Os portugueses são o principal tronco formador do Brasil, em um processo assimilatório da população nativa, e mesmo de escravos, ao longo de toda época colonial, que resultará na nação brasileira. Os portugueses passam a ser computados como imigrantes, após a independência, em 1822, a que, posteriormente, se soma outras correntes imigratórias, sendo a maior, e mais estável, totalizando 1.6 milhões de portugueses. Se outros contingentes imigrantes, apresentam períodos de maior vulto, e por vezes muito localizados, a portuguesa é contínua, tem picos, mas nas suas baixas, seu fluxo se mostra substancial a outras que cessam, além de se fazerem presentes por todo o País, mesmo havendo determinados centros com um maior afluxo.
A Colonização Portuguesa
Na fase colonial, três períodos de intensa colonização, são bem caracterizadas, uma primeira, que se inicia em 1530, com a criação das capitanias hereditárias, com a vinda de nobres, levada a cabo pela baixa aristocracia rural do norte de Portugal, em especial, oriundos da região do Minho, e que será a semente formadora do Brasil. Uma segunda fase ocorrida no Séc. XVII, quando adentram cerca de 600 mil portugueses no Brasil entre 1701 à 1760. É nesse período que ocorre uma explosão demográfica no Minho, a descoberta das minas, bem como a expansão pecuária para o sertão. E por assim dizer, nesse período, o Brasil se “lusitanisou“, a língua geral, língua franca falada pela população nos dois primeiros séculos, é substituída, em definitivo, pelo português, surge os centros urbanos mineiros nas Minas Gerais e a fundação de novos núcleos urbanos nos sertões. A terceira e última fase da colonização portuguesa, ocorre no começo do Séc. XIX, com a vinda da família real portuguesa, junto com toda a corte, cerca de 15 mil.
- Sobre a colonização nortenha no Brasil durante o período colonial, ver: Os Brasilaicos
- Sobre a imigração açoriana ao sul do Brasil, ver: A Ação dos Paulistas e de Alexandre Gusmão na Fixação das Fronteiras do sul do Brasil
- Sobre o povoamento das regiões montanhosas de Minas Gerais, São Paulo, Paraná a Serra Geral ao sul: As Terras Altas do Brasil & Sua População Montanhesa
De colonizadores a imigrantes, a imigração portuguesa pós Brasil independente (1822 - 1850):
Há um hiáto estatistico na imigração portuguesa entre 1822 à 1850. O IBGE registra meros 2.633 imigrantes portugueses nesse período. Oque não reflete a realidade. Dados esparsos, revelam que, somente no Rio de Janeiro, principal destino da imigração portuguesa nessa época, aportaram 33.362 portugueses. A considerar que esses números se referem somente a imigrantes registrados, e ainda sim, dados incompletos, com a lacuna de vários anos, além dos números de imigrantes sem registros, serem muito maior. Para mensurar, dos 198 estrangeiros entrados na cidade do Rio de Janeiro, entre 25 de abril a 20 de junho de 1831, somente 69 se registraram.
Estima-se que o Rio de Janeiro absorveu entre 60 a 86% da imigração portuguesa entre 1836 à 1850. Podemos estimar de forma conservadora, tomando os 33.362 registrados no Rio de Janeiro, que os imigrantes portugueses no restante do Brasil, com base nos 14% remanescentes, seriam algo em torno de 4.670. Totalizando 38.032 imigrantes portugueses em todo o Brasil. Se considerássemos, como 40% os portugueses fora do Rio de Janeiro, teriamos 13.344 imigrantes portugueses no restante do Brasil, oque totalizaria 46.706 em todo o Brasil. Em qualquer caso, excluindo, mais uma vez, os clandestinos, que por certo deveriam representar um número significativo.
Em 1826 o consul português no Rio de Janeiro, Carlos Mathias Pereira, dava conta ao ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, o conde de Porto Santo, dizendo que todos os navios vindos de Portugal, particularmente do Porto, chegavam no Rio de Janeiro cheio de pessoas, fugindo da pobreza. Dados de 1831 à 1842, listados nos registros de passaportes, no Rio de Janeiro, corrobora que a maioria eram de origem nortenha, especialmente de entre Douro e Minho.
Oque já era observado desde a década de 1820 na descrição do típico português que imigrava: “ao desembarcar nos portos brasileiros, vestia polaina de saragoça, [...] e calção, colete de baetão encarnado com seus corações e meia [...]; geralmente desembarcavam dos navios com um pau às costas, duas réstia de cebolas, e outras tantas de alhos... e ... uma trouxinha de pano de linho debaixo do braço. Eram minhotos que, para sobreviver, dormiam na rua e procuravam ajuda de instituições de caridade.”.
O cultivo do milho em Portugal, provocou uma revolução agrícola e, com isso, uma enorme melhoria na alimentação básica do minhoto, oque resultou numa alta densidade demográfica na região: em 1801, enquanto no resto de Portugal registrava, em média, 33 habitantes por Km², no Minho a densidade populacional atingia 96 habitantes por Km². Oque influiu determinantemente para uma maior presença minhota no Brasil.
Nesse período, até 1840, no Rio de Janeiro, a maioria dos portugueses trabalhavam no comércio, empregados por patrícios já estabelecidos. Os mais letrados eram caixeiros, auxiliares, etc... os analfabetos, a imensa maioria, se entregavam ao trabalho braçal, como estivadores nos portos, armazens, e toda sorte de trabalho bruto, em condições muitas vezes sub-humanas.
Esta tradição dos imigrantes portugueses do Norte, que sabiam ler e escrever se dedicarem no Brasil, preferencialmente, ao comércio, vai manter-se ao longo do século XIX. Por 1870-1872, no Pará, na Bahía, no Maranhão, no Ceará, predominavam os caixeiros e negociantes. O mesmo acontecia em Pernambuco, onde 60% dos que chegaram, entre 1862-1872, eram menores, trabalhando como caixeiros e feitores.
Havia ainda os que exerciam ofícios mecânicos: pedreiros, carpinteiros, ferreiros etc., saídos do Norte de Portugal, com expressão significativa a partir da década de 1840, seguindo-se, posteriormente, os alfaiates e sapateiros. Todos locados nos centros urbanos, livremente ou a contrato, com horários aceitáveis e remunerações consideráveis. Todos eles encontravam emprego imediato, com soldadas e jornais muito vantajosos.
A imigração em massa (1851-1900)
imigrante portuguesa minhota |
A imigração portuguesa aumenta substancialmente com o fim do tráfico negreiro em 1850, e de prósperos aristocratas nos primeiros séculos de colonização, em meados do Séc. XIX, passou-se a um fluxo crescente de imigrantes pobres.
Esses imigrantes, tidos como rudes, campesinos, quase sempre saídos das aldeias do norte de Portugal, contribuíram para a formação da imagem negativa do imigrante português, estigmatizando-os como pessoas pouco qualificadas intelectualmente. As mulheres passaram a representar parcelas cada vez maiores nos grupos imigrantes, e as crianças menores de 14 anos, pobres, órfãs ou abandonadas, chegaram a representar 20% do total dos imigrados.
De uma população em torno de 5 milhões de habitantes no final do século XIX (1881-1900), Portugal nos enviou mais de 300 mil trabalhadores, 6% de sua população total.
No Maranhão, muitos dos menores que chegavam não sabiam ler. Porém, a maior parte dos que chegavam, dedicavam-se ao comércio, não havendo imigração clandestina.
No Ceará, os imigrantes contratados, na década de 1860, caíram significativamente, menos de 50% dos que tinham entrado.
Em Pernambuco, onde a imigração clandestina era insignificante, 60% dos que entravam, vindos sobretudo do Minho, eram menores, destinando-se a caixeiros e feitores. Comentava o cônsul aí instalado que estes rapidamente tomavam "amor ao Brasil" e quem tinha algum dinheiro casava com brasileiras.
Em Salvador na Bahía - refere Tania Gandon -, na segunda metade do século XIX, os lusos dedicavam-se fundamentalmente à atividade marítima e comercial, ou seja, "a esmagadora maioria" eram caixeiros, oriundos, sobretudo, do Porto e do Norte de Portugal.
Dos portos de desembarque, podemos mensurar o destino da imigração portuguesa com base no relatório de 1860, ainda que incompleto:
Rio de Janeiro permanecia recebendo a maioria dos que migravam, na ordem de 55,24% do total.
O porto de Santos, representando 39,40% do total.
Com relação aos demais portos, as entradas alcançavam o total de 4· 856 indivíduos, sendo de destacar-se a projeção de portos do norte e do nordeste, como Belém e Recife sobre portos do sul do país, excetuando-se o Rio Grande.
A Origem Regional dos Imigrantes Portugueses:
A partir de 1930, houve uma diminuição da imigração portuguesa para o Brasil em todas as regiões. Somente a região de Trás-os-Montes mantém sua contribuição com 87,3%. As demais, Beira Alta e Beira Litoral permanecem também acima de 80%. Entre 50% e 80% de emigrantes portugueses para o Brasil, situam-se às regiões do Minho e Douro Litoral. Nas regiões meridionais houve maior declínio da imigração, sobretudo, no Alto Alentejo e no Algarve.
De maneira geral, desde o final do séc. XIX até 1960, a maior parte dos imigrantes portugueses no Brasil são oriundos das regiões do norte de Portugal, sobretudo, Beira Alta (Viseu), Beira Litoral (Aveiro e Coimbra) e Trás-os-Montes (Bragança e Vila Real).
A região de Trás-os-Montes vieram 14,5% de emigrantes de Bragança e Vila Real.
Do Minho, vieram 13% de imigrantes das cidades de Viana do Castelo e Braga.
Em torno da cidade do Porto, a região do Douro Litoral, partiram 17%.
Da região de Beira Litoral, deixaram as cidades de Aveiro e Coimbra, 25% de emigrantes.
Em seguida, da região de Beira Alta, que atinge as cidades de Viseu e Guarda, tivemos 22,6% da imigração.
Da cidade de Castelo Branco saíram 0,5% de trabalhadores da região de Beira Baixa. Do litoral, das cidades de Leiria e Lisboa, vieram 6,3% de emigrantes para o Brasil. No interior, da cidade de Santarém, na região de Ribatejo, partiram 0,5%. Da região do Alto Alentejo, as cidades de Portalegre e de Évora, nos enviaram 0,1%.
Finalmente, no sul, das regiões do Baixo Tejo e do Algarve, partiram 0,6% da cidade de Beja, enquanto que de Faro saíram 0,4% de trabalhadores, respectivamente.
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Séc.
XIX (1881-1899) |
1900-1960 |
Entre Douro e Minho (Viana, Braga, Porto) |
30% |
20,7% |
Trás-os-Montes (Vila Real, Bragança) |
14,77% |
12,2% |
Beira Litoral (Aveiro, Coimbra) |
25% |
17,85% |
Beira Alta (Viseu, Guarda) |
22,6% |
11,08% |
Beira Baixa (Castelo Branco) |
0,5% |
3,7% |
Estremadura (Lisboa, Leiria) |
6,3% |
8,32% |
Alto Alentejo (Beja) |
0,1% |
0,3% |
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filho de pais imigrantes portugueses. |
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