domingo, 17 de junho de 2012

Guerreiros de Selva - Os Guardiões da Amazônia Brasileira.


O Centro de Instrução de Guerra na Selva - CIGS, tem sido nos últimos anos um dos mais importantes atores no desenvolvimento da chamada “Estratégia de resistência” do Exército Brasileiro, para a eventualidade de um confronto militar entre nossas forças e as de um país ou coligação de países com poderio militar bem superior.

Com esse fim desenvolveu todo um arcabouço de treinamento, táticas e provimentos  adequados para a Infantaria de Selva do Exército Brasileiro, tornando-se um centro de excelência, reputado como a melhor formação de combatentes de selva em todo o mundo.

PREPARAÇÃO:

Na selva, a sensação de ter o metabolismo alterado é massacrante. Apesar de estar sempre molhado, seja pela chuva, pela travessia dos inúmeros cursos d’água (rios e paranás), lagos, igapós e igarapés, ou simplesmente pela transpiração, o combatente está sempre com sede. Os cuidados com a alimentação devem ser enormes, pois problemas intestinais que provocam diarréia agravam o quadro. A perda de oito, dez e até 20 quilos em operações prolongadas na selva é comum para os guerreiros de selva.

Exatamente devido ao impacto que o ambiente provoca sobre o corpo do combatente de selva, um dos principais trabalhos exercidos no CIGS para aumentar a eficiência do combatente de selva é aquele desenvolvido em seu Laboratório, subordinado à Divisão de Saúde. Por meio de parceria com a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Geral de Manaus (HGeM), é desenvolvido o Projeto de Pesquisa e Monitoramento Clínico-Laboratorial do Combatente de Selva. Este projeto tem por objetivo acompanhar o perfil corporal, hematológico, urinário, parasitológico intestinal e bioquímico dos alunos do COS, proporcionando dados valiosos sobre as alterações que a internação prolongada do combatente na selva produz no organismo humano. Os resultados desta pesquisa vêm sendo usados para a otimização do desempenho do guerreiro de selva brasileiro.

O papel do CIGS e de sua Divisão de Doutrina e Pesquisa no aperfeiçoamento do combatente de selva brasileiro vai muito além de pesquisar e ensinar a construção e uso de abrigos e armadilhas, emprego de armas e equipamentos, etc. Chega-se ao nível de detalhar, por exemplo, o tipo de tecido ideal para uso nos uniformes, a técnica de amarração ideal dos cadarços usados nos coturnos, a composição da ração operacional, o projeto de uma rede de selva adequada, e muitos outros.

A definição de um tecido ideal para ser usado na confecção dos uniformes foi tarefa para vários anos, até se chegar ao modelo atual, de forma a permitir a secagem rápida do uniforme, constantemente exposto à umidade, sem que apresente desconforto ao militar. O mesmo empenho foi aplicado ao estabelecimento da técnica de amarração dos cadarços dos coturnos, de modo a permitir sua rápida desamarração ou mesmo o corte com faca, para que o combatente possa liberar rapidamente seu equipamento e nadar com maior desenvoltura, se isso significar sua sobrevivência na hipótese de, por exemplo, cair em águas profundas e turbulentas.

A definição da composição da ração operacional também mereceu por parte do CIGS intensos estudos, incluindo a análise de rações utilizadas por exércitos de outros países. A ração do exército americano, por exemplo, foi analisada e testada no ambiente da selva amazônica. Devido ao seu elevado teor de gordura, foi constatado que o combatente de selva que fizesse uso dela estaria fora de combate em menos de três dias, com sérios problemas intestinais e diarréia. A ração brasileira, além de estar adaptada ao paladar do soldado brasileiro —com pratos como arroz e feijão, carne assada e frango , tem elevado teor protéico e de fibras.
Também faz parte das responsabilidades do CIGS instruir os participantes dos Cursos de Operações na Selva sobre o correto uso dos recursos da floresta, seja para a construção de armadilhas (voltadas aos oponentes, ou à caça e pesca), cuidados com animais peçonhentos, e como usar animais e vegetais para os mais diversos fins, incluindo a alimentação. Frutas e animais comestíveis abundam na floresta, assim como os venenosos ou tóxicos. Note-se que, entre os animais considerados comestíveis, encontram-se algumas larvas e insetos de aspecto nada apetitoso para o homem da cidade.

Se a selva já é extremamente perigosa e desconfortável durante o dia, à noite o perigo e o desconforto são ainda maiores. Para permitir que o guerreiro de selva possa manter e recuperar suas energias, com repouso e conforto adequados, e mantendo-se a salvo de mosquitos, ofídios, aracnídeos e outros riscos, o CIGS não mediu esforços para desenvolver uma rede de selva ideal. O modelo aprovado e em uso atualmente possui mosquiteiro, toldo para abrigo da chuva (que, sendo impermeável, também pode ser usado para recolher a água da mesma), compartimento na parte inferior para armazenar as armas e os equipamentos individuais do combatente, e tirantes de lona resistentes nas laterais, que permitem sua transformação em uma maca improvisada, simplesmente passando-se duas hastes de madeira nas laterais.

ARMAMENTO:

Diversas armas, táticas e equipamentos vêm sendo exaustivamente testados, modificados ou aperfeiçoados pelo EB nos últimos anos, com vistas ao seu emprego na guerra de selva. Muitos são aprovados e muitos são recusados. A constatação de que equipamentos receptores GPS não funcionam corretamente sob a densa cobertura vegetal da floresta, por exemplo, fez com que o Exército restringisse seu uso somente à instrução e a casos nos quais a determinação de coordenadas precisas é imprescindível, como numa evacuação aeromédica. Nesta situação, entretanto, o militar com o receptor seria obrigado a se deslocar até uma clareira ou até a margem de um rio para usar o equipamento. No dia a dia das operações de selva do Exército, o que se usa são as tradicionais cartas e bússolas. Forças excessivamente dependentes de recursos tecnológicos como o GPS poderiam ficar em sérios apuros na Amazônia.

No que se refere ao armamento individual do guerreiro de selva, o EB tem, ao mesmo tempo, o problema e a solução. Fuzis de assalto de diversos tipos foram e são avaliados, incluindo armas de alta qualidade, como o fuzil alemão Heckler & Koch HK33 e o norte-americano M16A2, ambos no calibre 5,56mm, e o tradicional FAL do Exército Brasileiro, no calibre 7,62mm. O fuzil padrão das tropas de selva brasileiras é o Pára-FAL, a versão com coronha rebatível, usada também pelas tropas pára-quedistas brasileiras e outras unidades. O Pára-FAL tem se mostrado a arma ideal para emprego na selva por suas características de peso, rusticidade e simplicidade de manuseio. Por outro lado, sua substituição no futuro será, certamente, um sério problema para o Exército. O calibre 5,56mm, usado na maior parte dos modernos fuzis de assalto, é considerado inadequado para o combate de selva, devido ao pequeno peso do projétil e à sua tendência de assumir uma trajetória instável ao colidir com pequenos obstáculos, como folhas e galhos de árvores. Isso acaba retirando do projétil muita energia e, consequentemente, poder de parada (stopping power).

 O respeito que o Pára-FAL conquistou entre os combatentes de selva justifica-se, por exemplo, pelo resultado de um teste realizado numa das bases de instrução do CIGS, quando um exemplar de cada do HK33, do M16A2 e do Pára-FAL foram comparados, com o objetivo de determinar sua resistência às condições da floresta. Numa manhã, cada uma das armas recebeu limpeza e a necessária manutenção, de acordo com as recomendações do fabricante, foi municiada e colocada sobre cavaletes de madeira, e exposta ao Sol e à chuva durante todo o dia e a noite seguinte.

Pela manhã do outro dia, um oficial retirou o HK33 do cavalete e tentou disparar uma rajada contra um alvo: a arma travou várias vezes. Ao repetir a experiência com o M16A2, verificou-se que este não disparou um só tiro, pois estava grimpado. Finalmente, o oficial dirigiu-se ao Pára-FAL, conhecido como “pit-bull” entre a tropa e, surpreendentemente, não somente conseguiu descarregar todo o pente no alvo, como ainda remuniciou a arma e repetiu a dose. Este oficial confidenciou ao autor que não coloca em dúvida a qualidade das outras duas armas, mas o teste evidencia o fato de que ambas necessitam de muito mais cuidados e manutenção do que o tradicional e confiável Pára-FAL.
Mas as armas disponíveis para o uso na selva não se resumem ao fuzil, à faca de combate e ao inseparável facão de mato. Armas incomuns, como bestas e até mesmo a tradicional zarabatana dos indígenas da região, podem fazer parte do arsenal do guerreiro de selva. Os modelos de bestas usados têm grande precisão e poder de penetração, podendo atravessar um corpo humano a quase 100 metros de distância. Silenciosa e mortal, a besta é considerada uma arma excelente para eliminar sentinelas. O mesmo se aplica à zarabatana, principalmente associada a dardos com venenos cujo preparo é um segredo bem guardado pelo EB e pelos soldados indígenas que, em número cada vez maior, engrossam as fileiras dos Batalhões de Selva na Amazônia, com excelente avaliação por parte de seus comandantes.

A importante participação dos índios brasileiros na formação das tropas de selva brasileiras pôde ser exemplificada durante a Operação Ajuricaba II, em outubro/novembro de 2003, quando as Forças do Partido Azul, responsáveis pela defesa da região, usaram soldados indígenas como rádio-operadores. Falando em sua própria língua, eles evitavam que as comunicações fossem decifradas pelas forças invasoras, ou Partido Vermelho, compostas por elementos da Brigada Pára-quedista, Fuzileiros Navais e outras tropas de elite, sediadas em diferentes regiões do país. Essas, diga-se de passagem, tinham efetivos maiores e eram dotadas de armas e equipamentos de alta tecnologia, tendo total controle sobre o espectro eletromagnético na área da operação.
Acima O CIGS foi o responsável pela retomada dos estudos visando a utilização de duplas de caçadores (Snipers) nas unidades de guerra na selva do Exército Brasileiro. O atirador da foto utiliza a roupa de camuflagem aprovada pelo CIGS e o fuzil Imbel Fz .308 AGLC, no calibre 7,62x 51mm, especialmente desenvolvido para uso por atiradores de elite.
Num conflito na Amazônia, as forças de selva do EB agiriam em pequenas frações, mas capazes de inflingir pesadas perdas ao adversário, fazendo uso do seu conhecimento da floresta para desaparecer sem deixar vestígios. Dentro deste espírito, uma tática que voltou a ter força dentro do EB nos últimos anos foi o emprego de equipes de atiradores de elite (snipers), denominados "caçadores" no Exército. Uma equipe de caçadores é formada por dois sargentos, sendo um o atirador (o sniper, propriamente) e o outro o observador (spotter). A arma já testada e aprovada para o uso por essas equipes é o fuzil Imbel Fz .308 AGLC, de projeto e fabricação nacionais. O AGLC é uma arma de precisão baseada na ação Mauser, de reconhecida e inegável confiabilidade e segurança. Com um cano flutuante, tipo “match”, forjado a frio e adaptado para o tiro com luneta, e usando munição 7,62 x 51mm, a arma saiu-se muito bem quando comparada a diversos tipos de fuzis de precisão de fabricação estrangeira. O tipo de camuflagem (ghillie suit) usado pelas equipes de caçadores também já teve sua eficiência determinada pelo trabalho do CIGS.

Um grupo de guerreiros de selva desloca-se pela floresta. O primeiro elemento, o esclarecedor, consulta um receptor GPS que só é usado para fins de instrução, uma vez que seu uso é desestimulado no dia-a-dia. Notar a escopeta calibre 12 levada pelo soldado (Foto: Raimundo Valentim).

Outra arma testada e adotada para uso por tropas de selva é a tradicional escopeta calibre 12, empregada pelos esclarecedores dos grupos de combate. Como o esclarecedor é o elemento que vai à frente da formação, precisa de uma arma com o máximo de poder de fogo, para a possibilidade de um encontro com uma patrulha inimiga. Outras armas que tiveram seu uso aprovado para guerra na selva graças aos estudos realizados pelo CIGS foram o lança-granadas de 40 mm e o lança-chamas.
Mas o trabalho desenvolvido pelo CIGS em busca de meios que possam fazer valer a chamada “estratégia de resistência” foi ao ponto de testar e aprovar o emprego da tradicional e popular carabina Puma, modelo Winchester, de ação por alavanca, fabricada pela empresa Amadeo Rossi, enquanto a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) fabrica sua munição, calibre .38. A idéia por trás disso era encontrar uma arma que fosse de fácil manuseio, relativamente precisa e barata, que pudesse ser distribuída para reservistas e mesmo entre a população civil, no evento de uma intervenção militar estrangeira na Amazônia, e cuja munição fosse facilmente encontrada no comércio. Nos testes realizados pelo CIGS, ficou demonstrado que a carabina Puma pode ser precisa em distâncias superiores a 100 metros. Bons atiradores conseguem tiros precisos a quase 200 metros. E, na opinião dos oficiais instrutores do CIGS, 100 metros pode ser a largura de uma margem a outra de um rio, separando o atirador com a Puma de uma fração de tropa inimiga.



Uma tática desenvolvida pelo CIGS e já disseminada entre as tropas de guerra na selva é o emprego de “cachês”, como meio de pré-posicionamento de armas, munição, medicamentos, rações e outros suprimentos fundamentais às frações de tropa. Os cachês são, basicamente, depósitos de suprimentos enterrados, com a finalidade de ressuprimento de tropas nacionais, que estejam operando em nosso território, em área sob intervenção de uma nação ou força multinacional incontestavelmente superior, em meios, à brasileira. Os cachês são enterrados em locais de difícil acesso e percepção pelo invasor, mas de fácil abordagem pela tropa interessada. Os buracos são resistentes a intempéries, forrados por madeiras nas laterais e com drenagem no fundo, sendo usados para acondicionar containers de fibra de vidro com suprimento para pequenas frações (10 a 15 homens). A camuflagem dos “cachês” é tão eficiente que não eles são percebidos por animais ou nativos.

No primeiro semestre de 2004, o CIGS deverá se envolver na avaliação de um exemplar do Combat Boat CB90H, uma lancha produzida pela empresa sueca Dockstavarvet AB, que deverá enviar um exemplar a Manaus em abril. O CB90H é capaz de transportar 20 soldados totalmente equipados (o equivalente a cerca de 2,8 toneladas), em velocidades de até 40 nós e com relativo conforto, mesmo em condições climáticas adversas, sendo capaz de realizar abicagens violentas em praias ou margens de rios, ocupadas por forças adversárias. As tropas desembarcam através de uma rampa lançada por sobre a proa. O CB90 é largamente utilizado pela marinha sueca (172 unidades do CB90H), e foi exportado para a Noruega (20 CB90N), Malásia (17 CB90H) e México (40 CB90H).

O projeto Búfalo
Uma das primeiras preocupações do CIGS era resolver a questão do transporte de armas, munição, água, rações e outros equipamentos por frações de tropa empenhadas na guerra de selva. Assim, na busca de um meio de transporte eficiente e de baixo custo para o ressuprimento nas operações na selva, tentou-se a utilização de animais de carga ou que pudessem ser adestrados para esse fim.

Uma das primeiras tentativas desenvolvidas pelo CIGS foi durante o Comando do Cel Gélio Fregapani, com a utilização de uma anta, criada desde cedo no zoológico do Centro com este fim. A experiência infelizmente não obteve sucesso, já que o animal, selvagem, jamais aceitou que fosse transportada qualquer carga nas costas.

Outra tentativa, também frustrada, mas que começou a demonstrar a validade do conceito da utilização de animais, foi executada a partir de 1983 com a utilização de muares. Estes, apesar de historicamente já haverem sido bastante utilizados, não só pela população civil como em operações militares, infelizmente não se adaptaram à Amazônia, sendo que o principal problema verificado foi de natureza veterinária. O animal teve sérios problemas com apodrecimento de cascos e doenças de natureza epidérmica.
Com a continuidade dos estudos chegou-se finalmente ao búfalo, animal já criado com sucesso na Amazônia em pelo menos quatro espécies, rústico e com diversas características que foram ao encontro das necessidades militares para o emprego de animais.
O chamado Projeto Búfalo nasceu em 2000, e tem demonstrado ser uma das soluções para as necessidades das tropas de selva brasileiras, devido à resistência do animal, sua adaptação ao ambiente e, principalmente, à sua capacidade de transportar 400 kg ou mais de carga no lombo, ou até três vezes isso quando tracionando carroças.

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Calúnias e Difamações Contra os Bandeirantes


Os jesuítas, que eram os melhores cronistas da época, adversários tradicionais dos paulistas, fizeram para estes uma reputação em que só não lhes é negada, dentre boas qualidades, a coragem. Para este caso — Guaíra, em que eles, jesuítas foram os feridos, a história é contada de modo a que se faça des­ses brasileiros o pior conceito. Deles advém quase todas as injúrias contra os paulistas. Como bem afirma Belmonte:
"fiam-se excessivamente na documentação dos missionários hespanhoes - parte interessadíssima na secular contenda entre as duas forças que se chocaram, vezes sem conta, nas terras bárbaras do novo mundo."
Belmonte que não cala verdades continua: “Tudo isso é symptomatico e quem quer que saiba lêr nas entrelinhas, se convencerá de que as famigeradas "atrocidades" dos paulistas não foram tantas nem tamanhas como pretendem. Tanto isso é provavel que, muitas vezes, os indios das reducções adheriam logo aos invasores: "los yndios reducidos se dan la mano con los que entram por el ytatin". Numa "Real Cedula" dirigida ao vice-rei do Peru', marquez de Mansera, narrando occorrencias no Sul, confessava a Côrte que os paulistas tinham se apoderado de tudo, porque "todos, indios e residentes, tinham-se juntado aos invasores, davam-lhes informações e os guiavam a outras villas e reducções".

A verdade é que os jesuítas, seus inimigos declarados, sempre carregavam na tinta quando se referiam aos paulistas. Vejam o caso do bispo de Olinda, Dom Francisco de Lima, que ao se reportar a Domingo Jorge Velho, o descreve como "o maior selvagem com quem já havia topado" e que fora preciso um intérprete para se comunicar. No entanto, como sabemos, Jorge Velho falava e escrevia em português.

Também muito concorreu a política da metrópole depois de descobertas as minas. E com o tem­po, a poeira das calúnias foi cobrindo os feitos desses brasileiros, sujando-lhes a reputação de todos os doestos dos seus irredutíveis inimigos.

Criadores de caminhos, obra essen­cialmente civilizadora, esses bandeirantes conduzem o Brasil para uma autonomia indestrutível, que é a de quem, por si mes­mo, por si só, adquiriu a terra em que se estabeleceu. É por tudo isso que o nome deles se tomou distinto, como os dos pernam­bucanos, e de valor internacional. Todos que conhecem e tratam de coisas sul-americanas, mencionam o povo valente, e intransi­gente na sua autonomia, esses paulistas que, ainda nas cortes portuguesas de 1820, são nominalmente referidos como efeito de irritante pavor para aqueles que, então, pensavam reduzir-nos à simples condição de colônia.

Paulo Prado, antes de lembrar que, durante dois séculos, os inventários paulistas repetiam a lúgubre glorificação "morto no sertão", acentua o apavorado ódio do jesuíta contra os ma­melucos de Piratininga.

O aviltamento chega a tal ponto, que reduzem as ações dos paulistas a meros preadores de índios. Se os levasse, aos paulistas, o único e sórdido interesse de cativar índios, como se explicam as outras expedições, como as de 1676 e 1691, contra Vila Rica do Espírito Santo e contra Santa Cruz de la Sierra, cidades urbanas onde não haviam índios a cativar?

Todas essas expedições se ligam a essa tradição, de que já nos fala a ata da Câmara de São Paulo, de 2 de outubro de 1627, quando inclui o aviso enviado à metrópole — acerca dos “espanhóis de Vila Rica que vinham dentro das terras da coroa de Portugal...”. E Paulo Prado destaca os motivos irrecusáveis, que motivaram as ações bandeirantes contra os espanhol, o ardor guerreiro e o velho ódio ao espanhol.

Os fins patrióticos dos paulistas no feito de Guaíra", desde cedo se incorporou nas nossas tradições. O padre Francisco das Chagas Lima, referindo-se ao descobrimento dos Campos de Guarapuava, que ficam na região do Paraná, onde a tradição de Guaíra devia ser bem viva, registrou-a nos termos de defesa nacional. O padre lembra que os espanhóis tinham o intuito de assegurar-se na posse daqueles territórios, quando no meio do século XVII “estabeleceram a sua Cidade Real na embocadura do Piquiri, e Vila Rica, na margem meridional do Itatu. povoações que foram demolidas pelos antigos paulistas”.

É a tradição a que se repetia na boca de Lopo de Saldanha. Homem de Estado, feito no segredo da realidade, ele bem conhecia a verdade da ação política dos paulistas. A Defesa daquelas terras, que os paulistas con­sideravam toda aquela região, até o Paraguai, pertencente a Portugal.

E foi assim que todo o alto Paraná se incorporou ao Brasil. Bandeirantes homens, diante de quem, apesar de quantas ferezas e crimes lhes sejam imputados, a alma boa de Southey o defensor dos je­suítas seus inimigos, não se contém, e transborda de admiração, em longos elogios. Para esse historiador, não terá havido, pela América, mais bravura, e patriotismo, e intrepidez: “Homens de indômita coragem, e a toda prova para os sofrimentos.., Eram os paulistas incansáveis nas suas explorações... Uma raça de homens mais ousados, ainda, que os primeiros conquistadores.".

domingo, 3 de junho de 2012

Entrevista com o presidente da ABIMAQ, Luiz Aubert Neto (Sobre Política Industrial)


5:15s Luiz: Nós estamos sendo invadidos né.... esse processo de desindustrialização do nosso setor ele esta violento, ele esta muito forte. A desindustrialização é fácil explicar, hoje a perda de competitividade que nós temos em função de câmbio e outros temas que podemos tratar, mas hoje o principal é câmbio mesmo.  
Então oque que acontece? Quando eu não consigo competir mais com o chinês, principalmente o chinês que é oque esta fazendo o grande estrago aqui no nosso setor. Então oque que eu começo a fazer? Eu vou na China, eu importo uma máquina da China né, eu trago essa máquina para cá, eu tiro a plaquetinha dela lá com o nome de ching-changlee, coloco a minha marca e revendo aqui dentro. Então eu paro de fabricar a máquina. Então no primeiro processo, oque começo? Começo a trazer componentes para montar minha máquina, num segundo processo que eu começo a ver que o negócio começa a ficar bom, porque eu não tenho como competir, eu trago a máquina inteira para cá. Então eu paro de fabricar essa máquina, né... eu revendo aqui, mas em termos de faturamento eu continuo faturando, eu continuo recolhendo meus impostos, então quando agente vê esses números do IBGE que o setor esta faturando, você tem.... se você entrar nos meandros desses números, você vai ver que tem muita coisa que agente tem que separar. Eu estou faturando mas não estou fabricando mais. Virei um comerciante.
11:40s eu posso dizer o seguinte... eu acho que o governo vem errando faz tempo né, o Brasil vem errando tremendamente faz tempo e eu vou te dar um número aqui que eu acho que é a principal anomalia do Brasil, o principal cancer que nós temos, sempre foi taxa de juros. Se você pegar.... entrar no site do BC, puxar lá, nos últimos 16 anos: 8 anos de governo do FHC, 8 anos de governo Lula e mais esse ano do governo da Dilma, você sabe quanto o governo brasileiro já pagou de juros somente da dívida? Mais de 2 Trilhões de reais de juros da dívida! Se você corrigir esse valor e trouxer hoje pro pior índice que tem, passa de 5 trilhões de reais! É a maior transferência de renda que um país já fez (do setor produtivo pro setor financeiro)  não só produtivo, saiu do meu bolso, do seu bolso de todo mundo, então não sobra dinheiro para nada! Pega o orçamento de hoje, 46% do orçamento ainda hoje do Brasil é para amortiçar dívida e pagar juros, não sobra dinheiro para nada. Então o grande mal que nós temos aqui no Brasil (é a taxa de juros alta) eu não tenho dúvidas nenhuma disso, só que você tem grande parte da mídia, porque isso é briga de cachorro grande, grande parte da mídia são ecnonomistas ligados ao sistema financeiro. Um exemplo esta aqui, quando o governo Dilma teve coragem de colocar, não alguém do sistema financeiro, como presidente do BC, se você pegar a história toda é a primeira vez que nós temos um presidente do BC de carreira. E na primeira reunião que ele teve lá, na primeira na segunda ele aumentou e depois quando ele abaixou meio por cento, você viu o terrorismo que foi, todo mundo falou que o BC perdeu autonomia que não sei quê “bla bla bla bla bla”....


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