terça-feira, 7 de abril de 2020

As Terras Altas do Brasil & Sua População Montanhesa

“Só em Minas Gerais o viajante encontra uma "terra tão grande, um sólo tão fértil e um clima tão salubre quanto o da Inglaterra, uma atmosfera de "aestas et non aestus", onde se desconhece a "tirania dos ventos gélidos e das geadas matutinas", finalmente, o "habitat" conveniente - senão a antiga pátria - do mais nobre homem tropical em elaboração, que surgirá quando as chamadas regiões temperadas tiverem terminado a sua missão. A minha opinião, é que somente sob o equador, que a raça perfeita do futuro atingirá a plenitude do gozo da bela herança do homem - a terra".” 

Por Terras Altas, compreende-se os planaltos e maciços (serras) que atinjam certa altitude que configurem um clima distinto da latitude em que estão inseridos. Assim, no Brasil, as Terras Altas são aquelas situadas acima de 800m de altitude, quando acima da latitude 24º S, e de 500m de altitude quando abaixo dessa latitude. 6,75% do território brasileiro se situa acima dos 800 metros de altitude (576.949,9 Km²), e 0,54% (44.446,5 Km²) acima de 1.200 metros, totalizando 623.105,8 Km². 

De modo que o clima montanhoso no Brasil, segundo a classificação de Köppen, seria Subtropical húmido de verão temperado, com 2 (duas) subdivisões: Cfb - sem estação seca; e Cwc - com invernos secos. O Cfb ocorre nas altitudes acima de 500m na Serra Geral abaixo da latitude 24º S, e acima dessa latitude a partir de 800m, ao longo da Serra de Paranapiacaba, Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira. O clima Cwc, de invernos secos, ocorrem nos sertões, além da Serra da Mantiqueira. Na Serra da Canastra, ao longo da Serra do Espinhaço (MG) que se prolonga até a Chapada da Diamantina na Bahia, e no Planalto Central.

Os biomas montanhosos, mesmo enquadrados em uma dessas subdivisões climáticas, podem variar conforme a altitude, precipitações e tipo de solo. Assim, em um clima Cfb, poderemos ver tanto matas de araucárias, como floresta atlântica e em seus pontos culminantes, campos de altitude. Do mesmo modo ocorre no tipo Cwc, que pode variar da Mata Atlântica, ao cerrado.


As Matas de Araucárias (Floresta Ombrófila Mista)

Nas latitudes 24º e 30ºS, entre uma altitude de 600 a 1200 m das regiões leste e central do planalto meridional nos estados do Rio Grande do Sul (25%) , Santa Catarina (40%) e Paraná (31%); e, outra que se apresenta como pequenas manchas próximas a latitude 22ºS, em altitudes relativamente altas entre 1200 a 1800m, na Serra da Mantiqueira, nos estados de São Paulo (3%), sudeste de Minas Gerais (1%) e sul do Rio de Janeiro (1%), verifica-se a ocorrência da Mata de Araucária (Floresta Ombrófila Mista, dita floresta pluvial ou floresta úmida) que é um complexo vegetal integrante do Bioma de mata atlântica, que porém, se notabiliza pela presença do pinheiro do Brasil, ou pinheiro do paraná, em regiões de precipitação anual uniforme entre 1.250 e 2.200 mm, e de temperaturas médias anuais de 10 a 18 °C (tolerando bem temperaturas de até -5 °C). Prefere solos profundos, férteis e bem drenados. Também encontrado em bosques isolados em áreas de campo.

Segundo a classificação climática de Köppen, a araucária encontra-se numa área de clima mesotermal do tipo C. Relata-se a ocorrência dos tipos Cfa, Cfb (preferencialmente), sujeito, eventualmente, a precipitações de neve em áreas superiores a 800m de altitude, sendo que estes dois ocorrem na região sul do país e, também, o tipo Cwb, que ocorre na Serra da Mantiqueira.

No Brasil, até o século XIX sua área original, cobria cerca de 253.793 km², e o seu ecossistema original ocupava mais de 20 milhões de hectares. É uma área maior do que países como a Suíça (41.285 km²), Áustria (83.879 km²), Romênia (238.391 km²) ou mesmo toda a Grã-Bretanha (209.331 km²) oque inclui Inglaterra, País de Gales, Escócia, e a ilha da Irlanda.




Os Campos de Altitude e os Campos Rupestres:


Os campos de altitude e os campos rupestres ocorrem nos pontos culminantes da Cadeia do Espinhaço até a Chapada da Diamantina, Planalto Central, Serra da Mantiqueira, do Mar, até a Serra Geral ao sul.

Embora os campos rupestres e os campos de altitude apresentem certas semelhanças. Os campos rupestres são um bioma diverso dos campos de altitude. Os campos rupestres ocorrem no clima Cwc, de inverno seco, nos sertões para além da Serra da Mantiqueira. Os campos de altitude no clima Cfb sem estação seca. Os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço estão situados em áreas de transição entre o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica, enquanto os campos de altitude das Serras do Mar e da Mantiqueira encontram-se totalmente inseridos na região de Mata Atlântica.

Em geral, os campos rupestres ocorrem principalmente acima de 900 m de altitude. Esses campos encontram-se distribuídos principalmente ao longo da Cadeia do Espinhaço, em áreas de transição entre o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica. embora áreas isoladas desse tipo de vegetação também sejam encontradas nas serras do Brasil Central (Chapada dos Veadeiros e Serra dos Pirineus, ambas em Goiás, e Serra da Canastra, no Sudoeste de Minas Gerais) ou em montanhas da região de São João Del Rei (Serra do Lenheiro), Tiradentes (Serra de São José) e Itutinga, em Minas Gerais, estas três últimas consideradas como pertencentes à Serra da Mantiqueira, mas com geologia e afinidades florísticas mais relacionadas aos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço.



















Já os campos de altitude ocorrem nos pontos culminantes situados acima de 1.500 m de altitude da Serra da Mantiqueira (Serra do Itatiaia, que abriga o Pico das Agulhas Negras), Serra do Caparaó (Pico da Bandeira), Serra do Mar (Serra dos Órgãos, com a Pedra do Sino), como também em Campos do Jordão e ao longo da Serra Geral ao sul.
Campo Rupestre - Pico das Almas,
Chapada da Diamantina - Bahia.


A flora dos campos de altitude das Serras do Mar e da Mantiqueira mostra uma notável afinidade com as das serras do sul do Brasil.


Os campos de altitude são típicos dos pontos mais elevados. Ocorrem principalmente nos sistemas serranos do sudeste brasileiro: Serra da Mantiqueira (Serra do Itatiaia, que abriga o Pico das Agulhas Negras), Serra do Caparaó (que abriga o Pico da Bandeira), Serra do Mar (Serra dos Órgãos, que abriga a Pedra do Sino), mas também em Campos do Jordão e em uma variedade de picos isolados em Santa Catarina e Paraná. Estão geralmente situados acima de 1.500 m de altitude e associados a rochas ígneas e rochas metamórficas, como granito, gnaisse e, no caso particular de Itatiaia, nefelino-sienito.





A População Montanhesa

São Paulo 1827, por Debret
Foi no planalto de Piratininga, situado no interior da capitania de São Vicente, distante mais de 12 léguas do mar, circundada por altas montanhas cobertas por uma extensa e cerrada floresta, aonde "não se pode nem entrar nem sair senão por um pequeno desfiladeiro", em que se fundou a vila de São Paulo, por antigas e nobres famílias vicentinas que subiram a serra, junto a gentios, sem fé nem lei, e mamelucos, e que assim viria a ser o centro irradiador da civilização brasileira no centro-sul do Brasil a dilatar suas fronteiras.
Relevo com a localização da Vila de São Paulo de Piratininga

Os primeiros que se fazem senhores de terras nas regiões recém-descobertas são, por direito de conquista, os representantes da velha nobreza vicentina. São eles os descobridores do sertão, os seus desbravadores, os seus povoadores, os primeiros ocupantes.

Cada um desses sertanistas se torna assim um núcleo germinal. Nas minas, na carta régia, que franqueia a posse das descobertas, manda-se que se distribuam datas a eles e “aos seus sócios”. Esse processo permite que a nobreza paulista se difunda rapidamente nas novas terras descobertas e prolongue aí as tradições do seu meio originário.

Os nobres da mais pura gema, aqui aportados, não desdenham de ligar-se às estirpes das antigas famílias paulistas; vão buscar, de preferência, por esposas, as filhas de senhores de engenho. Estes, como podem dar em dote às filhas muita terra, índios e pretos – diz um cronista sobre as mulheres da nobreza paulista – “na escolha dos maridos mais atendem ao nascimento do que ao cabedal. Por isso, só se casam com gente de “nobreza reconhecida”.
"A denominação de ‘Paulista’ é considerado por todas as mulheres muito honrável, sendo os paulistas reconhecidos em todo o Brasil por serem atrativos e pelo seu aprazível caráter".  – Von Martius.
E assim, como regra, os casamentos se faziam, na nobreza local, entre os próprios parentes, de preferência. Há a contar também o fato da restrição do círculo da vicinagem sob a ação dos grandes domínios. E também que as novas famílias, emergentes da família-tronco, costumam localizar-se em domínios circundantes ao domínio ancestral, o que tudo concorre para que os entrelaçamentos entre parentes sejam inevitáveis. Formando autênticos e poderosos clãs no período vicentino.

Ainda na carta régia de 1794, esses descobridores ficam com direito aos foros de fidalgo e ao hábito de qualquer das ordens honoríficas – o que prova quão persistentes são entre eles os modos aristocráticos. Esse ambiente aristocrático exerce, aliás, sobre a integridade moral desses caudilhos, bem como sobre a sua pureza étnica, um papel principal e eficientíssimo de tutela e resguardo – o que vai ter sobre a nossa evolução nacional uma influência inestimável.

A conquista e ocupação dos Campos de Guarapuava, no atual Paraná, se liga a essa tradição, de que nos fala a ata da Câmara de São Paulo, de 2 de outubro de 1627, quando inclui o aviso enviado à metrópole — acerca dos “espanhóis de Vila Rica que vinham dentro das terras da coroa de Portugal...”. Sua população é toda oriunda de paulistas, segundo Saint-Hilaire, que a visitou em princípios do séc. XVIII, em que diz ser quase toda branca: são raros os mestiços.

Fixados ali, prolongam os paulistas nessas novas zonas de dispersão a sua civilização original. Como nos centros de formação, guardam nelas os mesmos desdéns pela mestiçagem, a mesma cultura aristocrática de sentimentos, as mesmas vaidades de fidalguia, o mesmo orgulho sombrio: “Não querem mesclar-se com os mais – diz um contemporâneo – e andam sempre no mato no seu descobrir e minerar.".
“Seria erro, diz ele, pensar que a maioria dos habitantes dos campos gerais são mestiços. É muito mais considerável nesta região o número dos brancos realmente brancos do que nos distritos de Itapeva e Itapetininga (São Paulo); e, na época da minha viagem, raro era o artesão da cidade de Castro que não pertencesse à nossa raça por todos os costados. Bem diversamente dos pobres mestiços que povoam os campos perto de Itapeva, os moradores dos campos gerais são geralmente altos e bem-feitos, de cabelos castanhos e tez corada e trazem na fisionomia o cunho da bondade e da inteligência. São as mulheres, na sua maior parte, sumamente bonitas; têm as faces cor de rosa e nos traços delicadezas tal como nunca notei em brasileira alguma.” 
"Parecerá extraordinário que os habitantes do distrito de Curitiba e os dos Campos Gerais, provindos, na maioria, de europeus, sem nenhuma mistura de sangue indígena, apliquem aos portugueses europeus uma alcunha injuriosa, a de "embuavas": mas é preciso não esquecer que os filhos não são do País de seus pais, mas daquele em que nasceram e se educaram. Os nascidos no Brasil, de português e portuguesa, são brasileiros; amam tão pouco os europeus quanto os demais compatriotas e têm contra eles os mesmos preconceitos". – Saint-Hillare.
Enquanto os paulistas conservam, persistentes, os antigos pundonores aristocráticos, de que fazem tamanho timbre os seus antepassados do período colonial. É de vê-los, em pleno II Império, absorvidos pela preocupação dos seus costados aristocráticos, da pureza do seu sangue fidalgo, de puritate sanguinis, prontos sempre a subirem, através de longas genealogias, às matrizes heráldicas da Península, até entroncarem-se nesses Lopos,  Mens,  Peros,  Vascos da época da Reconquista ou num desses heróis luminosos, que ajudaram o infante D. Henrique a pesquisar, no fundo dos horizontes de Sagres, os mistérios do Mar Tenebroso.
Habitantes de Minas Gerais - Rugendas

Com a descoberta das minas, e o afluxo de imigrantes, nortenhos, notadamente para Minas Gerais. Ao contrário, dos paulistas, a nobreza local se mostra desprendida dessas prerrogativas. Os elementos que formam ali a base histórica da população não são fidalgos de raça, mas sadios e fortes camponeses do Douro, do Minho e das Beiras, sérios, sóbrios, honrados, de feitura patriarcal e índole plácida, e tão pobres que, no dizer de um cronista, “traziam às costas tudo o que possuíam”. Eles é que, caldeando-se com o primitivo paulista, constituem o cerne étnico do povo mineiro, tal como nos aparece no Séc. XVIII.

Daí não se radicarem entre esses montanheses orgulhos de raça, preconceitos de sangue, glórias de tradições heráldicas: ao contrário, timbram pela simplicidade das maneiras e atitudes. Pela pureza dos seus costumes, pela sua modéstia, pela sua hospitalidade, pela sua imaculada honradez, são os genuínos patriarcas da nossa civilização. Gente democrática por temperamento, núcleo de ricos proprietários, modestos, íntegros, lhanos, inteiramente sem arrogância, mas cheios de hombridade e independência.

Homens de ordem e de paz, moderados, tímidos, rotineiros, são entre nós, os que melhor refletem, mais propriamente, o caráter lusitano, ante o restantes dos brasileiros, mais sanguíneos, refletindo sua maior dose de sangue espanhol.

Criadores de caminhos, obra essen­cialmente civilizadora, esses bandeirantes conduzem o Brasil para uma autonomia indestrutível, que é a de quem, por si mes­mo, por si só, adquiriu a terra em que se estabeleceu. É por tudo isso que o nome deles se tomou distinto, como os dos pernam­bucanos, e de valor internacional. Todos que conhecem e tratam de coisas sul-americanas, mencionam o povo valente, esses antigos  paulistas que, ainda nas cortes portuguesas de 1820, são nominalmente referidos como efeito de irritante pavor para aqueles que, então, pensavam reduzir-nos à simples condição de colônia.

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