domingo, 12 de dezembro de 2010

Senador Pinheiro Machado - A Projeção do Castilhismo em Nível Nacional.

O historiador Hélio Silva nos reporta que Getúlio uma vez perguntado qual o político que mais o influenciara, respondeu que, além de Castilhos, fora  Pinheiro Machado.

Pinheiro Machado foi o mais influente e poderoso Senador da República Velha que se notabilizou pelo constante ataque as oligarquias regionais, especialmente durante o governo de Hermes da Fonseca, eleito Presidente pela sua mão, e para tanto fundou o Partido Republicano Conservador - PRC, o 1º de matiz nacional, de linha nacionalista e republicana. 


Em 1889, ao ser proclamada a República, Pinheiro Machado já se caracterizava como um dos mais valorosos republicanos no Rio Grande. A partir de então, diz o Ministro Tavares de Lira:

“(...) identifica-se por completo com Júlio de Castilhos: um seria o homem de Estado; o outro o homem da ação, e os dois unidos, apoiados pelos velhos legionários dos dias de lutas e pelos adesistas sinceros, a força poderosa sobre que repousaria, de começo, naquele recanto do território nacional, a sorte das instituições, proclamadas a 15 de novembro”.

Fora um dos fundadores do Partido Republicano Rio-Grandense, juntamente com Júlio de Castilhos e Venâncio Aires,

Fiel à tradição castilhista, Pinheiro pretendeu realizar a nível nacional o que Júlio de Castilhos conseguira no Rio Grande com o PRR: a direção do executivo por um partido ideológico republicano que garanti-se a República e nortea-se suas ações

O PRC seria encarregado de dar ao Presidente da República o apoio político necessário para ganhar as eleições e exercer o poder. Por outro lado, o Executivo devia ser forte, não se sujeitando, por exemplo, às intromissões do poder judicial, ou aos vaivéns demagógicos da Câmara dos Representantes.

Para isto fazia-se necessário o apoio de um partido solidamente estruturado em nível nacional: o PRC (assim podemos explicar as declarações de Hermes da Fonseca, confirmando sua submissão, como Presidente da República, às diretrizes do Partido).

É assim que funda em 1910, o Partido Republicano Conservador, no qual elegerá Hermes da Fonseca e o utilizará como arma para exterminar as oligarquias regionais como a de Franco Rabelo no Ceará, conseguindo a  filiação de Padre Cícero ao PRC.

Foi com Pinheiro Machado a 1ª tentativa de transposição do Castilhismo para o cenário nacional, Getúlio levaria a efeito com a Revolução de 30, e legaria consigo a necessidade de terminar a obra de Pinheiro Machado: o extermínio definitivo das oligarquias regionais. 




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Uma Grécia nas Ribeiras do Atlântico Sul – As Tradições Republicanas no Brasil.
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2009/08/uma-grecia-nas-ribeiras-do-atlantico.html

domingo, 7 de novembro de 2010

LINHA DO TEMPO



Plano COHEN

Como já foi dito desde o início da Revolução de 30, o exército se dividia em diversas facções: comunistas, nazifascistas, liberais-conservadores e “getulistas” (alicerçados nas tropas gaúchas, somado a alguns positivistas espalhados pelo Brasil). Com a contra-revolução de 32, Getúlio perdeu sua principal base de apoio ao romper com Flores da Cunha, então governador do Rio Grande do Sul. A partir de então Getúlio fica a mercê do exército. E é do exército, especialmente da ála nazi-fascista, das forças armadas, que partirão as violações a prisioneiros políticos, torturas, prisões arbitrárias, etc.... capitaniadas pela besta-humana do Filinto Müller(anti-varguista histórico).

Daí dizer Hélio Silva, reputado o maior historiador do período Republicano:

".... A revolta vermelha de 1935 vai mostrar o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, que foi feito pelos militares, embora Vargas apareça como seu principal personagem e beneficiário, porque são os militares que assumem, de fato, a função de árbitro e estabilizador, que farão sentir sempre que julgarem ameaçado o sistema existente."

O Plano COHEN segundo Góes Monteiro(um dos articulares na deposição de Vargas em 45) fora entregue pelo capitão Olímpio Mourão Filho, então chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB). Mourão Filho, admitiu que elaborara o documento, afirmando porém tratar-se de uma simulação de insurreição comunista para ser utilizada estritamente no âmbito interno da AIB. Ainda segundo Mourão, Góes Monteiro, que havia tido acesso ao documento através do general Álvaro Mariante, havia-se dele apropriado indevidamente. Mourão justificou seu silêncio diante da fraude em virtude da disciplina militar a que estava obrigado. Já o líder maior da AIB, Plínio Salgado, que participara ativamente dos preparativos do golpe de 1937 e afirmaria mais tarde que não denunciou a fraude pelo receio de desmoralizar as Forças Armadas.


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Compreendendo a Éra Vargas

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Getúlio Não Tomou Parte na Deportação da Olga.

Getúlio não tomou parte em nenhum momento da deportação da Olga. O Supremo Tribunal foi quem julgou e assinou a deportação dela, por intermédio de 3 ministros do Supremo dentre os quais: Clóvis Bevilácqua( reputado o maior civilista do Brasil em todos os tempos); Edmundo Lins, e nada mais nada menos, que Guimarães Rosa, autor de Grande Sertões Veredas.

Seriam fascistas? Guimarães Rosa é Fascista? A exemplo do que imputam a Vargas? E Getúlio que não teve nenhuma participação é fascista porque deveria ter intercedido em favor de quem lhe veio depor? Quando mesmo Stalin que teve oportunidade de trocá-la por prisioneiros alemães não o fez? A troca até houve, mas Stalin deixou a Olga de fora da lista... mas não, o Stalin não é fascista, fascista é o Getúlio(que não tem nada haver com o caso)!

Ainda sim, a Olga só conseguiu ter a sua filha Anita Leocádia Prestes, graças ao excelente serviço diplomático brasileiro que garantiu a Olga Benario Prestes total assistência ao longo da gravidez, amamentação até o terceiro mês após o parto, e trazer para ser entregue a avó paterna sua filha, e só a entregou mediante garantia disso tudo. Esse aspecto sim, subordinado a competência do Executivo.

A conjuntura política não permitia que Getúlio intervi-se em favor da Olga. Como intervir em favor de quem lhe veio depor? Qualquer ação nesse sentido, enfraqueceria Getúlio ante as facções hostis do exército. Tanto é que quando Getúlio demitiu Filinto Müller, em fins de 45, logo em seguida o depuseram.

Outra deturpação grosseira; os campos de concentração só foram descobertos ao fim da guerra, a Olga foi deportada em 1936, ou seja a Europa não se encontrava em guerra. E como os campos de concentração só foram descobertos após o conflito, não se pode afirmar que sua deportação implicava relegá-la a morte. Quem afirma o contrário, mente!

Por fim nada mais elucidador do que as palavras de Paulo Timm, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro:


"saindo da prisão, Prestes irá ao encontro de Vargas defendendo-o na permanência no poder, voltando a fazer em 1950 quando Vargas se candidata à presidência da República. Relata a crônica que não raro os dois foram vistos, tanto no final de1945 como na campanha de 1950 rindo e conversando amigavelmente, o que dificilmente ocorreria se o velho camarada, no alto da sua sempre e indiscutível dignidade pessoal, tivesse, realmente, ressentimentos contra Vargas."

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Conjuntura Política A Que Estava Submetido Getúlio. - Compreendendo a Éra Vargas.


Desde o início da Revolução de 30, o exército se dividia em diversas facções: comunistas, nazifascistas, liberais-conservadores e “getulistas” (alicerçados nas tropas gaúchas, somado a alguns positivistas espalhados pelo Brasil). Com a contra-revolução de 32, Getúlio perdeu sua principal base de apoio ao romper com Flores da Cunha, então governador do Rio Grande do Sul. A partir de então Getúlio fica a mercê do exército. E é do exército, especialmente da ála nazi-fascista, das forças armadas, que partirão as violações a prisioneiros políticos, torturas, prisões arbitrárias, etc.... capitaniadas pela besta-humana do Filinto Müller(anti-varguista histórico).

Daí dizer Hélio Silva, reputado o maior historiador do período Republicano:

".... A revolta vermelha de 1935 vai mostrar o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, que foi feito pelos militares, embora Vargas apareça como seu principal personagem e beneficiário, porque são os militares que assumem, de fato, a função de árbitro e estabilizador, que farão sentir sempre que julgarem ameaçado o sistema existente."

É a fantasiosa tendência de se atribuir tudo do período a Getúlio, como se ele fosse um "monárca Absolutista". Oque em absoluto, não era! Se assim fosse, a UDN e seus algozes em 45 não teriam tido meios para depô-lo. A triste verdade é que no interregno de 32 à 37 Getúlio foi pouco a pouco perdendo as rédeas do poder, É quando expressamente registra em seu diário:

“Estou à mercê do Exército, sem força que o controle, e sem autoridade pessoal e efetiva sobre ele. Estou só e calado para não demonstrar apreensão.” - Getúlio Vargas, 29 de maio de 1939.

Outra passagem em 1942, registrada em seu Diário, demonstra essa impotência contra os militares. É quando o filho do Oswaldo Aranha pede a Vargas que solta-se um amigo que havia sido preso, Getúlio ordena sua soltura, e o Filinto Müller não acata a ordem:

“14 de março – Procurou-me o filho do Oswaldo, dizendo que sua família vivia espionada pela polícia, e pediu-me a soltura de um estudante amigo, que mandei atender. O chefe de Polícia negou, sob palavra, que controlasse o Oswaldo, afirmando que, ao contrário, o Oswaldo é que controlava seus telefones, por intermédio da Light.”

É mediante esse cenário que o historiador Hélio Silva sentencia:

"A intervenção dos militares, primeiro contra Vargas, impondo a sua renúncia, deveria, na opinião desses "revolucionários", ter-se completado na tomada do poder. Porque o movimento de 1964 teria eclodido em agosto de 1954, se Vargas houvesse simplesmente renunciado. O impacto do seu suicídio nas massas populares e na consciência da Nação tornou impossível o prosseguimento violento do processo subversivo desencadeado. Basta lembrar que o mais ardoroso dos propagandistas da reforma - Carlos Lacerda - logo após o suicídio de Vargas teve que se refugiar no Galeão, temeroso da reação popular. "


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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quando os Chacais Brigam - Castelo Branco assassinado.

No dia 18 de julho de 1967 o bimotor que levava o ex-presidente militar Castello Branco(havia deixado o poder a 4 meses)de Quixadá para Fortaleza colidiu em pleno vô-o com um TF-33 da FAB, vitimando juntamente com Castello outras 4 pessoas que viajavam com ele, tendo sobrevivido apenas uma única pessoa: Emílio Celso Chagas, co-piloto.

O caso foi tratado oficialmente pelo Comando da Aeronáutica como um acidente. Desde então, nenhum documento ou relatório oficial sobre as causas do acidente foi revelado. O pesquisador, cearense, Pedro Paulo Menezes contesta a versão da Aeronáutica, acreditando ter se tratado de um "ato premeditado, pela disputa de poder": "Levei muito tempo para obter os documentos que me permitem acusar que a versão oficial da morte do Marechal não é verdadeira".

De posse da carta de tráfego dos aeródromos Pinto Martins e Alto da Balança e contactado pessoas que participaram do episódio, inclusive o co-piloto sobrevivente, Pedro Paulo Menezes lançou em 2003 o livro "J´Accuse - O clamor de uma verdade".

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos - CENIPA, afirma na certidão em 2004 que "o acidente decorreu de uma colisão no ar, nas proximidades do tráfego de aeronáves de caça para o aeródromo de Fortaleza. Não houve trasngressão das regras de tráfego aéreo vigentes por parte de nehuma das aeronáves". Esse foi o único documento oficial emitido em todos esses anos, graças à interferência do Procurador da República, Alessander Sales, no caso.

Meneses contesta a versão do CENIPA, dizendo que os jatos descumpriram a carta de tráfego aéreo provocando o acidente. Se os jatos tivessem seguido a carta de tráfego deveriam estar em um raio máximo de 4 km da pista de pouso, e não a 10 km dessa área. Ainda, segundo a carta de tráfego deveriam ter seguido para Barra do Ceará(litoral oeste de Fortaleza) e não para seguido para o sul da cidade.

A torre de comando sabia o tempo todo da posição do bimotor e do jato. "quando eles estavam a dez minutos do aeroporto, comunicaram-se com a torre avisando sua posição e solicitando permissão para procedimento de pouso. A autorização foi concedida, mas quando eles estavam se aproximando da área do aeródromo, houve a colisão". O pesquisador indaga, "se a torre sabia o tempo todo a posição dos aviões, por que não avisou?".

Na colisão o bimotor(PP-ETT) perdeu o leme de direção e o conjunto de estabilizador vertical, entrando em parafuso chato para esquerda - horizontal - até atingir o solo. O jato colidiu na peça mais frágil do bimotor. "O toque foi na ponta da calda, que era a parte mais frágil do avião, o que garantiria que ele fosse abatido. Isso tudo sem oferecer risco para o piloto militar(do jato).

Após a colisão e queda do bimotor, sobreviveram apenas 2 pessoas, o piloto e o co-piloto, ambos levados ainda vivos ao hospital da base aérea, segundo a versão oficial, tendo o piloto falecido logo em seguida.

No socorro, não foi utilizado a equipe médica da Base Aérea, o local da queda não foi preservado. "A Base Aérea permitiu que o avião fosse saqueado e determinou que fosse retalhado a machadadas. A área do acidente foi destruída. Por que não seguiram os procedimentos corretos? Porque tinham que destruir todas as provas?".

Essas revelações jogam mais uma luz sobre as guerras de facções dentro regime militar. Castello Branco pertencia a uma facção mais liberal que pretendia entregar o governo aos civis garantindo uma eventual eleição de Carlos Lacerda. Coincidentemente também morto.

Havia um 2ª facção dita Linha Dura que embora também liberal tinha planos de se manter no poder e não concordava em entregar o poder.

Havia ainda um terceira facção do baixo oficialato encabeçada pelo General Albuquerque Lima, ainda que conservador extremamente nacionalista e anti-americana e com forte cunho social.

A Operação Condor já de ampla repercussão aponta a Linha Dura como mentora dos assassinatos de lideranças civis, é bastante provável ter sido a responsável também pela eliminação do ex-presidente Castelo Branco. Resta saber se essa terceira facção teve também participação.

E pode-se concluir que essa guerra interna tenha sido um dos motores determinantes para o processo de redemocratização pondo um termo dentro das forças armadas que ameaçavam se degladiar.


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terça-feira, 24 de agosto de 2010

CARTA TESTAMENTO de GETÚLIO VARGAS

56 anos depois.... a Carta Testamento permanece cada dia mais atual. Nela, os grupos financeiros internacionais, os lucros exorbitantes de empresas estrangeiras, a pressão desses grupos contra nossa economia, a campanha contra as empresas nacionais, Petrobrás, Eletrobrás, contra o Trabalho, contra o Brasil.... são denunciadas por Getúlio.

É o plano de desestabilização fomentado pelos EUA. Setores do alto comando militar, são aliciados pelos EUA no curso da II Guerra, Castelo Branco, Eduardo Gomes, Oswaldo Cordeiro de Farias, etc... será sempre esse o grupo, do qual se observar-se-á seus nomes se repetirem, envolvidos, na deposição de Vargas em 45, na tentativa de impedir sua posse em 51, envolvidos nos acontecimentos que levaram Vargas ao suicídio em 54, nas tentativas de golpe em 55 e 62 para em fim culminar no Golpe de 64.

O golpe de 64 teria eclodido em agosto de 1954, se Vargas houvesse simplesmente renunciado. O impacto do seu suicídio nas massas populares e na consciência da Nação tornou impossível o prosseguimento violento do processo subversivo desencadeado. A UDN nunca chegaria a Presidência pelo voto do povo, somente pelo golpe, 10 anos mais tarde.

Assim Getúlio escolheu dilacerar seu coração para confiá-lo a nós brasileiros, para que assim permanece-se vivo, eternamente, em nossos corações.

BRASIL!


Carta Testamento

“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar.

Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história. Getúlio Vargas”.

Getúlio Vargas,
24 de Agosto de 1954.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A III Geração Castilhista - Estado Novo.

"A época é das assembléias especializadas, dos conselhos técnicos integrados à administração. O Estado puramente político, no sentido antigo do termo, podemos considerálo, atualmente, entidade amorfa, que, aos poucos, vai perdendo o valor e a significação." - Getúlio Vargas. Discurso em 4-5-1931.



A Segunda Geração Castilhista teve sucesso no seu projeto de tecnificação do Estado. Getúlio conseguiu substituir a representação política pelos conselhos técnicos integrados à administração. A problemática do governo representativo ficava reduzida à questão das eleições, de acordo, aliás, com a interpretação que foi cunhada por Júlio de Castilhos e seus seguidores. Indefinida a questão do governo representativo e do papel a ser desempenhado pelo Congresso na vida política do país, as medidas adotadas para “a restauração das normas da democracia” seriam facilmente assimiláveis pelo processo centralizador instaurado. O ponto nevrálgico da estratégia de Getúlio seria a redução dos problemas políticos a questões técnicas.

Vargas, com a adoção desse esquema, conseguiu fazer de seu governo um centro aglutinador. Enquanto as reivindicações eram levantadas apenas para criar a possibilidade de acesso ao poder do agrupamento que delas se apropriava, o governo adotava uma atitude construtiva, cuidando de encaminhá-las e solucioná-las. Ao longo da década de trinta criam-se, portanto, dois processos de exercício do poder. O primeiro, que dava seguimento ao clima que propiciou a Revolução, nutria-se de assembléias, manifestações, plataformas e, depois, de debates na Assembléia Constituinte, logo substituída pelo legislativo restaurado. A rigor, tratava-se de um novo simulacro de representação, porquanto até mesmo a discussão desse tema assumiria uma conotação técnica.

Três seriam, os teóricos principais da terceira etapa: no plano das idéias políticas, como porta-voz da concepção de Estado que animava ao Presidente Vargas, Almir de Andrade, quem foi nomeado por Getúlio diretor da Revista Cultura Política (1941-1945). No terreno da sociologia política, como inspirador da elite militar que daria apoio ao processo estatizante getuliano, o fluminense Francisco José de Oliveira Viana (1883-1951). Do ponto de vista jurídico, o ministro da Justiça do governo getuliano, o mineiro Francisco Campos (1891-1968). Todos estranhos a doutrina castilhista, no entanto, Vargas tratou de cooptar oque era aproveitável desses teóricos, compatibilizando ao ideal castilhista.

Almir de Andrade a frente da revista Cultura Política, agiria como fórum em que se debatiam as propostas surgidas dos diferentes agrupamentos políticos na tentativa de obtenção do consenso político, num esforço que levasse em consideração as diferentes correntes políticas suscetíveis de serem cooptadas pelo Estado Novo. Essa hipótese implicaria a disposição dos castilhistas (Getúlio à frente) de ouvir a argumentação das outras correntes. A verdade é que em Cultura Política quem menos aparece são os castilhistas, em decorrência do esvaziamento sofrido pelo grupo que integrou a Segunda Geração, com a saída do governo, em 1932, de importantes gaúchos que acompanharam Getúlio na Revolução de 30 (Lindolfo Collor e João Neves da Fontoura, entre outros). A variedade de posições na Cultura Política testemunha, de um lado, que o Estado getuliano não pretendeu, em momento algum, ensejar um processo totalitário.

As posições de Oliveira Viana não se distanciava da avaliação que os próprios castilhistas faziam do regime iniciado por Castilhos, centrado ao redor da compreensão do conceito de bem público como a estabilidade do Estado, o exercício da tutela moralizadora sobre a sociedade, a continuidade administrativa e um conservadorismo que levava a impedir, a qualquer preço, mudanças revolucionárias, e conduzia a torná-las, melhor, reformas efetivadas pelo Estado. Assim, os acirrados regionalismos e a oligarquia tradicional ensejados pela República Velha, só seriam superáveis através de novo processo centralizador e racionalizador da economia e da iniciativa política, como o acontecido na consolidação do Império.

A proposta corporativista de Francisco Campos foi descartada pelo getulismo, em virtude dos elementos não modernizadores que implicava. A idéia de Campos de que “O Estado assiste e superintende mediante o Conselho de Economia Nacional, de feição corporativa], só intervindo para assegurar os interesses da Nação, impedindo o predomínio de um determinado setor da produção, em detrimento dos demais”, implicava, no terreno econômico, uma perda de forças do Estado empresário e centralizador da tradição castilhista.

Para Vargas era inaceitável a idéia de um Estado patrimonial modernizador, que entregasse às corporações o aspecto fundamental da administração da economia. Isso equivaleria, no mínimo, a um retrocesso que fortaleceria de novo a ascensão dos interesses particularistas.

O Estado getuliano deglutiria, no entanto, a idéia corporativista, libertando-a do vezo romântico presente na proposta de uma economia administrada organicamente pela Nação, e inserindo-a no contexto do Poder central forte e modernizador. O modelo sindical que se consolidou ao ensejo da legislação trabalhista assumiu essa idéia, fazendo dos sindicatos peças da engrenagem controlada pelo Estado. Parte importante desse esforço de reinterpretação no contexto do Estado intervencionista e modernizador.

De outro lado, o Estado getuliano encampou, também, a preocupação de Francisco Campos em prol da educação das massas, inserindo-a no contexto castilhista (e positivista) da incorporação do proletariado à sociedade, que tinha, aliás, inspirado a criação do Ministério de Educação e Saúde Pública em 1930. Para Getúlio, não se tratava já de educar as massas para que pudessem, através das corporações, competir com o Estado na administração da economia. Tratava-se, sim, de preparar os quadros técnicos, bem como os operários necessários à modernização da economia do país.

Longe de mitigar a idéia de o Estado intervencionista se tornar empresário, Getúlio insistiu nela para fazer surgir a indústria siderúrgica, base do ulterior processo de modernização da economia. Essa proposta, aliás, constava já da Plataforma da Aliança Liberal. Para se impor à maré privatista herdada da República Velha, só restava a Getúlio reviver a tradição castilhista, segundo a qual a racionalização da economia só seria possível num contexto de forte intervenção do Estado na economia, tornando-se ele próprio empresário.

O pensamento estadonovista foi, portanto, mais castilhista do que qualquer outra coisa. Francisco Martins de Sousa, ao concluir a sua análise do corporativismo vigente no Estado Novo, destacou, de forma clara, a fidelidade de Vargas ao castilhismo, nos seguintes termos: “Em síntese, pode-se apontar a fidelidade de Vargas ao castilhismo nestes aspectos:

a) O governo é uma questão técnica, é um problema de competência (o poder vem do saber e não de Deus ou da representação). A tarefa legislativa não pode ser delegada aos parlamentos, mas a órgãos técnicos. Preferiu estes ao arcabouço imaginado por Francisco Campos. Além disto, pode-se dizer que universalizou essa praxe de elaboração legislativa, mantendo-a no nível da Presidência e dos Ministérios e estendendo-a aos Estados.

b) O governo não é ditatorial [do ponto de vista getuliano] porque não legisla no vazio, mas consulta as partes interessadas. O princípio castilhista que se exercia mediante a publicação das leis e a resposta do governante às críticas, sob Vargas, no plano nacional, assume esta forma: os técnicos elaboram as normas legais; os interessados são convidados a opinar; e o governo intervém para exercer função mediadora e impor uma diretriz, um rumo. Em vários níveis essa modalidade achava-se institucionalizada em Conselhos Técnicos, com a participação dos especialistas, dos interessados e do Governo. Além disto, a parte orçamentaria está submetida a controle idôneo (no castilhismo, da Assembléia, que só tinha essa função; sob Vargas, do Tribunal de Contas, prestigiado pela presença de notáveis).

c) Os esquemas corporativos (sindicatos profissionais, tutelados pelo Estado) foram adotados para a realização do lema comtiano da incorporação do proletariado à sociedade moderna. Mas acrescidos de dois intrumentos que lhes deram não só perenidade como eficácia: a Justiça do Trabalho e a Previdência Social. No terreno econômico, Vargas iria preferir a intervenção direta do Estado. A primeira usina siderúrgica não ficou nem em mãos do capital estrangeiro nem em poder de particulares, mas foi assumida diretamente pelo Estado. Essa intervenção, no regime castilhista, não deixava de ser mera retórica, a que Vargas daria efetividade.”.

Artigos anteriores:
O Estado Castilhista;

A II Geração Castilhista:

CLT é a Negação da Carta de Del Lavoro:

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Guararapes, 362 anos - o Despertar de uma Nação!



Não há palavras que retratem o orgulho, a admiração.... que nos vem a tona sempre que se rememóra os feitos em Guararapes e os nomes daqueles heróis que durante toda a campanha contra os invasores se puseram a combatê-los.

Mais do que orgulho e admiração, vem-nos o dever de igualmente cerrar fileiras sempre que a pátria chamar, com o mesmo valor, com a mesma coragem, se não, com maior ardor! Eis o legado dos nossos antepassados que com um sorriso na face juramos cumprir!

domingo, 11 de abril de 2010

A II Geração Castilhista

O castilhismo enquanto doutrina política materializada num regime, teve três etapas no relacionado à sua elaboração teórica e à sua prática:

1)      a primitiva formulação ao redor da Constituição elaborada por Castilhos em 1891, e em torno, também, da defesa dessa Constituição;

2)  as propostas modernizadoras elaboradas pela Segunda Geração Castilhista, integrada por Getúlio Vargas (1883-1954), Lindolfo Collor (1889-1942), João Neves da Fontoura e outros;

3)      a ordem constitucional formulada ao ensejo do Estado Novo, proclamado em 1937.

A segunda etapa na formulação e na prática do castilhismo, foi materializada pelo que se denominou de Segunda Geração Castilhista, integrada por Getúlio Vargas, Lindolfo Collor, João Neves da Fontoura e outros. Os castilhistas ensejavam uma vertente modernizadora do Estado, ao criarem uma esfera acima dos interesses individuais, identificada com a preservação do Estado, a garantia do bem público.

O conceito de bem público, para os castilhistas, confundia-se com a imposição, por parte do governante esclarecido, de um governo moralizante, que fortalecesse o Estado em detrimento dos egoístas interesses individuais e que velasse pela educação cívica dos cidadãos, origem de toda moral social.

A Segunda Geração Castilhista perpetuaria esse legado de Castilhos, ao fazer do projeto de modernização do Estado e da centralização política os pontos básicos das propostas elaboradas pela Aliança Liberal em 1929 e 1930.

A elite política gaúcha compreendera, sem dúvida, que após as revoltas tenentistas que revelavam um crescente descontentamento com o regime oligárquico da República Velha, cuja caraterística marcante tinha sido a tentativa de privatizar o poder, só seria possível conservar a paz e a unidade nacionais mediante um grande esforço que fortalecesse o Poder Central e o tornasse, mediante a modernização do Estado, um autêntico poder nacional.

Justamente para se contraporem à visão privatista do poder que animava à República Velha, os Castilhistas da Segunda Geração propunham uma clara diferenciação entre a esfera do poder público e a dos interesses privados, assinalando a primazia, no campo político, ao poder público.

Enfatiza Lindolfo Collor a necessidade da separação dos partidos políticos do Estado, a promiscuidade nessa relação seria a base da oligarquia tão comum na República Velha quando os interesses privados se confundiam com os interesses públicos:

O poder partidário faz o poder público, mas o poder público, por nenhuma forma, deve fazer o poder partidário. No Brasil, a prática, que se pode dizer quase uniforme, tem consistido precisamente no contrário: é o poder público, é o governo que faz, ampara, tonifica, aparelha de recursos o poder partidário, no qual, por sua vez, descansa e confia. É o do ut des mais perfeitamente organizado em benefício dos que governam: é a oligarquia, é a doença mais grave da República. Urge, pois, separar o poder público do poder partidário, por meio de adequada legislação, que dê aos partidos existência legal, que lhes defina a personalidade, os deveres e as responsabilidades. Os governos não se devem confundir com os partidos, nem os partidos com os governos.”


Para a Segunda Geração Castilhista, a finalidade primordial do Poder Central seria garantir o progresso do país e a unidade da Nação. Lindolfo Collor criticava o progresso individual das oligarquias que se dava às custas de amplos setores da Nação que ficavam marginalizados. A anistia entraria como a primeira medida tendente a reconstruir a unidade nacional. Mas também seria necessária a presença tutelar do Estado para garantir os direitos fundamentais de todos os cidadãos.

Getúlio Vargas, no seu discurso de 2 de janeiro de 1930, insistiria nesses aspectos. Para ele, a Aliança Liberal era uma reação à distorção da realidade brasileira, cansada do insolidarismo e do clientelismo ensejados pelos privilégios e monopólios, que vingaram ao longo da República Velha. Competia ao Estado dirigir essa reação, que não poderia ser caótica, mas que deveria se processar “dentro da ordem e do regime.”.

Essa reação centralizadora deveria ser comandada, segundo Lindolfo Collor, pelo próprio Presidente da República. O estadista gaúcho lembrava, a respeito, a tradição castilhista, segundo a qual a figura do Executivo é garantia de unidade do regime. E ia até assinalar-lhe funções que o tornariam um autêntico poder moderador, acima dos partidos:

“(...) O Presidente da República não é chefe de partido, mas chefe da Nação. Como tal, deve pairar acima dos interesses de facção, e nunca alimentá-los com atitudes de premeditada parcialidade. Agindo como chefe da Nação, ouve, perscruta, consulta, transige, coordena, põe de acordo partes porventura desavindas (...).”

E assim, tratar as questões políticas como problemas técnicos.

Os principais aspectos em que se deveria materializar essa reação estatizante e modernizadora ensejada pela Aliança Liberal eram os seguintes, de acordo com as propostas de Getúlio e de Lindolfo Collor:

a) A definitiva presença intervencionista do Estado para modernizar a economia. A conquista da racionalidade econômica deveria abarcar os seguintes itens: adoção da idéia de desenvolvimento econômico. Implantação da indústria siderúrgica nacional, garantia da independência estratégica do Brasil nas áreas industrial e militar. Em relação à agropecuária, reivindicava-se o controle sobre o latifúndio improdutivo, a fim de estimular a produção de alimentos e racionalizar o desenvolvimento da pecuária para competir nos mercados internacionais. No terreno do petróleo, era focalizada a necessidade de desenvolver a produção nacional. No item correspondente às políticas econômicas, era proposta a revisão das tarifas alfandegárias, visando à promoção da indústria nacional. De outro lado, era prevista a estabilidade da moeda, mediante o projeto de remodelação do Banco do Brasil, através de mecanismos intervencionistas nos campos monetário e financeiro. Era previsto, por último, o combate às secas do Nordeste, visando incorporar essa região à economia nacional.

b) Solução orgânica da questão social, mediante a incorporação do trabalhador ao Estado na nova legislação. Neste ponto, de nítida inspiração saint-simoniana e comtiana, ocupava lugar de destaque a proposta de criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

c) A política de imigração como reforço à presença intervencionista e planejadora do Estado na economia.

d) Instrução, educação e saneamento: aspectos sociais que deveriam ser contemplados pelo Estado modernizador e intervencionista. Era prevista, outrossim, a valorização dos cursos técnico-profissionais e do ensino superior. Como forma de aparelhar o Estado para responder a esses itens, era proposta a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública.

e) Moralização da função política: educar os homens públicos para que, abandonando os privilégios da sinecura individual, passem a cumprir a missão de materializar a “educação moral e cívica do povo”.

f) Valorização da autonomia da indústria militar e do papel das Forças Armadas.

g) Racionalização dos quadros do funcionalismo público, no contexto da modernização da economia.

h) Integração física do país ao redor do Governo Central, mediante o plano de viação geral.

A retórica presente na Plataforma da Aliança Liberal revelaria a grande flexibilidade política da Segunda Geração Castilhista, que a soube utilizar num contexto de centralização e de modernização do aparelho estatal e da economia. O discurso de Getúlio de 2 de janeiro de 1930, testemunha a clarividência de Getúlio em relação à crítica que deveria ser feita ao clientelismo político, bem como a sua determinação de tratar as questões políticas como problemas técnicos.

No entanto, quebrada a unidade do grupo que integrava a Segunda Geração Castilhista (que levou ao rompimento entre os jovens políticos gaúchos e Getúlio em 32, sendo as figuras mais importantes nessa dissidência Lindolfo Collor e Neves da Fontoura), ficaria aberto o caminho para a sistematização do autoritarismo de cunho castilhista. A terceira etapa do castilhismo estaria, assim, mais próxima da primeira. Surgiria, no entanto, a proposta de “individualismo grupalista” teorizada por Oliveira Viana, como veremos na III Geração Castilhista.

domingo, 21 de março de 2010

O Estado "Castilhista".


Embora se reconheça a presença da influência positivista no Rio Grande do Sul, a importância da filosofia política daí resultante, isto é, o castilhismo, ainda não foi compreendida, com a amplitude que seria de desejar pelos estudiosos do pensamento político-social brasileiro. Entretanto, sem a referência da teoria e da prática castilhista nossa história republicana torna-se campo propício a simplificações de toda ordem, como por exemplo a tentativa de reduzir o Estado Novo a uma projeção do nazifascismo. Ainda mais: não se trata tão-somente da ascendência do autoritarismo, para que todos hoje chamam a atenção. O castilhismo não é uma simples defesa do autoritarismo. É uma doutrina de muito maior significação, coerentemente elaborada, que foi defendida e aperfeiçoada no Rio Grande do Sul ao longo dos quatro primeiros decênios da República e, a seguir, transplantada para o plano nacional por Getúlio Vargas". (Paim, pág. 86).



Trataremos nesse texto sobre o Castilhismo como doutrina política que norteará os futuros desdobramentos da doutrina e especialmente Getúlio Vargas que viveu durante 35 anos de sua vida sob a vigência da Constituição "Castilhista"(tendo inclusive governado com ela), promulgada em 14 de julho de 1891, e que vigorou durante 4(quatro) décadas. A filosofia castilhista moldará toda sua formação, tanto moral quanto política. 

O castilhismo era refratário ao sistema representativo, especialmente o parlamentar, que  propiciava a "preservação de sórdidos interesses materiais", contrário portanto a "imaculada pureza de intenções"(desinteresse material), que deveria nortear o espírito público. Pois só assim poderia o dirigente da sociedade adquirir a capacidade para perceber, cientificamente, qual é o sentido da racionalidade social, que se revela unicamente perante as mentes livres dos interesses particularistas na busca do bem público. Artur Ferreira Filho sintetizou a concepção castilhista da República como Regime da virtude [Para Júlio de Castilhos]:
"...a República era o reino da virtude. somente os puros, os desambiciosos, os impregnados de espírito público deveriam exercer funções de governo. No seu conceito, a política jamais poderia constituir uma profissão ou um meio de vida, mas um meio de prestar serviços à coletividade, mesmo com prejuízo dos interesses individuais. Aquele que se servisse da política para seu bem estar pessoal, ou para aumentar sua fortuna, seria desde logo indigno de exercê-la. em igual culpa, no conceito castilhista, incorreria o político que usasse das posições como se usasse de um bem de família... Como governante, Júlio de Castilhos imprimiu na administração rio-grandense um traço tão fundo de austeridade que, apesar de tudo, ainda não desapareceu.".
Assim, na constituição Castilhista de 1891, o poder legislativo era por assim dizer simbólico, tendo como única função votar o orçamento e fiscalizar o Executivo. A assembléia se quer tinha poder para elaborar ou propor emenda, sô o Executivo detinha essa atribuição. Em outras palavras o Executivo concentrava as funções legislativas e administrativas. Dessa forma o Presidente teria isenção suficiente para governar em prol do bem público sem ficar refém da assembléia, historicamente um órgão representante da oligarquia privilegiada pelo sistema representativo.   

O bem público confunde-se, para o castilhismo, com a imposição, por parte do governante esclarecido, de um governo moralizante, que fortaleça o Estado em detrimento dos egoístas interesses individuais  e que zele pela progressiva educação cívica dos cidadãos, moralizadora do povo buscando educar o povo para fortalecer o Estado. Devendo por conseguinte, os poderes oficiais devolver à sociedade serviços úteis a tônica das contribuições a que são obrigados os cidadãos. Em outras palavras, o bem público fundamenta-se na completa reorganização política e administrativa do Estado, à luz do princípio "conservar melhorando", como também na prosperidade material do Estado (obras públicas, desenvolvimento industrial, estabilidade de crédito do governo, amortização da dívida pública, poupança estadual, etc.). 

A fim de conseguir a moralização da sociedade, o governante deve exercer a tutela social, para que se amolde à procura do bem público. Como a incorporação do proletariado sob a tutela do Estado. O caráter tutelar e hegemônico do Estado castilhista leva a rejeitar todo tipo de governo representativo tido assim como algo essencialmente anárquico. 

O castilhismo valorizava enfaticamente os processos democráticos diretos, como os empregados na antiga Grécia e Roma, consideradas superiores a "democracia" representativa da idade moderna. O plebiscito seria a forma ideal de consulta popular, exercido a nível municipal.

Borges de Medeiros dedicou especial ênfase à valorização dos municípios na política do Estado, aponto de sustentar que: 
"...cada município é a escola primária da democracia, onde nascem e vivem os elementos geradores dos movimentos sociais e políticos".
O meio para assegurar a direção do Estado como uma tarefa científica, que não deveria ser exercida senão por homens superiores e de firme orientação sociológica e assim resguardar o regime das ambições e das tendências individualistas, seria através do Partido. Que serviria de filtro e escola de formação para aqueles que viessem a ocupar a Presidência do Estado. E só assim, quando uma personalidade esclarecida pela ciência social assume o governo, pode transformar o caráter de uma sociedade que levou séculos para constituir-se. Tal como se operou na indicação da Presidência do Estado de Júlio de Castilhos a Borges de Medeiros e deste a Getúlio Vargas. Borges de Medeiros elenca os motivos pelo qual indicou o nome de Getúlio como seu sucessor:
“... A primeira cogitação, que nos deve preocupar é a de assegurar a necessária continuidade política e administrativa, que tem sido a mais notável característica do governo rio-grandense e que é, porventura, a mais sólida garantia de ordem e progresso. Mas a satisfação dessa necessidade orgânica exige da parte dos governantes o preenchimento de requesitos especiais, que se podem consubstanciar nos seguintes pontos: 1º o perfeito conhecimento teórico e prático do regime constitucional, cuja conservação deve ser artigo de fé inviolável... ; 2º a completa subordinação às normas e disciplina do Partido Republicano, cuja organização está indentificada com o p´roprio Estado, a ponto de não conceber-se a vida normal de um sem o apoio do outro; 3º a comprovada competência jurídica, indispensável ao exercício regular da prerrogativa presidencial de legislar sobre o direito judiciário em geral e sobre os serviços imanentes ao Estado; 4º a capacidade administrativa revelada no exercício de funções públicas federais, estaduais, e municipais... ; 5º as qualidades práticas de atividade, firmeza, prudência e energia... ; 6º a incorruptível moralidade privada e pública, assim como o prestígio individual... . Sem injustiças às virtudes e merecimento de outros, pareceme que os Drs. Getúlio Vargas e João Neves se destacaram, entre seus pares, como os que melhor satisfazem as condições, intrínsecas e extrínsecas, que a investidura governamental requer no atual momento...”. 
A continuidade política e administrativa que se reporta Borges de Medeiros, tratava-se da reeleição ilimitada consagrada no artigo 9º da Constituição Castilhista de 1891 que condicionava a reeleição ao quorum qualificado de ¾ dos eleitores que efetivamente votassem nas eleições para Presidente do Estado. A continuidade administrativa era justificada como um postulado moral, porquanto alicerça o Estado moralizador e conduz ao desinteresses dos governantes. Como salienta Borges de Medeiros em telegrama a João Simplício, quando da insurreição de 1923:
"...Sinto insuperável inibição abolir dispositivo constitucional relativo reeleições.... A reeleição é um dos pivôs do nosso sistema constitucional e a melhor garantia de ordem pública e de continuidade administrativa."
Getúlio Vargas quando representante da bancada gaúcha na Câmara fez a seguinte defesa da Constituição Castilhista, acusada de ser anti-democrática em 20 de outubro de 1925:
"... O Estado do Extremo sul, guiado pelo seu grande organizador, um político norteado pelo rígido critério de um filósofo, com intuições de sociólogo [referência a Júlio de Castilhos], ergueu dentro do sistema da Constituição Federal, um regime institucional em que admiravelmente se consorciam a autoridade com a liberdade. Melhor compreendendo a natureza do regime presidencial, instituiu um poder executivo forte, facultando-lhe, sem receio, consagrar e manter as mais amplas franquias liberais, ampliando, senão na letra pelo menos na sua exata interpretação, as que foram prometidas na Constituição da República. A par disso, a continuidade administrativa , um critério firme e seguro, normas, processos, praxes de publicidade ampla, de probidade, de simplicidade e de clareza formaram costume, criaram hábitos sulcando aspectos característicos na sua vida pública". 
Em 21 de outubro de 1925, Getúlio volta a tribuna, pronunciando:
"Lá [no Rio Grande do Sul] o Presidente do Estado propõe a lei que toma a forma plebiscitária, com a publicidade ampla, a colaboração direta do povo na apresentação de emendas e referendum dos Conselhos Municipais. São os imperativos categóricos da ordem social, impondo-se como necessidades iniludíveis, e vencendo as frágeis barreiras erguidas por preconceitos teóricos em equilíbrio instável, no trapézio mirífico da divisão de poderes..."
O cientificismo castilhista se assenta assim sob três idéias básicas: 1. o primado da ciência na consolidação do Estado e na concentração das funções legislativas e de governo no Executivo, 2. a centralização do poder econômico e político no Estado; 3. a tutela moralizadora e racionalizadora do Estado forte sobre a sociedade e a emergência da continuidade administrativa.

Durante mais de três décadas, o castilhismo testou com sucesso, a consulta plebiscitária. Eliminando dessa forma a influência perniciosa dos representantes oligárquicos reunidos na assembléia legislativa. Estabelecendo uma relação direta entre cidadãos e governante, propiciando assim isenção para o Executivo governar em favor do bem comum. 

Vargas, desde sua mocidade integrante ativo da Juventude Castilhista se reportará nesses termos sob seu legado: 
"... O Brasil, colosso generoso, ajoelha soluçando junto da tumba do condor altaneiro que pairava nos píncaros da glória. Júlio de Castilhos para o Rio Grande é um santo. É santo porque é puro, é puro porque é grande, é grande porque é sábio, é sábio porque, quando o Brasil inteiro se debate na noite trevosa da dúvida e da incerteza, quando outros Estados cobertos de andrajos, com as finanças desmanteladas, batem às portas da bancarrota, o Rio Grande é o timoneiro da Pátria, é o santelmo brilhante espargindo luz para o futuro. Tudo isso devemos ao cérebro genial desse homem. Os seus correligionários devem-lhe a orientação política; seus coetâneos o exemplo de perseverança na luta por um ideal; a mocidade deve-lhe o exemplo de pureza e honradez de caráter.".


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1139 - O Surgimento do Estado Nacional

A II Geração Castilhista
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A III Geração Castilhista - O Estado Novo.
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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Vargas Fascista?

Vargas como Brizola é legatário da política castilhista em seu positivismo de forte conteúdo social, bem como da ulterior influência trabalhista, advinda de Alberto Pasqualini.

Quem elaborou a CLT foi o pernambucano Joaquim Pimenta, que era comunista, a pedido de Vargas. Conta-se nos seus primeiros esboços, acreditando estar tratando com um político "conservador", Joaquim Pimenta elaborou leis bem modestas, nem de longe com o grau de abrangência que as tornariam célebres. Getúlio ao ler a obra de Pimenta, para surpresa deste último, pediu uma legislação mais avançada, mais progressista.

Situação similar é contada por Amaral Peixoto que junto com integrantes do movimento tenentista, haviam ido conversar com Getúlio, para expor suas reivindicações. Getúlio ao ouvir com sua paciência que lhe era característica, ao final apenas disse: "Só isso? Pensei que vocês estivessem mais avançados".

Ainda.... por DUAS vezes! Vargas tirou o Partido Comunista da ilegalidade, quando ascendeu ao poder logo após a Revolução de 30 e ao retornar em 1950. Fazendo das reivindicações trabalhistas uma política de governo ao que antes era "caso de polícia".

Ao passo, que, Getúlio instituiu o voto secreto e universal, contemplando as mulheres já nas eleições de 1934, deu aos trabalhadores diretos sociais, políticos e trabalhistas como férias, jornada de 8 horas, descanso semanal, salário mínimo, estabilidade, assistência médica e sindicalização. 


Diferença entre o Trabalhismo de Vargas e o Nazi-fascismo.

Oque ocorreu na Alemanha e na Itália foi que em ambos houve a eclosão de uma classe operária revolucionária esmerada na Revolução Russa, ameaçando o poder da oligarquia de ambos os países e que atemorava o restante da Europa.

Assim, deram dinheiro aos camisas-negras de Mussolini e aos camisas-pardas de Hitler, em troca de favores futuros. 

Em suma tanto o fascismo quanto o nazismo foram(e são) movimentos contra-revolucionários para assegurar a ordem estabelecida do poderio e privilégio da classe capitalista.

Enquanto no nazismo e no fascismo os sindicatos foram postos nas mãos de corporações de empresários, com Vargas, os sindicatos foram postos sob a tutela do Estado.

Note que o contexto do Trabalhismo Brasileiro é todo outro, enquanto o nazi-fascismo é um movimento contra-revolucionário, o Trabalhismo Brasileiro nasce como uma política de caráter desenvolvimentista de incorporação do proletariado sob a tutela do Estado, e isso muito antes do nazi-fascismo na Europa, já com Júlio de Castilhos no Rio Grande do Sul em 1891, 28 anos antes mesmo de se imaginar algum tipo de organização fascista.

Oque pensava Getúlio do nazi-fascismo, registrados, em trechos do seu Diário Pessoal:

Em 1940, quando o Brasil nem mesmo tinha rompido relações com a Alemanha, eis oque Getúlio registra em seu diário:
"As notícias da guerra são de uma verdadeira derrocada para os aliados. O povo, por instinto, teme a vitória alemã; os germanófilos exaltam-se. Evidente é a imprevidência das chamadas democracias liberais. Pedido do governo americano para que eu telegrafasse a Mussolini, fazendo-lhe um apelo para evitar que a guerra se generalize. Escusei-me. Mantive o propósito de não intervir na política européia e, além disso, não creio na eficácia dessa démarche."

O que os deturpadores alegam para falar da suposta simpatia de Vargas pelo Eixo é um discurso do mesmo ano de 1940, proferido no Minas Gerais, que não foi mais mais do que um blefe para forçar a implantação siderúrgica no Brasil. Eis o comentário de Getúlio sobre seu discurso registrado em seu diário:
"O discurso que pronunciei a bordo do Minas Gerais teve muita repercussão, produzindo surpresa pelo tom, julgado muito forte, e por outros, insensatamente, como germanófilo".

Deve-se registrar que no correr do ano 1941(enfatizando, mais uma vez, antes do rompimento com a Alemanha), Getúlio já se posicionava a favor dos aliados, eis o acontecimento que ele registra mais uma vez em seu diário:
"Curiosa audiência com o embaixador do Japão. Abordou-me sobre a atitude do Brasil no caso de os EUA entrarem na guerra européia! Perguntei-lhe qual seria a atitude do Japão, no caso de guerra entre os EUA e a Alemanha. Respondeu que o Japão deveria também entrar. Respondi-lhe então que o Brasil fazia parte de um bloco. Qualquer país americano que fosse atacado, nós seríamos solidários."

Em fim, é esse homem que alguns chamam de fascista?