"...Quanto aos mártires, nós os amamos justamente como
discípulos e imitadores do Senhor, por causa da incomparável devoção que tinham
para com o rei e mestre. Pudéssemos nós também ser seus companheiros e
condiscípulos! Desse modo, pudemos mais tarde recolher seus ossos, mais
preciosos do que pedras preciosas e mais valiosos do que o ouro, para
colocá-los em lugar conveniente. Quando possível, é aí que o Senhor nos
permitirá reunir-nos, na alegria e contentamento, para celebrar o aniversário
de seu martírio, em memória daqueles que combateram antes de nós, e para
exercitar e preparar aqueles que deverão combater no futuro. (cap. XVII)"
Entre a noite de primeiro e dois de novembro, os celtas celebravam o Samonios. Oportunidade em que realizavam grandes assembleias religiosas, políticas e rituais em um território fronteiriço e com túmulos. Por isso, a ocorrência arqueológica de túmulos megalíticos nos locais de celebração, pois para os celtas era necessário lembrar e estar com seus ancestrais e recriar os feitos das eras míticas da gênese de seu povo. Cria-se que nessa época e nesses locais, o mundo Além, o Sidh, confluia com o dos vivos. E assim, as almas dos mortos eram capazes de interagir com o mundo dos vivos. Com o advento do cristianismo, esses ritos, no Sec. IX, foram cristianizados sob o nome de Todos os Santos a se celebrar no primeiro dia de novembro.
No norte de Portugal e Galiza, resquícios dessas tradições se mantiveram, tomando o nome popular de Magusto, e assim mantendo a tradição de ascender fogueiras nos cumes dos montes, ermos, visíveis da freguesia. Na noite de véspera, se assava castanhas nas fogueiras acesas, realizavam uma ceia, da qual parte era reservada ao morto, se peregrinava aos cemitérios e costumava-se deixar alguma comida aos seus mortos. As crianças, saiam de casa em casa, pedindo comida, abençoando os que davam e desconjurando os que negavam. Talhavam caveiras em abóboras, melancias, ou cabaças e punham a frente das casas para assim afugentar maus-espíritos. A igreja tentou, em vão, abolir esses ritos, que persistiram. Um padre de Límia Alta dizia em carta ao bispo: “Aqui, o que menos importa são os Santos. Quem têm verdadeira importância, e são os protagonistas destes dois dias, são os mortos”.
O sincretismo das crenças indo-européias com o judaísmo, junto a influência ocidental, inicialmente com o império alexandrino, e uma posterior ocupação romana sob a região, faz surgir o cristianismo, sob a forma de um judaísmo-reformado. Isso explica a rápida expansão do cristianismo dentro das fronteiras do mundo indo-europeu (incluso na própria galiléia com Cristo), ao passo, que entre as populações semíticas, quase não floresceu, antes sempre foi fortemente combatido.
São Martinho, celebrado em 11 de nov. em Portugal, durante o Magusto. Q.do parentes e amigos assam castanhas em torno de uma fogueira regados a vinho. |
Oque importa dizer, é que o Dia de Todos os Santos, originalmente, concebido pelo catolicismo açambarca não só o culto aos Santos canonizados e Mártires, como também os mortos. "Santos" em sentido lato são todos os mortos. Assim, sempre foi, desde remotamente com as primeiras comunidades cristãs. Os mortos, não apenas devem ser lembrados, honrados, ou mesmo ser objeto de orações para purgar seus pecados, como são pedidos a intercederem pelos vivos.
O Catecismo Católico atesta que: “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.”. Por isso, a Igreja sempre julgou salutar a oração pelos mortos para a satisfação das penas de seus pecados, bem como para que alcançassem o perdão de Deus. Além disso, as orações transmitem uma nova alegria aos mortos, que se regozijam pelas orações que lhe são ofertadas.
A fé católica não se restringe a esta doutrina consoladora que abre o céu às almas dos justos. Ela admite também um intercâmbio entre o mundo terreno e o outro mundo. Todos os homens resgatados são membros de um único corpo em Jesus Cristo, e assim formam uma única família, imensa, unida pelo laço da caridade. Esta união espiritual ocorre por meio da oração. Nossos antepassados nos prestam o socorro pela sua intercessão e sua assistência; da nossa parte, os vivos, lhes pedimos este socorro na veneração e na afeição. Tal é a doutrina da Comunhão dos Santos. Assim, lá no alto, os que se foram não são simples espectadores que se contentam em gozar, mas fiéis associados de seus irmãos ainda em luta sobre a terra.
Fartos são os registros arqueológicos em tumbas de comunidades cristãs primitivas, atestando tanto a veneração aos Santos, de suas imagens, como também aos mártires e aos mortos:
·
“Sutius, reze por nós, afim que sejamos salvos.
PETE PRO NOS (sic) VT SALVI SIMVS”.
·
“Augenda, vive no Senhor e intercede por nós.
EPΩTA”.
·
“Anatolius, ore por nós. EYXOY”.
·
“Filho, que teu espírito descanse em Deus;
interceda por tua irmã. PETAS”.
·
“Matronata Matrona, ore por teus pais Ela viveu
um ano e cinquenta e dois dias. PETE”.
·
“Atticus, teu espírito vive no Bem: implore por
teus pais”.
· “Joviano, viva em Deus e seja nosso intercessor”.
Não se deve cometer distorções, tão comumente feitas por protestantes e "ortodoxos", em considerar como "idolatria" a devoção aos Santos (em seu sentido lato). As críticas pelos protestantes, da devoção aos santos e suas relíquias, é fruto de traduções, e interpretações errôneas da Bíblia, bem como descontextualizadas. Se fundam quase sempre no versículo 20, 4 do livro de Êxodo, que diz:
“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” (Ex 20, 4)
Ocorre que a tradução do hebraico, no Velho Testamento, língua em que foi escrito originalmente, a palavra: “פֶסֶל֙ ” (fessel) significa na realidade “ídolo”. E não “imagem de escultura” como comumente foi traduzida nas bíblias protestantes.
Algumas páginas a frente, em Êxodo 25, Deus ordena a Moisés fazer “imagens”:
“Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.” (Ex 25,18)
Contraditório? Não... ! Oque Deus proíbe, é a fabricação de ídolos.
“Não terás outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta..” (Êxodo 20, 3-5)
Vemos que a passagem não se refere a “imagens” e sim a “deuses”, ou seja, a proibição se referia as imagens de deuses egípcios. Os deuses egípcios eram todos representados em imagens e pinturas, daí vem a proibição para que não mais fizessem representações destes deuses.
Como vemos a palavra não diz respeito a “imagem”, e sim a ídolos esculpidos, ou seja imagens de ídolos. Dessa forma vemos que a passagem é uma clara referência aos deuses do Egito, como mais uma vez, podemos ver:
“Não farás para ti ídolos ou coisas alguma que tenha a forma de algo que se encontre no alto do céu, embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra”. (êxodo 20, 4)
A referência a ídolos do “alto do céu” é uma referência aos Deuses egípcios dos ares: “Rá”, representado por um homem com a cabeça de um falcão, “Horus”, “Íbis”, “Toth”; “embaixo da terra”, a “Anúbis”, “Ápis”, “Khepra” , “Bastet”, etc.... ; e “ou nas águas debaixo da terra”, os deuses que habitavam as águas, adorados no Egito: “Sebek” um deus com cabeça de crocodilo, “Taueret” deusa em forma de hipopótamo, protetora das mulheres grávidas, etc.
Para que não haja qualquer dúvida de que Deus se referia aos falsos deuses do Egito, veja um trecho do livro de Josué:
“Agora, pois, temei o Senhor e o servi-o com inteligência e fidelidade. Afastai os deuses aos quais vossos pais serviram do outro lado do rio e no Egito, e servi ao Senhor”. (Josué 24, 14).
E para maior certeza de que Deus falava dos falsos deuses do Egito, leiamos Ezequiel 8, 8-10:
“Filho do homem, disse-me ele, fura a muralha, quando a furei, divisei uma porta. Aproxima-te, diz ele, e contempla as horríveis abominações a que se entregam aqui. Fui até ali para olhar: enxerguei aí toda espécie de imagens de répteis e animais imundos e, pinturas em volta da parede, todos os ídolos da casa de Israel”.
Em outra passagem, Deus ordena a Moisés fazer uma “serpente abrasadora”:
"Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá." Moisés, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia. (Nm 21,8-9)
A serpente abrasadora foi uma prefiguração de Cristo e o próprio confirma isto, ou seja, sua crucificação:
Como Moisés levantou a serpente no deserto,
assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo
aquele que crer tenha nele vida eterna. (João 3, 17)
E por isso a representação, de crucifixos, com Cristo crucificado na cruz.
“Com efeito, não temos levantado um altar a Cipriano como a um deus, mas que temos feito de Cipriano um altar para o verdadeiro Deus”. (Sermone 313A).
Em outro de seus sermões, agora, sobre o mártir Santo Estevão, diz: “Nós não temos levantado neste lugar um altar para Estevão, mas, com as relíquias de Estevão, um altar a Deus”. (Sermone 318).
Ainda, Santo Agostinho, condena a negação de Ário (arianismo) dos oferecimentos dos mortos, como uma de suas heresias: “a autoridade da Igreja universal que se reflete nesse costume não é pequena [....] não há dúvida que eles (os mortos) são beneficiados pelas devoções que os fiéis manifestam”.
“O culto dos mortos é impressionador. Nos lugares remotos, longe dos povoados, inumam-nos à beira das estradas, para que não fiquem de todo em abandono, para que os rodeiem sempre as preces dos viadantes, para que nos ângulos da cruz deponham estes, sempre, uma flor, um ramo, uma recordação fugaz mas renovada sempre. .... ".
Anne Catherine Emmerich, freira alemã e vidente, que se notabilizou por suas visões passadas e futuras sobre a igreja, dizia que a forte ligação - mesmo muito tempo depois de suas mortes - entre almas sagradas no Céu e seus descendentes aqui na terra, duravam séculos. Toda primeira formação do Brasil se deu no combate aos hereges protestantes franceses, e posteriormente holandeses, bem como na conversão de almas indígenas e escravos africanos. Como esquecer os Mártires de Cunhaú? Atrozmente martirizados, por se negarem a renunciar a Santa Fé Católica. E hoje, triste e desairosamente, seus descendentes aderem a credos dos que lhes condenaram a morte. É o mesmo que os renegarem e, por assim, quebram o elo com nossos ancestrais. Devemos pois, nesses tempos de atribulações, em que nossa pátria e a Santa Fé Católica são por todos os lados atacados, rezar aos nossos ancestrais para que intercedam por nós. E eles continuam zelando por nós, como sempre estiveram, ao longo de todos esses séculos, desde a Reconquista contra os Mouros, que assim, conservando a ibéria católica, propiciou com a expansão marítima a expansão da nossa fé para o mundo! E nós seus descendentes, o legado que nos foi confiado, conservar esse Brasil, a Sagrada Terra do Brasil, fruto dessa expansão marítima, aonde possamos professar nossa Santa Fé Católica, e dela com os do nosso sangue, como que por predestinação divina.... dilatar a fé e o Império!
Representação dos Santos Mártires do Engenho Cunhaú, atrozmente mortos, incluso crianças, por se recusarem a renegar a Fé Católica. |
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