita habilidade, a animosidade daquele gentio. Nesse estímulo, os índios se tornaram tão ameaçadores, que provocaram a intervenção do tempo de Luiz de Brito, e que foi um desastre para as duas partes. No entanto, as perdas sofridas pelas tribos de Sergipe não chegaram a diminuir-lhes o valor: continuaram fortes e temidos, e os franceses continuaram com eles. Havia estabelecimentos permanentes, com todas as suas consequências, alianças de sangue com as gentes das aldeias, cruzamentos... A luta para conquistar definitivamente aquele pedaço de Brasil não teve o seguimento nem a intensidade da Paraíba, mas foi além, no tempo. E era tão sólida a posição dos franceses no Rio Real, que eles pensaram em dar, com aquele gentio, o grande golpe no poder português: atacar e tomar a Bahia.

Foi, pela denúncia do plano, que o governo da metrópole resolveu liquidar o caso, incumbindo da empresa a Cristóvão de Barros. A campanha se fez quase que num só ato, sem que a derrota do cacique Boipeba afastasse definitivamente os franceses: em 1596, ainda há um Honoré, prático da barra do Vasa-Barris, em cujas tribos vive normalmente. Em 1593, reforçadas com contingentes que chegam, os franceses oferecem combate aos portugueses, nas águas do Rio Real, e são batidos por Tomé da Rocha. E ainda não é definitiva a eliminação, pois que, em 1595, recomeça a luta, em maiores perigos: uma esquadra poderosa, destinada a atacar a Bahia, destaca parte dos navios para reforçar um estabelecimento no Rio Real, onde a expedição do célebre Pão de Milho chegou a descer para ser, finalmente, batido por Diogo Quadros, num desenvolvimento de lutas que só terminam em 1596. Resta, ainda, alguma coisa; e só no primeiro ano do século XVII são definitivamente eliminados, de Sergipe, os renitentes adversários.

A Conquista do Rio Grande do Norte:

Conquistada a Parahyba, tantos anos agitados e tão desesperada resistência, patentearam a urgência de ocupar o Rio Grande onde os franceses perenemente se refaziam apoiados nos potiguaras com quem comerciavam. Dali, saíam também a roubar os navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas, mas, as pessoas, e vendendo-as aos gentios para que as comessem. De lá saíram uma vez treze navios para tomar Cabedelo e o combate durara de uma sexta a uma segunda-feira. Em suas águas chegaram a se reunir vinte navios procedentes de França. Muitos franceses mestiçaram com as mulheres indígenas, muitos filhos de cunhãs se encontravam já de cabelo louro. Três décadas depois, os holandeses, após conquistarem o forte dos Reis Magos (Natal-RN) e incursionarem no interior, testemunham "índios" louros, que não cortavam os cabelos a maneira dos demais, e que viviam apartados, sem se misturar com outros indígenas: "diziam-se, que, antes foram franceses". Ainda hoje resta um vestígio da ascendência e da persistência dos antigos rivais dos portugueses na cabeleira de gente encontrada naquela e nos vizinhos sertões da Paraíba ao Ceará.

Do Ceará para o Norte.... !

A presença dos franceses, para além do Potengy, é que obrigou o Governo-Geral conquistar e fortificar o Ceará. E para lá segue a expedição de Pero Coelho, com o jovem Martim Soares Moreno, guiado por um francês, sem o qual, Pero Coelho não teria feito nada.... diz Frei Vicente. E seguem para a Ibiapaba, aonde os franceses fundaram um povoado no alto da serra, no que hoje é Viçosa do Ceará, aonde comerciavam com os tabajaras. Após meses de refregas e combates, as forças de Pero Coelho conseguem vencer os tabajaras, e celebra pazes com os mesmos, levando presos 40 franceses. 

No litoral, o capitão Souza d'Eça, repele a gente de Du Pratz que atacou o forte do Rosário (forte de Jericoacoara – buraco das tartarugas, no Ceará): desembarcaram quatro bateladas de soldados, diz um dos mesmos franceses aprisionado depois, e são recebidos, na praia, pelo valente e brioso brasileiro Souza d’Eça, à frente de vinte homens, que o resto – trinta – teve de ficar no forte, pelo receio das tribos já levantadas na vizinhança. Dado o encontro, foram as quatro bateladas de franceses forçados a se retirar levando seus mortos e feridos. A frustrada incursão, era alguma coisa de importante: uma nau de 350 toneladas, com trezentos soldados.

Em 1615, há, ainda, uma investida de franceses, mas basta o vigário Baltazar Correia para os repelir.

A France Équinoxiale, a Terceira Tentativa Formal Francesa de Estabelecer no Brasil: 

A presença francesa no Maranhão antecede 1600, estimulados pela façanhas do célebre pirata Riffaut, senhor de toda aquela costa. Em 1594, traz o pirata uma grande expedição em 3 navios: perde o maior e, após contratempos, vem deixar no Maranhão os restos da aventura. Teria sido esse o começo do estabelecimento definitivo. 

A colônia se firmara por expedições diferentes, das quais se destacam duas: a de 1612, sob o comando de Ravardièr, em que vieram 500 aventureiros; e a de 1613, em 16 de abril, com Du Pratz, quando vieram 300 homens. Não há dúvida que a feitoria do Maranhão é anterior à vinda definitiva de Ravardière, pois que, na sua chegada, em 1612, ele foi recebido por uma frota de navios de Dieppe, tão bem relacionada e provida, que lhe ofereceu uma ceia, onde não havia motivo para desejar iguarias de França, dizem os cronistas. Os relatos dão conta que o estabelecimento existia desde 1609.

A França Equinocial fizera-se como o coroamento de uma posse comercial de mais de 50 anos, e batizara-se colônia em nome do Rei de França. Essa foi a mais forte e mais formal tentativa francesa sobre o Brasil,  Derrotados por um capitão brasileiro, que o faz com recursos exclusivos do Brasil, Jerônimo Albuquerque "Maranhão". Jerônimo, ganha a simpatia dos vencidos, e os estimula a ficarem, muitos franceses se estabelecem em definitivo, e se casam com mulheres de famílias açorianas que vem povoar a terra. 

O Despontar da Nacionalidade Brasileira

Bem consideradas as coisas, foi um bem essa insistência do gaulês em assenhorear-se do domínio português na América: o Brasil, que nasce e se forma entre episódios de valentia e patriotismo, logo se revelou valente e patriota, e foi para essa boa guerra de defesa intransigente que deu os seus primeiros homens. Nenhum outro povo americano teve uma tal iniciação. O primeiro estabelecimento em Pernambuco já foi em contestação com o francês; e se o português primava em tenacidade e sobranceria guerreira, aquele lhe respondia em teimosia e brio militar. Por mais batido que fosse, o francês refazia os recursos, dobrava o esforço, e voltava. O bom auxílio do gentio era mais um motivo para insistir: armava, adestrava a caboclada, acendia-lhe o ódio contra o português, e conduzia os seus exércitos a novos combates: Bertioga, Rio de Janeiro, Cabo Frio, São Gonçalo, Rio Real, Paraíba, Tejucupapo, Rio Grande do Norte, Ibiapaba... Com isto, a ação contra os franceses repercutia na índole política das populações coloniais, que, no movimento de resistência, unia-se para a necessária defesa. Tanto vale dizer: tornava-as mais coesas, e ordeiras, e indispostas contra as facções que enfraquecem. Não fora a presença do inimigo nas águas do Maranhão, e o destemido e valoroso Albuquerque Maranhão teria puxado a espada contra o trêfego intrigante Castelo Branco. Bem antes disto, já a coesão patriótica dos de Pernambuco-Itamaracá tinha conseguido afastar todos os maus efeitos dos dissídios do castelhano Castejón-Morales.

Nos primeiros tempos, eram os franceses os mais insistentes, mas não foram os únicos a disputar com o português a posse do Brasil. Holandeses, e, mesmo ingleses, tentaram estabelecer-se aqui, e a todos respondeu a intransigente e pertinaz resistência dos portugueses, até que os brasileiros vieram fazer, explicitamente, a defesa da sua pátria. E, com o esforço dessa gente, Portugal conseguiu garantir a posse da colônia. Ao reconhecer o poder do inimigo, em gentes e outros recursos, Estácio de Sá, antes de iniciar maior ação, decidiu seguir até São Vicente, e refazer-se, aí, com os auxílios que os respectivos colonos lhe prestassem. Com os índios e os valentes mamelucos de São Vicente, reunidos, formou ele o melhor da gente com que bateu o francês. Nesse momento, aparecem nomes – José Adorno, Martins Namorado... que, não obstante provirem da Europa, exprimem valores humanos exclusivos do Brasil. Finda a atividade francesa, o Brasil estava feito. E quando sobrevém as invasões holandesas, já encontra uma nação que não se deixa absorver, antes, os repelem, e mais do que isso, com força e ânimo para recobrar territórios d'além-mar tomados de Portugal.

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sábado, 20 de maio de 2023

A II Batalha de Salvador - 1638, Cai o Mito da Invencibilidade Holandesa.


A Batalha de Salvador, ocorrida entre 16 de abril à 25 de maio em 1638, com seu ponto culminante em 18 de maio, é legada a um inconcebível esquecimento, n’ um, que foi, dos mais heróicos episódios da nossa história! Não só pela magnitude da batalha. Já estabelecidos em Pernambuco, veio Nassau, pessoalmente, comandando a operação, em 40 navios de guerra, levando: 7 mil efetivos; três mil e tantos marinheiros, mais três mil homens de desembarque, e 800 índios. Contanto com os mais modernos armamentos da época, granadas, foguetes, luminárias, etc... uma força, atualmente denominada pelos exércitos modernos, como: “fuzileiros navais”, armados com o que de melhor havia, e apoiados, do mar, pelo fogo dos navios.  

A Batalha dos Condes!

Nassau sai de Recife com sua esquadra em 8 de abril de 1638, tentou um desembarque na foz do Rio Vermelho, mas foi fortemente hostilizado. Então velejou para a baía de Todos os Santos e desembarcou suas tropas na praia da Água dos Meninos em 16 de abril. Pedro Corrêa da Gama opôs-se às forças holandesas e obrigou-as a bater em retirada. Nassau então simulou um ataque e desembarque no porto.

Conde Bagnuoli, italiano,
comandante das forças brasileiras.
Atemorizado, Bagnuolo quis recuar para estabelecer a resistência junto às portas da cidade. Indignada, a população protestou. Duarte Coelho, o Governador Geral e o bispo trabalharam para acalmar o povo. Essa reação popular mudou o curso das coisas. Até então, as forças de Bagnuolo, entregaram sem resistência os fortes de: Monsserrat, em água de menino, aonde desembarcaram, Taparipe, e São Bartolomeu. Cruzaram o estreito, que liga a praia a cidade de Salvador, também sem qualquer oposição. O comando holandês, a esse respeito, ponderou que se houve-se apenas 100 homens, teria sido impossível passarem pelo estreito a exemplo do famoso episódio grego de Termópilas. E assim, iam as coisas.... foi graças a resolução popular, ante tamanha tibieza, que forçou a mudança dos comandantes de uma postura vacilante, para uma altiva e encarniçada defesa por Salvador. O povo exigiu, em armas em mãos, que a cidade fosse defendida! Passou para história, o caso de uma esposa que se recusou abrir a porta, para o marido, que: “.... não abriria a porta a homem, que tão baixamente, havia entregue o posto que estava encarregado, e quando viera a ser feito em pedaços, por haver sido em defesa da fé católica, e de seu Rey, alegre e orgulhosa, lhe receberia.”. E então, com esse espírito, incendiou como rastro de pólvora, o ânimo geral. E fez mudar, não só o curso da batalha, como de toda a guerra!

O conselho de guerra decidiu manter a defesa do lado de Itapagipe e o povo cuidaria da defesa da cidade na porta do Carmo. Os holandeses atacaram (20 de abril) com vigor e chegaram à porta do Carmo, onde Pedro da Silva opôs-lhes tenaz resistência. 

Nassau intentou então, cercar Salvador. Enquanto cessaram os combates, os brasileiros intensificaram a guerra de emboscadas. Luís Barbalho levantou em tempo exíguo, empregando mil homens, um reduto, que no futuro será convertido em forte que leva o seu nome.

Os defensores da cidade lançaram as companhias de emboscadas de Camarão, Henrique Dias, Francisco Rebelo, Sebastião do Souto, André Vidal de Negreiros e Assenso Silva contra os holandeses. Eles atacaram e mataram os holandeses pelos matos. Os holandeses tentaram erguer dois bastiões em frente ao Carmo, mas os guerrilheiros causaram-lhes grandes baixas. Enquanto isso, os defensores construíram uma poderosa linha de defesa no Carmo. Os holandeses redobraram esforços para levantar uma linha de baterias em frente à porta do Carmo e colocaram ali oito canhões. Bombardearam a cidade por três dias e três noites sem maiores proveitos.

Nassau não conseguiu sitiar a cidade, oque possibilitou a manutenção de vias que a abastecia. Resolve intimar o governador a se render, sob ardil, de que teria um reforço de igual força que dispunha naquele momento. Ao que enviou, o governador geral Pedro da Silva, como resposta,: "as cidades d’EI Rey não se rendem senão com balas e com a espada em mão, e depois de muito sangue derramado; e que os ânimos portugueses não se acobardam com palavras, senão com, obras".

Nassau logo que recebeu a altiva resposta do governador, começou bombardear a cidade, com pronta resposta.  As companhias de emboscadas não permitiam que os holandeses se afastassem de suas posições e Nassau se preocupava com a escassez de víveres de suas forças. A escurecer, entre a noite do dia 17 para 18 de maio, resolveu lançar um ataque decisivo às trincheiras de Santo Antônio, defendido pelo Mestre de Campo D. Fernando de Lodueña.

Enquanto a esquadra bombardeava as encostas de Vitória e Barra, Nassau lançou 3.000 homens contra as fortificações. Os defensores mandaram La Calce com seu Têrço Italiano para ajudar as posições atacadas pela esquadra, mas foi em vão. 

Nas Trincheiras de Santo Antônio, Define-se o Destino da Pátria!

Os holandeses assaltaram as trincheiras de St.º Antônio, com a luta assumindo proporções épicas, e os defensores esmagaram os assaltantes com grandes pedras e traves. Todas as tropas das fortificações exteriores acudiram ao combate, o que forçou Nassau lançar o resto de suas forças nesse ataque desesperado. A ação tornou-se decisiva e foi uma luta de vida e morte.

"Armada de infinita munição, de granadas e outros artifícios de fogo, que disparados incessantemente entre a tempestade das cargas, alumiava a noite, atroavam ao ar, choviam raios sôbre que de dentro .... presumindo os escaladores que com estes aparatos de horror, sacudiriam dela, os nossos, e franqueariam os dificultares passos por onde insistiam em subir, e pretendiam ganhar".

A luta que se seguiu transformou-se em verdadeira carnificina, ante a pequena distância entre os contendores e o incessante bombardeio da tropa invasora. No auge da peleja, o bravo capitão Barbalho, arremeteu de surpresa sobre a retaguarda do inimigo, obrigando-os a retirar-se precipitadamente. Nassau dá ordem de matar a quem se retirar ou fugir; reúne-os mais uma vez e, de novo, lança-os ao ataque, impetuoso, decisivo; os defensores batem-se, duramente, em combate corpo-a-corpo, e vendo a vitória em suas mãos, redobram de furor e entusiasmo. Os holandeses recuam, retiram-se, acossados pelas companhias de emboscadas, com a desvantagem de à noite desconhecerem o terreno.

“...um espetáculo tão horrível aos olhos, como medonho aos ouvidos. Alguns andando baralhados caiam mesmo perigo de que se desviavam. Pelas bocas de fogo, fuzilava a luz da pólvora, alumiando mais ao horror, do que á vista, a noite acrescentava com o escuro a confusão.”

Ao raiar do dia, Nassau, já buscando se retirar, usou como pretexto, uma trégua para enterrar os mortos. Os brasileiros não se deram conta do dano que causaram aos holandeses, e da dimensão de sua vitória. E assim, concederam o armistício. Os holandeses tiveram mais de 500 mortos e 700 feridos graves, enquanto os defensores tiveram 200 mortos e 90 feridos graves. Também deixaram mais de 50 prisioneiros. Um dos nossos, registrou em seu diário:

"Contamos os seus mortos na ocasião de entregá-los - 237 homens da mais bela aparência entre quantos já tivemos ocasião de ver; davam a impressão de verdadeiros gigantes, e eram sem dúvida a fina flor da tropa holandesa".

Dentre os nossos, padeceram em batalha: Antônio Bezerra Monteiro, primo do Mestre de Campo, Luís Barbalho Bezerra; Duarte Lopez Ulhoa, filho de Diogo Lopez Ulhoa. O intrépido Sebastião de Souto, faleceu no dia seguinte, de um tiro de mosquete que levara no peito. Manuel de Figueiredo, Niculao de Araújo, João Vieira, Mathias de Abreu, Belchior do Valle, Pedro de Heredia, Manoel Ramalho, Diogo Figueira (morreu da ferida), o Mestre de Campo Francisco Gil de Araújo, 

O ataque holandês foi um desastre, e no silêncio da noite de 25, reembarcaram furtivamente. Os defensores da Bahia atacaram na madrugada, mas encontraram apenas a artilharia, munições e armas que não puderam levar, abandonando nas trincheiras que ocupava, 4 peças, de 24, muitas armas e instrumentos de sapa e toda a artilharia dos fortes de Montserrat e Santo Alberto que nos haviam tomado.

Nassau, o grande príncipe, tem de aceitar a derrota, com a perda de 2.000 dos seus, e de reduzir o despeito a crueldades inúteis sobre os indefesos habitantes do Recôncavo.

Assalto holandês aos engenhos no recôncavo, em sua retirada. Nassau apresou tantos escravos quanto conseguiu, como justificativa para a Companhia, que com esse botim, a expedição não tivera prejuízo. Famílias inteiras foram mortas, degoladas, em despeito da derrota sofrida.

André Vidal de Negreiros
Atacada ainda, pelo mesmo príncipe, a Bahia teria sido despojada, se ele não tivesse defrontado, ali, com aquele terrível pernambucano, Luiz Barbalho Bezerra, o invulnerável, assim chamado por que nunca fora ferido em batalha, que, baldo de recursos, tenazmente perseguido pelas melhores forças do holandês, bateu-as sempre, e escapou ileso, para espera-lo nas colinas da Bahia, e arrancar-lhe da boca o pedaço apetecido.  

O senado da Câmara da Bahia, “reconhecendo que, abaixo de Deus, a vitória se devia em grande parte às tropas pernambucanas, oferece-lhe o donativo de mil e duzentos cruzados”. Eram tropas fatigadíssimas, após retiradas penosas, sem que, nunca, se deixassem vencer; haviam perdido, até então, porque lhes faltava o grande general que domina a fortuna e sabe fazer valer o heroísmo; em vez disto, tinham tido a estratégia miúda de Matias, ou a hesitação quase covarde de Bagnuolo.

Pela primeira vez, uma cidade do Brasil conseguiu se defender, sem auxílio do Reino, de um ataque em larga escala. Se o resultado tivesse sido diferente, com uma vitória de Nassau, significaria a vitória da Holanda na guerra e certamente a perda de todo o Brasil. A Batalha de Salvador (1638), foi um ponto de virada da guerra, com ela, caiu o mito da invencibilidade holandesa, n'ela também começa a brilhar a estrela de Vidal de Negreiros que, com a morte do bravo e intrépido Sebastião Souto, lhe sucede o posto, igualando se não superando seu mestre e que será o grande artífice da definitiva expulsão dos holandeses do Brasil, a quem jurara limpar a terra brasileira desses hereges.  



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sábado, 22 de abril de 2023

O Descobrimento do Brasil não foi Acidental, e nem Cabral foi seu Descobridor.

E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pois o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!

E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos... ...Seus corpos são tão formosos que não podem ser mais. enquanto ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que nós seus.

A terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertãn nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos - terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho.  Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Pero Vaz de Caminha.


A "Carta do Descobrimento", de Pero Vaz de Caminha, foi o primeiro registro geográfico, etnográfico e histórico da terra recém descoberta. A certidão de batismo e nascimento do Brasil pelos portugueses, que transpondo o abismo oceânico, houveram vista de um novo mundo que amanhecia depois da noite medieval. Antes somente imaginada nos contos célticos de uma ilha mitológica onde “...não há calor nem frio excessivos, tristeza, fome ou sede...”, a ilha “Brail”, que se tornava invisível ao ser tomada por uma súbita bruma sempre que os marujos se aproximavam dela. (ver: Hy Breasil - A Origem Céltica do Nome da Terra do Brasil.)

Hoje esta em voga dizer que "o Brasil não foi descoberto, e sim invadido".... esse tipo de "lógica", só pode ser aplicado diante dos Astecas e Incas, já organizados em Estados, e que mantinham soberania sob determinadas áreas. Antes da chegada dos portugueses não existia Brasil. E nem havia, na mentalidade indígena, uma ideia de pátria ou de país, eram nômades. Assim é que os brasileiros, e o Brasil, só passam a existir pós chegada dos portugueses. (ver: Oque é a Lenda Negra? O Imperialismo Ataca Nossa Identidade!)

Segundo teorias mais recentes. O Descobrimento do Brasil não teria sido acidental, nem de forma consciente para se tomar posse da terra, na verdade, teria sido uma deliberalidade pessoal de Cabral para constatar se de fato haveria terras ao oeste, afim de repetir o feito de Colombo.

Esfinge do que supõe ser Pedro Alvares Cabral.
Presente no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. Lá se encontram
outras três esfinges voltadas para o oriente: Vasco da Gama, 
Nicolau Coelho e Paulo da Gama. A quarta, voltada para o Ocidente,
se presume, mui provavelmente, ser Cabral.

Na tese de descobrimento intencional, fala-se muito na demarcação da linha do Tratado de Tordesilhas (1494) como evidência da ciência de Portugal de haver terras ao oeste. Em verdade a explicação para a transferência da linha de Tordesilhas mais para o oeste, seria impedir que Castelha fizesse a rota de contorno da África e assim afasta-la do comércio das índias, uma vez que essa linha tornava a rota de contorno mais distante da costa africana e ilhas adjacentes, impedindo os espanhóis terem entrepostos comerciais ao longo da rota, inviabilizando a rota de Castelha para as Índias via atlântico sul. Castelha aceitou o Tratado, porque acreditava ter chegado as índias com Colombo (1492), indo pelo oeste (os espanhóis só se deram conta de que, oque haviam descoberto era um continente, que se estendia do hemisfério norte ao extremo sul, em 1501, quando Américo Vespúcio, a serviço de Portugal, dar conta dessas terras ocidentais serem, na verdade, um novo continente, e por assim, levando seu nome: "América"). Os portugueses sabedores que Colombo não tinha chegado as índias coisíssima nenhuma, tratou de garantir, com o Tratado de Tordesilhas, o monopólio de sua rota já consagrada.

A tese atualmente mais aceita seria que Pedro Álvares Cabral se afastou mais do que o recomendado da sua rota original, propositalmente. Por que anteriormente, Vasco Da Gama lhe relatara que em sua volta das Índias havia observado indícios de que havia terra ao oeste. Tomado por essas suspeitas, e afim de repetir o feito de Colombo, Cabral deliberadamente se afastou e foi dar em Porto Seguro.

Outro fato que reforça isso, é que quando se ia tomar posse de alguma terra se levavam Marcos Demarcatórios, e a esquadra Cabral não levava nenhum único marco!

Duarte Pacheco
A pouca importância, à época, que o Rei de Portugal, deu a descoberta, também reforça a tese. Tendo o Brasil ficado abandonado ao curso de 30 anos, o que não é pouca coisa. Tendo el Rey, inclusive, repreendido Cabral, relegando-o ao mais profundo obscurantismo.

Há também outras teses, de que outros navegadores já haveriam estado no Brasil antes de Cabral, como Duarte Pacheco que relata em seu diário, a existência de pau-brasil em terras a oeste, e que assim, se depreende, ter estado em terras brasileiras. Melhor documentado, do que a estada de Duarte Pacheco, foi a do navegador espanhol Vicente Pinzon, que teria aportado na enseada do Mucuripe em Fortaleza, em 26 de janeiro de 1500, pouco menos de três meses antes de Cabral.

O almirante Max Guedes (falecido em 2011), historiador, dono de uma raríssima biblioteca com mais de sete mil publicações sobre assuntos náuticos e históricos dos descobrimentos registrados no final do Séc. XV. Pesquisou durante 50 anos sobre o assunto, até concluir com absoluta convicção que o Cabo se trata da Ponta do Mucuripe.

Trajeto de Vicente Yañez Pinzon, segundo Max Guedes.

Max Guedes refez milimetricamente a rota de Vicente Pinzón, desde a ilha de Santiago, no Cabo Verde até tocar a Ponta do Mucuripe, em uma viagem de 540 léguas, realizada em 13 dias, a uma velocidade de 5,5 nós. Depois como contraprova, fez a superposição do mapa de Juan de La Cosa, de 1501, sobre uma atual carta da costa brasileira. E observou que "o cabo assinalado por Juan de la Cosa como sendo descoberto por Pinzón, praticamente coincidiu com a Ponta do Mucuripe em Fortaleza".

Os documentos históricos parecem muito contundentes e apontam de fato para essa presença de Pinzon antes de Cabral. Mas como antes já dissera Capistrano de Abreu: "Nada devemos aos espanhóis, nada influíram sobre nossa vida primitiva; prendem-se muito menos a nossa história do que os franceses.... ....sociologicamente, os descobridores do Brasil foram os portugueses.". É dizer, a existência do Brasil esta diretamente ligada a Portugal. O Brasil, é uma invenção de Portugal! 

Ponta do Mucuripe, em que teria aportado Pinzon, e
que a chamou de “Santa Maria de la Consolación” 

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