quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Valor Militar dos Insurgentes.

É omitido aos brasileiros a epopeia e a grandiosidade do feito da vitória e expulsão sobre os holandeses no Brasil. Era a Holanda a maior potência da época e se defrontava contra a Espanha que também atingira seu ápice no curso da Guerra dos 80 Anos (1568-1648). É nesse contexto que o Brasil é envolvido, invadido pelos holandeses, uma vez que se encontrava dentro da União Ibérica.

Nessa época, o custo de armar e manter um exército era alto, razão pela qual a proporção entre efetivos e a população é relativamente pequeno comparado a outras épocas da história. A guisa de comparação, o maior exército do mundo na época era o espanhol, que não contava mais do que 15 mil homens. Na decisiva batalha  de Nieuwpoort em 1600, entre Espanha e Holanda, e que determinou a independência da Holanda, até então submetida a Espanha, contavam os holandeses 12 mil homens, contra 15 mil de Espanha.

formação em terço pelo exército espanhol (guerra dos 80 anos)

Essa batalha é um marco na História militar moderna. Do seu resultado, decaiu o uso do terço (unidade militar) dos espanhóis, durante  mais de um século considerado invencível, por formações lineares de infantaria menos rígidos, criados por Maurício de Nassau, grande artifice dessa inovação e comandante máximo do exército holandês.

Esse sistema militar holandês, foi incorporado pelo exército sueco e inglês no Séc. XVII. Com seu uso, gustavo Adolfo II, rei da Suécia, venceu o exército do Sacro-Império Germanico, bem mais poderoso, na batalha de Breitenfeld (1631). Também foi adotado pelo novo exército inglês de Oliver Cromwell, o início do que viria a ser o império britânico. 

É esse o inimigo que os brasileiros afrontarão, sem qualquer auxílio externo, antes contra as ordens da metrópole, que manda cessar os ataques.

Quando da invasão holandesa, os efetivos militares de Portugal, haviam sido desfeitos pela Espanha. As forças surgidas na resistência eram exclusivamente brasileiras, sem qualquer influência externa, oque resultou nas táticas inovadoras, a guerra brasílica, que deu a superioridade militar aos brasileiros. 

É nesse cenário que surgem os tremendos guerrilheiros: André Vidal, que se apresenta voluntário gratuito, nos seus dezenove anos, é dos mais decididos; mas o seu nome ainda não pode romper, na sombra dos Rabelo, Henrique Dias, Poti, Barbalho, Manoel Dias, Estevam de Távora, Sebastião Souto, Manoel Dias de Andrade... que, da terra pernambucana (assim se considerava todo aquele Norte), surgiram para amarrar o holandês às praias, donde nunca soube apartar-se por mais de oito léguas. Henrique Dias em l637, a façanha de Moreno que vem ameaçar o inimigo às portas do Recife. isto depois de ter batido e dizimado, de par com Rabelinho, em Ipojuca, Serinhaém, Goiânia, até a Paraíba, donde pôde voltar, sem que o contivessem. “Diante das suas tropas, assinala Southey, apavoradas, amotinadas, as guarnições holandesas entregavam-se...”. Souto, secundado por Vidal, conta outras façanhas de terror para o holandês, por todo o interior, até a Paraíba, também. Estevam de Távora, ânimo generoso e fidalgo, só temido pelo inimigo, era o destruidor das suas riquezas. Manoel Dias iludia, quando não podia bater, mas não se deixava vencer, e escapou ileso, de forças inimigas no dobro das suas. Rabelinho, depois de escorraçar os holandeses, e de lhes assolar os domínios, no Cabo, Moribeca, Santo Amaro... cercado e fechado em S. Lourenço, resistiu ferozmente, até varar,.num salto de tigre, por sobre o holandês atônito, escapando para Porto Calvo; contava, também, a glória de ter aliviado o Brasil do infame e cruel Ippo Eyessem, o verdugo da Paraíba. Camarão, glorioso e puro “Brasil”, é o mais terrível, na estratégia de guerrilhas: devastou o que já era feitoria e uso do holandês; incendiou-lhe açúcares e pau-brasil, saqueou-lhe os estabelecimentos, raptou-lhe embarcações; castigou as tribos suas aliadas, executou quantos trânsfugas veio a pegar; venceu o inimigo todas as vezes que pôde alcançar, sem se deixar bater nunca, em refregas várias, e verdadeiras batalhas. 

É a guerra Brasílica que se revela mais eficiente do que o sistema holandês, a gloriosa escola de resistência, o fecundo tirocínio de combates que ensinaram os pernambucanos a enfrentar o holandês, a vencê-lo, a desprezá-lo.

A resistência e o sucesso da insurreição frustrou os planos holandeses, que meses antes de sua capitulação, já organizava uma poderosa expedição ao Rio da Prata para tomar Buenos Aires e assim toda América do Sul.  

E nesse momento, pela primeira vez na história do Brasil, os brasileiros fazem valer seus próprios interesses contra os da metrópole. Não se deixando absorver pelo inimigo protestante. O despontar do nacionalismo brasileiro.




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