sábado, 28 de novembro de 2020

A Imigração Portuguesa para o Brasil

"Esse País ainda há de cumprir seu ideal,
há de tornar-se um imenso Portugal!"

Os portugueses são o principal tronco formador do Brasil, em um processo assimilatório da população nativa, e mesmo de escravos, ao longo de toda época colonial, que resultará na nação brasileira. Os portugueses passam a ser computados como imigrantes, após a independência, em 1822, a que, posteriormente, se soma outras correntes imigratórias, sendo a maior, e mais estável, totalizando 1.6 milhões de portugueses. Se outros contingentes imigrantes, apresentam períodos de maior vulto, e por vezes muito localizados, a portuguesa é contínua, tem picos, mas nas suas baixas, seu fluxo se mostra substancial a outras que cessam, além de se fazerem presentes por todo o País, mesmo havendo determinados centros com um maior afluxo. 

A Colonização Portuguesa

Na fase colonial, três períodos de intensa colonização, são bem caracterizadas, uma primeira, que se inicia em 1530, com a criação das capitanias hereditárias, com a vinda de nobres, levada a cabo pela baixa aristocracia rural do norte de Portugal, em especial, oriundos da região do Minho, e que será a semente formadora do Brasil. Uma segunda fase ocorrida no Séc. XVII, quando adentram cerca de 600 mil portugueses no Brasil entre 1701 à 1760. É nesse período que ocorre uma explosão demográfica no Minho, a descoberta das minas, bem como a expansão pecuária para o sertão. E por assim dizer, nesse período, o Brasil se “lusitanisou“, a língua geral, língua franca falada pela população nos dois primeiros séculos, é substituída, em definitivo, pelo português, surge os centros urbanos mineiros nas Minas Gerais e a fundação de novos núcleos urbanos nos sertões. A terceira e última fase da colonização portuguesa, ocorre no começo do Séc. XIX, com a vinda da família real portuguesa, junto com toda a corte, cerca de 15 mil.  

De colonizadores a imigrantes, a imigração portuguesa pós Brasil independente (1822 - 1850):

Há um hiáto estatistico na imigração portuguesa entre 1822 à 1850. O IBGE registra meros 2.633 imigrantes portugueses nesse período. Oque não reflete a realidade. Dados esparsos, revelam que, somente no Rio de Janeiro, principal destino da imigração portuguesa nessa época, aportaram 33.362 portugueses. A considerar que esses números se referem somente a imigrantes registrados, e ainda sim, dados incompletos, com a lacuna de vários anos, além dos números de imigrantes sem registros, serem muito maior. Para mensurar, dos 198 estrangeiros entrados na cidade do Rio de Janeiro, entre 25 de abril a 20 de junho de 1831, somente 69 se registraram.

Estima-se que o Rio de Janeiro absorveu entre 60 a 86% da imigração portuguesa entre 1836 à 1850. Podemos estimar de forma conservadora, tomando os 33.362 registrados no Rio de Janeiro, que os imigrantes portugueses no restante do Brasil, com base nos 14% remanescentes, seriam algo em torno de 4.670. Totalizando 38.032 imigrantes portugueses em todo o Brasil. Se considerássemos, como 40% os portugueses fora do Rio de Janeiro, teriamos 13.344 imigrantes portugueses no restante do Brasil, oque totalizaria 46.706 em todo o Brasil. Em qualquer caso, excluindo, mais uma vez, os clandestinos, que por certo deveriam representar um número significativo.

Em 1826 o consul português no Rio de Janeiro, Carlos Mathias Pereira, dava conta ao ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, o conde de Porto Santo, dizendo que todos os navios vindos de Portugal, particularmente do Porto, chegavam no Rio de Janeiro cheio de pessoas, fugindo da pobreza. Dados de 1831 à 1842, listados nos registros de passaportes, no Rio de Janeiro, corrobora que a maioria eram de origem nortenha, especialmente de entre Douro e Minho. 

Oque já era observado desde a década de 1820 na descrição do típico português que imigrava: “ao desembarcar nos portos brasileiros, vestia polaina de saragoça, [...] e calção, colete de baetão encarnado com seus corações e meia [...]; geralmente desembarcavam dos navios com um pau às costas, duas réstia de cebolas, e outras tantas de alhos... e ... uma trouxinha de pano de linho debaixo do braço. Eram minhotos que, para sobreviver, dormiam na rua e procuravam ajuda de instituições de caridade.”.

O cultivo do milho em Portugal, provocou uma revolução agrícola e, com isso, uma enorme melhoria na alimentação básica do minhoto, oque resultou numa alta densidade demográfica na região: em 1801, enquanto no resto de Portugal registrava, em média, 33 habitantes por Km², no Minho a densidade populacional atingia 96 habitantes por Km². Oque influiu determinantemente para uma maior presença minhota no Brasil.

Nesse período, até 1840, no Rio de Janeiro, a maioria dos portugueses trabalhavam no comércio, empregados por patrícios já estabelecidos. Os mais letrados eram caixeiros, auxiliares, etc... os analfabetos, a imensa maioria, se entregavam ao trabalho braçal, como estivadores nos portos, armazens, e toda sorte de trabalho bruto, em condições muitas vezes sub-humanas. 

Esta tradição dos imigrantes portugueses do Norte, que sabiam ler e escrever se dedicarem no Brasil, preferencialmente, ao comércio, vai manter-se ao longo do século XIX. Por 1870-1872, no Pará, na Bahía, no Maranhão, no Ceará, predominavam os caixeiros e negociantes. O mesmo acontecia em Pernambuco, onde 60% dos que chegaram, entre 1862-1872, eram menores, trabalhando como caixeiros e feitores. 

Havia ainda os que exerciam ofícios mecânicos: pedreiros, carpinteiros, ferreiros etc., saídos do Norte de Portugal, com expressão significativa a partir da década de 1840, seguindo-se, posteriormente, os alfaiates e sapateiros. Todos locados nos centros urbanos, livremente ou a contrato, com horários aceitáveis e remunerações consideráveis. Todos eles encontravam emprego imediato, com soldadas e jornais muito vantajosos.


A imigração em massa (1851-1900)

imigrante portuguesa minhota

A imigração portuguesa aumenta substancialmente com o fim do tráfico negreiro em 1850, e de prósperos aristocratas nos primeiros séculos de colonização, em meados do Séc. XIX, passou-se a um fluxo crescente de imigrantes pobres. 

Esses imigrantes, tidos como rudes, campesinos, quase sempre saídos das aldeias do norte de Portugal, contribuíram para a formação da imagem negativa do imigrante português, estigmatizando-os como pessoas pouco qualificadas intelectualmente. As mulheres passaram a representar parcelas cada vez maiores nos grupos imigrantes, e as crianças menores de 14 anos, pobres, órfãs ou abandonadas, chegaram a representar 20% do total dos imigrados.

De uma população em torno de 5 milhões de habitantes no final do século XIX (1881-1900), Portugal nos enviou mais de 300 mil trabalhadores,  6% de sua população total. 

No Maranhão, muitos dos menores que chegavam não sabiam ler. Porém, a maior parte dos que chegavam, dedicavam-se ao comércio, não havendo imigração clandestina. 

No Ceará, os imigrantes contratados, na década de 1860, caíram significativamente, menos de 50% dos  que tinham entrado. 

Em Pernambuco, onde a imigração clandestina era insignificante, 60% dos que entravam, vindos sobretudo do Minho, eram menores, destinando-se a caixeiros e feitores. Comentava o cônsul aí instalado que estes rapidamente tomavam "amor ao Brasil" e quem tinha algum dinheiro casava com brasileiras. 

Em Salvador na Bahía - refere Tania Gandon -, na segunda metade do século XIX, os lusos dedicavam-se fundamentalmente à atividade marítima e comercial, ou seja, "a esmagadora maioria" eram caixeiros, oriundos, sobretudo, do Porto e do Norte de Portugal.

Dos portos de desembarque, podemos mensurar o destino da imigração portuguesa com base no relatório de 1860, ainda que incompleto:

Rio de Janeiro permanecia recebendo a maioria dos que migravam, na ordem de 55,24% do total. 

O porto de Santos, representando 39,40% do total. 

Com relação aos demais portos, as entradas alcançavam o total de 4· 856 indivíduos, sendo de destacar-se a projeção de portos do norte e do nordeste, como Belém e Recife sobre portos do sul do país, excetuando-se o Rio Grande. 


A Origem Regional dos Imigrantes Portugueses:

No período de 1881 à 1900, a maioria dos imigrantes portugueses para o Brasil vieram das regiões onde os setores de produção mais importantes eram o comércio exportador e a pequena agricultura. Da Beira Litoral, Beira Alta, Douro Litoral, Trás-os-Montes, Minho e Estremadura vieram 98,7% dos imigrantes portugueses para o Brasil. Em seguida, das regiões do Baixo Tejo, do Ribatejo, Beira Baixa, Algarve e Alto Alentejo, vieram 2,1 % de emigrantes para o Brasil no mesmo período. O que demonstra ser insignificante a contribuição do sul de Portugal na imigração brasileira. 

A partir de 1930, houve uma diminuição da imigração portuguesa para o Brasil em todas as regiões. Somente a região de Trás-os-Montes mantém sua contribuição com 87,3%. As demais, Beira Alta e Beira Litoral permanecem também acima de 80%. Entre 50% e 80% de emigrantes portugueses para o Brasil, situam-se às regiões do Minho e Douro Litoral. Nas regiões meridionais houve maior declínio da imigração, sobretudo, no Alto Alentejo e no Algarve. 

De maneira geral, desde o final do séc. XIX até 1960, a maior parte dos imigrantes portugueses no Brasil são oriundos das regiões do norte de Portugal, sobretudo, Beira Alta (Viseu), Beira Litoral (Aveiro e Coimbra) e Trás-os-Montes (Bragança e Vila Real).

A região de Trás-os-Montes vieram 14,5% de emigrantes de Bragança e Vila Real. 

Do Minho, vieram 13% de imigrantes das cidades de Viana do Castelo e Braga. 

Em torno da cidade do Porto, a região do Douro Litoral, partiram 17%. 

Da região de Beira Litoral, deixaram as cidades de Aveiro e Coimbra, 25% de emigrantes. 

Em seguida, da região de Beira Alta, que atinge as cidades de Viseu e Guarda, tivemos 22,6% da imigração. 

Da cidade de Castelo Branco saíram 0,5% de trabalhadores da região de Beira Baixa. Do litoral, das cidades de Leiria e Lisboa, vieram 6,3% de emigrantes para o Brasil. No interior, da cidade de Santarém, na região de Ribatejo, partiram 0,5%. Da região do Alto Alentejo, as cidades de Portalegre e de Évora, nos enviaram 0,1%.

Finalmente, no sul, das regiões do Baixo Tejo e do Algarve, partiram 0,6% da cidade de Beja, enquanto que de Faro saíram 0,4% de trabalhadores, respectivamente. 

 

Séc. XIX (1881-1899)

1900-1960

Entre Douro e Minho (Viana, Braga, Porto)

30%

20,7%

Trás-os-Montes (Vila Real, Bragança)

14,77%

12,2%

Beira Litoral (Aveiro, Coimbra)

25%

17,85%

Beira Alta (Viseu, Guarda)

22,6%

11,08%

Beira Baixa  (Castelo Branco)

0,5%

3,7%

Estremadura (Lisboa, Leiria)

6,3%

8,32%

Alto Alentejo (Beja)

0,1%

0,3%

 

 

 

regiões de orígem dos imigrantes portugueses.


A Herança Genética Portuguesa nos Brasileiros:

filho de pais imigrantes 
portugueses.
Os portugueses se fazem presentes no Brasil, há 500 anos, das nações colonizadoras que se expandiram com as grandes navegações: Espanha, França, e uma tardia Inglaterra, e Holanda, é da colonização portuguesa e espanhola, que provem as mais antigas famílias do novo mundo de origem européia, e não só, como em África e Ásia. Qualquer brasileiro que buscar suas raízes genealógicas irá encontrar facilmente 11, 14 gerações passadas até os primórdios de 1500, ao passo, que um anglo-saxão nos EUA ou Canadá, quando muito, irá encontrar de 6 a 7 gerações, quando se estabelecem as primeiras levas colonizadoras inglesas, diminutas, já no avançado Séc. XVII. Os holandeses igualmente, nunca se prestaram a colonizar as terras que roubaram de Espanha, três séculos de domínio incontestável na Indonésia, e Suriname (antiga Guiana Holandesa) e não se vê uma população batava integrante na vida nacional. Tal como os ingleses, seu sistema de feitorias, tomavam essas "colonias" como simples entrepostos comerciais exclusivos, para o monopólio de suas funestas "companhias". O efetivo povoamento dessas "colonias" só se operam efetivamente findo o Séc. XIX, ainda sim de forma timida, e somente após a II Guerra, essas populações tomam vulto. Isso tudo apenas para lembrar e mostrar, o quão profundo esta enraizado a presença portuguesa no Brasil, em contráste aos imbecis que falam dos portugueses como um corpo alheio, como se não fossem eles próprios descendentes dos antigos colonizadores. Não existiria Brasil sem os portugueses, não existiríamos sem os portugueses, septavós de nossos septavós.... o Brasil é um desdobramento direto dos portugueses, em especial, claro, dos que aqui vieram fazer pátria, deles descendemos, são desses primeiros povoadores e oque lhes sucederam que fincaram suas carnes no Brasil dando-lhe seu sangue, e nós somos seus frutos, desses bagos, viemos. 

E não só a genealogia comprova como a genética, os brasileiros, pela magnitude populacional, são os maiores portadores de cromossomos Y de origem portuguesa, em um número muito superior a toda população portuguesa. E isso não só se reflete em números absolutos como proporcionalmente, na similaridade proporcional de marcadores genéticos entre ambas as populações dos países. Fruto desse processo assimilatório das populações indígenas e africanas pelos portugueses ocorrido ao longo da História do Brasil. 

Mesmo entre os brasileiros de fenótipo negro, esses tem em média metade de genes europeus (portugueses majoritariamente), entre pardos (mulatos, cafusos, caboclos) esse percentual sobe para 70%! Em suma, a verdade incontestável, é que o brasileiro, tem muito mais vínculo consanguíneo com os portugueses, do que com qualquer outro grupo africano ou mesmo indígena. É dizer, os portugueses são nossa principal e mais forte matriz formadora, e isso em TODOS os quadrantes do Brasil! 





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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Presidente Vargas, o Arquétipo do Rei Nobre e Justo, Garantidor da Soberania da Pátria


Na mitologia celto-galaica, do norte da atual ibéria, antiga Kéltia, um dos seus Deuses era representado pela mão direita decepada. A simbologia não é estranha ao mitogema indo-europeu, na mitologia nórdica Týr também é assim representado, por ter empenhado sua mão dentro da boca do lobo Fenrir, para que o grande lobo fosse preso, e assim garantir que seu mundo não fosse destruido. Na mitologia irlandesa o protagonista é Nuada, rei dos Tuatha dé Danann, que os lidera numa guerra contra os Fir Bolg, quando tem seu braço decepado após vencer o rei dos fomorianos.

Assim Nuada não pode mais governar, pois apenas um homem inteiro e saudável podia ser rei, pois da saúde do rei dependia a saúde da terra. O médico, druida, DianCécht lhe faz um braço de prata que não foi o bastante para garantir seu direito de governar. Nuada sai em auto-exílio e em seu lugar assume Bres, o Belo, filho de Elatha. A eleição de Bres fora estratégica, pois ele era de origem fomoriana, e assim manteria a paz com os fomores. Mas, logo se mostrou um rei tirânico, injusto, e iniciou uma éra de más colheitas que se abateu sobre a terra. Para pôr fim a esse reinado, era preciso que um rei legítimo desafiasse Bres, e por essa razão, Miach, filho de DianCécht, descobre um jeito de superar os feitos do pai e devolver um braço de carne e osso a Nuada, tornando-o novamente digno de reclamar a soberania.

Ara galaica consagrada ao Deus Neiton
O pleito de Nuada ao trono conduz as Tuatha dé a uma nova guerra contra os fomores, mais intensa do que a anterior, mas acaba na vitória das Tuatha após Lugh matar Balor, o rei fomor, um gigante ciclope, que incendiava e que tudo fazia perecer e definhar com seu olho que tudo via. Para essa batalha, Nuada concede o trono temporário a Lugh, para que ele liderasse o povo a vitória. Nuada morre em batalha, Lugh, porém, consegue matar Balor com sua lança, atingindo seu olho incendiário.

Vargas preenche todo esse ciclo mítico, lidera a nação brasileira ao seu desenvolvimento e sua soberania, gerando uma éra de prosperidade. Porém, após sair vitorioso de todas as batalhas: Revolução de 30, Contra-revolução de 32, Segunda Guerra Mundial, é destituido, vilmente. Sai em auto-exílio, e assim segue, um período de penúria para o País, governado por um usurpador, indígno da terra. Na religiosidade céltica, uma terra só se torna próspera quando seu soberano a ama, e assim cela um casamento entre ela e seu rei. Na mitologia irlandesa isso é relatado quando Nuada tem um encontro amoroso com a Deusa Morrigam, que o lidera para a vitória. E assim era o rito de sagração de um rei em todo o mundo celta, o casamento do Rei com sua terra, a Deusa Morrigan, ou Nábia na antiga Gallaecia, os nomes se multiplicam, conforme as localidades.

Como Nuada, Vargas volta a ser soberano, porém cumpre a sina de se sacrificar para libertar o país, esse é o ponto central do mito. O soberano que se sacrifica pelo país para garantir sua soberania e prosperidade. Esse mitogema se repete em quase todo mundo indo-europeu. Leônidas, rei de Esparta, igualmente cumpre essa sina. Ao marchar contra o exército Persa, sabia que se sacrificava, e marchava para a morte, para assim salvar a Grécia.

Ao se erguer  a mão direita no juramento a bandeira quando do alistamento militar, ou nas missas, oque se esta fazendo é um juramento imemorial de nossos ancestrais, mesmo que isso implique se sacrificar, para garantir a existência de nossa nação, do direito de vivermos, livremente, em nossa pátria, em sua plena soberania, garantia de prosperidade.

Nuada, como Getúlio Vargas, era o rei nobre de alma e espírito, justo e correto, que nos ensina que a honra deve estar acima do orgulho, que as tradições, e o dever público, vem antes dos interesses pessoais, que nossa soberania depende de nossa própria conquista e que essa depende dos sacrifícios que lhe são exigidos.




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sábado, 15 de agosto de 2020

A Revolução Acreana - Uma Guerra Anti-Imperialista no Coração da Amazônia

"Em 23 de junho chegaram-me às mãos alguns jornais que noticiavam como definitivo o arrendamento do território acreano e estampavam o teor do contrato então firmado entre a Bollvia e o "Bolivian Syndicate". Era uma completa expoliação feita aos acreanos.
Veio-me à mente a idéia cruel de que a Pátria Brasileira se ia desmembrar, pois, a meu ver, aquilo não era mais do que o caminho que os Estados Unidos abriam para futuros planos, forçando-nos desde então a lhes franquear a navegação dos nossos rios, inclusive o Acre. Qualquer resistência por parte do Brasil ensejaria aos poderosos Estados Unidos o emprêgo da força e a nossa desgraça em breve estaria consumada.
Guardei, apressado, a bússola de Casella, de que me estava servindo, abandonei as balisas e demais utensílios e sai no mesmo dia para a margem do Acre". - Plácido de Castro.

A 06 de agosto de 1902, dia em que se comemorava a independência da Bolívia, Plácido de Castro a cabo de 33 seringueiros, contando o filho do Cel. José Galdino, um dos maiores colabores civis da Revolução, toma de assalto a intendência boliviana em Xapuri no Acre. Ao que o intendente boliviano, Dom Juan de Dios Barrientos, desperta pensando se tratar dos festejos, diz: 

- Caramba! Todavia el temprano para la fíesta! 

Ao que de pronto responde Plácido de Castro:

- Não é festa, senhor Intendente. É a Revolução. 

Assim, é aberta a campanha de libertação do Acre, no dia seguinte, Plácido de Castro expõe aos moradores de Xapuri e a todos os brasileiros que acodem das áreas circuvizinhas, sobre as razões revolucionárias. A Bólívia firmara com um grupo estrangeiro, o Bolivian Syndicate, de capital estadunidense e inglês, o arrendamento do Acre, se utilizando do mesmo estratagema contra o Brasil, do que o Chile havia feito contra ela própria na Guerra do Pacífico, quando foi privada do seu acesso ao litoral. Isso implicaria não só a formação de uma colônia anglo-americana em pleno coração da Amazônia, como resultaria na livre navegação do rio Amazonas por países estrangeiros, oque foi intentado durante o curso de todo o Império e até aqueles dias pelos EUA e Inglaterra. 
"O direito de franquear a navegação dos rios interiores a tôdas as bandeiras. A capacidade para legislar, para manter até fôrças armadas dentro das terras que, afinal, se iam converter em insuperável ameaça à integridade da América do Sul. Poderes, enfim, que permitiriam aos novos donos da terra dispor, para a vida ou para a morte, de todos os que ali sacrificavam o melhor de suas energias. Aí estava, de fato, a única razão pela qual os representantes do govêrno boliviano haviam iniciado aquela política de cordura. Eram as pérfidas instruções recebidas dos magnatas, que a julgavam apropriada a ilaquear a boa fé dos acreanos.
Não era contra a nação vizinha que se iria lutar. Pretendesse a Bolívia, por seus próprios recursos, exercer a soberania em proveito de sua própria riqueza, não haveria como pensar em assestar armas contra uma pátria amiga. Mas, por detrás dela, escondia-se uma comandita de salteadores, que mesmo à Bolívia acabaria por estrangular. E diante de tão tenebrosa realidade, impunha-se desrespeitar até os tratados que a chancelaria brasileira assinara com todos os detalhes de garantia e legitimidade."
A incorporação do Acre ao Brasil é um fato singular na historiografia sul-americana: deve-se às populações do nordeste que desbravaram o território, isto é, que o povoaram e o fizeram produtivo, repetindo proeza dos bandeirantes dos séc. XVI e XVII. As secas nordestina e o apelo econômico da borracha, que nos fins do séc. XIX, começava sua trajetória de preços altos nos mercados internacionais, 

Como conseqüência inevitável da penetração portuguesa no Brasil, que já havia atingido se ponto máximo em meados do sec. XVIII, foi a ampliação do horizonte geográfico em direção ao oeste, atingindo terras espanholas, o que se tornou matéria dos tratados de Madrid (1750) e de Santo Idelfonso (1777). Com base em explorações da região, foram estabelecidas como fronteiras das possessões portuguesas e espanholas os leitos dos rios Mamoré e Guaporé.


Estado do Acre

Luiz Galvez Rodrigues, um bohemio espanhol radicado no Brasil, ex-consul da Espanha, "refugiado" em Belém após ser jurado de morte por um marido traido. Tornou público, após descobrir um acordo entre a Bolívia e os Estados Unidos, de arrendamento do Acre a um grupo de capital anglo-estadunidense.

Galvez, como membro consular da Espanha, que acompanhara todo desenrolar imperialista da intromissão dos EUA que resultou na "independência" de Cuba. Enxergou com clareza que sucederia ao Acre o mesmo fenômeno, seria apenas uma questão de tempo e um desenrolar natural que o Acre se constitui-se um Estado independente sob tutela ianque. Com graves repercussões não só para o Brasil como para todos os países circunvizinhos, incluso a própria Bolívia, ante um provável afã, dessa Companhia e dos proprios EUA intentarem uma saida para o pacífico, oque a inércia do Império nunca intentou.

Assim, tendo o Brasil por sua segunda Pátria, Galvez levou ao conhecimento dos governos do Pará e do Amazonas o documento, no qual os Estados Unidos se comprometiam a exigir do Brasil o reconhecimento dos limites do acordo de 1867 com a Bolívia, assim como o livre trânsito pelos rios e alfândegas dos navios daquela bandeira. Rezava no documento que, em caso de guerra entre o Brasil e a Bolívia, os EUA forneceriam a esta última todo o numerário e material bélico necessários, sendo então denunciado o tratado de limites de 1867; a linha limítrofe correria pela boca do rio Acre e os restantes territórios entre este ponto e a atual ocupação seriam entregues aos Estados Unidos, com livre posse.

O governo do Amazonas, presidido então por Ramalho Júnior, financiou secretamente uma expedição ao Acre, encabeçada por Galvez, para impedir ao máximo o domínio boliviano. Galvez, com o apoio entusiástico da população, proclamou a independência do Acre da Bolívia, em 14 de junho de 1899, em Empresa, acima de Puerto Alonso. Os revolucionários alegaram ao governo do Brasil que eram brasileiros e que colocavam acima de tudo as conveniências da Pátria; se o Brasil não queria o Acre, eles também não queriam ser bolivianos.

Apesar da brilhante administração de Galvez, com uma cada vez maior apoio da população, um grupo de seringalistas, tendo à frente o Cel. Antônio Souza Braga, decidiu depor Galvez e assumir o governo.

A Bolívia tomou providências enviando nova comissão escoltada por uma belonave exército brasileiro, ao qual o então governo de Prudente de Moraes, reconhecia os limites estipulados pela Bolívia, com uma coluna de 500 homens, por terra. O vaso de guerra ficou em Manaus, talvez propositalmente. A comissão boliviana, ao chegar ao Acre, foi atacada por Braga, que, assustado com as possíveis conseqüências de seu ato, apressou-se a devolver o governo a Luiz Galvez. Este continuou a exercê-lo com correção, preparando também uma força brasileira para enfrentar a coluna boliviana que em outubro de 1899 marchou para o Acre.


Volta do domínio boliviano

Em março de 1900 chegou a Porto Acre (antigo Puerto Alonso) uma flotilha da Marinha de Guerra do Brasil, com ordem de liquidar a revolução acreana. O Presidente Luiz Galvez, que se preparava para resistir aos bolivianos, não quis combater tropas brasileiras e cedeu, desapontado, retirando-se definitivamente da região.

Em setembro, quase um ano após a partida de La Paz, apareceram as novas autoridades bolivianas, acompanhadas de forças militares, após uma travessia épica dos Andes e da selva. Agiram com tato e moderação. Entenderam-se com o arremedo de governo formado durante a ausência de qualquer autoridade e começaram a cativar a população. Alguns bolivianos foram mortos de tocaia, e outros tantos padeceram das doenças tropicais da região.


A Expedição dos Poetas

A questão do Acre movimentou a opinião pública em todo o País, especialmente após a tentativa de Galvez. Os mais moços entusiasmaram-se e o problema acreano foi discutido amplamente em Manaus, Belém e mesmo na então capital Rio de Janeiro. O interesse pela causa levou a confabulações que resultaram na idéia de mandar uma nova expedição para libertá-lo das mãos estrangeiras.

A "Expedição dos Poetas" foi assim denominada pelo idealismo e entusiasmo de seus integrantes e também pela inexperiência militar. Seus organizadores, José Maria dos Santos, Efigênio Sales e Orlando Correia Lopes, no entanto, movidos por um sentimento cívico-militar, chamaram-na: "Expedição Floriano Peixoto".

Na véspera da partida, em fins de 1900, os revoltosos aprisionaram uma lancha militar boliviana denominada Alonso e trocaram seu nome para Rui Barbosa, integrando-a ao acervo bélico da expedição. Faltava aos "poetas" enquadramento militar mas sobrava-lhes desprendimento. Para prosseguirem fretaram duas "gaiolas" velhas, o Solimões e o Mucuripe, neles embarcando os recursos bélicos proporcionados pelo Presidente do Estado do Amazonas, Silvério Néri. Armados de um canhão que, empregado depois na campanha, acabou se perdendo. Os "gaiolas" subiram o rio Purus, lentos como tartarugas.

Durante a viagem os expedicionários chegaram à conclusão de que, apesar da disposição de todos, não havia um líder autêntico para coordenar as ações. Tentaram escolher alguém. Surgiu o nome de José Plácido de Castro, agrimensor riograndense que andava pela Amazônia e que participara da Revolução Federalista como chefe da expedição. Sabia-se que freqüentara as Escolas Militares de Rio Pardo e Porto Alegre. Passaram a procurá-lo em todos os portos. Afinal, quase ao termino da viagem, encontraram-no prostrado por uma crise de beribéri. Convidaram-no para chefiar a expedição. Recusou-se, como recusara participar do governo de Galvez. Entretanto, transmitiu-lhes alguns conselhos.

O advogado cearense Rodrigo de Carvalho foi aclamado Presidente do Estado Independente do Acre e Orlando Correia Lopes comandante-em-chefe da expedição militar. Esta, contudo, ficou sem um verdadeiro comando.

Atrás do comboio vinham outros barcos, aos quais não se permitia ultrapassagem para que não levassem mantimentos aos estrangeiros ocupantes do Acre. Somente o bloqueio tornaria insustentável a situação dos bolivianos, agravada pelas escaramuças no interior. A impetuosidade dos guerreiros-poetas não podia esperar mais dois dias pelo restante das tropas e resolveram atacar, com menos de 200 homens, apoiados pelo pequeno canhão e por uma metralhadora, cedidos pela Polícia Militar do Amazonas.

A tropa estava entusiasmada e as proclamações eram vibrantes. No lado boliviano, o ambiente era de apreensão. Não eram os expedicionários que os atemorizavam, mas o fantasma da fome. Alguns, como o Tenente-Coronel Pastor, propuseram evacuar o Acre. A maioria dos bolivianos, numa atitude digna de admiração, decidiu resistir, na esperança de que um milagre trouxesse a salvação.

Os expedicionários avançavam por entre a floresta e tinham de atravessar igarapés que transbordavam com a cheia. O transporte do canhão foi lento e difícil. A metralhadora enterrava-se nos lodaçais e a munição atingida pela umidade e pela lama ficou parcialmente perdida.

Os poetas-soldados tomaram posição próximo a Puerto Alonso na véspera do Natal. Iniciaram o ataque com uma clarinada. A lancha armada Rui Barbosa rompeu fogo para auxiliar os atacantes, que aguardavam o momento oportuno para o assalto final. Durante hora e meia bombardearam o fortim inimigo. Os bolivianos dispunham de chefes militares com experiencia da Guerra do Pacífico, e posteriormente a derrota, treinados por prussianos, à época a melhor escola de guerra tida no mundo. Em uma incursão ousada, o tenente boliviano Salazar silenciou o canhão adversário. O ímpeto inicial esmoreceu. O chefe brasileiro, Rodrigo de Carvalho, retirou-se da luta, ardendo em febre. Os bolivianos contra-atacaram debaixo de forte aguaceiro. Os poetas-guerreiros não suportavam mais aquele inferno de balas, insetos e atoleiros. Retiraram-se precipitadamente, abandonando todos os petrechos, inclusive o canhão e a metralhadora. As forças bolivianas conseguiram uma vitória esmagadora, mas não poderiam resistir à fome.

Depois de três dias o delegado do governo boliviano, André Munhoz, transmitiu autorização para que se tratasse de uma capitulação honrosa no dia seguinte. Ele pessoalmente não desejava sobreviver à derrota.

A bordo do Solimões, os elementos da Floriano Peixoto acusavam-se mutuamente. Os pedidos de demissão eram freqüentes. A expedição se desagregava. O Coronel Avelino Chaves, substituto de Orlando Lopes, que se demitira, nada encontrou para comandar. A indisciplina se disseminara, aliada ao desânimo e à vontade de regressar a Manaus.

No dia 25 de dezembro, os comandantes dos "gaiolas" parados por causa do bloqueio reuniram-se e enviaram um ultimato aos expedicionários. A 28 eles responderam por carta, revogando a interdição.

A situação agravava-se em Puerto Alonso. No dia 29, de madrugada, a guarnição faminta percebeu o barulho dos "gaiolas" e acreditou ter chegado o minuto fatal. Expediram-se ordens para a defesa do reduto, e cada qual ocupou seu posto para o derradeiro sacrifício. Lentamente os minutos se escoaram e os primeiros clarões da madrugada permitiram distinguir o "gaiola" Rio Afuá com uma bandeira branca drapejando à brisa. Gritos de "Viva a Bolívia!" partiram do navio.

Salvara-se por questão de horas o domínio boliviano. Firmar-se-ia por muito tempo, talvez para sempre, se a Bolívia não tivesse tentado arrendá-lo ao Bolivian Syndicate.

Com a derrota dos "poetas", sobreveio a calma. Os acreanos que faziam emboscadas no interior guardaram suas armas. Os andinos sentiam que a região era como um vulcão prestes a explodir.


A Pátria Chama!

Plácido de Castro estava demarcando o seringal Victoria', quando soube do acordo pelos jornais, e viu nisto uma ameaça à integridade do Brasil. Enquanto arregimentava combatentes, o governo do Brasil reconheceu os direitos bolivianos sobre o Acre. Iniciou então um movimento armado contra a Bolívia, pela posse da região.

O governo boliviano enviou um contingente de 400 homens, comandados por Rosendo Rojas. Em 18 de setembro, Plácido, com 60 seringueiros, enfrentou a tropa boliviana em "Volta da Empreza" (um distrito atual de Rio Branco), resultando em 22 mortos e 10 feridos entre os seus e 10 mortos, incluso um capitão, e 8 feridos pela parte dos bolivianos.
Angelina Gonçalves, heroina da
Revolução Acreana

É também, findo esse primeiro combate, o trágico e heróico, episódio envolvendo Angelina Gonçalves de Souza, que ao ver seu marido, Sebastião Ferreira, ambos do Ceará, ser assassinado por bolivianos, parte furiosa, contra seus assassinos, toma a arma de um dos soldados e atira, ferindo Rojas, rendida, os soldados pedem pelo seu fuzilamento ao que cavalharescamente responde o comandante boliviano: "- mujeres assi non se mata. Si Plácido tuviera 10 mujeres con esa coragen, conquistaría toda Bolivia".

Foi nesse malogrado batismo de fogo, que Plácido de Castro, mesmo na derrota, tira lições. Observara que quase todos os mortos e feridos, de sua tropa, usavam uniformes brancos, os que vestiam zuarte, sairam ilesos, daí toma a resolução de vestir todos de "azulão", abolindo inclusive, os distintivos: galão do punho e do "bonet" de seus oficiais, afim de evitar serem alvos das tropas inimigas.

Se Plácido não fora vitorioso, esse primeiro combate, ao menos impediu a evolução do exército boliviano, que se entrincheira no local. Plácido consegue reunir mais voluntários, segue para Panorama com 130 homens. Uma importante adesão de 100 novos voluntários, homens do Cel. Antunes de Alencar, se somam, após uma quase desistencia ao saberem da derrota do combate da Volta da Empreza.

24 de setembro de 1902, Combates de Telheiros e Bom Destino.

fomos atacados por cerca de 120 soldados bolivianos, sob o commando do Coronel Manuel Causeco, e somente a derrota deste oficial constitui uma vitória dupla, por isso que é considerado o Napoleão boliviano.

Dos 96 soldados sob o meu comando, somente 50 compareceram ao combate e apenas 22 puderam operar de acordo com as posições em que foram colocados, sendo 14 no quartel que previamente fôra entrincheirado, oito nas trincheiras, inclusive os respectivos commandantes e sete que se achavam commigo, e Capitão Martinho Francisco de Souza em serviço fóra do acampamento, com os quais na ocasião do ataque protegi a retaguarda do flanco esquerdo, em cujo serviço muito se destinguiu este oficial, por quem mandei reconhecer o campo abandonado pelo inimigo meia hora depois de ter cessado o fogo.

Em 5 de outubro, Plácido volta a atacar os bolivianos em Volta da Empresa, por intermédio de duas frentes, uma a sua vanguarda, e a outra pelo Cel. Alencar. Após 11 dias, numa penosa luta de trincheiras, o comandante boliviano Rojas se rende com 150 soldados e contando 30 mortos em suas fileiras.

A captulação de Rosendo Rojas, ganha contornos cavalharesco, como antes, já lhe tinha assinalado o episódio de Angelina Gonçalves, quando polpou sua vida:

Rojas entrega sua espada a Plácido que recusa, dizendo:. 

- Não, Coronel. Guardai a vossa espada, pois sois um bravo.

Rojas então diz à Plácido de Castro que a aceite, senão como um troféu, ao menos como lembrança de amigo. Os dois se congraçam dando as mãos.

A sinceridade de Plácido de Castro conquista as simpatias dos bolivianos, mostrando que a entrega do Acre a um conglomerado estrangeiro, representava não só para o Brasil, como para a Bolívia um "cavalo de troia" que resultaria na perda de soberania de ambos os países. Nesse sentido é elucidador a Carta enviada pelo delegado boliviano ao seu Presidente:
" [....] El Acre nominalmente es de Bolívia; pero materialmente es del Brasil, todo contribuye a ello: las imensas distancias y obstaculos que lo separan del resto del país, la poblacíón extraña que lo puebla, la falta de vias de comunicación dentro del mismo territorio y finalmente la imposible adaptación de nuestra raza a este clima mortífero. Los bolivianos, en esta regíón nos sentimos tan extraños, como nos sentiriamos en las más apartadas colonías del Asia, además nos son aqui adversos la naturaleza y los hombres: cada una de nuestras campañas representa el sacrifício de más de una centena de victimas. Que ventajas reporta Bolívia en cambio de todo esto? Ninguna: las ingentes exogaciones de nuestro Tesoro Nacional y el gasto de energias y fuerzas sociales son esteriles, y lo serán en el futuro, si nos fuese dable conservar este territorio por mucho tiempo. Pueblos poderosos no han podido manter bajo sus domínios a seres de otras razas y otros costumbres, y nosotros que somos un pueblo debil y embrionario, no podemos contrariar una ley historica comprobada a cada paso, y mucho mús si se tiene en cuenta que son catorze millones de almas las quales por medios directos o indirectos, procuran expulsarnos de este territorio regado con sangre e cubierto de luto. En vista de estas razones, me permito aconsejar a mi pais, por intermedio de su digno mandatário, que renuncie a la posesión de un territorio en el que tantos Bolivianos han sufrido y sufren; en el que tantos han descendido a la tumba, sin poder deposítar el ultimo adiós en los brazos de los seres que más amavan en el mundo. Si al Brasil apetece el Acre, que lo posea en buena hora. Bolívia debe cederselo, haciendo con el un convenio que le sea honroso y sea equitativo. [.....]" - Lino Romero, 25 de outubro de 1902.

Batalhas da Campanha da Revolução do Acre

Plácido de Castro se Faz Castilhista 

Em 15 de novembro, Plácido comemora a proclamação da Republica. A ocasião é simbolicamente importante, porque ilustra sua definitiva adesão aos ideais republicanos, ele de familia monarquista e que lutara na Revolução Federalista, pelos maragatos. É a partir desse episódio, que passa a usar o tradicional lenço castilhista branco.

A adesão de Plácido, nesse tocante, não foi algo meramente oportunista. Plácido descendia de uma tradicional linhagem de oficiais do exército imperial, seu avô tomara parte na campanha no uruguai, e seu pai morreu na guerra do paraguai, sua formação militar se deu na escola de cadetes de Porto Alegre, nesse momento, já um importante reduto de difusão das idéias republicanas. Em plena Revolução Federalista, não adere posição, se mantem alheio as questões políticas, muitos de seus colegas e amigos eram republicanos. Por se manter neutro, é tomado como "suspeito" pelos oficiais que aderem amplamente ao lado republicano, privado de portar armas e recolhido no quartel a atividades administrativas. É quando, em revolta, deserta, e toma o lado dos maragatos. Firmado a paz, vai pro Rio de Janeiro, onde se forma agrimensor, na Escola Politécnica, o maior reduto de positivistas no Brasil, lá ao que parece, firma intimamente convicções republicanas, e daí segue para Manaus a convite de amigos que lá residiam, à época já no "boom" da borracha e com amplas possibilidades de trabalho.

No mesmo dia 15, Plácido de Castro  marcha do Iquiry com uma força de 160 homens da guarnição, em perseguição a uma força boliviana que chegara ate “Gavião”. Perseguindo, na retaguarda, o inimigo, esse entrou na “Guarnição de Santa Rosa” a 17 de novembro, a qual Plácido o ataca dia 18 ás cinco horas da tarde, pela margem direita do Rio Abuña, com somente 70 homens, visto ter sido o resto da força impossibilitado de passar o rio acima de Santa Rosa, como estava assentado. Depois de quatro horas de luta, varando a noite, terminando às 21h, foi a guarnição boliviana completamente derrotada pelo incendio e destruição de suas posições principais

Em 07 de dezembro,  Plácido ataca forças bolivianas no seringal “Costa-Rica”. O combate dura apenas trinta minutos. Os bolivianos fazem uma primeira descarga quase à queima roupa, e que foi respondida pelos brasileiros quase que simultaneamente, sendo então a posição tomada por carga de infantaria: "a facão" pelos cearenses, ocasionando fortes perdas entre os bolivianos que debandaram deixando para trás armas, munições, arquivos, etc.

Este combate fortaleceu em Plácido de Castro a convicção de estar a frente de homens que não só abraçaram a revolução como "a defendem com abnegação pouco vulgar". Voltando a Xapury, após 16 dias de marcha forçada sob chuva intermitente, anota Plácido: "O caminho agora é Porto-Acre. Para lá seguiremos impavidos, serenos e arrogantes." - 28 de dezembro de 1902.


O Início da Conquista de Porto-Acre:

Em 05 de janeiro de 1903, o navio boliviano "Rio Afuá", é tomado de assalto pelas tropas acreanas, agora batizado como: "Independência". E é empregado no transporte de fôrças, que se amontoam em pontos cada vez mais próximos do "Puerto". Concomitante, ao entringeiramento das tropas de Plácido em torno de Porto Acre.

Em 15 de janeiro de 1903, às 09 da manhã, se inicia o assédio a Porto Acre, sob 5 horas de tiroteio, em que é ferido de morte o Tenente-Coronel boliviano Manuel Canseco, e a ocupação vantajosa de trincheiras a menos de 100 metros do inimigo, a custa de 50 mortos pelo lado brasileiro.

A posição se torna estática, impele maior tempo e maior demanda de mantimentos e armamentos, já escassos, e que perigava assim, se verem obrigados a levantar o cerco. Nesse cenário é que ocorre um dos mais heróicos atos dessa guerra e mesmo de nossa história. Para manutenção do cerco era preciso de mais mantimentos, e para isso, dinheiro, e dinheiro no Acre daqueles tempos era borracha, que se encontrava abarrotada no navio tomado aos bolivianos "Independência", outrora, "Rio Afuá". Ocorre que os bolivianos, a exemplo de Humaitá, na guerra do Paraguai, fizeram bloquear o rio com uma corrente a impedir sua navegação.


O Supremo Sacrifício!

Nos vestíbulos da noite, quase ao raiar do dia, ainda com o rio envolto numa bruma, Plácido de Castro explana a situação para a sua tropa, e conclama voluntários para serrar a corrente e abrir a passagem pelo rio. O primeiro soldado da fila dá um passo à frente, para receber das mãos de Plácido de Castro a lima com que tentará serrar a corrente, Recebe-a de cabeça erguida, toma-a entre os dentes. Saca a túnica de azulão, e, joga-se ao rio, nadando impetuosamente para a margem onde se prende a extremidade da cadeia a ser desvencilhada.

Sob uma saraivada de balas da fuzilaria inimiga, o heroico soldado serra a corrente, indiferente aos tiros que lhe precipitam. De repente, a mão heróica relaxa. A lima escapa. E o corpo do destemido seringueiro soçobra na voragem das águas barrentas, que o seu substituto já principiou a espadanar com os braços, para prosseguir na faina interrompida pelo companheiro imolado. Um a um, o pelotão arroja-se inteiro na épica missão. Até que o último dos incríveis estoicos, levou consigo a satisfação de ver que o destino lhe reservara a glória de arrastar com seu corpo, para o fundo do rio, o diabólico obstáculo que seu chefe mandara derrubar.

17 de janeiro, meio dia, o navio "Indepêndencia", a que estava incubido o Cel. Alencar, ainda não trespassara. Chega um bilhete para Plácido de Castro, que lê para seu comando maior:

- É do Coronel Alencar. Pede-me êle que o dispense do comando da passagem do "Independência". Alega achar-se doente do fígado e desconfiado de estar atacado de pneumonia.

Dobra o bilhete e calmamente se dirige aos companheiros:

- A êste conjunto confuso de enfermidades, nas ocasiões dos grandes lances, eu costumo chamar "pusilanimite aguda".

O tiroteio volta, então, à intensidade da hora do amanhecer. Plácido afasta-se, sem nada mais comentar, disposto a assumir em pessoa o pôsto de que Alencar se esquivara. Cai a noite, cortada por relâmpagos que, de vez em quando, iluminam as trincheiras já muito aproximas umas das outras.

Madrugada alta, Plácido de Castro continua a dar os últimos retoques na preparação do plano traçado para forçar a passagem do "Independência" na garganta de "Puerto-Acre". O navio se encontra transformado em originalíssimo "encouraçado". Em cada bordo, apertadamente arrumados, 15.000 quilos de borracha. Por trás de cada muralha de goma, vinte e cinco homens se entrincheiram.

Ao claréar do dia 19, o acampamento boliviano amanhece envolto numa densa bruma. Não se consegue enxergar dois metros adiante, tamanha a cerração. Quando quase simultâneamente, desencadeia-se um violento tiroteio de ambos os lados. O lance tem uma grandiosidade, cujo sabor épico é descrito de próprio punho por Plácido:
"A passagem foi feita garbosamente, debaixo de uma estrondosa salva de balas. belo aspecto apresentavam as linhas sitiantes e sitiadas, formando duas curvas concêntricas de fumo [....]
"Os vivas entusiastas irromperam por tôdas nossas linhas com o luminoso rufar da fuzilaria. Os atíradores de bordo tanto atiravam como soltavam gritos de cego· entusiasmo; o corneteiro tocava marchas de guerra; enfim, o navio apitando sem interrupção, - formavam o conjunto ele uma verdadeira orquestra guerreira.
"A perspectiva que apresentava Pôrto-Acre, circunscrito por uma grinalda de fumo, ornada aqui e ali pelas nossas bandeiras, parecia dar a nota mais bela dêsse quadro sublime que poucas vezes nos é dado apreciar e que, apesar de se nos apresentar empolgante, seria talvez apreciado com horror por um observador calmo e alheio".
23 de janeiro, após 8 dias de combates, um emissário boliviano vem propor uma trégua para enterrar os mortos. Plácido de Castro, desconfia do real objetivo dos bolivianos, sondar as posições de suas tropas. Ao que responde:

 - Senhor, neste momento estamos discutindo a sorte dos vivos. Mais tarde trataremos dos mortos.

E após, uma breve pausa, complementa, com uma ironia que lhe era peculiar:

- Porque eles não ficarão insepultos por muito tempo.

Logo que o embaixador boliviano regressa, Plácido de Castro levanta sua posição, ante-vendo, que seria alvo dos bolivianos naquele local. Assim, relata o acontecido:
"O meu quartel-general era em um ponto muito acessível às balas e distante das trincheiras inimigas apenas 300 metros. Acontecia, porém, que êsse lugar estava cercado por muitas bananeiras, e eu podia, sem ser visto, ver cômodarnente o inimigo de muito perto.
"Durante a conferência com o Sr. Santivafiez, notei que êle examinava atentamente o local e olhava insistentemente para as suas trincheiras, talvez admirado de me achar ali a cômodo, sem ser hostilizado. "Fracassada a sua missão, regressou êle às suas trincheiras, mas apenas nos deu as costas, fiz retirar dali o meu acampamento para outra posição bem abrigada.
"Ao se prosseguirem as hostilidades notei que não fôra em vão que o Sr. Santivai\'ez havia estudado a posição em que me achava, pois as bananeiras foram varridas a bala."O fogó recrudesceu de parte a parte; era tão intenso como no primeiro dia de combate" 
24 de janeiro, os bolivianos içam bandeira branca de rendição, quando do encontro entre Plácido de Castro e o comandante boliviano Don Lino Romero, esse observa surpreso:

- Pero usted es muy joven.

Plácido de Castro contava à época 29 anos. Ao que Plácido lhe responde:

- Coronel, esta é a idade mais adequada para as aventuras da guerra.

Enquanto se elaborava a ata da rendição, os oficiais e funcionários da Delegação se aproximam, insensivelmente, e palestram com Plácido de Castro, com uma indisfarçável simpatia pela sua pessoa. Na conversa, Plácido explicava com naturalidade que nada tinha contra a Bolívia. Elogia-a e exalta a bravura dos bolivianos. Sua guerra é contra o "Bolivian Syndicate" que de "Bolivian" só tem o nome. Pois, se a famigerada organização concretizasse seus planos de conquista, não só os acreanos, mas também os bolivianos sucumbiriam entre as garras do capitalismo internacional.

Como anteriormente, com Rojas, Plácido de Castro se recusa a receber a espada de Don Lino, dizendo-lhe:
- Senhor Dom Lino Romero, eu me recuso a aceitar a consumação desta praxe. A cerimônia da entrega da espada do vencido é um ato muito apetecido pelos grandes exércitos em guerra. Mas não confortaria os nossos corações receber as armas com que, bravamente, nos hostilizaram e arrancaram a vida a tantos companheiros, cuja perda hoje choramos [....] Primeiro, porque seria um ato que aumentaria o infortúnio daqueles já infortunados pela derrota. Segundo, porque nós só lutamos aqui pela emancipação do Acre, ameaçado por uma organização de capitalistas estrangeiros. E não contra a Bolívia, pátria digna e honrada como as que mais o sejam. Aos vencidos, preferimos abrir os braços de amigo. Guardai a vossa espada. 
O comandante boliviano registra o modo digno como foram tratados pelos brasileiros:
"En honor de la. verdad, no se oyó de entre aquellos una frase hiriente y por el contrario se mostraron respectuosos, comedidos y atentos, ayudandonos muchos de ellos a cargar los equipajes. Gran parte de ellos resultaban ser conocidos nuestros y amigos y se aproximaron con solicito cuidado y perguntaban si no estabamos heridos. Ellos también sentianse fatigados y ansiaban descansa".
Pela manhã, dia 25, Plácido de Castro se dirigiu imediatamente para bordo do "Independência", aonde se encontravam as tropas bolivianas: "Con la más perfecta cortesia", apresenta aos vencidos os votos de boa viagem. Manda levantar ferro, despede-os amàvelmente, prometendo que os visitará em ''Caquetá", onde irão demorar algum tempo. E cumpriu rigorosamente o prometido. Durante os catorze dias que os prisioneiros passaram ali, aguardando transporte para Manaus, Plácido visita-os com assiduidade, segundo o testemunho insuspeito da autoridade boliviana:
"El Coronel Castro venin de Puerto-Acre a visitarnos con frecuencia y enterarse de nuestras necesidades que tampoco podia él remediar.
"Permanecia con nosotros largo rato, departiendo faluiliarmente y escuchnndo las qucjus de nuestros oficinles y soldados sobre agrnvios y mortificaciones de los tripu· Jantes, a quienes mandnba castigar rigurosamente.
"La frecuenciu del trato y la gentileza de su comportallliento engendró el <~nriflo. Nuestros soldados se ponian todos de pié para sallldarlo, y nos acostumbrandos a ver en él un digno adversario de la vispera y un excelente amigo de la hora presente. ". "Notabamos el profundo respecto, la adoración que le profesaban todos los suyos. Parece que hasta sufrian con agrado los castigos que solia imponerles. "Y asi se explicaba como este joven riograndense, todavia en la mañana de su vida, ha podido a su paso le  levantar un ejercito y convertir en soldados a los timidos siringueros"
Plácido de Castro já se fazia quase um ídolo dos prisioneiros. A tal ponto que os próprios bolivianos, pela bôca do seu escriba oficial, podiam afinal lavrar uma sentença definitiva para o imortalizar na história da revolução contra o "Bolivian Syndicate":
"Es preciso confesar, ya que escribimos para la historia con la serena imparcialidad que ha menester quien se ocupa de los hombres y de las cosas, que a no ser Castro el Jefe de la revolución, habria fracasado ésta en sus comienzos". 
Dos efetivos usados para a tomada de Porto-Acre, conta-se pelo lado brasileiro 670, e boliviano mais de 400. Findo o qual, Plácido de Castro foi aclamado governador do Estado Independente do Acre, sediando-o em Puerto Alonso.

Concomitante a esses acontecimentos, no dia 24 de janeiro de 1903, o Brasil toma, pela primeira vez, uma atitude viril em face da luta acreana. O Barão do Rio Branco em uma circular telegráfica para La Paz, contesta a legalidade do contrato da Bolívia com o Bolivian Sindicate, posto ser uma área contestada tanto pelo Brasil como pelo Peru, portanto qualquer contrato sobre aquela área seria nula. Com o agravante de estabelecer uma conceção, em terras habitadas por brasileiros, similar a imposta a África, indigna, aos países sul-americanos. Contesta também a interpretação lata que o Brasil vinha mantendo sobre o Acre com a Bolívia desde 1867, a vistas de manter boas relações com a mesma, lhe franqueando a navegação do Amazonas e do Paraguai, e que não mais faria, e que doravante estabeleceria os verdadeiros limites entre ambos, que seria o paralelo 10º20'.

Assim a certa altura do mês de fevereiro, Plácido de Castro é comunicado que o Governo Federal ordenara a ocupação do Acre, ao norte do paralelo 10° 20', a parte do território chamada: "Acre Setentrional".

Essa força expedicionária era encabeçada por um divisão naval composta pelo couraçado "Floriano", cruzador-torpedeiro "Tupi", caça-torpedeiros "Gustavo Sampaio" e outros barcos de menór importância, sob o comando do Contra-Almirante Alexandrino de Alencar. E uma divisão do Exército integrada pelas forças de artilharia e de infantaria de Recife, Manau e Belém, no total de 3.000 expedicionários sob comando do General de Divisão Antônio Olímpio da Silveira, veterano da campanha do Paraguai e de Canudos.

Diante da situação, Plácido, que se encontrava enfermo, manda toda a tropa revolucionária para o Alto-Acre, soh o comando de um oficial de sua confiança, o Tenente-Coronel Jose Brandão a bordo do "Independência", com ordem de aguardá-lo em Xapuri.

Nesse interim, o então presidente da Bolívia, general José Manuel Pando, decide acabar com a revolta e, segue pessoalmente no comando das tropas. Plácido de Castro, toma ciência de rumores, de que forças bolivianas estariam se aquartelando em Tauamanu. Recebe a notícia de que a expedição do general Olímpio da Silveira chegaria em uma semana.

Em 03 de abril, em "PôrtoAcre", Plácido de Castro recepciona o General Olímpio da Silveira, que se mostra lacônico, cheio de reserva, indisfarçavelmente preocupado em demorar pouco em "Pôrto-Acre". Fala sempre de modo vago. Não entra a fundo no assunto, como seria lógico, visto que Plácido de Castro incarnava a própria revolução. A despedida, Olimpio, limita-se a deixar nas mãos de Plácido um pacote de jornais da metrópole, dando conta que ele, General Olimpio, assumia a governança do Acre.

A l0 de abril, uma semana após o encontro de "Pôrto-Acre", chega às mãos de Plácido de Castro um ofício do General, que vinha confirmar tudo que insinuara, sem caráter oficial. Plácido se contem, e medita no que poderia salvar da Revolução, decide então baixar um decreto, transferindo a sede do Estado Independente do Acre para Xapuri, além dos limites do paralelo 10º20', portanto fora da órbita de competência do General Olimpio.

Plácido de Castro, de passagem pela "Emprêsa", que se tornara a sede do governo militar de Olímpio, este lhe confirma que a 26 de janeiro, ante a notícia de capitulação de Porto-Acre, partira de La Paz uma força comandada pelo próprio Presidente boliviano José Manuel Pando e seu ministro da guerra Ismael Montes. Plácido afirma-lhe que, até aquele dia, seus elementos de observação mais distantemente colocados desmentiam que as fôrças do General Pando já houvessem atravessado o rio Abunã.

Todavia, estava deliberado a assumir uma atitude, logo que chegasse a Xapuri.

- Estou decidido a invadir a Bolívia novamente, pelo Tauamanu, para levar ao inimigo a perturbação que êle nos traria se invadisse o Acre Meridional.

O General pondera que seria conveniente evitar qualquer gesto capaz de agravar a situação de litígio entre os dois países amigos:

- Coronel Plácido, por que, em vez disso, não espera uma solução do próprio Governo Federal?

A resposta de Plácido de Castro é pronta e sincera:

- Simplesmente, General, porque não tenho a certeza de que esta solução venha algum dia.

Plácido de Castro parte, com a nítida percepção do quão negativa era a condução das tropas de ocupação pelo general Olímpio.

A meio caminho de "Xapuri", recebe o caudilho importantes notícias procedentes do rio Caramanu, onde mantinha, permanentemente, um destacamento para observação e vigilância. Pelas informações e por seus cálculos, as fôrças do Presidente General Pando deviam subir pela zona de "Pôrto Rico".

E lá, começa o assédio, 4 dias de combates intensos, e as forças bolivianas começam a dar mostras de debilitação.  O exército do General Pando se encontra inapelavelmente sitiado. Pela frente e pelos flancos, envolvem-no os 1.200 acreanos sob o comando de Plácido de Castro. Na retaguarda, um grande lago cujo limite extremo se continua por um pantanal intransponível.

A rendição do exército boliviano era iminente. Questão de mais um golpe de habilidade, que ele chega a esquematizar mas não pode levar a têrmo, porque um acontecimento de todo inesperado modifica integralmente a situação. Chega o Major Gomes de Castro, do Quartel-General das forças de ocupação, que trás um ofício do General Olímpio da Silveira para Plácido de Castro, lhe dando ciência do convênio diplomático entre Brasil e Bolívia, estabelecendo um modus vivendi.

Logo a seguir, Plácido tomara conhecimento, através do alferes Azevedo Costa, também do exército de ocupação da “Empresa”, de um ofício do general Olímpio da Silveira para o presidente Pando, propondo uma conferência direta com o boliviano, a realizar-se dentro de três dias, o que, na realidade, jamais ocorrera.

Plácido de Castro resolvera, então, retornar ao Acre para falar com o general Olímpio, o que fizera cavalgando o mais rápido possível. No trajeto, depara-se com os demandos de Olímpio.

Encontrando um oficial boliviano que, passando pelos acampamentos acreanos, dirigira-se a “Porto Rico”. Perguntado por Plácido com que licença um boliviano atravessara um caminho estratégico que acabara de ser aberto, um oficial acreano que o acompanhava respondera que o fazia com ordem do general Olimpio.

Ao chegar ao Alto Acre, não encontrando o general Olimpio, Plácido retornara para providenciar mantimentos para as tropas que encontravam-se lutando no Tauamano, já sofrendo com a fome, que começara a ser sentida.

Com respeito, o Caudilho dera ordens ao ajudante-general do exército acreano que fizesse reunir os muares existentes na vizinhança e os enviasse com víveres para as tropas acreanas. Um proprietário recusara-se a cumprir estas ordens, já influenciado pelos oficiais do general Olímpio, que também estariam estimulando os soldados de Plácido à desobediência. Plácido mandara prender o tal proprietário e recolhê-lo à guarda da força. Os oficiais do Batalhão do Exército brasileiro, sob o comando do major Carneiro, ao tomar conhecimento do fato, foram libertar o preso, o qual aproveitara a confusão para evadir-se. Segundo Plácido de Castro registrara em seus apontamentos, alguns soldados acreanos, feridos pela indisciplina que lhes sugeriram os oficiais do Exército, passaram a dividir-se. Uma parte deles continuara a acatar as ordens dos oficiais acreanos, enquanto outra parte passara para o acampamento do 27° Batalhão do Exército, cujo comandante oficiara ao general Olímpio, relatando os acontecimentos da maneira que lhe conviera.

No princípio de 1904, o Acre passou a condição de "Território Federal", o primeiro da história brasileira. Exemplo de uma nova instituição político-administrativa, não previsto na Constituição, pelo qual seria gerido diretamente pela Presidência da República, a quem caberia nomear seus governantes e arrecadar os impostos.

Em 1906 Plácido foi nomeado governador do Território do Acre. Depois, viajou para o Rio de Janeiro, para visitar a família. Na então capital federal, ofereceram-lhe os galões de coronel da Guarda Nacional, mas Plácido rejeitou. Quando de seu retorno ao Acre, foi nomeado prefeito da Região do Alto Acre.

Aclamado e amado pelo povo, Plácido de Castro tornou-se uma ameaça para a oligarquia seringalista, ante seu intento de distribuir terras aos veteranos da campanha. concorria para o agravamento do caso, a má gerência da presidencia da República, que nomeava sucessivamente militares, magistrados ou políticos derrotados em eleições para governar o primeiro Território Federal.

Em 1907, através do Tratado de Petrópolis, o Acre foi anexado ao Brasil e o Estado Independente foi dissolvido.

Afastado do poder, mas ainda com muito cacife político, Castro virou seringalista (dono de seringal), até que resolveu voltar à política defendendo a condição do Acre como Estado e não como se encontrava, como "território federal". Em agosto de 1908, a situação era de conflito entre ele e o prefeito de Alto Acre, o coronel Gabino Besouro, que o acusou de planejar uma revolta armada. Nesse cenário, depois de comemorar o quinto aniversário da Revolução Acreana, deixou Rio Branco em direção ao seu seringal, o Capatará, com seu irmão, Genesco, dois amigos e um funcionário. No dia 9, o grupo cruzou o Igarapé Distração preocupado com o alerta de Castro, conhecedor da região: "Este é o lugar das emboscadas". Mal atravessaram, foram recebidos por 14 homens armados. O militar levou dois tiros à queima-roupa: um no braço, outro que perfurou seu pulmão esquerdo. Ainda assim, conseguiu esporear o cavalo e fugir. Foi socorrido pelo seringalista João Rola, que apareceu com 20 homens e o levou para sua casa, no seringal Benfica. O local foi atacado à noite e no dia seguinte pelo mesmo grupo da emboscada. Antes de morrer, às 16h do dia 11 de agosto, aos 35 anos, pediu ao irmão que levasse seus ossos do Acre. Segundo Genesco, estas foram suas últimas palavras:

- Direi como aquele general africano: "Esta terra que tão mal pagou a liberdade que lhe dei é indigna de possuí-los". Ah, meus amigos, estão manchadas de lodo e sangue as páginas da história do Acre...








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