sábado, 3 de março de 2018

Sangue e Tradição - As Características do Nacionalismo Brasileiro

“Lembrai aos seus descendentes que também são soldados, que não deveis desertar das fileiras de seus antepassados, ou por covardia, recuar.”

Platão


Uma Tradição é a condição essencial para que se confira caráter a uma coletividade humana e assim se distingua como nação. E é essa tradição, que sustenta a existência de uma entidade coletiva quando uma força exógena ou interna, a ameaça. O nacionalismo surge assim como reação ideológica consciente de defesa de seus interesses, não só material, mas como expressão viva em sua afirmação de existência.

nação é um agrupamento humano, unificado, que goza de uma origem comum, como explanamos em outras ocasiões: Nacionalidade e Nacionalismo. Oque implica, necessariamente, em laços de consanguinidade, bem como na consciência de comunhão desses laços, e sua consequente unificação política. Temos aí três elementos: 1. uma origem comum;  2. consciência de existência nacional; e 3. unidade política.

Já o nacionalismo, se manifesta uma vez existente a nação, atuando na defesa do interesse nacional. Sendo expressão ideológica dessa consciência nacional, constituindo assim, uma ideologia, uma ideologia que necessariamente zele pela sua preservação em todos seus aspectos materiais e existenciais.

Os aspectos materiais envolvem a defesa dos meios materiais da nação: um território, a pátria, que constitui a defesa de sua terra ancestral, de seus pais, ou mesmo eventualmente uma expansão territorial, quando necessária para assegurar sua existência. A constituição de um Estado.  Mas não só, dentro dos meios materiais esta incluso todo arcabouço tecnológico, industrial, recursos minerais ou vegetais e por assim dizer econômicos de que precise a nação para seu desenvolvimento e bem estar.

Os aspectos existenciais, se ligam a defesa da nação como entidade nacional, sua constituição, em sua afirmação de existência. Entram aí os elementos caracterizadores da formação da nacionalidade, em seus mais variados aspectos: étnico, religioso, psíquico, linguístico, etc..

No séc. XVIII, quando normandos franceses, holandeses e ingleses quiseram se estabelecer nessas costas, Portugal já havia desaparecido como nação soberana abatido pelo inimigo tradicional - Castelha. Não seria o seu influxo que sustentaria a nova pátria, naquela luta de morte, com os povos mais fortes do mundo. A descoberta e conquista da terra, as façanhas bandeirantes, a defesa contra o invasor, deram lugar a uma consciência comum, a um sentimento da figura do brasileiro. É nessa época que floresce a consciência histórica no brasileiro e quando o país toma sua configuração territorial, com o Tratado de Madrid, conduzido pelo brasileiro Alexandre de Gusmão.

Nesse sentido, o nacionalismo brasileiro por já constituir, de longa data, uma nação plenamente solidificada, a mais antiga das Américas, e mesmo de tantas quantas existentes na Europa. Não evidencia tanto o aspecto existencial na contemporaneidade, porque já cumpriu no passado esse papel. E por assim, mais se notabilizar, nos últimos tempos, pela defesa econômica.

Resta a demanda de um Estado Nacional próprio, que defenda os interesses nacionais, brasileiros, que será sob a forma de República:
“[....] verifica-se que, justamente um século antes das luta que se converteu em reivindicação nacional, justamente nos dois centros de formação brasileira, se desencadearam, ao mesmo tempo, lutas explicitamente nacionalistas: por parte dos paulistas que, brasilicamente, designavam os portugueses como forasteiros; por parte dos pernambucanos que, desdenhosamente, nomeavam os reinós de mercantis – mascates, e chegaram a falar em independência.... Admita-se no entanto, que tais lutas ainda não sejam esforços para independência: é inegável que nos fins do Séc XVIII, com os companheiros de Tiradentes, há uma explícita reivindicação de emancipação nacional. Notemos ainda, que em todos esses movimentos, a forma esboçada política é a da República. E assim se forma a nossa tradição de autonomia nacional.” - Manoel Bomfim.
Esse regime político republicano tomará sua maturidade com o Castilhismo, único sistema político verdadeiramente brasileiro, nas figuras de Floriano Peixoto e Getúlio Vargas no plano nacional, a se sagrar com a Constituição de 1937.

Na antiguidade, três elementos eram essenciais para caracterização de uma etnia (do grego: έθνος ethnos, povo): 1. origem comum; 2. língua e;  3. credo. A considerar que etnia é distinto de nação. Na etnia, embora um povo comungue desses três elementos, eles não se encontram unificados politicamente, caso dos helenos na Grécia clássica. Assim, os povos helênicos configuravam uma etnia, porque tinham uma mesma origem, uma mesma língua, e professavam o mesmo credo.  Mas não constituíram uma nação, porque não se unificaram politicamente. O mesmo ocorreu com os celtas, constituíam uma etnia mas não uma nação, porque lhes faltou unidade política, falta que os condenou a caírem subjugados por outros povos. Porém, uma vez que se unifiquem, formam uma nação. Então, tomando como parâmetro esses três elementos, e aplicando-os aos brasileiros, vemos com clareza os elementos caracterizadores da etnia brasileira: uma origem luso-tupi que se soma uma importante contribuição banta, a língua portuguesa e a religião católica. 

Uma origem comum, como já tratamos em outras oportunidades, não se confunde com raça, que é uma uniformidade de biotipo, mas sim com uma ancestralidade comum. Oque é bem caracterizado na formação brasileira pelo entrelaçamento lusitano e tupi, presentes em todo o território nacional e em maior ou menor grau também o elemento banto. 


O brasileiro, filho de pai norte-português, mãe tupi,
 língua galaico-portuguesa e fé católico-medieval.
Quanto a língua, foi o tupi a língua de nossa formação nacional, e um dos grandes fatores de unidade nacional. Falado do Amazonas ao Prata. Poucas línguas primitivas no curso da história, cobriu uma área geográfica tão extensa quanto o tupi. Seu largo emprego até meados do Séc. VXIII, mesmo por brancos, evidencia o grau de assimilação desses com o elemento nativo, e sua inserção na civilização que aqui se formava, ao mesmo tempo que desmente a falácia de que a população indígena fora exterminada. A língua foi fator também importantíssimo para incorporação de agrupamentos indígenas isolados ao longo de nossa formação, que ao tomarem contato com gente de mesma língua, se identificavam, e se deixavam absorver na civilização que se criava, a brasileira. O português se impôs pelo contínuo fluxo de portugueses para o Brasil, que com a descoberta das minas, viu atingir seu pico, concomitante a uma explosão demográfica no Minho que despejou para o Brasil uma das maiores levas humanas ocorridas na história. A adoção do português como língua nacional, note.... de maneira uniforme em todo o país! Atesta, mais uma vez, a unidade nacional brasileira, diferente do que se observa nas colônias de Espanha, em que populações nativas inteiras, viviam apartadas, formando castas sociais, e que por isso, ainda hoje, conservam, como uso franco, suas respectivas línguas nativas.  

A questão criada por Lima Barreto, em sua obra "Policarpo Quaresma", de que o português não nos é próprio, é coisa sem base. Tanto o tupi como o português, nos são legítimos, porque descendemos das duas cepas, além de serem parte de nossa formação nacional. Diferente seria, se nos fosse imposto falar inglês, posto não descendermos de ingleses. Como ocorre na Nigéria em que sua população não tem descendência inglesa, logo a língua inglesa é um corpo estranho, sem elos com sua etnia e nacionalidade. 

Não se pode se dizer nacionalista quem renega suas origens. Só se concebe um brasileiro católico, porque essa é a religião de sua ancestralidade, de sua identidade nacional, a qual deve honrar e manter. O genuíno catolicismo de um brasileiro é o popular, irmanado com seu povo, legado pelas gerações passadas, Tradicional, com a qual se conecta com tradições imemoriais de sua linhagem, de sua nacionalidade, perenizando o veio antigo e comum. 

Credos de matiz protestante ou qualquer outras alheias a nossa formação, são peremptoriamente descartáveis, posto serem elementos anti-nacionais, que ferem e rompem com a identidade nacional. Notadamente as seitas neopetencostais que se proliferam no Brasil e na ibero-américa, ovos da serpente. 

Crenças revivalistas, de cunho pagãs, desde que deite raízes em nossa linhagem nacional são legítimas, como é o caso da antiga fé Keltaika, ou eventualmente de matiz tupi ou banta. O candomblé deve ser rejeitado, pois vem pro Brasil tardiamente no Séc. XIX, quando o Brasil já estava feito, por escravos do golfo da guiné, iorubás, que foi um contingente ínfimo na formação brasileira, restrita ao recôncavo baiano, e mesmo lá, minoritária, e portanto não constituinte da nossa formação nacional.

O mesmo princípio se aplica a todas as searas de manifestação da cultura nacional: música, literatura, língua, arquitetura, vestuário.... tudo! Absolutamente tudo que implique expressão humana advinda de um brasileiro, deve se lastrear em suas tradições. 

Em fim, o aspecto cultural, é indissociável do étnico para o nacionalismo, pois somente é autêntico, quando oriundo de suas tradições orgânicas, porque só a transmissão cultural que se opera de geração para geração é caracterizadora de sua identidade nacional. Se uma cultura apresenta elementos estranhos a sua linhagem, trata-se de algo artificial, e portanto ilegítima, descaracterizadora de sua nacionalidade, e como tal, deve ser descartada.

Portanto, sendo o nacionalismo a manifestação consciente da nacionalidade, não se pode alcunhar de nacionalista eventual ideologia que não expresse seus elementos constituintes, seja em seu aspecto material ou existencial. Assim, o nacionalismo brasileiro deve expressar, necessariamente, a defesa de seus elementos caracterizadores, qual seja, a: perpetuação de sua descendência, Sangue; a defesa da Língua de seus pais, o português; e o Credo de seus ancestrais, a religião Católica Apostólica Romana.



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7 comentários:

  1. Excelente abordagem sobre oque é nacionalismo, em especial, o nacionalismo brasileiro. De fato a essência de ser nacionalista esta na defesa de sua nacionalidade, que esta intrinsecamente ligada aos elementos formadores da nacionalidade: um povo de origem comum, de mesma língua e mesma religião, ou seja um nacionalista brasileiro necessariamente tem que ter uma origem portuguesa, falar português e ser católico. Mais uma vez, esclarecedor! Me fez ver com clareza a essência do nacionalismo brasileiro!

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    1. Como costumamos dizer: O Círculo Castilhista é o Farol da nacionalidade!

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  2. Sou nacionalista revolucionário, ou seja, de esquerda, como René Zavaleta Mercado ou o baiano Alberto Guerreiro Ramos. A despeito das discordâncias, tenho acompanhado os artigos, parabéns pela iniciativa e precisamos fortalecer o nacionalismo mais que nunca!

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  3. Só um Nacionalismo Católico Brasileiro salva o Brasil! Eis o Nacional-Trabalhismo Brasileiro! Eia Sus!

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  4. É contraditório. A Igreja Católica é aversa a tudo que nao seja católico(trecho que menciona outras "fés". Ao fim do texto vocês retomam e afirmam a fé comum católica medieval. outro ponto: Vargas era positivista, agnóstico, isso nao seria entao um nacionalismo propriamente dito para os senhores de acordo com a doutrina que esta expondo.

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    1. Quem vos disse que Getúlio era agnóstico? A Santa Igreja Católica, corretamente, como doutrina só pode afirmar, ser a única, e assim é. O Estado-Nacional Brasileiro, como desiderato, também só tem uma única religião oficial, a Católica. Agora quanto aos seus cidadãos, vige a livre consciência de culto restrito as religiões da linhagem nacional. Não permitindo que religiões alheias a nossa formação adentre no seio nacional. Essa é uma política de Estado, que não diz respeito ao corpo doutrinário da Igreja. Quanto ao Círculo Castilhista, advogamos que a Igreja seja aquilo que ela foi, imutável, por mais de 1500 anos, e que assim permaneça.

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