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sábado, 24 de maio de 2025

O Estado Positivista Catarinense como Realização do Projeto Republicano Brasileiro (1891-1924)


Com a proclamação da República, uma fecunda intelectualidade positivista-militar chegou ao poder em Santa Catarina — e, mais do que em qualquer outro estado do Brasil, conseguiu implementar o projeto político-republicano pensado para o país. Isso ocorreu até mais do que no Rio Grande do Sul, para onde os holofotes — da difamação e da calúnia — costumam apontar. A Constituição de Santa Catarina foi mais influenciada e, por assim dizer, mais alinhada aos preceitos comtianos do que a do Rio Grande do Sul, sempre referendada como 'positivista' (não se nega a influência positivista, mas, no RS, se revela nuances e práticas distintas, que lhe conferem natureza própria, sui generis). O fato é que Santa Catarina, diferentemente do Rio Grande do Sul — que se viu envolto em guerras sangrentas provocadas pelos liberais (exceto nos primeiros anos da República, com a Revolução Federalista, que chegou a ocupar a então capital, Desterro [Florianópolis]) —, ingressou em um período de grande estabilidade após esses eventos, com a consolidação desse grupo político-positivista. Sob a liderança e o prestígio de Lauro Müller, que conseguiu fazer sucessivos sucessores durante todo o curso da República Velha, promovendo um período excepcional de prosperidade em Santa Catarina.


O Partido Republicano Catarinense - PRC

O Partido Republicano Catarinense foi fundado em 27 de junho 1887, por Raulino Júlio Adolfo Horn. Descendente de alemães, graduado em Farmácia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, seguindo a profissão do seu pai. Ajudou a fundar o clube abolicionista de Desterro (Florianópolis) e trabalhou como jornalista, fundando jornais para disseminar os ideais do PRC. 

A República propíciou à difusão das ideias positivistas, especialmente entre militares, engenheiros e jovens formados nas escolas técnicas e militares do Império. E foi desse núcleo positivista que saiu o grupo formado em torno da redação do jornal "O Estado", em Desterro, que congregava intelectuais, juristas e políticos alinhados com os princípios de ordem, progresso e organização racional do Estado. Esses positivistas catarinenses tiveram papel decisivo na elaboração da Constituição Estadual de 1891, que refletia fortemente os ideais de Auguste Comte, preconizando um governo técnico, centralizador e reformista. A influência castilhista também se fez sentir, principalmente através de conexões com o Partido Republicano Rio-Grandense, inspirado por Júlio de Castilhos.

Com proclamação da República, Uma Junta Governativa administrou Santa Catarina de 17 de novembro de 1889 à 2 de dezembro de 1889. O Triunvirato, composta por João Batista do Rego Barros Cavalcanti de Albuquerque, Alexandre Marcelino Bayma e Raulino Júlio Adolfo Horn. Quando o então Presidente Marechal Deodoro da Fonseca, nomeou Lauro Severiano Müller, para Presidente (governador) de Santa Catarina, por indicação de Benjamin Constant. Assumindo em 2 de dezembro de 1889. Interinamente foi substituído pelo Vice-Governador Raulino Júlio Adolpho Horn. Que também veio a renunciar, tendo governado de 24 de agosto à 29 de setembro de 1890. Oportunidade em que entrega o governo ao então vice-governador Gustavo Richard. E segue para o Rio de Janeiro para assumir o cargo de Senador por Santa Catarina (1890-99), e Lauro Müller, o cargo de deputado constituinte (eleito em setembro de 1890).

Müller reassumiu o governo de Santa Catarina em 10 de novembro de1891, quando já se encontrava deflagrada a Guerra Federalista e foi forçado a renunciar 18 dias após. A renúncia de Deodoro em 23 de novembro e a ascensão de Floriano Peixoto, que anulou a dissolução do Congresso. Acarretou na deposição dos governadores deodoristas,em vários estados. Em Santa Catarina, a oposição lberal se voltou contra Lauro Müller na capital – então Desterro – e em vários municípios. Republicanos de Blumenau, liderados por Hercílio Luz, formaram uma coluna armada que se pôs a caminho da capital para defender o governador. Mas, sem a garantia das tropas federais, Müller ponderou que suas chances de resistência eram mínimas e renunciou ao governo em 28 de dezembro. 

Lauro Müller retomou o mandato de deputado em abril de 1892, com a reabertura do Congresso Nacional. Nessa oportunidade, estabeleceu relações com dirigentes do Partido Operário Brasileiro, organizado pelo tipógrafo Luís França e Silva. Solicitando, em maio, à Câmara que examinasse a representação do partido em favor da instituição das oito horas de trabalho. 

Em 1893, passou a prestar apoio ao governo federal. Quando Floriano Peixoto enviou tropas na luta contra os Maragatos, partidários de Silveira Martins, no Rio Grande do Sul e a Revolta da Armada. Em Santa Catarina, o governador Manuel Joaquim Machado se aproximou dos liberais (maragatos) e rompeu com o governo central, deixando o governo no mês de junho e substituído pelo vice-governador Eliseu Guilherme da Silva. Em setembro, teve início a Revolta da Armada no Rio de Janeiro. Após ser derrotado, o almirante Custódio de Mello se dirigiu com parte da esquadra rebelde para Santa Catarina, aliando-se aos liberais (maragatos). Enquanto Eliseu Guilherme da Silva passava o governo ao segundo vice-governador, Cristóvão Nunes Pires, os revoltosos ocuparam Desterro e instalaram um governo provisório da República chefiado pelo capitão de mar e guerra Frederico Guilherme de Lorena.  

No mês seguinte, Lauro Müller tomou parte na força expedicionária legalista do general Francisco de Paula Argolo, incumbida de impedir o avanço da coluna de Gumercindo Saraiva, advinda do Rio Grande do Sul, sobre Santa Catarina. Mal equipadas e inferiorizadas numericamente, as tropas legalistas evitaram o combate direto, recuando para Curitiba. Os maragatos de Gumercindo Saraiva prosseguiram a ofensiva: conquistaram a capital paranaense, o porto de Paranaguá e a cidade de Lapa (PR), marchando em direção a Itararé (SP). 

Müller retirou-se com as tropas legalistas para São Paulo e não participou das operações militares subsequentes contra os maragatos. Em março de 1894, as forças de Gumercindo deixaram o Paraná e recuaram para o Rio Grande do Sul. Em 22 de abril, o coronel Antônio Moreira César foi nomeado interventor federal em Santa Catarina, quando governou até setembro. Oportunidade em que Hercílio Luz foi empossado como primeiro governador eleito pelo voto direto. Um dos seus primeiros atos como governador foi a mudança do nome da capital estadual para Florianópolis, em homenagem a Floriano Peixoto. 

Reeleito deputado federal em outubro de 1894. Müller tornou-se a figura de maior prestígio da política catarinense no cenário nacional, ao mesmo tempo em que Hercílio Luz se consagrava como principal chefe político no estado. Na Câmara dos Deputados, integrou o grupo de parlamentares florianistas do Partido Republicano Federal - PRF que, sob a liderança do deputado paulista Francisco Glicério, tentou, sem êxito, tutelar as ações do presidente Prudente de Morais (1894-98). Reeleito deputado em 1896, renunciou à Comissão de Orçamento em junho seguinte, em solidariedade a Francisco Glicério, derrotado na eleição para a presidência da Câmara. Também em 1897, cuidou da organização do Partido Republicano Catarinense (PRC), juntamente com o governador Hercílio Luz, com quem acertou a composição dos principais diretórios municipais. De volta ao Rio de Janeiro, participou da convenção oposicionista que lançou o nome de Lauro Sodré às eleições presidenciais de março de 1898, vencidas por Campos Sales, ex-presidente do estado de São Paulo. A eleição para o governo catarinense ocorreu no mesmo ano, com a vitória do capitão Filipe Schmidt, deputado constituinte em 1891 e primo de Müller.

Ao término do seu mandato de deputado federal, Lauro Müller foi eleito senador por Santa Catarina em 1900.   Em 1901, atuou como mediador da crise no PRC entre a ala dissidente de Hercílio Luz, defensor da reconciliação com os liberais, e o grupo do governador Filipe Schmidt, contrário. Müller apoiou a ideia da reconciliação e conseguiu reunificar o partido. Proclamado chefe supremo do PRC, foi eleito governador de Santa Catarina em agosto de 1902. Empossado no mês seguinte, já em novembro passou a chefia da administração estadual ao vicegovernador Vidal Ramos, acedendo ao convite do presidente eleito Rodrigues Alves (1902-06) para integrar seu ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Quando foi um dos principais responsáveis pela remodelação do porto do Rio de Janeiro, obra prioritária do programa de governo do presidente Rodrigues Alves. A modernização do porto e a reforma urbana liderada pelo prefeito Francisco Pereira Passos transformariam radicalmente a fisionomia da capital da República. O plano das obras do porto do Rio de Janeiro ficou a cargo de uma comissão presidida por Müller. Também foi prevista a abertura de duas grandes vias para a comunicação do porto com a cidade: a avenida Central (depois denominada Rio Branco) e a avenida do Mangue (futura Francisco Bicalho). A construção ferroviária com Lauro Müller no Ministério da Viação, teve um acréscimo de 1.560 quilômetros, atingindo o total de 17.240 quilômetros! A Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) prolongou a chamada Linha do Centro, alcançando as cidades de Cordisburgo, Curvelo e Corinto, em Minas Gerais. O alargamento da bitola da EFCB no ramal de São Paulo, obra essencial para a ligação entre as duas maiores cidades do país, foi bastante adiantado. Em outubro de 1904, Lauro Müller autorizou a Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil a promover a ligação entre Bauru (SP) e Cuiabá, levando em conta a importância estratégica da comunicação ferroviária entre a região Sudeste e o estado do Mato Grosso. Em setembro de 1906, o primeiro trecho de cem quilômetros da Companhia Noroeste foi inaugurada em cerimônia que contou a presença de Müller, do presidente do estado de São Paulo, Jorge Tibiriçá, e vários políticos paulistas. Em junho de 1905, o Ministério da Viação promoveu concorrência para a implantação da ferrovia Madeira-Mamoré, por força do Tratado de Petrópolis em novembro de 1903 que obrigara o Brasil a assumir os custos da construção da ferrovia, como forma de compensação à Bolívia pela perda do Acre. A concessão outorgada ao engenheiro Catramby foi adquirida pela Madeira-Mamoré Railway, empresa ligada à Brazil Railway, do empresário estadunidense Percival Farquhar, que levou a cabo o empreendimento.


  • 1891 – Lauro Müller (interinamente)
  • 1891–1894 – João Batista do Rego Barros Cavalcanti Albuquerque
  • 1894–1895 – Hercílio Luz (1º mandato, interrompido)
  • 1895–1898 – Lauro Müller (2º mandato efetivo)
  • 1898–1902 – Filipe Schmidt (1º mandato)
  • 1902–1904 – Alfredo d'Escragnolle Taunay (Barão de Taunay)
  • 1905–1910 – Vidal Ramos (1º mandato)
  • 1910–1914 – Vidal Ramos (2º mandato)
  • 1914–1918 – Filipe Schmidt (2º mandato)
  • 1918–1922 – Hercílio Luz (2º mandato)
  • 1922–1924 – Hercílio Luz (3º mandato; faleceu no cargo)


Raulino Júlio Adolfo Horn (1849–1927)

Filho de imigrantes alemães e natural de São Pedro de Alcântara, Raulino Horn foi farmacêutico, jornalista e político atuante. Fundador do Clube Abolicionista de Desterro e um dos primeiros republicanos catarinenses, Horn teve papel decisivo na militância pelo regime republicano desde 1887.

Foi vice-governador em diversas gestões, sobretudo ao lado de Lauro Müller, e assumiu interinamente o governo estadual várias vezes entre 1890 e 1920, sempre atuando como agente conciliador em momentos de crise. Deputado estadual em três legislaturas e presidente da Assembleia Legislativa, destacou-se por seu compromisso com a ordem institucional e a defesa da república.

Faleceu em 1927, aos 78 anos, sendo uma das vozes mais persistentes do republicanismo e do positivismo técnico em Santa Catarina.


Lauro Severiano Müller (1863–1926)

Lauro Müller, Presidente de SC
por 4 vezes. Deputado Constituinte,
Senador, Marechal do Exército,
ministro e Chanceler.
Figura central do positivismo catarinense e principal liderança política da transição do Império para a República em Santa Catarina. Natural de Itajaí, filho de imigrantes alemães, formou-se engenheiro militar em 1885 na Escola Militar da Praia Vermelha, tornando-se discípulo de Benjamin Constant, que influenciou sua adesão ao positivismo. Nomeado primeiro governador republicano de Santa Catarina em 1889 por Deodoro da Fonseca, inaugurou a administração republicana com foco em educação, infraestrutura e modernização administrativa.

Assumiu o governo estadual várias vezes: inicialmente de 1889 a 1890, depois brevemente em 1891 (renunciou por pressão da Revolução Federalista), e novamente eleito para o período de 1902 a 1906, embora tenha governado apenas 44 dias dessa vez, entregando o cargo ao vice Vidal José de Oliveira Ramos para assumir ministérios federais. Durante seu ministério da Viação (1902-1906), promoveu grandes obras, incluindo a abertura da Avenida Brasil e a ampliação da rede ferroviária, essenciais para o escoamento da produção catarinense.

Foi senador entre 1890–99 e de 1912 até sua morte. Na sessão de 22 de dezembro de 1890, da Câmara Federal foi quem primeiro apresentou na República, a previsão de mudança da capital federal para o Planalto Central. Pioneiro também na iniciativa da realização de obras contra a seca no semiário-árido brasileiro. 

Tendo sido também Ministro das Relações Exteriores, Chanceler, de 1913 à 1917, quando deixou o cargo sob pressão da opinião pública devido à Primeira Guerra Mundial e suas origens germânicas. Em 1918, foi eleito governador de Santa Catarina pela última vez, mas renunciou em favor de Hercílio Luz.

Müller teve papel fundamental na política nacional e na consolidação do positivismo técnico-científico catarinense, atuando no desenvolvimento da infraestrutura e na defesa do interesse regional no cenário federal. Morreu em 1926, sem herdeiros políticos diretos, oque motivou um enfraquecimento ideológico do seu grupo político. Seu nome batiza várias cidades, ruas e logradouros, além do município de Lauro Müller, importante para a mineração do carvão.


Hercílio Pedro da Luz (1860–1924)

Natural de Desterro (hoje Florianópolis), engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Hercílio Luz foi aliado próximo de Lauro Müller e um dos pilares da república catarinense. Durante a Revolução Federalista (1893–95), liderou as forças legalistas em defesa do governo estadual contra os maragatos (liberais).

Governou Santa Catarina em dois mandatos principais (1894–98 e 1918–22), além de exercer a chefia do Executivo interinamente em outras ocasiões. Seu governo destacou-se pela forte ênfase em obras públicas: expansão da malha ferroviária, construção de portos, fomento à colonização do interior e avanço da educação técnica. Sob seu comando, consolidou-se a industrialização incipiente do Vale do Itajaí, especialmente no setor têxtil.

Seu período no governo foi marcado por estabilidade política e desenvolvimento econômico, sustentando a hegemonia do grupo positivista. Faleceu em exercício do terceiro mandato em 1924, deixando um legado de modernização e infraestrutura para o Estado.


Filipe Schmidt (1850–1924)

Advogado formado e natural de São José, Filipe Schmidt foi jornalista e político de destaque no grupo positivista catarinense, aliado de Lauro Müller e Hercílio Luz. Governou Santa Catarina em dois mandatos (1898–02 e 1914–18), período em que consolidou a educação pública republicana e incentivou a colonização e o desenvolvimento industrial, especialmente no setor têxtil.

Sua gestão foi marcada por um perfil técnico, conciliador e moderado, que buscava equilibrar os interesses das oligarquias locais com as demandas modernizadoras da elite republicana. Schmidt foi essencial para estabilizar o regime e promover políticas públicas progressistas, mantendo o apoio político do grupo positivista.

Faleceu em 1924, encerrando, junto com Hercílio Luz, a era dos estadistas técnicos do positivismo em Santa Catarina.


Vidal José de Oliveira Ramos (1866–1954)

Nascido em Lages, Vidal Ramos foi político, jurista e figura importante do republicanismo catarinense, com forte ligação à linha técnica e reformista do positivismo, embora menos ortodoxo que Müller.

Governou Santa Catarina por dois mandatos (1905–06 e 1910–14), assumindo interinamente em outras ocasiões. Durante seus governos, consolidou escolas normais, reorganizou o sistema judiciário estadual, promoveu reformas fiscais e incentivou a construção de ferrovias e pontes. Foi o pioneiro no lançamento das bases da colonização do oeste catarinense, fator decisivo para a posterior expansão agrícola e econômica da região.

Além disso, teve carreira no Legislativo e no Supremo Tribunal Federal. Morreu em 1954, aos 87 anos, sendo o último grande nome do republicanismo tradicional catarinense e a transição para a modernidade institucional.


Industrialização e Modernização Econômica

Sob a égide do Estado positivista, Santa Catarina buscou integrar-se ao modelo de desenvolvimento nacional via industrialização incipiente. Diversas medidas foram implementadas no sentido de fomentar o setor manufatureiro, em especial nas regiões já dinamizadas pela presença de imigrantes alemães e italianos, como o Vale do Itajaí.

A Cia. Hering, fundada em Blumenau em 1880, e ainda hoje ativa, é exemplo vivo de empresa cuja expansão foi catalisada pelas políticas de estímulo ao desenvolvimento regional, com apoio à infraestrutura, à construção de ferrovias e à formação de um mercado consumidor interno. Junto a ela, empresas como a Karsten (1882), a Bunge Alimentos (inicialmente como Moinho Joinville, 1905) e a Tupy (fundada em 1938, mas em um solo fértil economicamente pela base lançada pelos governos anteriores) tornaram-se pilares de um modelo catarinense de indústria associada à organização familiar e ao trabalho disciplinado — valores próprios da cultura germânica incorporada às estruturas do Estado.

A indústria catarinense não foi monopolizada por grandes conglomerados, mas estruturada a partir de indústrias familiares e média propriedade rural articulada com a manufatura. Este modelo assentou as bases de um capitalismo regional de feições singulares, profundamente vinculado à cultura do trabalho e à autogestão comunitária estimados pelo Estado Positivista Catarinense.


Colonização e a Imigração como Vetores de Desenvolvimento

Outra característica estrutural do Estado positivista catarinense foi sua política de colonização e imigração, especialmente voltada para o interior e oeste do território. Por meio da ação do governo, terras devolutas foram demarcadas e organizadas para receber imigrantes europeus, principalmente italianos e alemães.

A colonização não foi apenas uma resposta à necessidade de povoamento, mas um projeto civilizatório, como parte do projeto republicano para todo o Brasil: formar pequenas comunidades disciplinadas, organizadas em torno do trabalho agrícola e do associativismo. O Estado ofereceu apoio institucional para essa expansão, promovendo a regularização fundiária, assistência técnica e serviços públicos básicos.

A colonização no oeste catarinense ocorreu por intermédio das companhias colonizadoras, em estreita colaboração com o governo estadual que almejava uma ocupação territorial concomitante ao desenvolvimento de uma atividade econômica. Essas companhias eram formadas, em sua grande maioria, por comerciantes e especuladores — “os empresários da  colonização” — que loteavam e comercializavam suas áreas individualmente, enquanto o governo estadual abriam estradas e realizava obras de infraestrutura.

Este movimento impulsionou o desenvolvimento da policultura, adaptada às condições geográficas da região e à tradição agrária dos colonos, e deu origem ao modelo fundiário de pequenas e médias propriedades, base econômica e social do mercado interno catarinense.


Hercílio Luz e a Consolidação da República Catarinense

Após a Revolução Federalista (1893–1895), que buscou deter o avanço da centralização republicana, Hercílio Luz emergiu como líder da pacificação institucional. Membro do antigo Partido Conservador, tornou-se republicano e assumiu o governo estadual, onde deu continuidade à política de modernização e estruturação estatal.

Seu mandato foi marcado por obras de vulto — como a idealização da ponte que hoje leva seu nome — e pela continuidade do projeto de colonização e desenvolvimento econômico. Sob sua liderança, consolidou-se o modelo de Estado técnico-burocrático, em que o mérito, a disciplina administrativa e a ordem eram os pilares da administração.


A Marcha  para o Oeste:

No campo da imigração e da colonização, o projeto positivista de organização da sociedade manifestou-se de forma clara. O Estado incentivou a vinda de imigrantes europeus, especialmente alemães, que já vinham se estabelecendo em Santa Catarina desde meados do século XIX. Com apoio governamental, diversas colônias foram fundadas, como Blumenau (1850), Joinville (1851), Brusque (1860) e Itajaí, ampliando-se no período republicano para o Alto Vale do Itajaí, o Planalto Serrano e o Oeste. A presença alemã em Santa Catarina chegou a somar mais de 150 mil imigrantes diretos e seus descendentes ao final do século XIX, consolidando um cinturão germânico no território estadual. Essas colônias foram organizadas com base em núcleos urbanos planejados, com pequenas propriedades agrícolas ao redor, seguindo modelo racional e produtivista caro aos positivistas. A instrução pública foi fortemente estimulada nesses núcleos, com escolas bilíngues e incentivo à formação técnica e moralista.

Com a expansão da ocupação do interior do estado, especialmente nas regiões do planalto e do oeste, o governo estadual impulsionou um ambicioso projeto de colonização e infraestrutura, articulado ao avanço ferroviário. A Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, passando por Mafra, Lages e chegando até o Rio Grande do Sul, foi fundamental para a fixação de colonos em áreas remotas, bem como para o escoamento da produção agrícola e madeireira. Outro ramal estratégico foi o que ligava o interior ao porto de Tubarão, consolidando uma via de exportação para os produtos do planalto e da serra catarinense. O apoio governamental à construção dessas linhas férreas evidenciava o ideário positivista de progresso via ciência e técnica. Essas ferrovias não só facilitaram o acesso a terras antes isoladas, como permitiram uma colonização sistemática, baseada em lotes planejados, cooperativas agrícolas, incentivos fiscais e escolas técnicas.

O Estado catarinense, sob gestão de políticos com formação técnica e influenciados pela doutrina positivista, desenvolveu políticas de infraestrutura voltadas para a modernização econômica e social. Implantaram-se redes de telégrafo, estradas vicinais e pontes metálicas em regiões colonizadas, conectando os núcleos imigrantes entre si e com os centros urbanos. O Departamento de Terras e Colonização do Estado, criado ainda no final do século XIX, foi o responsável pela gestão dos lotes, pela regularização fundiária e pelo direcionamento dos imigrantes para áreas estratégicas, atuando em estreita colaboração com empresas colonizadoras privadas.

O Positivismo Catarinense materializou-se na constituição estadual, na política de colonização ordenada, na expansão ferroviária, na aposta em uma sociedade disciplinada, instruída e economicamente produtiva. A presença dos imigrantes alemães e a racionalidade com que se planejaram seus assentamentos refletem de forma clara os ideais de organização e progresso que marcaram a transição catarinense para a modernidade republicana.


O Modelo Republicano de Estado e Sociedade

O que se constituiu em Santa Catarina entre 1889 e 1930 não foi apenas a adaptação à forma republicana, mas a edificação de um modelo regional de Estado, com forte base racionalizadora, na política de imigração dirigida, no fomento à pequena propriedade e na industrialização descentralizada.

A formação de mini-fúndios, a predominância da policultura e a existência de um mercado interno ativo e autônomo foram produtos diretos das políticas promovidas por este Estado técnico-científico, organizado por engenheiros, e administradores positivistas. No Rio Grande do Sul, esse modelo foi implantado apenas parcialmente, ficando ausente na “campanha gaúcha”, justamente a área de reduto dos liberais-latifundiários, que tanto se opuseram ao modelo Castilhista. Tendo o Rio Grande do Sul Castilhista, funcionado como um guarda-chuva que protegeu Santa Catarina dos tumultos e ações criminosas dessas hordas.

Quando da Revolução de 30, no que pese o presidente (governador) do Estado ter declarado fidelidade ao Presidente Washington Luís, houve ampla adesão política e militar local pela Revolução, forçando o governador a renunciar. A adesão de Santa Catarina foi chave para o corpo das tropas riograndenses, sem o qual não teriam passado para além da Serra Geral. Esse apoio em muito se deveu ao estreito alinhamento histórico entre o PRC e o PRR, que em várias ocasiões apoiou com reforços militares os governos castilhistas no Rio Grande do Sul. 

Esse legado permanece visível no presente: Santa Catarina mantém uma das mais equilibradas distribuições fundiárias do país, uma economia robusta com base em pequenas e médias empresas, e índices elevados de desenvolvimento humano — frutos, em larga medida, do projeto civilizatório positivista, e que mais do que em qualquer outro canto do Brasil, mais prosperou e rendeu frutos em Santa Catarina, posto em prática por homens com obstinada fé na ordem, no progresso e na razão.




Artigos Correlatos:

sábado, 28 de novembro de 2020

A Imigração Portuguesa para o Brasil

"Esse País ainda há de cumprir seu ideal,
há de tornar-se um imenso Portugal!"

Os portugueses são o principal tronco formador do Brasil, em um processo assimilatório da população nativa, e mesmo de escravos, ao longo de toda época colonial, que resultará na nação brasileira. Os portugueses passam a ser computados como imigrantes, após a independência, em 1822, a que, posteriormente, se soma outras correntes imigratórias, sendo a maior, e mais estável, totalizando 1.6 milhões de portugueses. Se outros contingentes imigrantes, apresentam períodos de maior vulto, e por vezes muito localizados, a portuguesa é contínua, tem picos, mas nas suas baixas, seu fluxo se mostra substancial a outras que cessam, além de se fazerem presentes por todo o País, mesmo havendo determinados centros com um maior afluxo. 

A Colonização Portuguesa

Na fase colonial, três períodos de intensa colonização, são bem caracterizadas, uma primeira, que se inicia em 1530, com a criação das capitanias hereditárias, com a vinda de nobres, levada a cabo pela baixa aristocracia rural do norte de Portugal, em especial, oriundos da região do Minho, e que será a semente formadora do Brasil. Uma segunda fase ocorrida no Séc. XVII, quando adentram cerca de 600 mil portugueses no Brasil entre 1701 à 1760. É nesse período que ocorre uma explosão demográfica no Minho, a descoberta das minas, bem como a expansão pecuária para o sertão. E por assim dizer, nesse período, o Brasil se “lusitanisou“, a língua geral, língua franca falada pela população nos dois primeiros séculos, é substituída, em definitivo, pelo português, surge os centros urbanos mineiros nas Minas Gerais e a fundação de novos núcleos urbanos nos sertões. A terceira e última fase da colonização portuguesa, ocorre no começo do Séc. XIX, com a vinda da família real portuguesa, junto com toda a corte, cerca de 15 mil.  

De colonizadores a imigrantes, a imigração portuguesa pós Brasil independente (1822 - 1850):

Há um hiáto estatistico na imigração portuguesa entre 1822 à 1850. O IBGE registra meros 2.633 imigrantes portugueses nesse período. Oque não reflete a realidade. Dados esparsos, revelam que, somente no Rio de Janeiro, principal destino da imigração portuguesa nessa época, aportaram 33.362 portugueses. A considerar que esses números se referem somente a imigrantes registrados, e ainda sim, dados incompletos, com a lacuna de vários anos, além dos números de imigrantes sem registros, serem muito maior. Para mensurar, dos 198 estrangeiros entrados na cidade do Rio de Janeiro, entre 25 de abril a 20 de junho de 1831, somente 69 se registraram.

Estima-se que o Rio de Janeiro absorveu entre 60 a 86% da imigração portuguesa entre 1836 à 1850. Podemos estimar de forma conservadora, tomando os 33.362 registrados no Rio de Janeiro, que os imigrantes portugueses no restante do Brasil, com base nos 14% remanescentes, seriam algo em torno de 4.670. Totalizando 38.032 imigrantes portugueses em todo o Brasil. Se considerássemos, como 40% os portugueses fora do Rio de Janeiro, teriamos 13.344 imigrantes portugueses no restante do Brasil, oque totalizaria 46.706 em todo o Brasil. Em qualquer caso, excluindo, mais uma vez, os clandestinos, que por certo deveriam representar um número significativo.

Em 1826 o consul português no Rio de Janeiro, Carlos Mathias Pereira, dava conta ao ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, o conde de Porto Santo, dizendo que todos os navios vindos de Portugal, particularmente do Porto, chegavam no Rio de Janeiro cheio de pessoas, fugindo da pobreza. Dados de 1831 à 1842, listados nos registros de passaportes, no Rio de Janeiro, corrobora que a maioria eram de origem nortenha, especialmente de entre Douro e Minho. 

Oque já era observado desde a década de 1820 na descrição do típico português que imigrava: “ao desembarcar nos portos brasileiros, vestia polaina de saragoça, [...] e calção, colete de baetão encarnado com seus corações e meia [...]; geralmente desembarcavam dos navios com um pau às costas, duas réstia de cebolas, e outras tantas de alhos... e ... uma trouxinha de pano de linho debaixo do braço. Eram minhotos que, para sobreviver, dormiam na rua e procuravam ajuda de instituições de caridade.”.

O cultivo do milho em Portugal, provocou uma revolução agrícola e, com isso, uma enorme melhoria na alimentação básica do minhoto, oque resultou numa alta densidade demográfica na região: em 1801, enquanto no resto de Portugal registrava, em média, 33 habitantes por Km², no Minho a densidade populacional atingia 96 habitantes por Km². Oque influiu determinantemente para uma maior presença minhota no Brasil.

Nesse período, até 1840, no Rio de Janeiro, a maioria dos portugueses trabalhavam no comércio, empregados por patrícios já estabelecidos. Os mais letrados eram caixeiros, auxiliares, etc... os analfabetos, a imensa maioria, se entregavam ao trabalho braçal, como estivadores nos portos, armazens, e toda sorte de trabalho bruto, em condições muitas vezes sub-humanas. 

Esta tradição dos imigrantes portugueses do Norte, que sabiam ler e escrever se dedicarem no Brasil, preferencialmente, ao comércio, vai manter-se ao longo do século XIX. Por 1870-1872, no Pará, na Bahía, no Maranhão, no Ceará, predominavam os caixeiros e negociantes. O mesmo acontecia em Pernambuco, onde 60% dos que chegaram, entre 1862-1872, eram menores, trabalhando como caixeiros e feitores. 

Havia ainda os que exerciam ofícios mecânicos: pedreiros, carpinteiros, ferreiros etc., saídos do Norte de Portugal, com expressão significativa a partir da década de 1840, seguindo-se, posteriormente, os alfaiates e sapateiros. Todos locados nos centros urbanos, livremente ou a contrato, com horários aceitáveis e remunerações consideráveis. Todos eles encontravam emprego imediato, com soldadas e jornais muito vantajosos.


A imigração em massa (1851-1900)

imigrante portuguesa minhota

A imigração portuguesa aumenta substancialmente com o fim do tráfico negreiro em 1850, e de prósperos aristocratas nos primeiros séculos de colonização, em meados do Séc. XIX, passou-se a um fluxo crescente de imigrantes pobres. 

Esses imigrantes, tidos como rudes, campesinos, quase sempre saídos das aldeias do norte de Portugal, contribuíram para a formação da imagem negativa do imigrante português, estigmatizando-os como pessoas pouco qualificadas intelectualmente. As mulheres passaram a representar parcelas cada vez maiores nos grupos imigrantes, e as crianças menores de 14 anos, pobres, órfãs ou abandonadas, chegaram a representar 20% do total dos imigrados.

De uma população em torno de 5 milhões de habitantes no final do século XIX (1881-1900), Portugal nos enviou mais de 300 mil trabalhadores,  6% de sua população total. 

No Maranhão, muitos dos menores que chegavam não sabiam ler. Porém, a maior parte dos que chegavam, dedicavam-se ao comércio, não havendo imigração clandestina. 

No Ceará, os imigrantes contratados, na década de 1860, caíram significativamente, menos de 50% dos  que tinham entrado. 

Em Pernambuco, onde a imigração clandestina era insignificante, 60% dos que entravam, vindos sobretudo do Minho, eram menores, destinando-se a caixeiros e feitores. Comentava o cônsul aí instalado que estes rapidamente tomavam "amor ao Brasil" e quem tinha algum dinheiro casava com brasileiras. 

Em Salvador na Bahía - refere Tania Gandon -, na segunda metade do século XIX, os lusos dedicavam-se fundamentalmente à atividade marítima e comercial, ou seja, "a esmagadora maioria" eram caixeiros, oriundos, sobretudo, do Porto e do Norte de Portugal.

Dos portos de desembarque, podemos mensurar o destino da imigração portuguesa com base no relatório de 1860, ainda que incompleto:

Rio de Janeiro permanecia recebendo a maioria dos que migravam, na ordem de 55,24% do total. 

O porto de Santos, representando 39,40% do total. 

Com relação aos demais portos, as entradas alcançavam o total de 4· 856 indivíduos, sendo de destacar-se a projeção de portos do norte e do nordeste, como Belém e Recife sobre portos do sul do país, excetuando-se o Rio Grande. 


A Origem Regional dos Imigrantes Portugueses:

No período de 1881 à 1900, a maioria dos imigrantes portugueses para o Brasil vieram das regiões onde os setores de produção mais importantes eram o comércio exportador e a pequena agricultura. Da Beira Litoral, Beira Alta, Douro Litoral, Trás-os-Montes, Minho e Estremadura vieram 98,7% dos imigrantes portugueses para o Brasil. Em seguida, das regiões do Baixo Tejo, do Ribatejo, Beira Baixa, Algarve e Alto Alentejo, vieram 2,1 % de emigrantes para o Brasil no mesmo período. O que demonstra ser insignificante a contribuição do sul de Portugal na imigração brasileira. 

A partir de 1930, houve uma diminuição da imigração portuguesa para o Brasil em todas as regiões. Somente a região de Trás-os-Montes mantém sua contribuição com 87,3%. As demais, Beira Alta e Beira Litoral permanecem também acima de 80%. Entre 50% e 80% de emigrantes portugueses para o Brasil, situam-se às regiões do Minho e Douro Litoral. Nas regiões meridionais houve maior declínio da imigração, sobretudo, no Alto Alentejo e no Algarve. 

De maneira geral, desde o final do séc. XIX até 1960, a maior parte dos imigrantes portugueses no Brasil são oriundos das regiões do norte de Portugal, sobretudo, Beira Alta (Viseu), Beira Litoral (Aveiro e Coimbra) e Trás-os-Montes (Bragança e Vila Real).

A região de Trás-os-Montes vieram 14,5% de emigrantes de Bragança e Vila Real. 

Do Minho, vieram 13% de imigrantes das cidades de Viana do Castelo e Braga. 

Em torno da cidade do Porto, a região do Douro Litoral, partiram 17%. 

Da região de Beira Litoral, deixaram as cidades de Aveiro e Coimbra, 25% de emigrantes. 

Em seguida, da região de Beira Alta, que atinge as cidades de Viseu e Guarda, tivemos 22,6% da imigração. 

Da cidade de Castelo Branco saíram 0,5% de trabalhadores da região de Beira Baixa. Do litoral, das cidades de Leiria e Lisboa, vieram 6,3% de emigrantes para o Brasil. No interior, da cidade de Santarém, na região de Ribatejo, partiram 0,5%. Da região do Alto Alentejo, as cidades de Portalegre e de Évora, nos enviaram 0,1%.

Finalmente, no sul, das regiões do Baixo Tejo e do Algarve, partiram 0,6% da cidade de Beja, enquanto que de Faro saíram 0,4% de trabalhadores, respectivamente. 

 

Séc. XIX (1881-1899)

1900-1960

Entre Douro e Minho (Viana, Braga, Porto)

30%

20,7%

Trás-os-Montes (Vila Real, Bragança)

14,77%

12,2%

Beira Litoral (Aveiro, Coimbra)

25%

17,85%

Beira Alta (Viseu, Guarda)

22,6%

11,08%

Beira Baixa  (Castelo Branco)

0,5%

3,7%

Estremadura (Lisboa, Leiria)

6,3%

8,32%

Alto Alentejo (Beja)

0,1%

0,3%

 

 

 

regiões de orígem dos imigrantes portugueses.


A Herança Genética Portuguesa nos Brasileiros:

filho de pais imigrantes 
portugueses.
Os portugueses se fazem presentes no Brasil, há 500 anos, das nações colonizadoras que se expandiram com as grandes navegações: Espanha, França, e uma tardia Inglaterra, e Holanda, é da colonização portuguesa e espanhola, que provem as mais antigas famílias do novo mundo de origem européia, e não só, como em África e Ásia. Qualquer brasileiro que buscar suas raízes genealógicas irá encontrar facilmente 11, 14 gerações passadas até os primórdios de 1500, ao passo, que um anglo-saxão nos EUA ou Canadá, quando muito, irá encontrar de 6 a 7 gerações, quando se estabelecem as primeiras levas colonizadoras inglesas, diminutas, já no avançado Séc. XVII. Os holandeses igualmente, nunca se prestaram a colonizar as terras que roubaram de Espanha, três séculos de domínio incontestável na Indonésia, e Suriname (antiga Guiana Holandesa) e não se vê uma população batava integrante na vida nacional. Tal como os ingleses, seu sistema de feitorias, tomavam essas "colonias" como simples entrepostos comerciais exclusivos, para o monopólio de suas funestas "companhias". O efetivo povoamento dessas "colonias" só se operam efetivamente findo o Séc. XIX, ainda sim de forma timida, e somente após a II Guerra, essas populações tomam vulto. Isso tudo apenas para lembrar e mostrar, o quão profundo esta enraizado a presença portuguesa no Brasil, em contráste aos imbecis que falam dos portugueses como um corpo alheio, como se não fossem eles próprios descendentes dos antigos colonizadores. Não existiria Brasil sem os portugueses, não existiríamos sem os portugueses, septavós de nossos septavós.... o Brasil é um desdobramento direto dos portugueses, em especial, claro, dos que aqui vieram fazer pátria, deles descendemos, são desses primeiros povoadores e oque lhes sucederam que fincaram suas carnes no Brasil dando-lhe seu sangue, e nós somos seus frutos, desses bagos, viemos. 

E não só a genealogia comprova como a genética, os brasileiros, pela magnitude populacional, são os maiores portadores de cromossomos Y de origem portuguesa, em um número muito superior a toda população portuguesa. E isso não só se reflete em números absolutos como proporcionalmente, na similaridade proporcional de marcadores genéticos entre ambas as populações dos países. Fruto desse processo assimilatório das populações indígenas e africanas pelos portugueses ocorrido ao longo da História do Brasil. 

Mesmo entre os brasileiros de fenótipo negro, esses tem em média metade de genes europeus (portugueses majoritariamente), entre pardos (mulatos, cafusos, caboclos) esse percentual sobe para 70%! Em suma, a verdade incontestável, é que o brasileiro, tem muito mais vínculo consanguíneo com os portugueses, do que com qualquer outro grupo africano ou mesmo indígena. É dizer, os portugueses são nossa principal e mais forte matriz formadora, e isso em TODOS os quadrantes do Brasil! 





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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A Imigração Italiana para o Brasil


Américo Vespucci, foi o primeiro italiano a ter estado no Brasil, quando a serviço da coroa portuguesa, se dar conta se tratar de um novo-continente, que levará seu nome. Foi na sua expedição que se fundou o primeiro forte no Brasil com 24 marinheiros (dos quais 12 italianos) em Cabo Frio-RJ. 

Posteriormente, com a fundação da Nova Lusitânia (Pernambuco), Duarte Coelho trouxe consigo, a convite, o nobre florentino Felipe Cavalcanti, que da sua união com uma filha de Jorge de Albuquerque com a índia Maria do Arco-Verde dará surgimento a família Cavalcanti d'Albuquerque. Segue no empreendimento, os Accioly que se entrelaçarão com os Cavalcantis, constituindo um Clã Italiano no Brasil nos primórdios de sua colonização.

Com a União Ibérica, quando o Reino de Nápoles e o Ducado de Milão, passam a serem integrantes do Império Luso-Espanhol, além da República de Gênova, essa na qualidade de Estado Associado, vários comerciantes desse reino afluem para o Brasil, especialmente marinheiros e comerciantes da República de Gênova, caso dos: BerardiCampoliAdornoManele/Spinelle etc.

Thomé de Souza encontrou quando de sua chegada na Bahia, o genovês Paulo Adorno, tronco da família Adorno,  e que veio a ser seu homem de confiança no seu governo. Os Dorias também de origem genovesa, na Bahia, com descendência em Clemencia Doria, chegada no Brasil em começos de 1555.

Alguns linguístas e acadêmicos (como Matteo Sanfilippo) afirmam que o sotaque brasileiro é idêntico ao sotaque genovês, como conseqüência desses primeiros contatos.

Nesse período, Fernando I de Médici intentou criar uma colônia italiana no Brasil. Para esse fim, o Grão-Duque organizou em 1608 uma expedição ao norte do Brasil, sob o comando do capitão inglês Thornton.
"O primeiro ano de Seicento Ferdinando I na Toscana valoriza a possibilidade de uma colônia brasileira (nos primeiros anos do século XVII, Fernando I de Médici considerou a possibilidade de fazer uma colônia no Brasil.)"
Giovanni Vincenzo San Felice
Conde di Bagnuoli
No entanto, Thornton, ao retornar da viagem preparatória em 1609 (quando foi para a Amazônia), encontrou Fernando I morto e todos os projetos foram cancelados pelo sucessor Cosimo II.

Em 1631, diante da invasão holandesa no Brasil, chega de Nápoles, o Conde de Bagnuolo, já veterano na defesa de Salvador em 1624, sob o comando de um terço de 400 napolitanos (Terço de Nápoles) para combater as tropas holandesas. Muitos desses italianos acabam se estabelecendo em definitivo no Brasil. O próprio Conde de Bagnuolo senta praça em São Salvador, aonde vive até o fim de seus dias (1640).

O conselheiro holandês Van Goch, reporta ainda em 1649, a participação de italianos na II Batalha dos Guararapes:

"[....] as tropas do inimigo são ligeiras e ágeis de natureza para correrem para diante ou se afastarem, e por causa de sua crueldade inata são também temíveis. Compõem-se de brasilianos (tupis), tapuias, negros, mulatos, mamelucos, nações todas do país, e também de portugueses e italianos que têm muita analogia com os naturais da terra quanto à sua constituição,  de modo que atravessam e cruzam os matos e brejos, sobem morros tão numerosos aqui e descem tudo isso com uma rapidez e agilidade verdadeiramente notáveis. Nós, pelo contrário, combatemos em batalhões formados como se usa na mãe-pátria e nossos homens são indolentes e fracos, nada afeitos à constituição do país. [.....] "


A Imigração Italiana em Massa no Séc. XX

Em fins do século XIX, começou a "imigração em massa" de italianos para o Brasil independente.

Quando essas primeiras levas começaram a aportar no Brasil na década de 1870, a Itália havia tardiamente se constituído como País em 1861. Razão pela qual, muitos imigrados não nutriam um sentimento de pertencimento nacional.  
"O que você entende por uma nação, senhor ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e colecionamos trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos videira, mas nunca bebemos vinho. Criamos animais, mas não comemos carne Apesar de tudo, você nos aconselha a não abandonar nossa pátria? Mas é a pátria a terra onde você não pode viver do seu próprio trabalho? "
Frase anônima de um imigrante italiano no final do século XIX para o Ministro de Estado italiano que pediu para não deixar sua terra natal.
Apenas com a ascensão fascista na década de 20, e o ainda sob um forte influxo imigratório da Itália nesse período para o Brasil, se forjou uma identidade "italiana" entre os imigrados. 

O início da imigração italiana esta diretamente vinculada a abolição da escravidão, como substitutos de mão de obra nos cafezais e a expansão das plantações de café. Embora, no mesmo período, os portugueses continuassem a chegar em massa, esses preferiam os centros urbanos onde se tornavam pequenos comerciantes. 

Encorajados pelo governo brasileiro, panfletos e faixas foram espalhados por toda a Itália, tentando, assim, atrair imigrantes. Rapidamente, milhares de italianos começaram a comprar passagens para o Brasil, em busca de dinheiro e melhores condições de vida.

No início, o governo brasileiro direcionou esses imigrantes para as áreas rurais do sul do Brasil, onde os italianos se tornaram pequenos agricultores e proprietários de terras. Foi o caso dos italianos que imigraram para o estado do Rio Grande do Sul. Mais tarde, as fazendas de café no sudeste se tornaram o destino da maioria.

A preferencia pela mão-de-obra proveniente da Itália, se deu não só pelo seu caráter agrícola, de camponeses, como também pela rápida assimilação que ocorria entre os imigrados e os brasileiros. Os italianos eram católicos, falavam diversos dialetos neolatinos afins com o português e tinham costumes semelhantes com as raízes luso-brasileiras. E assim, não houve problemas até o fascismo italiano fomentar a "italianidade" dos imigrados no Brasil.

A imigração italiana na Idade Contemporânea no Brasil foi intensa, tendo seu pico entre os anos de 1870 e 1920 . A maior parte estava concentrada na região do atual estado de São Paulo .
Imigração italiana para o Brasil por períodos
Período1884-18931894-19031904-19131914-19231924-19331934-19441945-19491950-19541955-1959Total
Quantidade510.533537.784196.52186.32070.177N/D15.31259.78531.263
1.507.695

A Imigração Italiana ao sul do Brasil

Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil em 1875, como no caso da colônia italiana em Santa Teresa (no Espírito Santo ).

Os italianos primeiro tenderam a se estabelecer na região sul, onde colônias de imigrantes alemães foram instaladas. Essas colônias foram fundadas em áreas rurais do país, seguindo o mesmo projeto das colonias alemãs. As primeiras colonias italianas foram instaladas nas encostas da serra Geral, pois as terras baixas já eram colonizadas por imigrantes alemães. nas atuais cidades de Garibaldi (Dona Isabel) e Bento Gonçalves (Conde d´Eu). Após 5 anos, o grande número de imigrantes obrigou o governo a criar uma nova colônia italiana em Caxias do Sul.

Nessas terras, os italianos começaram a cultivar uvas e a produzir vinho. Atualmente, essas áreas de colonização italiana produzem os melhores vinhos do Brasil. Também em 1875, as primeiras colônias italianas foram fundadas em Santa Catarina, como Criciúma e Urussanga, além de outras no Paraná.


A Imigração Italiana como força de trabalho nos cafezais:

Embora a região sul tenha sido pioneira na imigração italiana, foi a região sudeste que recebeu o maior número de imigrantes. Isso se deve ao processo de expansão do trabalho cafeeiro em São Paulo. Com o fim do comércio de escravos e os eventos da colonização italiana no sul, o governo paulista também começou a incentivar a imigração italiana para as plantações de café. A imigração subsidiada de italianos começou na década de 1880. Os próprios proprietários de fazendas de café tentaram atrair imigrantes italianos para suas propriedades. O governo brasileiro pagou a viagem e o imigrante teve que sair para trabalhar nas fazendas para devolver o valor da passagem.

Os imigrantes italianos, em sua maioria, emigraram para o Brasil em famílias, chamados colonos . Os proprietários de terras, acostumados a trabalhar com escravos africanos, começaram a lidar com trabalhadores europeus livres e assalariados. Até muitos italianos nas fazendas de café foram submetidos a dias úteis semelhantes aos dos escravos. Essa situação gerou vários conflitos entre imigrantes italianos e proprietários brasileiros, causando rebeliões. As notícias do trabalho semi-escravo chegaram à Itália e o governo italiano começou a impedir a imigração para o Brasil.

O sucesso inicial da imigração subsidiada levou o Brasil a quase 1 milhão de italianos até o final do século XIX, e outros 500.000 durante o século XX. O Brasil se tornou o destino preferido da imigração italiana.

Após a abolição da escravidão em 1888, a imigração italiana tornou-se uma grande fonte de trabalho no Brasil. Os italianos começaram a se expandir por Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A maioria absoluta teve como destino inicial o trabalho de campo e agrícola. Muitos imigrantes italianos, depois de alguns anos trabalhando na coleta de café, conseguiram dinheiro suficiente para comprar suas próprias terras e se tornar proprietários de terras. Outros partiram para os grandes centros urbanos brasileiros, como São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte.


Regiões de Origem:

A imigração italiana no Brasil foi marcada principalmente pelo norte da Itália, que na antiguidade era uma zona celta, principalmente de Veneto, seguido pelas regiões Centro-Sul. A preferência do governo brasileiro pelos italianos do norte é explicada pelo fato de os imigrantes italianos trazerem ao Brasil técnicas avançadas de industrialização e novas idéias para a modernização do Brasil. Costuma-se dizer que, em algumas áreas do norte da Itália, praticamente toda a população tinha um parente ou conhecido que imigrou para o Brasil.



As Variantes Linguísticas dos Imigrantes Itálicos 

Mesmo os imigrantes provindos do norte sendo majoritários, isso não implicou em nenhuma uniformidade linguística entre esses imigrados. Apenas na região norte, se registra 3 troncos linguísticos diferentes: neolatina, germânica e eslava. Do tronco neolatino, temos 9 línguas distintas, que por sua vez se subdividem em diversos dialetos . Do trônco germânico, tem-se o tedesco, com 5 variantes dialetais. E do tronco eslavo, fala-se o esloveno no extremo nordeste da Itália.

Do tronco neolatino, o vêneto, teve especial difusão nas colonias procedentes da região de Veneto, sendo a língua mais difundida no Brasil entre os imigrados. O vêneto ou talian, não é um dialeto do italiano, mas sim uma língua distinta, que se subdivide em dois dialetos: o vêneto oriental (veneziano) e o vêneto norte-ocidental (trentino).


O atual idioma padrão da Itália é o dialeto toscano, que foi disseminado na década de 20 pelo fascismo italiano, quando o instituiu obrigatoriamente nas escolas de toda a Itália. É curioso que alguns apátridas, que se dizem descendentes de italianos, bradem contra Getúlio por ter instituido a obrigatoriedade do português nas escolas brasileiras, estando nós em nossa própria pátria! Ao mesmo tempo, que morrem de amores por Mussolini.

Descendentes de italianos por estados brasileiros

Dos cerca de 1,5 milhão de italianos que imigraram para o Brasil entre os anos de 1875 e 1935, 1,2 milhão deles foram para São Paulo, 100 mil para o Rio Grande do Sul, 60 mil para Minas Gerais, 25 mil para o Espírito Santo, 25 mil para Santa Catarina e 20 mil para o Paraná.

A maioria dos descendentes de italianos está concentrada nos estados do Espírito Santo (onde são 23% da população), Santa Catarina (29%), São Paulo (23%), Paraná (29%) e Rio Grande do Sul (29%). A região metropolitana de São Paulo, com 19 milhões, possui cerca de 22% (4 milhões) de sua população composta por descendentes de italianos, tornando-a a região metropolitana fora da Itália com o maior número de descendentes de italianos à frente da área metropolitana de Buenos Aires. Aires, que tem 3,5 milhões de descendentes de italianos e à frente de Nova York, onde soma 1,8 milhão

Os ítalo-brasileiros são cerca de 24% da população branca do Brasil. Até a única cidade com 100% de brancos no Brasil, Montauri, no estado do Rio Grande do Sul, foi fundada por emigrantes italianos em 1904 e ainda tem uma maioria que fala talian.
Espírito Santo

Foi em 1875, que começou oficialmente a imigração italiana no Brasil, com a vinda de 150 famílias das regiões de Trento, Veneto e Lombardia para Santa Leopoldina-ES. Dessas, sessenta foram encaminhadas para Timbuí, aonde foi fundada a primeira colônia italiana no Brasil: Santa Teresa. Depois, cerca de oito mil italianos imigraram para o Espírito Santo entre os anos de 1875 e 1900 para ocupar terrenos cedidos pelo Governo nas áreas dos rios Itapemirim e Benevente.

Porém a situação de penúria vivida por muitos colonos fez com que, em 1895, o governo italiano proibisse a imigração de seus cidadãos para o Espírito Santo.

Após 1900, a imigração proveniente da península itálica praticamente cessa, adentrando após esse período somente 121 indivíduos.

Cerca de 93% dos imigrantes italianos provinham de regiões do Norte da Itália. Cerca de 40% eram da região do Vêneto, 20% da Lombardia, 14% do Trentino-Alto Ádige, 10% da Emília-Romanha, 5% do Piemonte, 4% do Friul-Veneza Júlia, 2% das Marcas e 2% de Abruzos, 1% da Toscana e 1% de Campânia e outro porcento de outras regiões.

Algumas fontes falam em 60% de descendentes de italianos entre a população do Espírito Santo. Oque em tese, seria a maior dentre todos os Estados. No entanto, a historiadora Maria Cristina Dadalto contesta, segundo ela, é um "mito". Não existe nenhuma pesquisa que comprove esses dados.


São Paulo

São Paulo recebeu até 1920, cerca de 70% dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil, representando 9% da sua população total.  Tendo até 1920, adentrado no estado 1.078.437 italianos.

São Paulo recebeu imigrantes de diversas regiões da Itália. Nos registros paroquiais de São Carlos, cidade produtora de café no interior de São Paulo, para o período compreendido entre 1880 e 1914, foi-se registrado que, dentre os italianos que ali se casaram, 29% dos homens e 31% das mulheres eram oriundos do Norte da Itália, sendo o Vêneto a região mais bem representada, com 20% dos homens e 22% das mulheres, seguido da Lombardia com 5% dos homens e 6% das mulheres. Os italianos do Sul também eram bastante numerosos, correspondendo a 20% dos homens e 15% das mulheres de nacionalidade italiana. Calábria, com 7% dos homens e 5% das mulheres e Campânia, com 6% dos homens e 5% das mulheres eram as regiões sulistas que mais mandaram imigrantes para São Carlos.

Em São Paulo, assim como no resto do Brasil, havia a tendência dos imigrantes do Norte da Itália rumarem para a zona rural, enquanto os do Sul preferiam se dedicar às ocupações urbanas. Oque explica, na cidade de São Paulo, os meridionais terem dominado bairros inteiros, como foi o caso do Bixiga, do Brás e da Mooca, habitados especialmente por imigrantes oriundos da Calábria e de Campânia.


Santa Catarina

95% dos italianos que chegaram ao estado de Santa Catarina eram do norte da Itália, os atuais estados do Vêneto, Lombardia, Friul-Veneza Júlia e Trentino-Alto Ádige. Porém, anteriormente, houve uma incipiente imigração de sardenhos, em 1836, oriundos da Sardenha, que fundaram a colônia de Nova Itália (atual São João Batista). Esses pioneiros eram poucos, sem maior impacto demográfico. Foi mais tarde, a partir de 1875, que passou a se assentar no estado um número maior de imigrantes italianos. Foram criadas, assim, as primeiras colônias italianas do estado: Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra e Apiúna, todas estas no entorno da colônia alemã de Blumenau, servindo assim, os italianos, como a ponta de lança deste núcleo germânico. Neste mesmo ano, imigrantes do Trento fundaram Nova Trento, e em 1876 foi fundado Porto Franco (hoje Botuverá). Os italianos instalados nestas primeiras colônias provinham majoritariamente da Lombardia e do Trentino, o qual pertencia na época ao Império Austro-Húngaro.

Diversas outras colônias foram criadas nos anos seguintes, sendo o sul de Santa Catarina o principal foco de colonização italiana do estado. Nesta região foram fundadas Azambuja em 1877, Urussanga em 1878, Criciúma em 1880, a colônia mista de Grão-Pará em 1882, o núcleo Presidente Rocha (hoje Treze de Maio) em 1887, os núcleos de Nova Veneza, Nova Belluno (hoje Siderópolis) e Nova Treviso (hoje Treviso) em 1891, e Acioli de Vasconcelos (hoje Cocal do Sul) em 1892. No sul do estado os imigrantes provinham principalmente do Vêneto, e, em menor número, da Lombardia e de Friul-Veneza Júlia. Os imigrantes se dedicaram principalmente ao desenvolvimento da agricultura e à mineração do carvão, sendo eles imprescindíveis na formação desta região.

A chegada de italianos ao estado terminou em 1895, quando um número já reduzido de colonos chegaram para colonizar a comunidade de Rio Jordão, no sul do estado. Principalmente pela guerra civil que estourou no país com a Revolução Federalista e pelo contrato da república que deixava a imigração subsidiada a cargo dos estados, os italianos pararam de adentrar aos portos catarinenses.

A partir de 1910, milhares de gaúchos migraram para Santa Catarina, entre eles, milhares de descendentes de italianos. Esses colonos ítalo-brasileiros colonizaram grande parte do Oeste catarinense. Muito da cultura ainda é preservada nos antigos focos de colonização, principalmente na culinária, e na linguagem.


Rio Grande do Sul

A primeira leva de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, se deu em 1875, com o fim de substituírem os colonos alemães que, a cada ano, chegavam em menor quantidade. Os colonos italianos foram atraídos para a região para trabalharem como pequenos agricultores e lhes foram reservadas terras agrestes, na encosta da Serra Geral.

Na região foram criadas as primeiras três colônias italianas: Conde D’Eu, Dona Isabel e Campo dos Bugres, atualmente as cidades de Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, respectivamente. Com o tempo, os italianos passaram a subir as serras e a colonizá-las. Com o esgotamento de terras na região, esses colonos passaram a migrar para várias regiões do Rio Grande. A base da economia na região italiana do Rio Grande foi, e continua a ser, a vinicultura.

No centro do estado foi criada a Quarta Colônia de Imigração Italiana, o primeiro reduto de italianos fora da Serra Gaúcha e que originou municípios como Silveira Martins, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polêsine. Nesse último, está a localidade de Vale Vêneto, nome dado para fazer homenagem a tal região italiana.

Outras colônias italianas foram criadas e deram origens a cidades como Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Garibaldi, Flores da Cunha, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Encantado, Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Guaporé, Lagoa Vermelha, Soledade, Sananduva, Cruz Alta, Jaguari, Santiago, São Sepé, Caçapava do Sul e Cachoeira do Sul. Essas são as principais colônias italianas do estado.

Estima-se que imigraram para o Rio Grande 100 mil italianos, entre 1875 e 1910. Em 1900, já viviam no estado 300 mil italianos e descendentes.

Quanto a procedência desses contingentes, o percentual aproximado seria de: 54% de vênetos; 33% lombardos; 7% trentinos; 4,5% friulanos. Os demais - piemonteses, toscanos, emiliano-romanheses e lígures - representam 1,5% do total.

Zonas de colonização italiana e italo-germânicas.

Paraná

Os primeiros italianos a imigrar para o Paraná foram os vênetos, a partir de 1875, alocados em colônias próximas à Paranaguá, nas regiões de Morretes e Antonina. A Colônia Alexandra e posteriormente a Colônia Nova Itália tiveram vários problemas, sendo que seus moradores foram posteriormente remanejados para regiões mais próximas da capital.

Em 1900, viviam no estado do Paraná mais de trinta mil italianos, espalhados por catorze colônias etnicamente italianas e outras vinte mistas. No início, a maior parte dos imigrantes trabalhou como colonos autônomos porém, com o desenvolvimento do café, passaram a compor a mão de obra da região. As maiores colônias prosperaram na Região Metropolitana de Curitiba, sendo o município de Colombo (localizado na Grande Curitiba) a maior colônia italiana do Paraná. A Colônia Alfredo Chaves (que posteriormente se tornaria a cidade de Colombo) foi uma das quatro onde se concentraram os primeiros italianos que chegaram ao estado. As outras são a Senador Dantas (que deu origem ao bairro curitibano Água Verde), a Santa Felicidade (atual pólo gastronômico da capital paranaense) e a Colônia de Santa Maria do Tirol, localizada no município de Piraquara (na Grande Curitiba). A influência italiana se faz presente em todas as regiões do estado (como no norte do estado, com o vocábulo terra roxa, oriundo da confusão da língua italiana para a cor vermelha - "terra rossa").

Em Curitiba chegaram a partir de 1872, estabelecendo-se como agricultores em vários núcleos coloniais da região, que posteriormente deram origem aos atuais bairros de Pilarzinho, Água Verde, Umbará e Santa Felicidade (tradicional bairro de cultura e gastronomia italiana da capital paranaense), por exemplo. Com o passar do tempo adotaram outras atividades, incluindo industriais e comerciais.

Outras cidades receberam imigrantes italianos: além de municípios da Microrregião de Paranaguá (na Serra do Mar e litoral) e a capital, cidades da Grande Curitiba (como São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Piraquara, Cerro Azul e Colombo), assim como do interior receberam significativo número de imigrantes.


Minas Gerais

Em números absolutos Minas Gerais recebeu o terceiro maior contingente de imigrantes italianos, atrás somente de São Paulo e Rio Grande do Sul, cerca de 60 mil.

De forma bem semelhante ao Estado de São Paulo, os italianos também foram atraídos para Minas Gerais com o objetivo de aumentar a força de trabalho nas lavouras de café. Mas os resultados da política de imigração em Minas foram bem menos significativos, uma vez que o estado obrigava os imigrantes e os próprios fazendeiros a pagarem parte da passagem de navio, enquanto o Estado de São Paulo cobria todos os gastos. Por fim, em 1898, uma grave crise financeira atingiu o Estado, que suspendeu a imigração subsidiada.

Minas passou a incentivar a vinda de italianos sobretudo a partir do ano de 1887. Todavia, foi só a partir de 1894 que o Estado fez contratos que aumentaram o fluxo de imigrantes.

Os imigrantes em Minas, provinham de várias regiões da Itália, embora se destaque um número significativo, em relação a outros Estados, de imigrantes da Sardenha, também com algum relevo advieram imigrantes da região de Emília-Romanha. Na zona da mata mineira, em Leopoldina, a guisa de exemplo, constatou-se 14 regiões de procedencia da Itália entre os imigrantes: Lombardia, Friul-Veneza Júlia, Vêneto, Piemonte, Emília-Romanha, Toscana, Úmbria, Marcas, Abruzos, Campânia, Basilicata, Calábria, Sicília e Sardenha.

Registros em São João del Rey em 1888, mostram que praticamente todos eram do Norte da Itália, especialmente: Bolonha, Ferrara e Verona. Após essa data (1888), passa-se a registrar ainda em São João del Rey, um expressivo número de imigrantes de Emília-Romanha, 65% (415) de um total de 639 imigrados. O resto provinha sobretudo da região do Vêneto e alguns poucos da Lombardia e da Calábria. Devido a prenseça majoritária de emilianos, mais tarde o núcleo colonial passou a ser conhecido como "colônia Bolonha - Ferrara".

A imigração italiana em Minas Gerais se concentrou, essencialmente, na zona da mata mineira, sul do Estado e Belo Horizonte.
Entrada de italianos em Minas Gerais 
18941895189618971898189919001901
4 4106 42218 99917 3032 1116502141

Proposta de bandeira aos Italo-brasileiros:


bandeira do Círculo Castilhista Comando SE







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