Georg Anton von Schäffer |
No presente ano de 2024, a imprensa sensacionalista conjuntamente com promotores de eventos comerciais, notadamente ao sul do Brasil, alardearam os "200 anos da imigração alemã para o Brasil.". Trata-se de uma grande mentira, propagada com fins puramente comerciais. Qualquer um, minimamente conhecedor do assunto, sabe que a imigração alemã teve sua origem na Bahia. E não só alemã, como também foi o marco que deu inicio a imigração em massa para o Brasil, quando em 1918 é fundada a primeira colonia oficial pela coroa, um ano antes da colonia de Nova Friburgo no RJ, e 6 anos antes da primeira colonia alemã ao sul do Brasil.
A presença de imigrantes alemães e suíços na Bahia antecede 1818. Com registros desde 1816, em Salvador e no sul da Bahia. Georg Wilhelm Freyreiss fundador e primeiro administrador da Colônia, chegou ao Brasil em agosto de 1813, com 24 anos. Era naturalista, tendo tomado parte na expedição do príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, entre 1815-17, que percorreu partes do Brasil, incluso o sul da Bahia.
1. Colônia Almada (1816)
Por volta de 1816, Peter Weyll, alemão originário de Frankfurt, estabeleceu-se com sua família nas margens do rio Itaípe, ao norte de Ilhéus, em uma sesmaria de uma légua quadrada que lhe fora concedida com o objetivo de promover a colonização da região ainda deserta. Com o auxílio de indígenas e 12 escravos, Weyll desmatou vastas áreas, destinando-as ao cultivo de milho, arroz e cana-de-açúcar.
Ao redor de sua propriedade, outros imigrantes fixaram-se, como Frederich Schmidt, também alemão, de Stuttgart, proprietário da fazenda Luisia, e Eugênio Borrel, suíço de Neuchâtel, que cultivava café na propriedade Castel-Novo. Durante a expedição de 1818, os renomados naturalistas bávaros Spix e Martius hospedaram-se na fazenda de Weyll, mencionando em seus relatos outros imigrantes alemães, como Scheuermann, residente em Salvador, que os acompanhou em parte de suas explorações pela região.
2. Colônia Leopoldina, A Primeira Colonia Alemã Oficial no Brasil (1818)
No ano de 1818, fundou-se a Colônia Leopoldina, no extremo meridional da Capitania da Bahia, na comarca de Caravelas, às margens do rio Peruípe, distante oito léguas de Vila Viçosa. Entre os principais fundadores contavam-se Georg Wilhelm Freyreiss, naturalista suíço; o Barão Von dem Busche, agrimensor alemão; Carlos Guilherme Mohrardt, médico estabelecido em Viçosa desde o mesmo ano; e o cônsul hamburguês Pedro Peyck. Esses empreendedores, ao receberem cinco sesmarias, congregaram seus capitais e ali deram início a uma colônia formada por imigrantes oriundos da Suíça e da Alemanha, nomeando-a em honra à Princesa Leopoldina, patrona da colonização germânica no Brasil.
Esta fora a primeira colônia no Brasil fundada por europeus não lusitanos, antecedendo em um ano a criação da colônia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro. Leopoldina destacou-se pelo cultivo de café, vindo a prover cerca de 60% da produção cafeeira da província baiana em 1842, e excedendo 90% dessa produção em 1853. Seus colonos, além do café, também se entregavam ao cultivo de mantimentos como abacaxi, jaca, laranja, manga, banana, fruta-pão, mamona, cana-de-açúcar, algodão, fumo, milho, mandioca e leguminosas, conforme registrado no Journal du Jura de 1820.
Colônia Alemã Leopoldina, sul da Bahia. |
3. Colônia do Rio da Salsa (1818)
No ano de 1818, instituiu-se às margens do rio da Salsa, entre os rios Pardo e Jequitinhonha, uma colônia singularmente composta por soldados brasileiros casados e estrangeiros de origem germânica. À semelhança das colônias de Almada, São Jorge dos Ilhéus, Leopoldina e Frankental, esta fora fundada com o intuito de povoar e tornar produtiva uma vasta região da Bahia ainda recoberta por densas matas, e população rarefeita. Distinguia-se, contudo, por estar inserida em área de presença de indígena, e por assim, insegura para o avanço da colonização. Por tal razão, a colônia do Rio da Salsa apresentava o caráter peculiar de abrigar um destacamento militar, denominado "Quartel da Palma", cuja função era garantir a segurança dos caminhos que ligavam o sul da Vila de Ilhéus à povoação de Canavieiras, elevada à vila em 1832.
Os colonos dali teriam desaparecido por volta de 1827, enquanto os soldados permaneceram no destacamento até 1836. Nesse ano, em ofício datado de 7 de junho, o juiz de direito de Ilhéus comunicou ao Presidente da Província o desaparecimento do referido destacamento. A Colônia do Rio da Salsa, embora jamais oficialmente extinta, sucumbiu em seus propósitos, desaparecendo de maneira definitiva e marcando mais um fracasso na tentativa de colonização da região.
4. Colônia Frankental (1821)
No ano de 1821, Georg Anton von Schaeffer, natural de Münnerstadt, acompanhado de dois sócios, João Felipe Henning e João Martinho Flach, recebeu uma sesmaria nas terras devolutas do Sul da Bahia. Juntamente com 20 conterrâneos da Francônia, Schaeffer navegou o rio Peruípe e fundou uma colônia na margem do afluente Jacarandá, região da Colônia Leopoldina, à qual deu o nome de Frankental (vale dos Francos). Médico naturalista, Schaeffer desempenhou o papel de agente de colonização de D. Pedro I, promovendo uma imigração espontânea ao oferecer terras, sementes, ferramentas e auxílio financeiro aos imigrantes dispostos a partir para o Brasil por conta própria.
Uma parte dos colonos chegou como soldados a serviço do imperador, enquanto os demais tinham a liberdade de escolher sua destinação. A colônia de Frankental destacou-se por não recorrer ao trabalho escravo, sendo Schaeffer contrário à utilização de escravos, defendendo que a produção poderia ser lucrativa apenas com colonos, como na cultura cafeeira. Em suas palavras: "pelo trabalho escravo, perder-se-ia uma vantagem da emigração alemã, continuando uma economia que já existe no Brasil. E cujo resultado não constitui uma benção geral para a pátria brasílica.". Schäffer, faleceu em 1836, em sua Fazenda Jacarandá.
Com a extinção da colônia em 1838, as propriedades de Schaeffer e Flach foram incorporadas à crescente Colônia Leopoldina, marcando o fim de ambos os empreendimentos e o início de um modelo capitalista baseado no trabalho escravo e na produção voltada para a exportação. João Flach, filho do pioneiro, foi senhor de quatro fazendas: Helvécia, Kaya, Samambaia e St. Prés, todas outrora pertencentes à Colônia Frankenthal.
5. Colônia de São Jorge dos Ilhéus (1822)
Peter Weyll, o mesmo que fundara a Colônia de Almada, em sociedade com Adolpho Saueracker, estabeleceu, ao sul de Ilhéus, a Colônia de São Jorge dos Ilhéus, em terras de uma sesmaria que lhes fora concedida no ano de 1818. Em 1822, aportaram à Vila de Ilhéus os primeiros colonos alemães, e, no ano seguinte, chegaram 28 casais, totalizando 161 imigrantes, que haviam embarcado no porto de Rotterdam munidos de ferramentas e algum pecúlio para os primeiros tempos.
Entretanto, em razão dos embaraços causados pela Guerra da Independência, os instrumentos de trabalho foram retidos no porto, enquanto a colônia permanecia incompleta para recebê-los. Muitos, enfrentando enfermidades e escassez de recursos, abandonaram o empreendimento e buscaram refúgio na vila. Sensibilizada pela miséria dos imigrantes, a Câmara Municipal de Ilhéus apelou a D. Pedro I, que liberou fundos destinados à manutenção da colônia por dois anos. Tais providências, somadas à derrubada das matas e à preparação das roças, permitiram que os poucos colonos restantes se estabelecessem de modo definitivo nas margens do rio Cachoeira, a uma distância de três a quatro léguas acima de Ilhéus.
Com o tempo, a colônia tomou feição de um conjunto de fazendas, assemelhando-se à trajetória da Colônia Leopoldina. Sua população foi paulatinamente assimilada pela sociedade local, sendo reconhecido que “quase todos os fazendeiros ou são brasileiros, ou descendentes dos antigos colonos.”
Colonia Alemã de São Jorge de Ilhéus, por Rugendas. |
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