terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Arcadismo Como Embrião do Nacionalismo Literário Brasileiro


No séc. XVIII, o Brasil atingiu um momento decisivo da sua história. É a época da criação da consciência histórica no brasileiro. A descoberta e posse da terra, as façanhas bandeirantes, a defesa contra o invasor, deram lugar a uma consciência comum, a um sentimento da figura do ‘brasileiro’.

A descoberta das minas, transferiu o eixo econômico, no Brasil, a província de Minas Gerais, onde se desenvolveu uma sociedade dada ao fausto e à cultura, máxime em Vila Rica, capital da província. Os recursos econômicos e as riquezas aumentaram, a população cresceu, a vida das cidades melhorou, a cultura se difundiu. Aí a fermentação econômica e cultural deu lugar a que se reunisse um grupo de intelectuais e artístas, a Arcádia Ultramarina. De assinalar que a obra "De Gestis" (A Saga) do Padre José de Anchieta, de 1563, é uma obra precursora de características clássicas, anterior ao "Os Lusíadas" de Camões, sendo o primeiro poema épico das Américas! Seguindo o espírito Renascentista da época.

Antes, o Arcadismo surge em Portugal em  1746 inspirado pelas ideias racionalistas de Luís António Verney, que publica as cartas que compõem o  "Verdadeiro Método de Estudar", obra que critica o ensino tradicional e propõe reformas visando colocar a cultura portuguesa a par com a do resto da Europa. Feito que será implementado por Marquês de Pombal (1750-1777).

Thomas Cole - O Curso do Império, Arcadiano.

O Arcadismo é difundido no Brasil em  1768 com a fundação da “Arcádia Ultramarina”, também chamado grupo plêiade ou “escola mineira” em Vila Rica, e a publicação de “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa. Dentre outros autores estão Basílio da Gama e seu O UruguaiSanta Rita Durão com Caramuru , como também o poema Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa, além de Tomás Gonzaga, que constituem a primeira escola literária brasileira.
Tomás de Gonzaga. dedicou se
"Tratado de Direito Natural" 
ao Marquês de Pombal.

Constituem eles o início do lirismo brasileiro, ´pela transformação do veio nativista e da exaltação da natureza, pela adaptação da temática clássica ao ambiente e homens locais, com sentimentos e emoções peculiares; em suma, fundindo o individualismo, sempre subordinado ao interesse nacional, ao sentimento da natureza e o ideal clássico. Até o desabrochar do romantismo, foi justamente graças ao espírito arcádio que se manteve o ideal nativista, contrabalançando a tendência passadista do neoclassicismo, cuja marca exterior mais forte foi o gosto da linguagem arcaizante, quinhentista, dita ‘clássica’. E isso se deve também ao fato de, pela primeira vez, se reunirem grupo de artistas conscientes de seu oficio e superiormente dotados de valor.

De todas as formas neoclássicas, a corrente arcádica foi a que maior influência assumiu no Brasil. O espírito nacionalista desabrochava por toda parte.  O espírito neoclássico que se infiltrou nas mentes luso-brasileiras, procurou combater o barroquismo em nome dos ideais de precisão, lógica e medida e da restauração das normas clássicas em oposição ao tradicionalismo medieval e religioso. Esse ideal neoclássico dominou o final do séc. XVIII e princípios do séc. XIX, aparecendo em alguns escritores tingidos de elementos pré-romanticos, como o sentimentalismo e o nacionalismo.

A reação clássica com o arcadismo significava uma volta à simplicidade e pureza dos antigos, numa identificação com a natureza, aonde residiria o bem e o belo, em contraposição aos centros urbanos corrompidos pelo espírito mercantil. Daí, a valorização da vida pastoril, pura e pacífica. A procura das qualidades clássicas da medida, conveniência, disciplina, simplicidade e delicadeza,.uma sensualidade inocente libertadora da castidez medieval, aonde a mitologia pagã é a fonte de inspiração e refúgio desse ideal, a ‘Arcádia’. 



poesia épica do Arcadismo brasileiro trouxe inovações, que a diferenciou em muitos aspectos do modelo europeu. Enquanto que na Europa o arcadismo se distancia das questões políticas, imergindo em um idílico êxta-se alheio a realidade, às portas da Revolução Francesa. Oque evidencia de forma muito clara, a alienação, a vida a parte que levava sua elite. No Brasil, os árcades se encontravam em plena ebulição política, herdeiros da pregação republicana de Felipe dos Santos com a Revolta de Vila Rica (1720) e eles próprios: inconfidentes mineiros. De ressaltar ainda que os temas da história colonial são valorizados, pondo a colônia como centro das atenções em meio à descrição da paisagem tropical do país e a inserção do índio como herói, mesmo que ainda coadjuvante do homem branco. São as novas perspectivas que começam a delinear uma literatura nacionalista, que terá sua maturidade com o Romantismo.


Ver Também:

Dia de Todos os Santos, o Culto aos Mortos, uma Fé Celto-Católica

domingo, 11 de dezembro de 2016

A Operação "Lava Jato" Conduzida Por Sergio Moro, Como Plano de Destruição Da Petrobrás e da Indústria Nacional.

Em fevereiro de 2007 a Petrobrás anunciava estar pronta para extrair petróleo abaixo da camada de sal a 7 mil metros de profundidade, o mundo ficou perplexo. O espanto foi ainda maior, quando em novembro do mesmo ano, anunciou-se que a bacia de Tupi em Santos tratava-se de uma mega jazida, interligada em um só bloco, que se estendia do litoral norte do Espirito Santo até Santa Catarina, cobrindo uma área 160 mil quilômetros quadrados, com capacidade para produzir de 70 a 100 bilhões de barris de petróleo. Um patrimônio de US$ 9 trilhões (dólares!), quase o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA. Um ano após esse anuncio, o Governo George W. Bush, por meio do Departamento de Estado dos EUA, reativou a IV Frota no Atlântico Sul (12 de julho de 2008).

A crise política no Brasil se instala logo após a descoberta da espionagem na Petrobras. A ação da mídia capitaneada pelas Organizações Globo e o Grupo Abril, somados com as ações de parte do judiciário, da polícia federal, dos especuladores da bolsa de valores, se completa com as do parlamento, com o Projeto de Lei - PL 131/15 que desobrigou a participação mínima da Petrobras no consórcio de exploração do pré-sal pela “condução e execução, direta ou indireta, de todas as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento, produção e desativação das instalações de exploração e produção”. De autoria do senador do PSDB, José Serra, para entregar a Petrobrás às “7 irmãs do petróleo” a preço de banana.




No afã de anunciar supostos prejuízos recuperados, que não houve, e a fim de impressionar a sociedade com o intuito de justificar o espetáculo-circense midiático, os promotores e o juiz Moro fizeram contas truncadas estipulando multas que, no caso de empresas que não fizeram delação premiada, ascendem, como mencionado, a dez vezes o prejuízo apurado. É uma forma de abalar a situação econômica das empresas e, portanto, a economia brasileira, a Petrobrás e o emprego.

Noticiavam (falsamente) que os recursos recuperados ascendiam a R$ 7 bilhões, com um esclarecimento de pé de página segundo o qual o valor real é dez vezes menor, pois multas sem precedentes são aplicadas acima do valor efetivo do suposto prejuízo, totalizando os R$ 7 bilhões. (J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe-UFRJ.)

Assim, os prejuízos efetivos são de R$ 700 milhões, não R$ 7 bilhões.

As multas extravagantes arbitradas por Moro contornam de maneira abusiva a lei de leniência. Com o propósito de esgotar e liquidar as empresas financeiramente.

Sobre a atuação de Sergio Moro, a frente da operação "Lava Jato", eis oque expõe Moniz Bandeira:

Moniz Bandeira
"O juiz Sérgio Moro, condutor do processo contra a Petrobras e contra as grandes construtoras nacionais, realizou cursos no Departamento de Estado (Americano), em 2007. No ano seguinte, em 2008, o juiz Sérgio Moro passou um mês num programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard, em conjunto com sua colega Gisele Lemke. E, em outubro de 2009, participou da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes”, promovida no Rio de Janeiro pela Embaixada dos Estados Unidos. A Agência Nacional de Segurança (NSA), que monitorou as comunicações da Petrobras, descobriu a ocorrência de irregularidades e corrupção de alguns militantes do PT e, possivelmente, passou informação sobre o doleiro Alberto Yousseff, a delegado da Polícia e ao juiz Sérgio Moro, de Curitiba, já treinado em ação multi-jurisdicional e práticas de investigação, inclusive com demonstrações reais (como preparar testemunhas para delatar terceiros). Não sem motivo o juiz Sérgio Moro foi eleito como um dos dez homens mais influentes do mundo pela revista Time. Seu parceiro, o procurador-geral Rodrigo Janot, acompanhado por investigadores federais da força-tarefa responsável pela Operação Lava Jato, em fevereiro de 2015, foi a Washington buscar dados contra a Petrobrás e lá se reuniu com o Departamento de Justiça, o diretor-geral do FBI, James Comey, e funcionários da Securities and Exchange Commission (SEC)Sérgio Moro e Rodrigo Janot atuaram e atuam com órgãos dos Estados Unidos, sem qualquer discrição, contra as companhias brasileiras, atacando a indústria bélica nacional, inclusive a Eletronuclear, levando à prisão seu presidente, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. E ainda mais eles e agentes da Polícia Federal vazam, seletivamente, informações para a mídia, com base em delações obtidas sob ameaças e coerção, com o objetivo de envolver, sobretudo, o ex-presidente Lula. Os danos que causaram e estão a causar à economia brasileira, interna e externamente, superam, em uma escala muito maior, imensurável, todos os prejuízos que a corrupção, que eles dizem combater. E continua a campanha para desestruturar as empresas brasileiras, estatais e privadas, como a Odebrecht, que competem no mercado internacional, América do Sul e África." - Moniz Bandeira.




Os procedimentos de Moro, um juiz doutrinado pelo Departamento de Estado norte-americano, significam em última instância quebrar financeira e economicamente as grandes empresas brasileiras a fim de abrir espaço para as empresas estrangeiras, sobretudo norte-americanas.

O mal resultado do PIB em 2015, já era explicado como efeito colateral da "lava jato", Joaquim Levy então ministro da fazenda disse que: "a cada um bilhão que a Petrobrás deixa de investir, representa menos 2 bilhões no PIB".

A Petrobrás investe 100 bilhões de reais por ano, opera 326 navios, 35.000 quilômetros de dutos, 15 refinarias e 134 plataformas de produção de gás e de petróleo. Havia feito ressurgir a indústria naval, com aumento de 2 mil empregados para 85 mil. (Adriano Benayon)

Almirante Othon Silva, "Pai do Programa Nuclear Brasileiro",
condenado na operação "Lava Jato".
Paulo Leme, Presidente do banco Goldman Sachs, (um dos gigantes de Wall Street!) no Brasil, afirma sem meias palavras: “Sérgio Moro, quebrou o Brasil”. 

Metade do Investimento do Brasil - segundo Leme - vem do núcleo "Petrobras - empresas de engenharia". Que o Moro destruiu, passo a passo, meticulosamente, entre uma ida e outra a Washington.

A operação “lava jato”, “esquentou” informações conseguidas por meio da espionagem, com a violação de tratados internacionais e a violação da soberania do Brasil e cujo o foco principal foi derrubar a Presidenta Dilma Roussef, impossibilitar a candidatura de Lula em 2018 e, inviabilizar a Petrobrás, para que seja vendida (doada) a preço vil.



Ver também:

A Criação da Petrobrás Como Concepção Castilhista








domingo, 23 de outubro de 2016

Nacionalidade e Nacionalismo.

"Um Estado gigante, um verdadeiro continente,
uma nação-continente!"

Pierre Deffontaines,
proeminente geográfo francês
ao se referir ao Brasil.


Ante o deturpamento generalizado do conceito de nacionalidade, devemos nos ater ao conceito de nação e por desiderato de nacionalismo.

Nação como denuncia a própria terminologia significa “nascidos de...”, oque compreende uma ascendência comum. Nem precisaríamos recorrer ao termino grego “genos”, que também remete a uma ancestralidade comum.  

Na Gália, Júlio César reporta, que todos os gauleses afirmavam descender de Dis PaterOs irlandeses guardaram essa tradição mítica e referiam à Galiza, como o berço do qual descendiam. Cria-se que Breogan era o avô-divino da teuta.

Para os celtas, mesmo os filhos adotivos, não provindos diretamente dos laços matrimoniais, eram tidos como parte da teuta(nação), por possuírem essa descendência comum.

No atual hino da Galiza, seu autor, Pondal, alude a Breogan como mítico progenitor de todos os galaicos. A "nação de Breogan", de todos aqueles com ascendencia em Breogan, e por conseguinte, galaicos, seriam todos os seus descendentes. 

De modo que, o conceito de "nação", remete a uma descendência comum de algum personagem mítico, ou sanguíneo (o genitor)". Na antiguidade a transmissão cultural: valores, crenças, línguas, etc.... estavam intrinsecamente interligados a descendência, porque assim se operava a transmissão cultural, de forma orgânica. Mesmo povos eventualmente submetidos, tendiam a se integrarem e assim eram absorvidos.

De sorte que o deturpamento ideológico atual, de “nacionalismo” no Séc. XX, é flagrante, em completo desalinho com sua concepção original. Especialmente na idéia difundida da equiparação do conceito de “nação” a um padrão racial. Oque são coisas distintas.

Por “raça” se compreende um padrão homogêneo de caracteres físicos de um agrupamento humano. Quando a antropologia passou a se debruçar com mais vigor sobre o assunto, vários estudiosos da época, já apontavam que os grupos raciais humanos, em especial os da Europa, já se encontravam amplamente misturados.

Então se levarmos em conta a “raça” como equivalente a um elemento definidor da nacionalidade, para efeito de lógica, mesmo recuando no tempo e no espaço, no início das formações nacionais da Europa. NENHUM! Nenhum país atualmente subsistiria como entidade nacional. O caso da Alemanha é sintomático, a Baviera, de raça alpina(majoritariamente, havendo outros elementos presentes), contraposta ao norte saxão. Sem levar em conta as profundas diferenças culturais de credo e língua, completamente antagônicos. De mencionar ainda o berço da “nacionalidade alemã” com a antiga Prússia, báltica, sem qualquer ligação com os germanos. Falamos da Alemanha apenas por uma questão simbólica, de sempre mencionarem-na como exemplo de um corpo nacional. Itália, França, Inglaterra, Espanha, Rússia, etc.... são casos ainda mais gritantes.

Reiteramos que a definição da nacionalidade não se liga a um padrão racial homogêneo, que é um deturpamento ideológico surgido em fins do Séc. XIX. Mas sim, a uma origem comum, consanguínea. Oque não necessariamente resulta em um padrão racial.

É bem possível, e natural, que um agrupamento humano, estabilizado, que não sofra influxos externos, venha constituir com o tempo, e de forma orgânica, um padrão racial homogêneo. Sendo isso conseqüência e não fator original de sua unidade. 

Contudo, não basta a consanguinidade. O fator decisivo para configuração de uma nacionalidade reside na sua unidade política, Assim pois, se explica as diversas tribos celtas, nunca terem constituído uma nação, pois lhes careceram de unidade política, que lhes conferissem esse status quo.E no que pese, antes dominarem praticamente toda Europa continental, todas caíram sob julgo de outros povos, com exceção de Portugal, que se constituiu como nação, e veio a ser o único país de orígem celta com soberania. A Irlanda, só recentemente consegue ascender a soberania e mesmo assim, não conserva seu nome de orígem "Eire", tomará o nome dado por seus algozes ingleses "Ireland". Eslavos, germanos, helenos.... são todos povos que dispõe de uma orígem comum, mas se encontram pulverizados em diversas nações, isso porque reiteramos, o fator decisivo para a nacionalidade reside na unidade política. 

Alguns autores, falam da necessidade de haver consciência da nacionalidade. Somos de acordo, apenas ponderamos que essa "consciência" se materializa mediante uma unidade política. 

Finalmente aplicando esses conceitos aos brasileiros, vemos de forma muito evidente como os brasileiros constituem uma nacionalidade mais do que de quantas haja na Europa ou no resto do planeta. A primeira formação nacional das Américas! Anterior a imensa maioria das atuais formações nacionais europeias.

Todos os brasileiros, praticamente em sua esmagadora maioria, tem como ancestralidade comum aquela proto-célula luso-tupi que lhes deu a base da nacionalidade. Um Estado próprio, um território próprio, uma unidade política incomum para um país de proporção continental, que nem Rússia, nem EUA, nem tão pouco Canadá detém. 

Este Estado do Brasil que desde o Séc. XVI é visto como unidade política, com armas e brasões próprios. Mesmo a política mesquinha da Metrópole quando tenta bipartir o Brasil em dois, o Estado do Maranhão, todo aquele norte, com o Brasil ao sul, não passam de atos infecundos, porque a unidade do Brasil já estava feita e a vida nacional segue normalmente. 

As levas de imigrantes despejadas no Brasil, ao contrário do que sucedeu nos EUA, Argentina e Uruguai, nunca suplantaram a população original, a ponto de se dizer na Argentina, que os seus descendentes dos heróis de 17, foram substituídos por gente outra estranha a sua história. No Brasil não, o contingente imigratório sempre foi ínfimo ao da população original. De se assinalar, que mesmo esse baixo contingente, logo em sua primeira geração se liga aos nacionais. No caso da imigração italiana, a segunda mais numerosa, 70% de italianos imigrados, em sua primeira geração, casam-se com brasileiras e 40% das italianas com brasileiros.  

A ressaltar que o maior corpo imigratório para o Brasil, de longe, foi o português, vindo depois italianos e em terceiros "espanhóis" sendo 80% desses galegos, daí a imigração espanhola ter passado tão desapercebida entre os brasileiros. Contingentes alemães, japoneses tão insistentemente repetidos pela boca de alguns, foram agrupamentos insignificantes. Basta comparar os números dos 3 maiores grupos imigrantes do Brasil (portugueses, italianos e espanhóis) aos dos EUA, para mensurar o quão ínfimo foram os corpos imigratórios para o Brasil. Mesmo a imigração italiana para a Argentina foi muitíssimo maior do que a ocorrida no Brasil.

Em suma, tudo isso apenas para ficar evidente que não houve impacto populacional na recente imigração para o Brasil. 

De mencionar ainda que alguém que analise a distribuição humana no Brasil, notará que determinadas faixas apresentam um maior ou menor grau de determinado biotipos humanos. A Faixa litorânea, que se estende de Pernambuco ao Vale do Paraíba em São Paulo, apresentará um maior número de biotipos mulatos, isso porque era zona canavieira, aonde se empregou mais amplamente o trabalho escravo. Oque não desnatura serem populações com mesma origem luso-tupi presentes em todo o território nacional, apenas variando em seu maior ou menor grau com outros contingentes. 

Tudo isso já foi amplamente dito e repetido por historiadores e antropólogos brasileiros e comprovado geneticamente. Sérgio Penna, geneticista, e profº da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, após realizar amplos estudos genéticos na população brasileira constatou que os brasileiros de diferentes regiões são geneticamente muito mais homogêneos do que se esperava. Segundo o geneticista Sérgio Pena:

“Pelos critérios de cor e raça até hoje usados no censo, tínhamos a visão do Brasil como um mosaico heterogêneo, como se o Sul e o Norte abrigassem dois povos diferentes. O estudo vem mostrar que o Brasil é um país muito mais  integrado do que pensávamos.”.


Ver também:

01. O Castilhismo como Materialização do Período dos "Cinco Bons Imperadores".
17. Uma Grécia nas Ribeiras do Atlântico Sul.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

"Identitarismo" e Nacionalidade - A Posição Castilhista.

O Castilhismo, como ideologia nacionalista, só reconhece uma única identidade étnica e nacional no Brasil, como de fato somente há, a brasileira. Darcy Ribeiro, um dos expoentes do nosso Trabalhismo é expresso e claro nesse sentido:

“Os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia. Vale dizer, uma entidade nacional distinta de quantas haja, que fala uma mesma língua, só diferenciada por sotaques regionais, menos remarcados que os dialetos de Portugal. Participando de um corpo de tradições comuns mais significativo para todos que cada uma das variantes subculturais que diferenciaram os habitantes de uma região, os membros de uma classe ou descendentes de uma das matrizes formativas.
Mais que uma simples etnia, o Brasil é uma etnia nacional, um povo-nação, assentado num território próprio e enquadrado dentro de um mesmo Estado para nele viver seu destino. Ao contrário da Espanha, na Europa, ou da Guatemala, na América, por exemplo, que são sociedades multiétnicas regidas por Estados unitários e, por isso mesmo, dilaceradas por conflitos interétnicos, os brasileiros se integram em uma única etnia nacional, constituindo assim um só povo incorporado em uma nação unificada, num Estado uniétnico. A única exceção são as múltiplas microetnias tribais, tão imponderáveis que sua existência não afeta o destino nacional.” – Darcy Ribeiro
Darcy Ribeiro é ainda mais enfático em sua Carta aos Moços:
“Meu apego apaixonado pela unidade nacional começa pela preservação desse território como a base física em que nosso povo viverá seu destino. Encho-me da mais furiosa indignação contra quem quer que manifeste qualquer tendência separatista. Acho até que não poderia nunca ser um ditador, porque mandaria fuzilar quem revelasse tais pendores.
É de lamentar, porém, que vez por outra surja, entre eles, uns idiotinhas alegando orgulhos de estrangeiridade. O fazem como se isso fosse um valor, mas principalmente porque estão predispostos seja a quebrar a unidade nacional em razão de eventuais vantagens regionais, seja a retornarem eles mesmos para outras terras, como fizeram seus avós. Afortunadamente, são uns poucos. Com um pito se acomodam e se comportam.” - Darcy Ribeiro.
A defesa de identidades locais é completamente incongruente para quem quer que se diga nacionalista, antes é a negação da nacionalidade, além de incompatível com a centralização Castilhista, ou mesmo para aqueles que defendam um Estado no molde fascista. Caso ilustrativo, foi o de Otho Strasser, que lançou essas idéias no seio do partido nazista, rejeitadas por Hitler, razões que culminaram no seu assassinato.


Artigos Correlatos:

1.Identidade e Formação da Nacionalidade Brasileira.


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Exegeses De Adriano Benayon Sobre O Golpe Em Curso No Brasil.

Segue alguns apontamentos dos últimos artigos do ex-diplomata, economista e Profº Adriano Benayon, falecido em abril desse ano de 2016, sobre o golpe em curso no Brasil:

3. Não desminto a responsabilidade da atual chefe do Executivo (Dilma), nem a do ex-presidente Lula, em alguns dos fatos que têm sido difundidos e magnificados pelos mentores do processo de desestabilização daquela e de desmoralização deste.
4. Entretanto, não se deve ignorar que esse processo é patrocinado e teleguiado do exterior,  e que seu objetivo está longe de ser o bem do País. Muito pelo contrário.
5. Ele ganha corpo, desde o mensalão, julgado  no STF em 2012, e as manifestações de 2013, para as quais foram divulgados os abusos nas despesas superfaturadas e desnecessárias da construção de estádios e realização de obras para a Copa do Mundo de 2014.
6. Há corrupção em tudo isso, como também nas relações das empresas de engenharia com a Petrobrás.  Mas isso ocorreu, em dimensões até maiores, em administrações do PSDB e outras, sem que fosse deblaterado pela mesma mídia que vergasta os petistas. Mais grave, ainda: sem que sofra repressão do Ministério Público, da Polícia Federal ou do Judiciário.
17. Em artigo de 15.03.2016 -  A  Lavajato quer tirar Brasil do BRICS e CELAC – Beto Almeida observa que os governos petistas retomaram   políticas valiosas para a economia e a defesa nacionais,  que remontam a medidas do presidente Geisel (1974-1978):  apoio às empresas de engenharia nacionais, que – graças ao poder de compra de Petrobrás - desenvolveram capacidade competitiva em obras no exterior.
18. Recorde-se Henry Kissinger: “Não podemos tolerar o surgimento de um novo Japão no Hemisfério Ocidental.” O  império assegurou seu objetivo, desde agosto de 1954, fazendo o Brasil entregar, com subsídios, às empresas transnacionais o grosso dos mercados da indústria, iniciando a desnacionalização da economia brasileira.
19. Atualmente, com a Lavajato, o império anglo-americano faz demolir as empresas nacionais que sobreviveram à inviabilização, pela política econômica, de atividades de elevado valor agregado.

15. [...] a desestabilização do PT decorre de coisas como estas:
1) dos ganhos que os mentores do golpe pretendem auferir, atribuindo só à mais recente administração desgraças que decorrem principalmente de deformações estruturais gestadas ao longo dos últimos 62 anos;
2) ter feito investimentos em áreas estratégicas, como petróleo, defesa, apoiado empresas brasileiras em obras e no exterior e se aproximado dos BRICS.

17. fazendo justiça a Lula, no primeiro mandato, tomou medidas favoráveis à economia e deteve temporariamente a destruição da Petrobrás, encetada por FHC, desde a Lei 9.478/1997 e a infiltração de agentes de interesses externos na na ANP e na estatal.
18. Lula chegou a pôr em posições executivas da Petrobrás, técnicos, como Guilherme Estrella e Ildo Sauer, que dirigiram as descobertas das grandiosas reservas do pré-sal, além de ter conseguido aprovar a Lei que instituiu regime especial para a exploração dessas reservas.
19. Mas a qualidade das administrações da Petrobrás voltou a deteriorar-se sob Dilma, com Graça Foster e muito mais com o atual Bendine, que só parece pensar em liquidar a empresa.
21. Então, é desastrosa a atuação da presidente Dilma, em áreas cruciais como o petróleo e a eletricidade, em manteve o sistema de caos programado, instituído por FHC, e acabou tornando a Eletrobrás praticamente falida? Sim.
22. Entretanto, constatar esses fracassos não leva a concluir que a devastação do patrimônio do País não será ainda mais incrementada, se o Executivo for assumido por qualquer dos opositores.

Em seu último artigo, publicado em 05 abril, “Antecedentes da enganação”, Dr. Adriano termina com uma nota sobre a votação ocorrida na câmara no processo do Impeachment contra a presidente Dilma Rousseff:

“O que mais impressionou, afora a ignorância de tantos representantes da prostituição política reinante, foi o cinismo: enrolados na bandeira pátria, gritando 'Viva o Brasil!', enquanto aceleram a demolição do pouco que falta para completar a alienação da soberania nacional, operada de 1954 até hoje... O império angloamericano vale-se de irrecuperável regime político, formado e controlado por ele, e colhe mais frutos dos investimentos em ignorância e corrupção que realiza, há mais de 70 anos, no País.” - Adriano Benayon.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Atual Fenômeno da Imigração Mulçumana

Em uma entrevista do imam de uma mesquita da cidade de Colonia na Alemanha, Sami Abu-Yusuf para o canal russo REN TV, sobre os acontecimentos em Colonia, envolvendo imigrantes islâmicos em casos de estupros e assédios sexuais. O imam disse que: “Os eventos da véspera de Ano Novo foram culpa das próprias mulheres, pois elas estavam seminuas e usando perfume. Não é surpresa que os homens quiseram atacá-las. [Se vestir desta forma] é como jogar lenha na fogueira”.

O tom da reportagem é revelador, O repórter diz que estava se tornando difícil dizer se a Alemanha pertence aos alemães ou aos muçulmanos. Disse ainda que os casos de assédio sexual não passaram de um presságio de algo muito maior, que está por vir.

A reportagem ao entrevistar um policial menciona ainda que os imigrantes não vão para a Alemanha em busca de uma vida melhor; eles vêm em grupos com o objetivo de se incorporar ao crime organizado.



Esse fenômeno imigratório não nos é tão distante. Em meados da década de 60, quando eclodiu os movimentos comunistas em Angola, Moçambique, Congo e em menor intensidade em outros locais da África. Uma estratégia que a CIA lançou mão, foi a difusão do islamismo na África Austral, com fito de barrar o avanço comunista. A mencionar também que quem fomentou os surgimento de grupos radicais islâmicos, inexistentes até antes da II Guerra, foi a própria CIA.

Embora se sustente que a imensa maioria dos mulçumanos são pacíficos. O caso é que a estrutura e a pluralidade dessas seitas, tornam as comunidades mulçumanas terreno fértil para o fanatismo político quando convenientemente manobrado para esse fim. Sem uma estrutura central que coiba o aliciamento por grupos externos, ao mesmo tempo que gozam de ampla autonomia sem qualquer vinculo com o país ou uma entidade central, os membros e seus líderes religiosos, tornam-se facilmente cooptáveis por agencias estrangeiras quando interessadas em desestabilizar o país.

São fartos os casos no mundo árabe, bem como nos países em que houve o estabelecimento de comunidades mulçumanas. A Albania comunista, empreendeu uma guerra sem tréguas aos mulçumanos lá presentes, tão nocivos foram, motivo de constante agitação na vida nacional. Como na França, que de longa data tem uma numerosa comunidade mulçumana vivendo uma vida a parte do corpo nacional. A Rússia com os mulçumanos do cáucaso.... e por assim, incapazes de se integrarem a vida nacional.

A desestabilização dos países árabes e a imigração artificial, fomentada por organismo vinculados a agencias de inteligencia, visam claramente plantar células nos países de destino. Ligando esses grupos ao tráfico de drogas e diversas outras atividades ilícitas podendo fazer uso delas quando lhe convir para desestabilizar governos. E mesmo passar a ter peso político, em países que enventualmente tenham ou venham a ter uma comunidade mulçumana numerosa. Caso tanto da França como da Alemanha (lembrar que o maior contingente imigratório da Alemanha é turco).

No Brasil é especialmente preocupante o crescente, e já estabelecida, comunidade mulçumana em Foz do Iguaçu-PR, local estratégico e de intensa atividades ilícitas. E com atuação, já publicitada pela própria ABIN, da CIA na região. Mais uma vez deve ficar claro que embora os EUA digam combater grupos extremistas, são na verdade eles, seus principais financiadores, caso patente do ISIS.

Assim temos a infiltração de elementos desestabilizadores, ligados a agencias estrangeiras, ao mesmo tempo que esses grupos, apesar de viverem uma vida a parte, passam a influenciar politicamente o país em que estão estabelecidos, em um ambiente alheio, que assim florescem como sementes do mal.

sábado, 23 de julho de 2016

RETRATO MOLECULAR DO BRASIL

Sérgio D. J. Pena 

Muitos autores, usando metodologia histórica, sociológica e antropológica, já analisaram as origens do povo brasileiro: Paulo Prado em Retrato do Brasil (1927), Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil (1933), Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala (1933) e Darcy Ribeiro em várias obras, culminando em O Povo Brasileiro (1995). Nós usamos novas ferramentas - a genética molecular e a genética de populações - para reconstituir e compreender o processo que gerou o brasileiro atual, no momento em que comemoramos 500 anos da chegada dos europeus ao Brasil.

A filogeografia é o campo de estudo dos princípios e processos que governam a distribuição geográfica de linhagens genealógicas dentro das espécies, com ênfase em fatores históricos. Ela integra conhecimentos de genética molecular, genética de populações, filogenética, demografia e geografia histórica. Sabendo que linhagens genealógicas ameríndias, européias e africanas contribuíram para a composição da população brasileira, decidimos mapear na população branca do Brasil atual as distribuições espaciais destas linhagens em um contexto histórico. Para isso, amostras de DNA da população do Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil foram estudadas com dois marcadores moleculares de linhagens genealógicas: o cromossomo Y para estabelecer linhagens paternas (patrilinhagens) e o DNA mitocondrial para estabelecer linhagens maternas (matrilinhagens). Comparações com estudos realizados em populações de outros países permitiram estabelecer a origem geográfica da vasta maioria dessas linhagens genealógicas. 

A genética reconstruindo a história

O segmento exclusivo do cromossomo sexual Y (presente apenas em homens) e o DNA mitocondrial (DNA presente em organelas celulares denominadas mitocôndrias) apresentam propriedades genéticas em comum. Primeiro, eles são herdados de apenas um dos pais: o cromossomo Y é transmitido apenas através do espermatozóide paterno apenas para filhos homens e o DNA mitocondrial é transmitido através do óvulo materno para filhos e filhas. Segundo, não trocam genes com outros segmentos genômicos (não se recombinam), sendo transmitidos às gerações seguintes em blocos de genes (denominados 'haplótipos').

Esses blocos permanecem inalterados em patrilinhagens ou matrilinhagens até que ocorra uma mutação. As mutações ocorridas durante a evolução humana geraram variações (polimorfismos) dos haplótipos que servem como marcadores de linhagem. Além disso, o cromossomo Y e o DNA mitocondrial fornecem informações complementares, permitindo traçar patrilinhagens e matrilinhagens que alcançam dezenas de gerações no passado, podendo assim reconstruir a história genética de um povo.


As variações do cromossomo Y e do DNA mitocondrial

A maior parte (mais de 90%) do cromossomo Y humano não sofre recombinação - os haplótipos são transmitidos inalterados de pai para filho por gerações e gerações. Para identificar os diferentes haplótipos necessitamos estudar polimorfismos de DNA do cromossomo Y que possuam velocidades evolucionárias diferentes. No estudo das linhagens em brasileiros, optamos por polimorfismos de evolução lenta, ou UEPs (do inglês unique event polymorphisms), que indicam eventos mutacionais únicos. Há dois tipos de UEPs: os que resultam da mudança de uma só base da seqüência do DNA (SNP, do inglês single nucleotide polymorphism), e os decorrentes da entrada de uma curta seqüência de bases (retroposon) em uma determinada posição no cromossomo. A identificação desses polimorfismos é utilíssima para a reconstrução da história de migrações em populações humanas.

O DNA mitocondrial humano possui duas regiões com propriedades evolutivas diferentes. A maior região (mais de 90% do total) é codificante, ou seja, é usada como molde para síntese de RNA. A taxa de mutação nesta região é aproximadamente 5 vezes maior do que do DNA nuclear. A segunda região, chamada de 'alça D', tem em torno de 1.122 pares de bases, não é codificante e evolui cinco vezes mais rápido que o resto da molécula (portanto, 25 vezes mais rápido que o DNA nuclear). Em geral, estudam-se as duas regiões, seqüenciando o DNA mitocondrial nos dois trechos mais variáveis da alça D e procurando SNPs em posições específicas da região maior. A busca de SNPs é feita com enzimas de restrição, que cortam o DNA em seqüências específicas (com quatro a seis bases) -- alterações na seqüência do DNA mitocondrial podem eliminar sítios de restrições ou criar um novo onde não havia nenhum. SNPs estudados com enzimas de restrição recebem o nome especial de RFLPs (do inglês restriction fragment length polymorphisms, ou seja, polimorfismos de tamanho de fragmentos de restrição).


Amostragem da população brasileira

O Brasil tinha 157.070.163 habitantes em 1996, distribuídos pelas regiões Norte (11.288.259), Nordeste (44.766.851), Sudeste (67.000.738), Sul (23.513.736) e Centro-Oeste (10.500.579), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Quanto à raça [1] o IBGE adota um critério simplista, segundo a cor da pele (por autoclassificação): branca, preta, amarela, parda, indígena e sem declaração. Há um claro gradiente (do Norte para o Sul) nas proporções relativas das cores de pele: brancos são 22,7% da população no Norte e 83,3% no Sul. Esses dados demonstram a dificuldade de obter uma amostra representativa da população brasileira para pesquisa genética, principalmente sabendo-se que tais estudos são complexos demais para permitir a análise de grande número de indivíduos. 

Nós optamos, por razões teóricas e logísticas pelo estudo de uma amostra de 200 indivíduos (247 para o DNA mitocondrial), o que é um bom número em termos de estudos filogeográficos humanos, distribuídos em quatro das cinco principais regiões geográficas do Brasil: 50 indivíduos do Sudeste (99 pessoas no caso do DNA mitocondrial), 50 indivíduos do Norte, 50 indivíduos do Nordeste e 50 indivíduos do Sul. 

Para evitar que essa escolha, em cada região, afetasse os resultados, restringimos nossa amostra à população branca, majoritária no Brasil (51,6%). Obtivemos amostras de DNA (codificadas para garantir total anonimato) de indivíduos não-aparentados. A amostragem, porém, incluiu principalmente pessoas de classe média e classe média alta, o que poderia afetar as conclusões dos estudos. Por isso, amostras de DNA de trabalhadores rurais brancos do Vale do Jequitinhonha (MG) -- cedidas pelo Professor Carlos Maurício Antunes e Roberto Campos Amado do Departamento de Parasitologia da UFMG -- foram estudadas, para comparação. 

Patrilinhagens em brasileiros brancos

Nosso estudo filogeográfico de brasileiros brancos permitiu deduzir que a imensa maioria das linhagens de cromossomo Y do País é de origem européia, mais especificamente portuguesa (como revela a semelhança com dados referentes a 93 portugueses, obtidos em colaboração com o geneticista Jorge Rocha, da Universidade do Porto). Chama atenção a contribuição mínima de cromossomos Y vindos da África sub-Saara (haplogrupo 8, com 2% do total) e ameríndios (haplogrupo 18, nenhum). 

Em contraste, os cromossomos Y europeus (haplogrupo 1) estão presentes na grande maioria (57%) dos brasileiros. Tal participação aumenta quando se admite que o haplogrupo 2 (19% da amostra) tem sua principal origem na Europa. Há várias linhas de evidência nesse sentido. Esse haplogrupo, por exemplo, é comum em portugueses (13%), e Portugal é o país de origem da maioria dos imigrantes europeus para o Brasil. Mas de onde veio o excesso de haplogrupo 2, já que a proporção entre brasileiros é maior que entre portugueses? Não do leste da Ásia, pois é pequena a proporção, no País, de cromossomos Y japoneses e coreanos. Uma pista surge da comparação das regiões do Brasil: a maior proporção do haplogrupo 2 ocorre no Sul (28%), onde foi importante a imigração de alemães e outros europeus, e a segunda no Nordeste (19%), palco da invasão holandesa. Mesmo existindo outras contribuições (do Oriente Médio, por exemplo), a Europa é também a origem mais provável do excesso de haplogrupo 2. Assim, no mínimo 66% e no máximo 85% (este talvez mais próximo da verdade) dos cromossomos Y em brancos brasileiros vieram da Europa.

Também é alta a proporção - em brasileiros (14%) e portugueses (12%) - do haplogrupo 21, encontrado basicamente no norte da África e, em menor proporção, em outras áreas mediterrâneas. O grupo do geneticista Antônio Amorim, na Universidade do Porto, demonstrou que em Portugal a freqüência do haplogrupo 21 aumenta gradativamente do norte para o sul, atingindo quase 25% no Algarve (extremo Sul). A explicação histórica mais provável é que esse haplogrupo é uma relíquia genética dos sete séculos de invasão da península Ibérica, na Idade Média, pelos mouros (oriundos do norte da África).

Sua alta freqüência em brasileiros deve-se então aos portugueses, pois não há registros sobre a vinda para o Brasil de números significativos de escravos do norte da África (o que é reforçado pela baixa proporção de linhagens de DNA mitocondrial do norte africano encontrada em nossos estudos). Se o haplogrupo 21 foi trazido por portugueses, deve ser somado às contribuições européias. Assim podemos concluir que a imensa maioria das linhagens de cromossomo Y dos brasileiros brancos veio da Europa, especialmente de Portugal.

As proporções mínimas de cromossomos Y africanos e ameríndios constatadas poderiam levantar dúvidas sobre a adequação da amostra. Sabendo que a distribuição de cores de pele é desigual nos segmentos sociais do Brasil, poderia o predomínio de pessoas de classe média e classe média alta na nossa amostra viciar os resultados, apontando maior ancestralidade européia? Um fato desmente isso. O estudo dos cromossomos Y de 10 indivíduos brancos de baixa renda do vale do Jequitinhonha (MG) também não detectou haplótipos ameríndios ou da África sub-Saara. 


Haplogrupo
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Brasil
Portugal
Origem Geográfica
Hpl 1
56
67
56
52
57
66
Europa
Hpl 2
14
19
12
28
19
13
Europa, Ásia ou África
Hpl 22
0
0
2
0
1
2
Bascos e Catalões
Hpl 9
14
2
10
4
8
6
Mediterraneo
Hpl 21
13
8
16
16
14
12
Áf. do Norte e Mediter.
Hpl 8
0
4
4
0
2
1
África subsaariana
Hpl 18
0
0
0
0
0
0
Ameríndios
Hpl 20
2
0
0
0
0
1
Japoneses e Coreanos



Matrilinhagens em brasileiros brancos

As linhagens de DNA mitocondrial de todo o mundo dividem-se em três grandes conjuntos, os super-haplogrupos L1, L2 e L3. Os dois primeiros são especificamente africanos, enquanto o último ocorre em todos os continentes, mas pode ser subdividido em haplogrupos típicos de populações africanas, européias, asiáticas e ameríndias.

A classificação por DNA mitocondrial é bem mais complexa que a baseada no cromossomo Y. Em ameríndios brasileiros, por exemplo, há apenas um haplogrupo principal de Y, mas quatro de DNA mitocondrial (A, B, C e D). A diversidade de DNAs mitocondriais também foi muito grande em brasileiros brancos: 171 haplótipos distintos em 247 indivíduos. Ao contrário do revelado pelo estudo do cromossomo Y (ampla maioria de haplogrupos europeus), os DNA, mitocondriais tiveram, para todo o Brasil, uma distribuição de origens geográficas bem mais uniforme: 33% de linhagens ameríndias, 28% de africanas e 39% de européias. Entre as linhagens européias, destacaram-se os haplogrupos H, T e J, sendo responsáveis respectivamente por 44%, 14% e 10% do total dessas linhagens.

Como os ameríndios vieram da Ásia, o DNA mitocondrial não os diferencia dos asiáticos. Assim, assumimos que todas as linhagens asiáticas obtidas (haplogrupos A, B, C e D) eram ameríndias. Como não encontramos no Brasil outras linhagens da Ásia que não ocorram também entre ameríndios, qualquer erro decorrente da adoção dessa premissa deve ser muito pequeno. Já a grande diversidade de haplogrupos africanos é compatível com o fato de que os escravos foram trazidos para o Brasil de muitas áreas (principalmente da costa ocidental da África, mas também de Moçambique, no leste).

O fato de encontrarmos 33% de matrilinhagens autóctones, permite-nos calcular que aproximadamente 45 milhões de brasileiros possuem DNA mitocondrial originário de ameríndios. Em outras palavras, embora desde 1500 o número de nativos no Brasil tenha se reduzido 10 vezes (de aproximadamente 3,5 milhões para 325.000), o número de pessoas com DNA mitocondrial ameríndio aumentou mais de 10 vezes!


Raízes filogenéticas do Brasil

Os resultados obtidos demonstram que a imensa maioria (provavelmente mais de 90%) das patrilinhagens dos brancos brasileiros são de origem européia enquanto a maioria (aproximadamente 60%) das matrilinhagens são de origem ameríndia ou africana. As patrilinhagens, embora sejam maciçamente européias e muito semelhantes à distribuição em Portugal, exibem ainda considerável variabilidade. Isso deve-se à alta diversidade genética dos ibéricos, fruto de muitas invasões e imigrações: celtas, fenícios, gregos, romanos, suevos, visigodos, judeus, árabes e bérberes. A maior mistura gênica certamente ocorreu nos 700 anos de ocupação por mouros (até 1492) e está expressa na alta freqüência do haplótipo 21 (do norte da África) em portugueses e, através deles, nos brasileiros.

Outra pista interessante é a alta freqüência do haplogrupo 9 do cromossomo Y em portugueses e brasileiros. Esse haplogrupo ocorre em toda a área mediterrânea, mas atinge suas freqüências máximas em judeus e libaneses. Até o final do século 14, grande quantidade de judeus vivia na península Ibérica, em aparente harmonia com cristãos e muçulmanos. No século 15, a discriminação aumentou até que os judeus, exceto os que se converteram ao cristianismo (cristãos novos), foram expulsos de Portugal, em 1509. Embora fosse proibido a judeus e mouros emigrar para as Américas, muitos cristãos novos vieram para o Brasil, provavelmente trazendo o haplogrupo 9.

Por sua vez, os imigrantes que chegaram ao Brasil a partir da metade do século 19, em especial italianos, espanhóis, alemães, japoneses e sírio-libaneses, deixaram sua 'marca' no aumento (em relação a Portugal) da freqüência dos haplogrupos mediterrâneos 21 e 9 (italianos, espanhóis e sírio-libaneses) e na presença dos haplogrupos 22 (espanhóis) e 20 (japoneses). Como foi dito, a presença dos alemães no Sul e dos holandeses no Nordeste provavelmente reduziu a freqüência dos haplogrupos mediterrâneos nessas regiões e aumentou a do haplótipo 2.

Já os estudos de DNA mitocondrial demonstram proporções gerais de 33% de linhagens ameríndias, 28% de africanas e 39% de européias, mas variando consideravelmente de região para região, segundo o padrão esperado pela história de colonização de cada uma delas. No Sul, são europeus 66% dos haplótipos, o que reflete a ampla imigração da Europa para a região nos séculos 19 e 20. No Norte, onde a presença indígena é elevada, 54% das matrilinhagens são ameríndias. No Nordeste, como esperado, predominam matrilinhagens africanas (44%). No Sudeste, a distribuição das linhagens é muito uniforme. Apesar da alta diversidade de linhagens de DNA mitocondrial, européias e africanas, não foi possível relacionar haplogrupos específicos a regiões brasileiras. As linhagens européias H, T e J predominam em todas as regiões e não apresentam um padrão específico de distribuição. Isso é consistente com o fato de que, dentro da Europa, a diferenciação de matrilinhagens é bastante pobre.

No caso das linhagens africanas, sabe-se que a maioria dos escravos que vieram para o Brasil originavam-se da costa oeste, da vasta região entre o rio Senegal no norte e a Angola portuguesa no sul. Na parte mais norte dessa região estavam o reino Ioruba de Oyo e os reinos de Dahomey e Congo. Os escravos que vieram dessa região, chamados de Minas, constituíam aproximadamente um terço do total que veio para o Brasil e concentraram-se inicialmente na Bahia. Muitos desses escravos tinham a religião Ioruba, da qual veio o Candomblé baiano. A maioria dos escravos para o Rio de Janeiro e Minas Gerais veio de Angola - de tribos que falavam dialetos do tronco Bantu. Entretanto, no século XIX houve consideráveis migrações internas dos escravos, com homogeneização entre os estados. Sabe-se pouco sobre a distribuição de haplogrupos de DNA mitocondrial na África, especialmente em Angola. Assim, fica difícil fazer inferências filogeográficas a partir dos nossos resultados, que mostram que os haplogrupos L3e e L1c constituem quase 50% dos africanos.

As linhagens ameríndias mostraram um padrão curioso. O haplogrupo A foi o mais comum no Nordeste, Sudeste e Sul (36% do total das três regiões), enquanto o C foi o mais comum no Norte (38%). Novos estudos estão sendo iniciados para tentar explicar essa correlação geográfica.


O Retrato Molecular do Brasil no contexto histórico

Em resumo, nossos estudos filogeográficos com brasileiros brancos revelam um padrão de reprodução direcional: a imensa maioria das patrilinhagens é européia, enquanto a maioria das matrilinhagens (cerca de 60%) é ameríndia ou africana. Os resultados combinam com o que se sabe sobre o povoamento pós-cabralino do Brasil. Exceto pelas invasões (temporárias) de franceses no Rio de Janeiro e de holandeses em Pernambuco, praticamente apenas portugueses vieram para o Brasil até o início do século 19. Os primeiros imigrantes portugueses não trouxeram suas mulheres, e registros históricos indicam que iniciaram rapidamente um processo de miscigenação com mulheres indígenas. Com a vinda dos escravos, a partir da segunda metade do século 16, o processo de miscigenação estendeu-se às africanas.

Em 1552, em carta ao rei D. João, o padre Manuel da Nóbrega fala da falta de mulheres brancas na nova colônia, e pede que essas sejam enviadas para que os homens "casem e vivam (...) apartados dos pecados em que agora vivem". A coroa portuguesa tolerou relacionamentos entre portugueses e índias desde o início da colonização, mas passou a estimular casamentos desse tipo oficialmente por um Alvará de Lei emitido em 4 de abril de 1755 pelo marquês de Pombal. A idéia de Pombal, aparentemente, era povoar o Brasil, garantindo sua ocupação, mas essa política surpreendentemente liberal não se estendeu aos africanos. É óbvio, no entanto, que a mistura de portugueses com africanas continuou.

A partir da metade do século 19, o Brasil recebeu enormes levas de novos imigrantes, destacando-se portugueses e italianos, seguidos de espanhóis, alemães, japoneses e sírio-libaneses. Entre 1872 e 1890, por exemplo, a população de brancos brasileiros aumentou em 12,5 milhões. Embora muitos imigrantes tenham vindo com suas famílias (em especial, os alemães), havia um excesso significativo de homens em outros grupos. Como os imigrantes eram em geral pobres, casavam-se com mulheres também pobres, o que no Brasil significava mulheres de pele escura (por causa da correlação entre cor da pele e classe social).

Vários autores, dentre os quais despontam os já mencionados Paulo Prado, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro, enfatizaram a natureza tri-híbrida da população brasileira, a partir dos ameríndios, europeus e africanos. Os dados que obtivemos dão respaldo científico a essa noção e acrescentam um importante detalhe: a contribuição européia foi basicamente através de homens e a ameríndia e africana foi principalmente através de mulheres. A presença de 60% de matrilinhagens ameríndias e africanas em brasileiros brancos é inesperadamente alta e, por isso, tem grande relevância social.

O Brasil certamente não é uma democracia racial. Prova disso é a necessidade de uma lei para proibir o racismo. Pode ser ingênuo de nossa parte, mas gostaríamos de acreditar que se os muitos brancos brasileiros que têm DNA mitocondrial ameríndio ou africano se conscientizassem disso valorizariam mais a exuberante diversidade genética do nosso povo e, quem sabe, construiriam no século 21 uma sociedade mais justa e harmônica.


Notas

[1] A razão pela qual "raça" está entre aspas no texto é que, embora o IBGE continue usando o termo, ele é mais uma construção social e cultural do que biológica. Na verdade, do ponto de vista genético raças humanas não existem. O homem moderno distribuiu-se geograficamente e desenvolveu características físicas, incluindo cor da pele, que são adaptações ao ambiente de cada nicho geográfico. Entretanto, do ponto de vista genético não houve diversificação suficiente entre estes grupos geográficos para caracterizar raças em um sentido biológico, como demonstrou recentemente o geneticista americano Alan Templeton. Isto introduz uma dificuldade, pois como podemos nos referir a certos grupos, como por exemplo, os índios brasileiros? Uma nomenclatura que tem sido crescentemente usada é a de etnias, que na nossa opinião deveriam ser muito amplamente definidas como grupos populacionais que possuem características físicas ou culturais em comum. Infelizmente a definição de etnia como "um grupo biológico e culturalmente homogêneo" dada no Novo Dicionário Aurélio (1a edição) é errada. Não existe na face da Terra nenhum grupo humano biologicamente (nem culturalmente) homogêneo



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