sexta-feira, 24 de abril de 2020

O Anti-Fascismo de Julius Evola

"ataquei repetidamente a teoria da "socialização" que, como se sabe,
foi a santa senha do fascismo de Salò, ao qual não aderi quanto doutrina. (...)
a socialização vejo um marxismo escondido, uma tendência demagógica...".
Julius Evola

Durante o período fascista, Evola não representou um ponto de referência cultural e político para o fascismo. Foi um de tantos, que passou sua trajetória de estudioso, sem desmerecer nem louvar.

Evola não aderiu à República Social Italiana, momento em que a doutrina fascista se mostra conclusa, em sua forma mais autêntica e sincera. Evola não compartilhou, preferindo deixar para outros sobre o espírito legionário de que tanto gosta de falar em anos posteriores.

Em seu retorno à Itália, em 1948, Evola começa a escrever para o "Meridiano de Itália", dirigido por Franco Maria Servello que, já em 1945, escrevia em jornais antifascistas contra o fascismo.

Do mesmo modo, o fundador de "Meridiano de Itália", Franco De Azagio, foi preso pelos fascistas republicanos, em agosto de 45, por colaborar com a força de ocupação aliada, tendo tido permissão, dos aliados, para publicar seu jornal. 

Quando Julius Evola foi preso em 1951, constituiu como seu advogado de defesa o antifascista Francesco Carnelutti, que jactará perante os juízes de ser um "não-fascista" não querendo ainda ser apresentado, cortesia dele, como "antifascista nem como vítima do fascismo".

Afirmando posteriormente que ele defende "idéias fascistas" mas não são "fascistas" na medida em que retoma uma tradição superior e anterior ao fascismo, que seriam pertencentes ao legado da concepção hierárquica, aristocrática e tradicional do Estado, concepção possuidora de um caráter universal e que teria se mantido até a Revolução Francesa.

Em outras palavras, Evola deixa claro que ele, não tem idéias fascistas, defende idéias preexistentes ao fascismo, e não é sua culpa se ele as tiver reatualizado. Segundo como o próprio se explica:
"Na realidade, as posições que tenho defendido e que defendo, como homem independente... não são as denominadas "fascistas", mas as tradicionais e contrarrevolucionarias". - Julius Evola. 
Em resumo, através de uma linguagem ambígua, mas igualmente compreensível, Julius Evola se proclama não fascista, a-fascista, anti-fascista.

É assim que reivindica o juízo emitido sobre a sua pessoa pelo suíço A. Moer que, afirma, "faz-me a honra de chegar junto de Pareto e me considerar o principal representante italiano da chamada "revolução conservadora".

O fascismo foi tudo menos uma "revolução conservadora".

O fascismo não considerou jamais a Revolução Francesa, tão odiada por Evola, como um fato negativo, mas a considerava como um marco significativo para a afirmação de um novo mundo, assim como a revolução bolchevique.

O fascismo não condenava as duas revoluções anteriores, se colocava de fato a si mesmo como a terceira e definitiva revolução, aquela que possui a capacidade de estabelecer a síntese entre as classes sociais para criar um novo mundo no qual o capital e o trabalho tivessem igual dignidade e nenhuma classe pudesse prevalecer sobre a outra.

Idéias que, na verdade, um conservador burguês como Julius Evola não podia nem aceitar nem partilhar.

De fato, Evola sublinha o fato de ter "atacado repetidamente a teoria da "socialização" que, como se sabe, foi o santa senha do fascismo de Salò, ao qual não aderi quanto doutrina. (...) a socialização vejo um marxismo escondido, uma tendência demagógica...". A Toda uma afirmação de antifascismo tal qual!

Assim, Evola desenvolve dentro do MSI - Movimento Social Italiano uma ação de direita, ao ponto de alcançar a marginalização dos elementos de "esquerda" que, ainda nos anos 50 estavam presentes neste jogo.

Não é uma hipótese. Diz o próprio Evola: 
"A verdadeira ação que eu pretendia exercer sobre os jovens do grupo "Imperium" e as outras correntes da juventude era no sentido de uma contraposição às tendências materialistas e de esquerda presentes dentro do MSI". - Julius Evola
Portanto, Evola se situa perante os incautos jovens missinos da época, como um aristocrata que condena a revolução burguesa de 1789, a França de 1848, e em fim a fascista de 1919, proclamando sua fidelidade ao mundo anterior a elas, condenando a violência proveniente de baixo, das massas, das multidões, do povo cujos chefes não tinham nas veias o sangue dos príncipes e imperadores, mas de operários, camponeses, artesãos.

No mundo fantástico de Julius Evola, são os "senhores" que dirigem seus servos, pela vontade e graça de um Deus que não se sabe muito bem quem é.

Sobre o plano político, que é o que nos interessa, a ação de Julius Evola, incide, de forma determinante, na formação disso que, ainda hoje, define-se impropriamente como "neofascismo". Se o "mestre" desprezava o fascismo quanto doutrina, admirando nele apenas a capacidade de ter despertado em muitos italianos, a vontade e o potencial para combater o bando destinado à derrota, os alunos não podiam ser piores do que ele.

Fiéis ao Estado, como fonte de autoridade, os Rauti e companhia, acabarão todos, com pouquíssimas exceções, tornando-se confiáveis aos serviços de segurança e policiais, com o objetivo de combater a "subversão vermelha".

Pena que Evola e seus asseclas não tenham explicado qual era a fonte divina de que o "Estado italiano democrático e antifascista" extraiu sua autoridade.

Talvez, na ânsia de destruir o fascismo subversivo, se esqueceram que a autoridade desse Estado vem do V Exército americano e do VIII Exército britânico que conquistaram a península entre 1943 e 1945.

Teria que deduzir que o poder do Estado atual deriva para Evola, e seus alunos de "forças divinas" das alturas onde, efetivamente, voavam os B-29 americanos e os Lancaster da grã-bretanha, que bombardeavam a Itália.

São estas as "instituições divinas" que criaram este poder a que Julius Evola, Pino Rauti e companhia foram submetido para combater o bolchevismo, e liquidar para sempre o que restava do fascismo do que não é necessário evocar outra coisa que o "espírito legionário", do qual, de resto, nem o professor, nem os discípulos nunca deram provas, não porque as faltam, mas a maldade é inerente a essa plebe, que pretende transformar-se na aristocracia e só chega a humilhar-se perante os mestres de plantão.

A plebe evoliana que condena o "Estado ético" de Giovanni Gentile, que apura o patrimônio ideal do fascismo como "comunistizante", que rejeita a revolução fascista e, arteramente, das que a precederam e que aquela foi nutrido, não renunciou ainda a apresentar-se como "fascista", ou "neofascista", como costuma dizer-se.

Talvez tenha chegado o momento de expor a esta massa plebeia que o seu mestre, Julius Evola, tinha pelo menos o valor de definir-se como representante da "revolução conservadora" que nada tem a ver com o fascismo.

Em consequência, não é por acaso que continue com a farsa de apresentar o MSI e os grupos a ele vinculados como "neofascismo" no lugar deles, evolianos, serem um bloco reacionário e conservador que sempre lutou para defender os privilégios da classe abastada e o poder de um Estado surgido após o fascismo e contra o fascismo.

A leitura e a compreensão da história italiana do pós-guerra seria certamente mais fácil se se reconhecesse que nunca existiu um "neofascismo", que os evolianos e seus asseclas não tiveram jamais qualquer relação com o fascismo, entendido como ideologia e que, vice-versa, têm desempenhado um papel instrumental para o antifascismo de cunho conservador e reacionário.

Libertar-se para sempre destes cadafalsos de covardes, mentirosos, dissimulados, estupradores e apologistas de estupradores, é tarefa meritória para quem, como nós, o fascismo não vê o "mal absoluto", mas uma página da história italiana e universal que ainda, no que diz respeito à sua doutrina social, permanece atual. Eles são, sempre foram e continuarão sendo para as gerações futuras, os filhos da Republica italiana, nascida em 25 de abril de 1945. E, com tal Mãe, não podiam agir de modo diferente do que alguma vez foram.


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Um comentário:

  1. Não tem nada a ver com o assunto desse post, mas preciso que vc me tire 1 dúvida. Já li aqui no blog que o governo castilhista do RS foi pioneiro ao reconhecer direitos à classe trabalhadora. Mas ao ler o texto da Constituição de 1891 do Estado, vi que no inciso 17 do artigo 71 é dito que era proibido ao governo regular profissões. Tem como explicar isso?

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