sábado, 5 de setembro de 2009

As Lições de Edson Moura.

O empresário, brasileiro, Edson Moura Mororó, dono das Baterias Moura, faleceu em 15 de janeiro de 2009, vítima de câncer. Edson Moura após ter sofrido uma tentativa de "dumping" contra sua empresa, passou a tomar uma atitude nacionalista em defesa das teses ditas de "esquerda", com as quais o Nacional-trabalhismo de Vargas, Goulart e Brizola sempre buscou amparar e proteger nosso empresariado, como nos conta Paulo Rubem:

"Quando fui deputado estadual, entre 1999 e 2002, certa vez promovi na Assembléia Legislativa um Seminário sobre o Desenvolvimento de Pernambuco. Dr. Edson foi convidado e lá compareceu para expor suas opiniões. Em dado momento registrou que em sua vida tinha laços familiares com políticos militantes que abraçaram as causas dos partidos que tinham dado sustentação ao regime militar desde 1964, como a ARENA e o PDS e que mantinha certo afastamento dos temas polêmicos em relação a isso mas que por ter sofrido na pele um processo de tentativa de "dumping" por parte de uma grande multinacional automobilística, a GM, através das baterias DELCO, passara a perceber melhor as teses consideradas "comunistas", de defesa do nacionalismo e da indústria nacional contra as multinacionais. A partir dali Dr. Edson passaria a ver assuntos dessa natureza de outra maneira.

Em outra ocasião, em artigo publicado, parece-me que no Jornal do Commercio, Dr. Edson admitiu defender que o País deveria suspender por um período o pagamento da dívida externa( chegou a citar as decisões de Lenin, após 1917, na ex-União Soviética) e a partir daí investir uns US$ 40 bilhões nas atividades industriais.

Mais do que um empresário que veio de baixo, Dr. Edson foi um homem ousado, provou que o conhecimento técnico aliado à uma perspectiva criadora e corajosa poderiam contribuir para a construção de um polo de desenvolvimento que fez o caminho inverso, saindo do agreste de pernambuco para o sudeste, para o sul e para outros países do mundo com seus produtos.

Num momento em que vivemos as consequências de uma forte crise especulativa internacional, onde ganhar dinheiro virou sinônimo de aposta na especulação e, no caso brasileiro, na dívida do tesouro nacional e do estado, Dr. Edson foi até o fim da vida batalhando. Não se desfez de seus negócios, como muitos, para aplicar o possível apurado nos elevados juros praticados por um Banco Central que de um lado busca proteger a moeda da inflação mas que do outro acaba com a poupança nacional e o investimento impondo uma transferência de R$ 1,267 trilhão de juros do tesouro nacional para os juros da dívida pública interna e externa entre 2000 e 2007. Com esses recursos, quantas fábricas não teriam sido financiadas, como as Baterias Moura, pelo país a fora ?

Por duas vezes Dr. Edson contribuiu com campanhas eleitorais das quais participei, sempre disposto a ajudar parlamentares e candidaturas que tivessem uma visão de defesa da economia e da soberania nacionais.

Um nó crucial para a Moura, no entanto, dificilmente será desatado enquanto Edson der as cartas na empresa: a necessidade de encontrar parceiros capitalistas que permitam à companhia fazer lances mais audaciosos no mercado global. A hipótese já foi levantada em reuniões internas por Paulo Sales e até por Edinho. Em vão.

Nacionalista e crítico do capitalismo global, o velho Edson rebate com o jargão esquerdista de que a globalização é o novo nome do imperialismo americano e põe em dúvida o resultado das associações. "As multinacionais têm dinheiro, mas não têm eficiência", afirma. "Concorremos com três e vamos muito bem". A Moura tem mesmo gás para seguir sozinha? Só o tempo dirá."


*Texto publicado na edição de 20 de outubro de 1999 da revista Exame-Fonte www.planetajota.jr.br, Site de Jomar Morais, de Belo Jardim.

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