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sábado, 25 de maio de 2019

O Fomento dos Movimentos Negros, do Regionalismo e Identitários como Ardil Imperialista

César Benjamin, ex-secretário da Educação.
" - Temos 15 milhões de dólares e vamos provar que o Brasil é racista."

A frase é de um executivo da Fundação Ford, dita em uma reunião realizada na sede da Fundação na praia do flamengo, relatado por Cesar Benjamin, ex-secretário da Educação do Estado do RJ, quando buscava financiamento para projetos de educação em áreas rurais:
" - Fiquei chocado com o que vi. Os funcionários da fundação disseram abertamente que só financiariam projetos que destacassem a questão racial no Brasil. Exigiram que eles mudassem todo o projeto que levaram."
Cesar Benjamin afirma categoricamente que o processo de promoção de movimentos negros, polemização de temáticas raciais, etc...  são um projeto do Departamento de Estado dos EUA.
"A Fundação Ford, que é um braço do Departamento de Estado, mirou no coração do nosso software, o conceito de povo brasileiro. Acertou em cheio. Se não há povo brasileiro, o Brasil não vale a pena. Isso é parte importante da grande crise civilizatória que se abateu sobre nós e nos paralisa."
Não basta-se a intensão desfragmentadora, anti-nacional, desses organismos internacionais, que não se resume a Fundação Ford, outras ONGs como as do George Soros que atuam livremente no Brasil, promovendo e cooptando inocente úteis para quebrar a unidade nacional dos brasileiros. Mentem e distorcem a História do Brasil fazendo crer, para a atual geração, uma relação escravocrata, no passado, que nunca houve no Brasil!

A escravidão no Brasil foi menos dolorosa do que em qualquer das outras colônias modernas, inclusive a América inglesa. É um testemunho universal, repetido até pelos anglo-saxões. No Brasil a vida geral se fazia com uma relativa aproximação de senhores e escravos, e havia para estes mais humanidade. Por isso, o reflexo do mal teve outros tons. Se é possível apontar algumas relativas cruezas nos quadrados de senzalas dependentes dos cafezais, pelo resto do Brasil era uma inocente escravidão rural ou doméstica. Inocente porque, dadas as condições de cultura dos escravos, as formas de vida tinham piores efeitos para os próprios senhores do que para aqueles, humanamente tratados. Uma coisa é o efeito de massas de cativos, quase isolados, jungidos ao trabalho da mina, ou nos ergástulos dos latifúndios, outra é a ação de escravos misturados ao viver da família: dezenas de negros e mulatos, no recesso das cozinhas, no segredo das alcovas. De tudo isso já se tem tratado muito; e, a mais de um propósito, admite-se que da escravidão derivou mal para a vida moral.


No mesmo leito, viam-se, frequentemente, os filhos do casal, ao lado de quatro ou cinco escravos, distinguindo-se, apenas, na cor. Nesse cativeiro, a alma do negro não se sentia intransigentemente amesquinhada; havia relativa expansão, uma qual liberdade, e sombras de felicidade. E porque assim se fez o cativeiro dos pretos, nunca houve, aqui, daquelas sangrentas reações de escravos, como se encontram na história de outras partes da América. Afora casos individuais, contra um ou outro senhor mais desumano, as revoltas se limitavam aos quilombos de negros fugidos, e que não eram caçados a dente de cães de sangue... O próprio desenvolvimento dos Palmares, e outros grandes quilombos, mostra que os pretos escravos tinham, no Brasil, possibilidades que não existiam noutras colônias. Palmares foi uma organização política, e não um reduto de ódios. 

A nobreza de então, que deu grande parte do heroísmo do primeiro Brasil, forma uma bela aristocracia rural, vivendo do escravo, sim, mas, tão humana, que não tem par em todos os outros países coloniais da época. O cronista inglês Henry Koster, que viveu na região de mais desenvolvido trabalho agrícola do seu tempo no Brasil, mostra-nos uma escravidão com senhores – “que não tiram da terra todo o proveito possível, tal é sua bondade para com os escravos”. Nas grandes famílias, a tradição é de que “Não se vendem as crias da casa”. Em Pernambuco, atesta ele noutra parte, “os escravos são sempre decentemente vestidos”. Singelos, quase ingênuos aristocratas, eles têm, apenas, a fidalguia de ânimo, essência que pela idade se apura. 

E se esse que vos fala lhes parecer de excessivo apresso verifique oque diz Jean Louis Rodolphe Agassiz, um dos maiores promotores e dos principais defensores das teses racialistas do século XIX, quando de sua estadia no Brasil:
"- Era grande a variedade de toaletes; sedas e cetins roçavam-se com lãs e musselinas, e os rostos mostravam todas as tonalidades, do negro ao branco, sem contar as cores acobreadas dos índios e dos mestiços.
Não há aqui, com efeito, o menor preconceito de raça. Uma mulher preta — admitindo-se, já se vê, que seja livre — é tratada com tanta consideração e obtém tanta atenção quanto uma branca.
"
Ainda no Rio de Janeiro, sua esposa, Elizabeth, escrevera à sua família, constatando que:
“não há aqui o sentimento de inferioridade do preto que existe entre nós.”
Essa democracia racial observada pelos Agassiz, em seus juízos, seria prejudicial no sentido de que a mestiçagem produz uma população fraca e depauperada, composta por seres “vagos, sem caráter nem expressão”. Segundo Elizabeth, que lamenta:
o fato, tão honroso para o Brasil, de ter o negro pleno e inteiro acesso a todos os privilégios do cidadão tende a aumentar, antes que a diminuir, sua importância numérica.
Na Africa do Sul, quando do estabelecimento das primeiras colonias holandesas na cidade do Cabo, antes possessão portuguesa. Nos dez anos em que viveu no Cabo, Jan van Riebeck jamais teve contato pessoal com a população negra. Nunca tentou aprender os idiomas locais. Muito pelo contrário, ordenou, em 1660, a implantação de uma cerca para isolar a si e a todos os colonizadores. Os nativos eram chamados por ele de "cães negros, imbecis e fedorentos".

Há quem especule que, se os portugueses tivessem tomado posse do Cabo da Boa Esperança, a história da África do Sul teria seguido rumo bem diferente. O jornalista sul-africano Allister Sparks é um dos que acreditam nisto. Em seu livro The Rise and Fall of Apartheid in South Africa, Sparks escreveu:
"A história girou com o vento. Tivessem os portugueses ficado no Cabo, jamais teria havido o povo dos africânderes (ou bôeres) e sua ideologia do apartheid. Talvez uma República da Boa Esperança, rica em minérios, teria se desenvolvido num segundo Brasil, numa sociedade conhecida por integrar diversas raças e não como símbolo mundial da segregação racial."
O fomento, na atualidade, dos ditos "movimentos identitários", de negarem a nacionalidade, o fomento de regionalismos, de supostos quistos étnicos dissonantes do corpo nacional, que são difundidos, não só no Brasil, como em todo o mundo! São ardis imperialistas para quebrar a unidade nacional com fim de enfraquecer os Estados-Nacionais. O aspecto "novo", e que merece um maior aprofundamento posterior, é que esse imperialismo, não mais se restringe a um país "A" contra um país "B", mas sim de uma casta oligárca contra TODAS as nações do planeta. A tática é muito mais sofisticada e sutil como jamais houve!


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segunda-feira, 6 de maio de 2019

A Imigração Espanhola para o Brasil

A imigração espanhola no que pese sua importância, é pouco citada, em contraste a outras de contingentes pífios como a alemã e a japonesa. Para mensurar, se somarmos o contingente imigrante germânico e japonês, juntos, não alcançam se quer a metade da imigração espanhola. Mesmo a portuguesa, a qual trataremos futuramente, é relegado ao mais profundo obscurantismo. Não é algo por acaso....  há muito de perfídia, em franca negação de contingentes afins a nacionalidade brasileira, pondo em relevo outras mais dispares. Assim, passaremos a tratar de forma mais detalhada dos principais contingentes imigratórios para o Brasil, a começar pela espanhola.
Editorial


A imigração hispânica no Brasil colonial, não é quantitativamente bem apurada, embora seja bem documentado inúmeros entrelaçamentos de espanhóis com famílias brasileiras, muitas das quais que vieram a ser os principais troncos formadores da nação brasileira, como é o caso dos Bueno(s), dos Quevedo(s) em São Paulo,  reduto à época da União Ibérica de intensa presença de hispanos. Na Bahia como em Pernambuco, centros maiores, e redutos da administração luso-espanhola, sua presença também foi marcante. (ver: A Imigração Basca para o Brasil nos primeiros Séculos de Colonização.)

O início da presença espanhola no Brasil começa com o navegante andaluz, Vicente Yáñez Pinzón que teria sido um dos primeiros descobridores do Brasil, aportando na ponta do Mucuripe, em Fortaleza, ao qual ele chamou de "Santa María de la Consolación", em 26 de janeiro de 1500, três meses antes de Cabral, e daí a foz do rio Amazonas que ele chamou de "mar dulce", e de lá passando ao caribe.

Em 1527 o navegador e capitão mór da armada portuguesa enviada para o Brasil, Cristóvão Jaques, em sua terceira expedição (1526-1528) a costa brasileira, dar conta de um náufrago espanhol de nome Rodrigo Acuña, da expedição de Jofre de Loyassa às Molucas (1525), vivendo em Pernambuco. Martin Afonso de Souza, em 1531, nas intermediações de Cananéia se depara com Cosme Fernandes, "O Bacharel de Cananéia", junto a seis náufragos castelhanos.

Em 1582,  o comandante espanhol Castejon com 132 soldados, tomam parte na conquista da Paraiba contra os franceses e muitos se estabelecem lá mesmo na cidade de Filipéia (atual João Pessoa), a terceira mais antiga do Brasil. 

De mencionar a expedição de Bagnuolo, Conde Napolitano, no curso da invasão Holandesa em 1631, quando vieram 500 (quinhentos) espanhóis sob seu comando para lutar contra os holandeses.

Pós independência, quando da imigração espanhola em massa para o Brasil pode se subdividi-la em três momentos:

Uma primeira fase que vai de 1880 à 1900, com preponderância de espanhóis de origem galega.

Uma segunda fase de 1900 à 1922, preponderância de andaluzes, especialmente no oeste paulista.

Uma terceira fase de 1922 à 1960, quando os imigrantes galegos voltam a ser majoritários.

Imigração espanhola para o Brasil, por décadas de 1884-1893, 1924-1933 y 1945-1949
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografía e Estatística - IBGE

Década

1884-1893
1894-1903
1904-1913
1914-1923
1924-1933
1945-1949
1950-1954
1955-1959
Espanhóis
113.116
102.142
224.672
94.779
52.405
4.092
53.357
38.819

Contingentes de outras regiões espanholas também contribuiram em menor grau: bascos, catalões, asturianos, leoneses, cântabros, extremenhos.... nota-se, que com exceção dos andaluzes e extremenhos, os imigrantes espanhóis provem do norte da Espanha, oque compreendia antes as velhas fronteiras do Reino da Gallaecia, no que pese, a Extremadura, mais ao sul, também ter composto o Reino Galaico. 

Os dados da imigração espanhola não são tão precisos, variam conforme as fontes e os períodos, agravado por alguns portos de embarque serem em território português (porto do Lelixão e de Lisboa) oque muitas vezes se tomava um imigrante galego por português.

Segundo os informes consulares, entre 60 e 70% dos espanhóis no Brasil eram galegos. Tais índices se explica pela similaridade linguística do idioma galego com o português, a proximidade dos portos de embarque portugueses e a existência duma corrente migratória previa rumo ao Brasil intermediada por Portugal. (Villares, 1996)
Segundo Klein entre 1880 à 1900 imigraram para o Brasil 199.193 espanhóis.¹  Dos quais, cerca de 159.350 (80%) eram galegos. Até o final do século XIX, houve um grande fluxo de galegos, que se fixaram principalmente em centros urbanos: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém.

Do total, de 1900 até 1970: 750 mil espanhóis imigraram para o Brasil. (KLEIN, 1994, p. 36)

Os espanhóis estavam entre os primeiros e maiores grupos de imigrantes a chegar aos cafezais paulistas, ultrapassando inclusive os italianos.

Elena Pajaro Peres assinala a peculiaridade da imigração galega ao Brasil "polo feito de que o Brasil ser un dos destinos preferidos nos anos 1950, polo carácter rural da maioría destes inmigrantes e, sobre todo, por ser unha inmigración non vinculada necesariamente ao antifranquismo." ( Peres, 2002, p. 37) [...] a maioria dos espanhóis, nesse período, emigrou a Brasil por conta própria, sem gozar de qualquer assistência governamental. Entre estes, um grupo significativo provinha de Galiza [...].

A emigração subsidiada fora proibida. Porém, não teve efeito no trânsito para o Brasil, uma vez que se redirecionaram os portos de saída dos espanhóis. Os provenientes das províncias do sul e do leste passaram a buscar saída pelo Porto de Gilbraltar, enquanto no norte, especialmente Galiza, região densamente povoada e de mini-fundios, a saída se dava pelo Porto de Vigo (CÁNOVAS, 2001; KLEIN, 1994; MARTINEZ, 1999).

Entre 1900 à 1910, a imigração espanhola para o Estado de São Paulo foi majoritariamente de andaluzes, 60% do total, enquanto que 20% eram galegos e estes pouco utilizaram dos subsídios, visto que preferiam se direcionar para áreas urbanas, diferentemente dos andaluzes (MARTINEZ, 1999, P. 250)

A Andaluzia teve grande emigração até a década de 1910. Deste momento em diante, a Galiza, minifundiária e mais densamente povoada, será a região que mais emigrantes produzirá. 

Até 1910, os espanhóis casavam-se dentro de seu próprio grupo étnico em uma proporção maior do que a de italianos e portugueses: 62% dos homens casaram-se com espanholas, enquanto que 69% das mulheres casaram-se com espanhóis. [...] a partir de 1940, quando esta se torna urbana, os registros de casamento de São Paulo apresentam que apenas 12% dos espanhóis casaram-se entre si.

Com dificuldades de estatísticas anteriormente mencionadas, são importantes os dados de Gonzalez Martinez que, a partir de informes de cônsules aos Ministério de Assuntos Exteriores de Madrid em 1931, mostra a origem regional dos imigrantes espanhóis, a saber: 
Pará: 1.500 espanhóis, 90% galegos, 7% de Castilla-Leon, 3% de outras regiões. Esta imigração foi feita sob contrato para o desenvolvimento da agricultura e para a criação de núcleos coloniais na região. A maioria destes imigrantes abandona a região em busca de cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo ou ainda Buenos Aires e outros voltam para a Espanha. 
Recife: 476 espanhóis, 70% galegos, 5% catalães, 5% andaluzes, 5% castelhanos velhos e 10% de outras regiões;  
Salvador: concentrava 96% dos 3.500 residentes em toda a Bahia, 98% eram da Galiza – a maioria de Pontevedra. Monopolizavam o comércio de mercearias, padarias e restaurantes e também de casas de penhores;  
Mato Grosso: 150 em Campo Grande e 110 em Corumbá;  
Amazonas: quase mil; 
Espírito Santo: quase 500; 
Rio de Janeiro: 40 mil espanhóis, 70% galegos, 30% de outras regiões, com predomínio de homens (70%), possuindo as mesmas características comerciais de outros lugares;
Segundo o censo de 1906, havia um total de 210.515 de imigrantes no Río, sendo 133.000 deste total portugueses, 25.557 italianos e algo mais de 20.000 espanhóis. No censo de 1920 os espanhóis continuaram representando o terceiro grupo máis numeroso de imigrantes nesta cidade. Os imigrantes destes anos foron atraídos para o Brasil devido ao crescimento econômico que o país passava, sendo Rio de Janeiro uma das cidades mais desenvolvidas do sudeste e sul, regiões que se concentrava 93,4% da população brasileira (Sarmiento, 2006). Outro dato importante é que, dentro da comunidade espanhola do Rio de Janeiro, os imigrantes de origem galega também são os mais numerosos.
Érica Sarmiento destaca que: [...] antes do inicio da imigração massiva para o Brasil (1890), já havia galegos que não só estavam estabelecidos na capital, com seus negócios, senon que tamen davam Trabalho aos compatriotas da mesma aldeia ou município. Podemos dizer que apesar de não serem majoritários antes de 1890, foram os pioneiros e sentaram as bases do que seria a futura imigração galega ao Rio: espontânea, baseada en lazos de parentesco e adicada principalmente ao setor do comercio e Hotelaría. (Sarmiento, 2006, p. 42)
Os galegos que chegaram ao Rio de Janeiro na sua maioria emigraram de forma espontânea e se instalaram no meio urbano. Dedicaram-se ao setor terciário, que lhes oferecia mais oportunidades de trabalho e permitia uma ascensão social mais rápida que o meio rural, ainda que a maioria fosse originaria do meio agrário na Galiza. Muitas vezes tinham alguma propriedade no seu lugar de origem que poderia ser vendida ou alugada para que ajuda-se nos gastos da viagem. 
Paraná: 500 espanhóis em Curitiba; 
Santa Catarina: menos de 400;
 
Rio Grande do Sul: existência de vários núcleos: Porto Alegre, Pelotas, Uruguaiana, Bagé, Santana do Livramento, com cerca de 10 mil residentes; os restantes no Estado não possui importância quantitativa (MARTINEZ, 1999, P. 246).
“Quem são os imigrantes espanhóis? Seguindo a tendência apontada por Martinez nesse período, a grande maioria era de galegos, que se fixaram principalmente em centros urbanos brasileiros de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Para o Rio Grande do Sul, os dados são ainda mais dispersos. Seriam em torno de 10.000, segundo o consulado Espanhol, nos núcleos de Porto alegre, Pelotas, Uruguaiana, Bagé, Santana do Livramento, etc. [....]” (p.47) 
Minas Gerais: De 1884 à 1896, 3.002 espanhóis.


A Imigração Galega:


Os imigrantes galegos, além de mais numerosos entre os espanhóis, eram um contingente distinto, com cultura, língua e historia própria. E por que é mais difícil identifica-los? Érica Sarmiento crer que tal questão tem relação com a figura do imigrante português na sociedade carioca: Assim, os verdadeiros galegos, quando não aparecem ocasionalmente em obras sobre a imigração, espanhola em geral, apresentam-se camuflados sob a figura dos portugueses.

Não só eram chamados "galegos" os naturais da Galiza, como também os portugueses. A palavra era empregada duma forma pejorativa para alcunhar os portugueses quando se queria insulta-los. Posteriormente, o termo galego acabou estendendo-se a todo estrangeiros, e n´algumas regiões brasileiras, a palavra define as pessoas de pele muito clara e cabelos louros.
"A imigração portuguesa ocultou a comunidade galega impedindo que as miradas acadêmicas identificassem os galegos como um grupo numericamente importante, ativo na sociedade carioca e com características próprias. [...] Portugueses e italianos tiveram importância na sociedade carioca como os maiores grupos de imigrantes [...], mas os portugueses sem dúvida tiveram representação em um setor que trabalha diretamente com as classes mais populares: o do comercio. Eram maioria como donos de bares, pensões, restaurantes, padarias e tendas de ultramarinos. Curiosamente os galegos destacaram-se no mesmo setor profissional, em bares, hotéis e restaurantes, como se tivessem seguido o exemplo dos portugueses, que dominavam esse setor antes da chegada dos competidores. [...]"
Ademais de ocupar a mesma área profissional compartilhavam a proximidade entre os dois idiomas, a afinidade de costumes, a mesma zona geográfica da que procediam - os portugueses que estavam no Rio eram majoritariamente do Norte de Portugal - e o feito de que já existira - previamente a imigração transoceánica - um fluxo migratório de Galiza para este país. (Sarmiento, 2006, p. 44-47)

Oque Érica comenta sobre os brasileiros fazerem uso do termo galego fazendo alusão aos imigrantes portugueses também foi mencionado por José González Márquez na súa entrevista: "Sabes que alla no dicen" galego ", ¿no? Galego llaman a los portugueses. Alla, los gallegos de Galiza son españoles. Alli me llaman de español, asi como aquí me llaman brasileiro muchos. "



Famílias Hispânicas no Brasil Colonial:

1. Agostinho Guterres (Valencia, Espanha, c. 1685 - Viamão, Rio Grande do Sul, c. 1763) casado com Maria de Brito Peixoto.
2. André Martins Bonilha (Espanha, ? - Brasil, c. 1616) casado com Justa Maciel.
3. Antonia Gonçalves (Sevilla, Andalusia, Espanha, ? - São Vicente, São Paulo, c. 1616) casada com Antonio Preto, o Patriarca da Família Preto no Brasil.
4. Antonia Gonçalves (Sevilla, Andalucía, Espanha, c. 1560 - Brasil, c. 1616) casada com Francisco Martins Bonilha.
5. Antonia Pinto (Salamanca, Castile and León, Spain, c.1707 - Rio Grande, Rio Grande do Sul, 12 de junho de 1738) casada com João Antunes da Porciúncula.
6. Balthazar de Godoy (Castela, c.1561 -- ?, ?) nobre castelhano, que veio a S. Paulo na segunda parte do século XVI em tempo do domínio de Castela no Brasil. Aqui casou com Paula Moreira filha do capitão-mor governador Jorge Moreira.
7. Bartolomeu Bueno de Ribeira, o Sevilhano (Sevilha, Andalusia, Espanha, c. 1555 - São Paulo, c. 1629) casado com Maria Pires.
8. Bernardo de Quadros (Sevilla, Andalusia, Espanha, ? - Brasil, c. 1642) casado com Cecília Ribeiro.
9. Concépcion Martinez Martins (Conceição Martinez Sugrañez (Barcelona, Espanha, 8 de outubro de 1894 - 2 de outubro de 1980) casada com João Baptista Gomes Martins.
10. Concepción Montserrate Josefa Sugrañes Daudi (Barcelona, Espanha, 7 de dezembro de 1869 - Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1945) casada com Miguel Mariano Martínez Marmol.
11. Diogo de Lara (Zamora, Castile and León, Spain, ? - São Paulo, 22 de outubro de 1665] casado com Madalena Fernandes de Morais.
12. Diogo Trilha (Antequera, Málaga, Andalusia, Espanha, ? - Brasil, ?) casado com Suzana do Rosário.
13. Domingos de Amores (Castela, Espanha, ? - Brasil, ?) casado com Antônia de Siqueira de Mendonça.
14. Francisco José De Leivas (Sevilha, Espanha, c. 1727 - Brasil, ?) casado com Maria Joaquina De Aguirre De Abreu.
15. Francisco Martins Bonilha (Castile and León, Espanha, c. 1560 - Brasil, ?) casado com Antonia Gonçalves.
16. Francisco de Saavedra (Madri, Espanha, ? - Brasil, ?) casado com Maria Moreira.
17. Geraldo Mirambell Olivé (Barcelona, Espanha, c. 1825 - Pelotas, Rio Grande do Sul, 8 de dezembro de 1906) casado com Maria José Bernardina da Silva.
18. João de Azpilcueta Navarro (País Basco, c.1522 -- Bahia, 1557) padre da Companhia de Jesus, um dos primeiros a serem catequistas no Brasil, no século XVI. Era primo da mãe de São Francisco Xavier. (Curiosidade: empresta seu sobrenome para dar nome à Rua Aspicuelta, Vila Madalena, São Paulo.)
19. João Gonçalves Salgado (Santa Maria do Rio do Caldo, Lobios, Ornise, Galicia, Espanha, ? - Triunfo, Rio Grande do Sul, 22 de abril de 1779) casado com Ana Maria Leite de Oliveira.
João Matheus Rendon de Quebedo (Cáceres, Extremadura, Espanha, c. 1600 - Brasil, ?) casado com Maria Bueno de Ribeira.
20. João Piza (Balearic Islands, Spain, ? Brasil, ?) casado com Josefa Leite.
21. José Antonio Garrastazu (Espanha,? - Brasil, ?) casado com Dominique Barbiére Ibarburu, do qual descende o ex-Presidente da República Emílio Garrastazu Médici]
22. José Ortiz de Camargo, o Pai (Burgos, Castrojeriz, Burgos, Castille and Leon, Spain, ? - São Paulo, c. 1630) casado com Leonor Domingues.
23. Miguel Garcia Carrasco (São Lucas de Cana Verde, Espanha, ? - Brasil, ? ) casado com Margarida Fernandes e Izabel João.
24. Pedro Legaspe (Espanha, ? - Brasil, ? ) casado com Amélia Andrade.
25. Raimundo Mulet (Barcelona, Catalunha, Espanha,? - Brasil, ?) casado com Lauriana do Nascimento Martins.

Fontes:
¹KLEIN, H. A Imigração Espanhola no Brasil. São Paulo: Idesp, Sumaré, Fafpesp. 1994, p.31, tabela 1.1.
MARTINEZ, Elda E. Gonzalez.. O Brasil como país de destino para os imigrantes espanhóis. In Fazer a América, Org. Boris Fausto, São Paulo: EDUSP, 1999. 
“Ainda para Martinez 238.739 espanhóis saíram de portos espanhóis com destino ao Brasil, entre 1882 e 1929. [....]” (p.47)
“Martinez registra a presença de 567.176 imigrantes espanhóis no Brasil. Oque chama de segunda etapa com início em 1950, entraram 94.693, em 1960 já cai para 28.397. [....]”
“Para Klein, entre 1952 e 1970, o Brasil recebeu 111.100 imigrantes europeus, sendo 24.459 espanhóis, 22% de todos os europeus vindos para o Brasil [...]”
“Ao final da Segunda Guerra Mundial, ocorreu o último surto da imigração espanhola, até os anos 60.”
Entre 1884-1893 imigraram para o Brasil 113.116 espanhóis, dos quais 90.400 eram galegos. Até o final do século XIX, houve um grande fluxo de galegos, que se fixaram principalmente em centros urbanos: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém.
Segundo Klein, H. de 1880 à 1892, imigram para o Brasil 74.751 espanhóis. 
De 1880 à 1900: 199.193. (Klein, H. A Imigração Espanhola no Brasil. São Paulo: Idesp, Sumaré, Fafpesp. 1994, p.31, tabela 1.1)
" [....] teriam sido introduzidos no ano anterior (1895) 6.631 imigrantes, dos quais 6.376 por conta do estado (ibidem, p.30). Prosseguindo-se os trabalhos no ano de 1896, foram introduzidos 22.496 imigrantes, dos quais 18.999 eram italianos e 3.002 espanhóis. No ano de 1898, o relatório do presidente do estado informa que teriam sido introduzidos no estado, no ano anterior (1897), 17.558 imigrantes, elevando a 61.259 o total de imigrantes vindos para o estado desde o final do ano de 1894
De 1900 até 1970, chegam ao País cerca de 750 mil espanhóis. Os espanhóis estavam entre os primeiros e maiores grupos de imigrantes a chegar aos cafezais paulistas, ultrapassando inclusive os italianos. Nos registros da Hospedaria dos imigrantes, em São Paulo, entre 1910 e 1915, dos 102.800 espanhóis que por aí passaram, apenas 15% pagavam suas passagens (KLEIN, 1994, p. 36).
“Conforme os números da Fundação de Economia e Estatística, em 1890, contabilizava em Porto Alegre dados referentes ao ano de 1872: 43.998 habitantes, entre livres e escravos. Pelo critério de sexo, a população é de 26.409 homens e 26.012 mulheres, totalizando 52.421 habitantes. No Rio Grande do Sul, como um todo, pelo critério da nacionalidade há em 1900, 1.013.986 brasileiros, 129.329, estrangeiros e 57.551 ignorados.”. (p.55)





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1139 - A Fundação do Estado Nacional
A Composição Genética do Brasileiro, Menos Miscigenado, Mais Europeu do que se Cria.


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Os Brasilaicos - A Raíz Identitária do Brasil.

“O Brasil não é uma reprodução de Portugal, nem 
deve pretender sê-lo, mas é uma derivação dele”.


A identidade nacional, é um tema recorrente em países “novos” tal como os países americanos, do sul ao norte: EUA, Canadá, Brasil, Argentina, Uruguai, México.... todos eles apresentam essa questão. No Brasil, como em outros países ibero-americanos, o tema, sem razão, é mais problematizado do que se deveria ante uma clara política imperialista de des-nacionalização, de negação da nacionalidade e seu fracionamento.

Já tratamos em artigo anterior “Nacionalismo e Nacionalidade”, sobre o conceito de nacionalidade. Em suma, a nacionalidade envolve a concepção de uma origem comum, consciência e unidade política. Que faz do Brasil, a formação nacional mais antiga das Américas. Porém a questão da identidade nacional envolve outros aspectos, que envolvem seus elementos caracterizadores: língua, credo, estrutura social e política, arquitetura, organização urbana, etc... . Algo até óbvio na formação brasileira, porém, problematizada, como já dissemos, por razões imperialistas. O Brasil é uma nação derivada diretamente da civilização lusitana adaptada aos trópicos. No caso do Brasil, mais especificamente “galaica”, em referência a população nortenha de Portugal, ante sua numerosa e majoritária preponderância no povoamento do Brasil ao longo da nossa colonização.

Na antiguidade, no período pré-romano, os termos “lusitanos” e “galaicos” eram equivalentes, não havia distinção. Com a criação da província da Lusitânia ao sul e a criação da Gallaecia ao norte, a nomenclatura, passou a designar, com o tempo, os do norte como “galaicos” e os do sul como “lusitanos”, embora tratem-se de uma mesma população. Porém por uma maior influência romana ao sul, na Lusitânia, e que se fez menos presente no norte, a Gallaecia conservou melhor seu substrato céltico originário.

Assim, adotamos o termo “brasilaico” para melhor designar essa influencia nortenha na formação brasileira. Termo antes já empregado por cronistas e historiadores da época quinhentista. O sufixo –aico é um fóssil lingüístico, remanescente da antiga e esquecida língua lusitana, anterior a invasão romana, que remete a uma coletividade de indivíduos.

Isso posto, passaremos a tratar sobre o povoamento do Brasil, e seus desdobramentos caracterizadores da identidade brasileira.


O Elemento Nortenho no Povoamento do Brasil.

Província de Entre Douro e Minho

A gente desta terra he toda alva; os homês mui bem dispostos, e as molheres mui fermosas, que nam ham nenhúa inveja às da Rua Nova de Lixboa”. Assim retrata Pero Lopes de Sousa a população quinhentista de Salvador. A surpresa de Pero Lopes de Sousa, se explica pela relação entre normandos e tupis, que antecederam, em 30 anos, a colonização portuguesa no Brasil e que se prolongará ao longo de todo o primeiro século de formação na guerra de expulsão dos franceses. Assim, é que os primeiros colonos portugueses a virem para o Brasil, se ligarão a essas mulheres fruto dessas relações normando-tupis, bem como na relação direta entre portugueses e tupis. Capistrano de Abreu, tratando da guerra contra os franceses do Rio Grande do Norte a Itamaracá reporta que:

“Muitos franceses mestiçaram com as mulheres indígenas, muitos filhos de cunhãs se encontravam já de cabelo louro: ainda hoje resta um vestígio da ascendência e da persistência dos antigos rivais dos portugueses na cabeleira de gente encontrada naquela e nos vizinhos sertões de Paraíba e Ceará”.

Os dados genéticos corroboram as fontes históricas. Análises genéticas colhidas na população, no nordeste do Brasil, revelam que 19% dos genes oriundos da linhagem paterna são genes nórdicos. É um percentual maior do que o observado na população portuguesa, 13%. Esse percentual por vezes é atribuído a presença holandesa, é um equivoco, pois tanto a presença normanda foi maior, ao longo de todo século XVI, como a relação entre indígenas e normandos foi muito mais intensa. Os holandeses, além de tardios, ficaram reclusos nos fortes do Recife, “d´onde nunca se apartaram mais do que 12 léguas” e ainda permaneceram brevíssimo tempo até serem expulsos.

Os primeiros colonos portugueses que aportam no Brasil, são gente ligada em torno dos donatários, advindos da baixa aristocracia rural do norte de Portugal, no dizer da época: “gente de nome e brasão”. Como relata, por exemplo, Frei Vicente a colonização de Santos e São Vicente:

“Na ilha de dentro há duas povoações, uma chamada de Santos, outra de São Vicente como o rio, a qual veio edificar Martim Afonso de Souza em pessoa, e a povoou de mui nobre gente, que consigo trouxe, e assim floresceu em mui breve tempo.”

Em Pernambuco, Duarte Coelho trouxe consigo colonos de Viana do Castelo, a tal ponto numerosos que ao se insugirem contra emissários de Lisboa diziam: “aqui não Del Rey mas, de Viana!”. 

Na capitania de Porto Seguro, seu donatário Campo Tourinho em menos de 3 anos construiu 7 vilas onde distribuiu alguns colonos que o acompanhavam a maior parte provinha de família de pescadores de Viana do Castelo. Após a morte de Pero Tourinho a capitania entrou em decadência, embora a Vila de Porto Seguro tenha se mantido habitada, assim como os outros povoados fundado por Pero de Campo Tourinho entre eles Santa Cruz, Santo Amaro e Comagi.

Nas demais capitanias em que seus respectivos donatários vieram a tomar posse, o processo é o mesmo. Do Minho afluem as matrizes que virão colonizar o Brasil. A guisa de parâmetro, dos portugueses processados pela Inquisição em Pernambuco e na Bahia metade eram originários do Minho, cabendo um longínquo segundo lugar, 15%, aos de Lisboa.

Dados de São Paulo, em 1801, revelam que 45% dos homens portugueses provinham do Minho, 20% dos Açores e 16% de Lisboa.

A historiadora Júnia Furtado, analisando a origem dos comerciantes portugueses radicados em Minas Gerais no século XVIII, constatou que 74,4% eram oriundos do Norte português. Em Vila Rica, Iraci del Nero, ao levantar dados sobre a população portuguesa radicada, constatou que 68,1% provinha do Norte de Portugal. Entre o período de 1750 e 1779, ainda em Minas, Carla Almeida desvela que 89% dos homens portugueses eram naturais das províncias do norte e 11% provenientes da região central do país e nenhum do sul. Além dos nortenhos, um fluxo notável de colonos provinham das ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores.

No Ceará, estima-se que entre 1750 a 1850, mais de 55% dos portugueses que se estabeleceram na província, eram provenientes do Norte de Portugal.

Essa predominância de nortenhos se explica, além do norte português ser a região mais densamente povoada de Portugal, ainda na atualidade, mas sobretudo pela estrutura familiar minhota, em que somente os primogênitos herdavam terras. Assim os demais filhos, deserdados, preferiam imigrar para o Brasil e se fazerem senhores de terra, “Dominus Brasilia”, e nisso acabavam reproduzindo seu sistema feudal adaptado aos trópicos.

Foi sob esse influxo que se gerou a “nobreza da terra”, sob a qual se estruturou a sociedade colonial que aqui se firmava. É essa nobreza, brasilaica, que levará a cabo a conquista a terra, ganhar e absorver o gentio, iniciar as culturas, fazer as povoações, resistir ao estrangeiro. Trabalharem como obreiros e combatentes, edificavam lutando. Toda a primeira formação foi assim: na boa luta, a que enraíza na terra, e fortifica o patriotismo, porque é dessa nobreza, que advém a consciência de existência nacional e que incita a resistência ao invasor.

“Nos primeiros colonizadores do Brasil encontravam-se as virtudes essenciais do pioneiro português: — solidariedade na compreensão nítida de existência nacional, hábito de atividade disciplinada e, com isto, o sentimento de trazerem consigo uma pátria, no intuito explícito de fazerem um novo país, pelo desenvolvimento das tradições nacionais.” – Manoel Bomfim.

Mais de um século e meio depois, no início do século XX, a imigração portuguesa para o Brasil continuará predominantemente oriunda do Norte português e adjacências, nomeadamente: Trás-os-Montes, Minho, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Litoral e Estremadura, com oscilações de predominância entre estas regiões ao longo do tempo.


A imigração estrangeira para o Brasil e seu impacto na nacionalidade.

A imigração estrangeira, tende a ser superdimensionada. A imigração portuguesa, no que pese ter sido a maior, estranhamente é relegada ao esquecimento, apenas se falando marginalmente. Ao passo que outras, infimamente minoritárias, são postos a relevo para fazer crer numa suposta heterogeneidade.

Após a independência em 1822, os portugueses que afluem para o Brasil passam a serem computados como estrangeiros e a eles se somarão contigentes imigratórios de outras nacionalidades. Contudo, os portugueses serão o maior corpo imigratório no Brasil. E não ocorrerá aqui oque sucedeu em outros países, como: EUA, Canadá, Argentina e Uruguai, em que suas populações originais foram suplantadas por essa massa de imigrantes. A ponto de se dizer na Argentina, que os descendentes dos seus heróis de dezessete, foram substituídos. Darcy Ribeiro chamou a esse fenômeno de “povos transplantados”. No Brasil isso não ocorreu, em nenhuma região do Brasil, mesmo ao sul.

O sul do Brasil, foi colonizado por paulistas do planalto de Piratininga. Posteriormente em 1748 sobreveio a imigração açoriana, inicialmente em Santa Catarina e posteriormente no Rio Grande do Sul, feita por casais, oque regra geral dissociou do restante do país, feito majoritariamente por homens solteiros que se ligavam as mulheres da terra. Foi esse fator que deu a essa população meridional brasileira um aspecto mais branca do que no resto do país, isso já observado pelos cronistas da época e que hodiernamente, é falsamente atribuído a imigração estrangeira operada no Séc. XX. Em 1780,  55% da população do Rio Grande do Sul, eram açorianos. Também de se assinalar que, embora os dados disponíveis não sejam tão precisos, mas um levantamento quanto a origem dos povoadores iniciais nas ilhas dos Açores, revelam que a maioria eram oriundos do norte de Portugal.

De modo que, ainda que levemos em conta a imigraçãoportuguesa, juntamente com outros contingentes, esse número não chega a suplantar a população original. E ainda em comparação com outros países essas cifras verificadas no Brasil são bem menores. A guisa de comparação, a imigração italiana, foi a segunda mais numerosa no Brasil contabilizando 1 milhão e 500 mil. Somente na Argentina, que a época apresentava uma população menor do que a do Brasil, adentraram 3 milhões! O dobro! E se compararmos a operada nos EUA, ai vemos a insignificância, 15 milhões!!!!

Outro aspecto que costuma passar batido, é que o terceiro maior contingente imigratório para o Brasil, foi a imigração espanhola, contabilizando 750 mil indivíduos. E o aspecto a se ressaltar é que 80% desses “espanhóis” eram galegos, a mesma cepa nacional portuguesa. Daí terem passado tão desapercebidos, ainda que sendo o terceiro maior contingente imigratório, posto falarem galaico-português , e assim se integrarem a sociedade brasileira rapidamente.

A imigração alemã, por vezes tão propalada por alguns, foi bem menor do que as três primeiras, orbitando em torno de 300 mil imigrantes. Note.... duas vezes menor do que a espanhola. E logo na primeira geração, ocorre um processo de assimilação. Como parâmetro estatístico temos dados do censo do Rio Grande do Sul de 1918, que revelam que 74% de homens alemães se casaram com brasileiras, ao passo que 26% com alemãs. Note que esse processo de assimilação ocorre muito cedo. Não havendo razões que justifiquem falar, mesmo na época e muito menos na atualidade, passado mais de três gerações, em uma suposta "identidade alemã".

Os japoneses formam o 5º maior grupo imigratório, e juntamente com os alemães são os que mais tiveram dificuldade de integração, em virtude da língua, credo, de terem vindo em boa parte em casais, oque por esse isolamento, acabavam privilegiando casamentos entre si. Porém, pela pouca quantidade, e com o tempo acabam se integrando sem maiores sobressaltos.

Os franceses além de constituirem uma das bases formadoras do Brasil, especialmente normandos e bretões (A Presença Nornando-Bretã na Formação do Brasil), quando do nosso primeiro século de formação. Já no período pós-independencia,  a imigração francesa, é igualmente ocultada. A imigração francesa figura junto com a alemã e a portuguesa dentre das mais antigas, e até o início do século XX foi a terceira maior em numeros absolutos, somente atrás dos imigrantes portugueses e italianos. Tendo imigrado cerca de 150 mil franceses para o Brasil. 

Há ainda um pequeno contingente sírio-libanes, dito: turcos, por estarem na época sob controle do império otomano (Turquia). Também de pequeno vulto, operada quase em sua totalidade por homens solteiros e ao contrário do que vulgo se pensa, em sua maior parte cristãos, adeptos da igreja ortodoxa sírio-libanesa (ramo católico porem de administração independente), os de credo mulçumano foram quase inexistentes.

Disso ainda se deve ponderar, que ao se falar de imigração “italiana”, “alemã”, e mesmo sírio-libanesa, não estamos falando de uma mesma nacionalidade. Itália e Alemanha são países de nacionalidade artificiais que abrigam povos distintos, com diferentes dialetos. Um Veneziano não se identifica com um romano nem muito menos com um siciliano. Os três falam dialetos diferentes e são de origens diversas. Então é ridículo falar em uma identidade “italiana” simplesmente porque não existe tal identidade. O caso dos imigrantes alemães é similar, mesmo dentro da Alemanha, há diversos dialetos, e eles se acentuam conforme se vá ao norte ou para o sul, sendo o sul majoritariamente católico ao passo que o norte é majoritariamente protestante, e sendo racialmente também distintos: o norte saxão e o sul alpino. E a considerar ainda que na imigração alemã, computa-se como tal austríacos e suíços, bem como um ramo mais concentrado no Espírito Santo chamado pomeranos, que são bálticos e não germânicos. Então, como falar de uma identidade alemã? 

De todo esse apanhado oque se depreende é que o contingente português por si só foi majoritário, e tanto mais antigo, a ele se soma a imigração galega que compartilha a mesma origem nacional. Assim se somarmos ambas, temos 2 milhões e 200 mil oque é um contingente superior a soma de todos as outras correntes. E repita-se..... ainda juntando todas, não suplanta a população brasileira original, ao contrário, fica bem aquém, sem maiores impactos.  


A política imigratória Getulista:

Na Era Vargas, houve uma restrição na imigração. Foi limitada a entrada de estrangeiros de todas as nacionalidades no Brasil com a Lei de Cotas de Imigração, exceto para os portugueses em 38. A isso se deve uma maior racionalização na política imigratória, pois tanto o Brasil já não precisava de mão de obra, pois os nacionais já supriam a demanda, como tratava de excluir contingentes com dificuldades de integração e assim "garantir o fortalecimento étnico da nação" através do elemento português. Getúlio fora bem influenciado por Oliveira Viana, Gustavo Barroso e Roquette Pinto, seu ministro, que envergavam essas idéias.

Após a II Guerra, o antropólogo Gilberto Freyre e um grupo de deputados defenderam que os portugueses não deveriam ser considerados estrangeiros no Brasil. Ainda hoje, os portugueses têm tratamento especial dado pela legislação brasileira. Este dispositivo que dar privilégios a uma nacionalidade estrangeira é raro no mundo. Por exemplo, na legislação da Argentina não existe nenhum dispositivo que dê tratamento diferenciado aos espanhóis, tão pouco a lei dos Estados Unidos beneficia os britânicos. Na América do Sul, apenas na Venezuela há algo semelhante.

Após a II Guerra Mundial, os portugueses foram os únicos que continuaram a chegar em grande número ao Brasil. Entre 1945 e 1959, ainda chegaram ao Brasil cerca de 250 mil portugueses.


Os Elementos Característicos da Identidade Brasilaica.

Como dissemos no início a identidade nacional envolve aspectos caracterizadores da nacionalidade: língua, credo, estrutura social e política, arquitetura, organização urbana, etc.... é um tema demasiado abrangente, que não comporta nessa breve exposição que já vai longe. Elencaremos apenas os principais que entendemos ser suficientes para explicitar essa identidade portuguesa em todo o Brasil. 

O Brasil durante sua formação sempre deteve uma unidade linguística única em um país continental, que nem os EUA, Canadá, Rússia, China detém, e por vezes países muito menores como Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e outros.... e um aspecto interessante a ressalta é que isso ocorreu organicamente, justamente por ocasião desse contínuo afluxo português para o Brasil, que assimilava os naturais transmitindo o português aos seus descendentes. Assim se inicialmente tivemos o tupi como língua dominante, a língua portuguesa se impois por um natural processo de assimilação dos contingentes integrados a civilização brasileira.

É conhecido e repetido verborragicamente, que o tupi deixou de ser falado por uma determinação administrativa de Pombal, como se os falantes aprendessem tupi em escolas públicas.... se quer existiam! O tupi foi sendo marginalizado em um processo gradual a medida que essa civilização brasilaica avançava. E embora continua, a imigração portuguesa para o Brasil apresenta picos. O primeiro com os colonos no primeiro século de colonização, uma segunda onda aflui com a descoberta das minas, concomitante a uma explosão demográfica no Minho, que levará  a um dos maiores processos imigratórios da história mundial, com a vinda de minhotos para o Brasil, nesse momento, especificamente para Minas Gerais. Também nesse momento ocorrerá a ocupação dos sertões, e do Mato Grosso embalados por esse fluxo nortenho. É dessa forma que o tupi perde importância e espaço, deixando de ser falado nos grandes centros, se tornando uma língua secundária. 

Esse processo se repete em todo o Brasil, mesmo entre as correntes imigratórias recentes, que assimiladas, repassam a língua portuguesa aos seus descendentes, já brasileiros. 

Interessante mencionar a observação do historiador galego Júlio Cesar Barreto Rocha, citando Lindley Cintra sobre o português do Brasil se assemelhar mais galego do que ao atual português de Portugal, por ter se mantido mais conservado:
"Lindley Cintra, apoiado em Leite de Vasconcelos, alude, por exemplo, à "influência de hábitos articulatórios de um substrato étnico" de celtas, que, sabe-se, deslocaram-se desde o Norte, "cuja presença Estrabão e Plínio assinalam nas margens do Tejo". Desta forma, o próprio filólogo português explicita que o sistema vocálico luso teria sofrido influxos desde o Norte galego. A presença das vogais mais escandidas no galego atual, que possui menos força ao Sul, em Portugal (cujos falantes obscurecem as ocorrências destes sons, como em "m'nino" ou em "p'ssoa"), permanece mais integral no território brasileiro, cuja população, em sua quase absoluta totalidade, encontra parâmetro distintivo do falante português justamente nesta vocalização mais "perfeita" nossa, por assim dizer, igualando-se ao falante galego --que inegavelmente mantém também mais acesa esta "característica celta". A língua falada na Galiza, que é a real Pátria da Língua, que instituiu o sistema vocálico e a musicalidade do galego, faz-se presente no Brasil."
Outro fator característico na formação brasileira é a sua unidade religiosa, católica. A crença católica brasileira ao contrário do que possa parecer, não foi propriamente uma imposição do Estado, que ao longo da vida colonial se fez muito pouco presente, quase inexistente no seio da população. Isso foi agravado com o não reconhecimento por Roma, da restauração de Portugal, ao fim da união ibérica, quando Roma não reconheceu a nomeação de padres e bispos pela nova dinastia (Braganças) e que só virá a reconhecer em fins do Séc. XVIII. Durante todo esse período o catolicismo no Brasil se desenvolve organicamente, as populações a professam por pura tradição, porque descendem de católicos, a fé de sua linhagem. E disso vai resultar o catolicismo popular brasileiro de forte cunho medieval e que guarda substratos da antiga fé céltica ("pagã"). Veja que isso não ocorre nas colonias hispânicas, posto uma ostensiva e atuante doutrinação romana.

Outro aspecto a ilustrar, é a estrutura social e seus tipos humanos. Tema também demasiado abrangente e que nem de longe pretendemos esgotar. Apenas pontuamos que em grande parte, a estrutura social minhota se conserva no Brasil, sua estrutura familiar, as relações sociais, política, guardam uma proximidade muito grande com a observada no norte português. No Brasil as relações sanguinias eram bastante valoradas, revelando uma estrutura de clãs e uma rede de clientelia em torno de um chefe. Há ainda um rico arcabouço de tipos humanos, o padre que encarnava a figura de juiz de paz, intermediando conflitos e sendo guia espiritual da comunidade, e muitas vezes a figura mais letrada da comunidade. Vários antropólogos e historiadores traçam um paralelo a figura dos padres as funções dos druidas, oque seria uma adaptação dessa estrutura sob uma roupagem cristã. A figura dos menestréis (antigos bardos celtas), na figura de cantadores, ainda presentes tanto nos sertões setentrionais do Brasil quanto ao sul. Em fim, são rápidas pinceladas que ilustram essa reprodução da vida nortenha no Brasil com as devidas adaptações a vida nos trópicos.

Oliveira Viana, faz uma interessante análise da estrutura urbana das cidades coloniais brasileiras, eis oque diz:

"desta transplantação de cultura que o português realizou no Brasil, trouxeram eles o tipo de construção e povoados, vilas ou cidades, implantando entre nós a mesma disposição na colocação dos edifícios, das ruas, das praças, das casas. Do mesmo tipo de aldeia ou cidade portuguesa é que se fez o povoado ou vila brasileira.: "os habitantes amontoados em ruas sinuosas e estreitas garimpando o dorso dos montes a procura de alcançar a torre. Pouco afastada a igreja matriz, geralmente no mesmo largo dominado pelas paços do conselho, e entre os dois edifícios o pelourinho, onde a justiça por vezes tão cruel fazia pública a sua autoridade." O desenho é de afonso Arinos de Melo e Franco, que acrescenta: "retirando o elemento descaracterístico da torre feudal, o quadro se aplica a uma tipica cidade colonial brasileira".

Na arquitetura há também um paralelo fortíssimo entre a arquitetura nortenha e brasileira, também presente em todo território nacional, do Oiapoque ao Chuí e mesmo ao Prata em Colonia do Sacramento. E que se acentua nas cidades históricas brasileiras.


Penso que esses elementos já são bastantes, ainda que sem adentrar em profundidade, oque poderemos tratar em outra oportunidade trazendo aspectos bem mais interessantes e reveladores de nossa identidade brasileira, brasilaica. O elemento fundamental na nacionalidade reside na descendência comum, sanguínea, e que uma vez conscientes, se unem politicamente, nisso resulta a nacionalidade. Os brasileiros mais do que serem uma nacionalidade, oque não é pouca coisa, apresentam uma identidade nacional muito bem consolidada, apesar de tantos quantos, a serviço do imperialismo queiram negá-la.
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