sábado, 19 de novembro de 2022

A Batalha de Guaxenduba - A Conquista do Maranhão

 


Minha terra natal, em Guaxenduba,

Na trincheira, em que o luso ainda trabalha,

O leão de França arregaçando a juba,

Saltou, e o luso, como o tigre o atalha,

Foi então que se viu, sagrando a guerra,

Nossa Senhora, com o menino ao colo,

Surgir lutando pela minha terra

Foi-lhe vista na mão a espada em brilho…

Pátria, se a Virgem quis assim teu solo…

Que por ti não fará quem for teu Filho?

 

O Milagre de Guaxenduba,

Humberto de Campos

França Equinocial

A presença francesa no Maranhão antecede 1600, estimulados pela façanhas do célebre pirata Riffaut, senhor de toda aquela costa. Em 1594, traz o pirata uma grande expedição em 3 navios: perde o maior e, após contratempos, vem deixar no Maranhão os restos da aventura. Teria sido esse o começo do estabelecimento definitivo. A expedição oficial de Ravardière é de 1612 mas, bem antes, por ordem de Henrique IV, estivera ele, Ravardière, no Maranhão, donde voltara tão animado que não poupou esforços para voltar após a morte do Rei.

A colônia se firmara por expedições diferentes, das quais se destacam duas: a de 1612, sob o comando de Ravardièr, e a de 1613 em 16 de abril, trazida por Du Pratz. Naquela, vieram uns 500 aventureiros; para esta última, os depoimentos franceses dão 300 homens. Não há dúvida que a feitoria do Maranhão é anterior à vinda definitiva de Ravardière, pois que, na sua chegada, em 1612, ele foi recebido por uma frota de navios de Dieppe, tão bem relacionada e provida, que lhe ofereceu uma ceia, onde não havia motivo para desejar iguarias de França, dizem os cronistas. Os relatos dão conta ainda de 20mil flecheiros índios a serviço dos franceses, e que o estabelecimento existia desde 1609.

Na tropa francesa de São Luís, contavam-se, como oficiais, mais de vinte nomes de alta aristocracia, entre outros um Conde, ou Joinville, diz um dos soldados deles, e mais um fidalgo escocês. A povoação foi considerada cidade. Construíram-se navios capazes de afrontar o alto-mar, e o comércio se desenvolveu a ponto de provocar a vinda de navios de 300 toneladas. Além disso estavam os franceses rodeados de tribos amigas, e que, deste modo, fechariam seus inimigos num círculo de hostilidades. Era a esse inimigo que Jerônimo vinha afrontar, em condições que assim se resumem: uma expedição insuficiente em tudo, menos no valor humano dos que a compunham.

A Jornada Milagrosa!

As forças de Jerônimo eram em quantidade que pôde ser transportada em dois patachos, uma caravela e cinco barcaças, ao todo, 300 brancos e 200 índios, apenas. Composta por “gente da terra”, brasileiros, como seu comandante. d'Eça, dirá depois... : “os quatro capitães que hoje estão no Maranhão, todos juntos não chegam a 80 anos...”. Os elementos fornecidos à expedição foram tirados de uma colônia praticamente abandonada, como se verificou 10 anos depois, com o ataque dos holandeses. A essas forças, Ravardière pôde opor 400 soldados europeus, 4.000 índios, 7 navios e 46 canoas de guerra.

As ordens oficiais eram que a expedição não passasse da fundação de um forte, a 8 ou 10 léguas dos franceses, para inquieta-los, tão-somente. Mas, contrariando as ordens, o grande capitão fez seguir a expedição, até estabelece-la em contestação com os franceses. 

Chegado às águas do Maranhão, em 25 de outubro, Jerônimo põe em prática os seus processos costumários com o gentio, procurando cooptá-lo. Pouco a pouco, chegam-se os índios. Uns, naturais de Pernambuco, avisam-no do premeditado ataque dos franceses. A nação brasileira a esse tempo, já era uma realidade, com as populações, de norte a sul, se reconhecendo. Jerônimo despreza, ou finge desprezar, o aviso: a consequência é o ataque incauteloso do inimigo.

Na escolha da posição do forte, houve divergências, a que Jerônimo respondeu no definitivo mando de seleção: “Quem for amigo, não me aconselhe outra coisa!” E fez como entendia. Essa escolha foi decisiva: a ela se deve o êxito da batalha, e que pareceu milagre. “Determinou o capitão-mor fortifica-se num vale, entre duas alturas que lhe ficavam sobrancelhas...” – relata d'Eça. E quando o inimigo, destemido e arrogante, veio ao ataque, Jerônimo pôde desenvolver, prontamente, a sua tática formidável: metê-lo entre dois fogos e dominá-lo completamente antes do segundo tiro.  

A Batalha de Guaxenduba (19 de novembro de 1614):

Os franceses vieram atacar com a maior parte de suas forças: desceram 200 soldados europeus, e uns 2.000 índios, deixaram para reserva, embarcados, outros tantos brancos e muitos índios ainda. Jerônimo, opôs-lhes imediatamente a quase totalidade dos seus soldados: 4 companhias sem discriminação de índios; 2 seguem pela praia, para apanhar a retaguarda do inimigo; e este impávido, se prepara para o ataque da posição quando vê surgirem, inesperadamente, as outras 2 companhias – a própria vanguarda de Jerônimo, que as comanda em pessoa, ao lado do capitão d'Eça. Alcançando antes de tentar qualquer fortificação de defesa, antes de gastar munições, o francês é abatido fulminantemente. Foi como se houvera caído numa cilada. O embate foi de soldados aguerridos mas, entre dois fogos, estava desfeito o inimigo. Jerônimo mesmo teve de dominar com sua espada o sr. De Pisieux. E os franceses foram levados à derrota, apesar de valentes, apesar de atacantes...  já na desorientação geral da derrota que desnorteia, os franceses atiravam-se às ondas em busca de salvação. Finalmente, morreram 90 dos brancos inimigos, entre os quais, 7 grandes fidalgos; aprisionaram-se 19, e foram queimadas 46 canoas, e mortos cerca de 1400 índios aliados. São cifras dos próprios vencidos. Entre os brasileiros, apenas 11 mortos e 18 feridos.

No curso da batalha apareceu entre
a tropa uma Senhora de aparência
"diáfana e radiosa", pecorrendo nossas
linhas, e incentivando os combatentes
apanhando areia do chão e convertendo 
em pólvora aos soldados, e os curando
das feridas dos combates. Essa aparição
foi creditada a N. Sra. da Vitória, que
ficou sendo a padroeira de São Luís.
Com Albuquerque Maranhão estão dois filhos; o mais velho, Antonio Albuquerque, sai da vitória com três feridas. E o grande capitão, se bem que orgulhoso delas, não se mostra insolente, nem brutal, como o supunha o francês: é que o patriotismo fizera dele um hábil político, diplomático. Com a sua tática, ele dominara a grande superioridade do adversário; mas precisava, ainda, tornar aquela vitória definitiva, em bem do Brasil, e com essa diplomacia ele o conseguiu de modo absoluto. Chegou ao ponto de trabalhar para conservar no Brasil, incorporando nele, aquela população de intrépidos franceses, com a boa experiência que tinham da terra e do seu gentio. 

O médico francês, que curou as feridas dos três tiros que tomou seu filho, ao aproximar-se de Jerônimo, torna-se um grande entusiasta dos seu méritos, e refere-se, em modo muito expressivo, ao espanto dos franceses quando receberam a primeira, e, sobretudo, a segunda carta do grande capitão: a singela superioridade dos dizeres, sem fanfarronice, nem ameaças, cativou inteiramente o ânimo dos fidalgos vencidos, e que esperavam encontrar-se com selvagens e mamelucos, grosseiros e insolentes. Ao mesmo tempo, o homem de arte, dá o testemunho de como, pelo trato pessoal, Jerônimo fez seus inimigos grandes afeiçoados: “Nunca vi gente tão honesta.”.

Essa foi a mais forte e mais formal tentativa dos franceses sobre o Brasil, e, por isso mesmo, foi a última. A França Equinocial fizera-se como o coroamento de uma posse comercial de mais de 50 anos, e batizara-se colônia em nome do Rei de França. Então, se tal empresa malogra, há motivos para que o francês desista definitivamente de fazer colônia em contestação com o Brasil; se é um brasileiro quem dá o golpe, e ganha a vitória decisiva, se o faz com recursos exclusivos do Brasil, temos, no caso, a prova da realidade da nova pátria em demonstração explícita.

Sob o influxo de Albuquerque Maranhão, aquele Norte se fez imediatamente Brasil, na própria tradição de Pernambuco, donde procedia pelo ânimo dos que o conquistaram. Alexandre de Moura, influindo em Gaspar de Souza, foi quem mais concorreu para que se destacasse do Brasil o que se chamou, depois, Estado do Pará-Maranhão, desunindo-se, assim, a nação que germinava na colônia. De nada valeu o recorte: o que um grande brasileiro fizera, perdurou, e aquela terra, onde até a morte se exerceu a ação da nova energia de Albuquerque Maranhão, ganhou definitivamente a alma do Brasil, como o afirmou nos momentos turvos de após a Independência.



Comando NE - Círculo Castilhista 

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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Dia de Todos os Santos, o Culto aos Mortos, uma Fé Celto-Católica.

"...Quanto aos mártires, nós os amamos justamente como discípulos e imitadores do Senhor, por causa da incomparável devoção que tinham para com o rei e mestre. Pudéssemos nós também ser seus companheiros e condiscípulos! Desse modo, pudemos mais tarde recolher seus ossos, mais preciosos do que pedras preciosas e mais valiosos do que o ouro, para colocá-los em lugar conveniente. Quando possível, é aí que o Senhor nos permitirá reunir-nos, na alegria e contentamento, para celebrar o aniversário de seu martírio, em memória daqueles que combateram antes de nós, e para exercitar e preparar aqueles que deverão combater no futuro. (cap.  XVII)"

Entre a noite de primeiro e dois de novembro, os celtas celebravam o Samonios. Oportunidade em que realizavam grandes assembleias religiosas, políticas e rituais em um território fronteiriço e com túmulos. Por isso, a ocorrência arqueológica de túmulos megalíticos nos locais de celebração, pois para os celtas era necessário lembrar e estar com seus ancestrais e recriar os feitos das eras míticas da gênese de seu povo. Cria-se que nessa época e nesses locais, o mundo Além, o Sidh, confluia com o dos vivos. E assim, as almas dos mortos eram capazes de interagir com o mundo dos vivos. Com o advento do cristianismo, esses ritos, no Sec. IX, foram cristianizados sob o nome de Todos os Santos a se celebrar no primeiro dia de novembro.

No norte de Portugal e Galiza, resquícios dessas tradições se mantiveram, tomando o nome popular de Magusto, e assim mantendo a tradição de ascender fogueiras nos cumes dos montes, ermos, visíveis da freguesia. Na noite de véspera, se assava castanhas nas fogueiras acesas, realizavam uma ceia, da qual parte era reservada ao morto, se peregrinava aos cemitérios e costumava-se deixar alguma comida aos seus mortos. As crianças, saiam de casa em casa, pedindo comida, abençoando os que davam e desconjurando os que negavam. Talhavam caveiras em abóboras, melancias, ou cabaças e punham a frente das casas para assim afugentar maus-espíritos. A igreja tentou, em vão, abolir esses ritos, que persistiram. Um padre de Límia Alta dizia em carta ao bispo: “Aqui, o que menos importa são os Santos. Quem têm verdadeira importância, e são os protagonistas destes dois dias, são os mortos”.

O culto aos mortos é uma influência oriunda de povos indo-europeus, posto ser inexistente esse tipo de culto em credos de populações semíticas. A região da galileia, como denuncia seu nome, era habitada originalmente por povos indo-europeus. Não existe, no judaísmo, qualquer traço nesse sentido, se quer a crença de um "além vida". Daí se dizer que o judaísmo é um credo "materialista", contraposto as religiões de matrizes indo-europeias tidas como "espiritualistas". Essencialmente a "boa-nova" que surge com o cristianismo é a crença na vida após a morte, que, para os indo-europeus não era novidade, mas sim para os judeus.  Soa irônico, que crentes, quase sempre, de seitas neopetencostais façam apologia a Israel, ou ao judaísmo, com alguns chegando ao cúmulo a se "converterem", ao mesmo tempo que mantem a crença de um "paraíso" pós vida. O judaísmo é a negação dessa crença.... !  

O sincretismo das crenças indo-européias com o judaísmo, junto a influência ocidental, inicialmente com o império alexandrino, e uma posterior ocupação romana sob a região, faz surgir o cristianismo, sob a forma de um judaísmo-reformado. Isso explica a rápida expansão do cristianismo dentro das fronteiras do mundo indo-europeu (incluso na própria galiléia com Cristo), ao passo, que entre as populações semíticas, quase não floresceu, antes sempre foi fortemente combatido. 

São Martinho, celebrado em 11 de nov.
em Portugal, durante o Magusto. Q.do
parentes e amigos assam castanhas em
torno de uma fogueira regados a vinho.
A igreja, ao menos, na atualidade, foca o Dia de Todos os Santos, nos Santos canonizados, e menos nos mártires, e menos ainda nos finados. Esses últimos, porém, ainda que sem negálos, quase não são objeto de culto. Razão pela qual a data, hodiernamente, no senso comum é mais correlacionada a memória dos Santos canonizados, e no dia de Finados a mera memória dos mortos. Concomitante a isso, há a comercialização do Halloween, importado dos EUA. Originalmente o halloween foi levado para os EUA pelos irlandeses, e tem a mesma origem celta do Magusto nortenho de Portugal e Galiza. Contudo, sua comercialização sofreu profundas deturpações, que o distanciam. E mais das vezes afrontam o sentido original (honrar os ancestrais, e pedir por suas bençãos e proteções) ultrajando os mortos, quase sempre associando-os a espíritos maléficos ou amaldiçoados.... uma clara visão deturpada dos protestantes. 

Oque importa dizer, é que o Dia de Todos os Santos, originalmente, concebido pelo catolicismo açambarca não só o culto aos Santos canonizados e Mártires, como também os mortos. "Santos" em sentido lato são todos os mortos. Assim, sempre foi, desde remotamente com as primeiras comunidades cristãs. Os mortos, não apenas devem ser lembrados, honrados, ou mesmo ser objeto de orações para purgar seus pecados, como são pedidos a intercederem pelos vivos. 

O Catecismo Católico atesta que: “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.”. Por isso, a Igreja sempre julgou salutar a oração pelos mortos para a satisfação das penas de seus pecados, bem como para que alcançassem o perdão de Deus. Além disso, as orações transmitem uma nova alegria aos mortos, que se regozijam pelas orações que lhe são ofertadas.

A fé católica não se restringe a esta doutrina consoladora que abre o céu às almas dos justos. Ela admite também um intercâmbio entre o mundo terreno e o outro mundo. Todos os homens resgatados são membros de um único corpo em Jesus Cristo, e assim formam uma única família, imensa, unida pelo laço da caridade. Esta união espiritual ocorre por meio da oração. Nossos antepassados nos prestam o socorro pela sua intercessão e sua assistência; da nossa parte, os vivos, lhes pedimos este socorro na veneração e na afeição. Tal é a doutrina da Comunhão dos Santos. Assim, lá no alto, os que se foram não são simples espectadores que se contentam em gozar, mas fiéis associados de seus irmãos ainda em luta sobre a terra.

Fartos são os registros arqueológicos em tumbas de comunidades cristãs primitivas, atestando tanto a veneração aos Santos, de suas imagens, como também aos mártires e aos mortos:

·         “Sutius, reze por nós, afim que sejamos salvos. PETE PRO NOS (sic) VT SALVI SIMVS”.

·         “Augenda, vive no Senhor e intercede por nós. EPΩTA”.

·         “Anatolius, ore por nós. EYXOY”.

·         “Filho, que teu espírito descanse em Deus; interceda por tua irmã. PETAS”.

·         “Matronata Matrona, ore por teus pais Ela viveu um ano e cinquenta e dois dias. PETE”.

·         “Atticus, teu espírito vive no Bem: implore por teus pais”.

·         “Joviano, viva em Deus e seja nosso intercessor”.

Não se deve cometer distorções, tão comumente feitas por protestantes e "ortodoxos", em considerar como "idolatria" a devoção aos Santos (em seu sentido lato). As críticas pelos protestantes, da devoção aos santos e suas relíquias, é fruto de traduções, e interpretações errôneas da Bíblia, bem como descontextualizadas. Se fundam quase sempre no versículo 20, 4 do livro de Êxodo, que diz:

“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” (Ex 20, 4)

Ocorre que a tradução do hebraico, no Velho Testamento, língua em que foi escrito originalmente, a palavra: “פֶסֶל֙ ” (fessel) significa na realidade “ídolo”. E não “imagem de escultura” como comumente foi traduzida nas bíblias protestantes. 

Algumas páginas a frente, em Êxodo 25, Deus ordena a Moisés fazer “imagens”:

“Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.” (Ex 25,18)

Contraditório? Não... ! Oque Deus proíbe, é a fabricação de ídolos.

“Não terás outros deuses diante de mim.

Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.

Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta..” (Êxodo 20, 3-5)

Vemos que a passagem não se refere a “imagens” e sim a “deuses”, ou seja, a proibição se referia as imagens de deuses egípcios. Os deuses egípcios eram todos representados em imagens e pinturas, daí vem a proibição para que não mais fizessem representações destes deuses.

Como vemos a palavra não diz respeito a “imagem”, e sim a ídolos esculpidos, ou seja imagens de ídolos.  Dessa forma vemos que a passagem é uma clara referência aos deuses do Egito, como mais uma vez, podemos ver:

“Não farás para ti ídolos ou coisas alguma que tenha a forma de algo que se encontre no alto do céu, embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra”. (êxodo 20, 4)

A referência a ídolos do “alto do céu” é uma referência aos Deuses egípcios dos ares: “”, representado por um homem com a cabeça de um falcão, “Horus”, “Íbis”, “Toth”; “embaixo da terra”, a “Anúbis”, “Ápis”, “Khepra” , “Bastet”, etc.... ; e “ou nas águas debaixo da terra”, os deuses que habitavam as águas, adorados no Egito: “Sebek” um deus com cabeça de crocodilo, “Taueret” deusa em forma de hipopótamo, protetora das mulheres grávidas, etc.

Para que não haja qualquer dúvida de que Deus se referia aos falsos deuses do Egito, veja um trecho do livro de Josué:

“Agora, pois, temei o Senhor e o servi-o com inteligência e fidelidade. Afastai os deuses aos quais vossos pais serviram do outro lado do rio e no Egito, e servi ao Senhor”. (Josué 24, 14).

E para maior certeza de que Deus falava dos falsos deuses do Egito, leiamos Ezequiel 8, 8-10:

“Filho do homem, disse-me ele, fura a muralha, quando a furei, divisei uma porta. Aproxima-te, diz ele, e contempla as horríveis abominações a que se entregam aqui. Fui até ali para olhar: enxerguei aí toda espécie de imagens de répteis e animais imundos e, pinturas em volta da parede, todos os ídolos da casa de Israel”.

Em outra passagem, Deus ordena a Moisés fazer uma “serpente abrasadora”:

"Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá." Moisés, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia.  (Nm 21,8-9)

A serpente abrasadora foi uma prefiguração de Cristo e o próprio confirma isto, ou seja, sua crucificação:

Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna. (João 3, 17)

E por isso a representação, de crucifixos, com Cristo crucificado na cruz. 


Não é demais, diante das distorções dos protestantes e "ortodoxos", aclarar obviedades. Assim por "ídolos", consiste as imagens ou esculturas adoradas como a um "deus". Oque não ocorre na devoção dos Santos, Mártires e aos finados. Esses intercedem por nós a Deus. Santo Agostinho, em um de seus sermões, junto ao sepulcro de São Cipriano, diz:
 “Com efeito, não temos levantado um altar a Cipriano como a um deus, mas que temos feito de Cipriano um altar para o verdadeiro Deus”. (Sermone 313A). 

Em outro de seus sermões, agora, sobre o mártir Santo Estevão, diz: “Nós não temos levantado neste lugar um altar para Estevão, mas, com as relíquias de Estevão, um altar a Deus”. (Sermone 318).

Ainda, Santo Agostinho, condena a negação de Ário (arianismo) dos oferecimentos dos mortos, como uma de suas heresias: “a autoridade da Igreja universal que se reflete nesse costume não é pequena [....] não há dúvida que eles (os mortos) são beneficiados pelas devoções que os fiéis manifestam”.

Se a Igreja hoje não enfatiza tanto esse culto aos mortos, o catolicismo popular o mantem fortemente vivo, como atestado por Euclides da Cunha, tratando sobre os sertões: 
“O culto dos mortos é impressionador. Nos lugares remotos, longe dos povoados, inumam-nos à beira das estradas, para que não fiquem  de todo em abandono, para que os rodeiem sempre as preces dos viadantes, para que nos ângulos da cruz deponham estes, sempre, uma flor, um ramo, uma recordação fugaz mas renovada sempre. .... ". 
E ainda no Dia de Finados, os cemitérios viram ponto de peregrinação por parentes, saudosos de seus entes queridos que se foram. Pululam em todos os rincões do Brasil, de norte a sul, leste a oeste, histórias de navios fantasmas naufragados, às almas penadas que habitam casarões de remotas fazendas, ou mesmo de pessoas "encantadas" que surgem nas matas em auxílio dos que, aflitos, suplicam ajuda. É dizer, os brasileiros, vivem em comunhão com seus mortos. É nesse esteio, que Guimarães Rosa sentencia: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Anne Catherine Emmerich, freira alemã e vidente, que se notabilizou por suas visões passadas e futuras sobre a igreja, dizia que a forte ligação - mesmo muito tempo depois de suas mortes - entre almas sagradas no Céu e seus descendentes aqui na terra, duravam séculos. Toda primeira formação do Brasil se deu no combate aos hereges protestantes franceses, e posteriormente holandeses, bem como na conversão de almas indígenas e escravos africanos. Como esquecer os Mártires de Cunhaú? Atrozmente martirizados, por se negarem a renunciar a Santa Fé Católica. E hoje, triste e desairosamente, seus descendentes aderem a credos dos que lhes condenaram a morte. É o mesmo que os renegarem e, por assim, quebram o elo com nossos ancestrais. Devemos pois, nesses tempos de atribulações, em que nossa pátria e a Santa Fé Católica são por todos os lados atacados, rezar aos nossos ancestrais para que intercedam por nós. E eles continuam zelando por nós, como sempre estiveram, ao longo de todos esses séculos, desde a Reconquista contra os Mouros, que assim, conservando a ibéria católica, propiciou com a expansão marítima a expansão da nossa fé para o mundo! E nós seus descendentes, o legado que nos foi confiado, conservar esse Brasil, a Sagrada Terra do Brasil, fruto dessa expansão marítima, aonde possamos professar nossa Santa Fé Católica, e dela com os do nosso sangue, como que por predestinação divina.... dilatar a fé e o Império! 

Representação dos Santos Mártires do Engenho Cunhaú, atrozmente mortos, incluso crianças, por se recusarem a renegar a Fé Católica.




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