terça-feira, 31 de dezembro de 2024

A Imigração Alemã no Sul da Bahia - Os 206 anos da Imigração Alemã para o Brasil



Georg Anton von Schäffer

No presente ano de 2024, a imprensa sensacionalista conjuntamente com promotores de eventos comerciais, notadamente ao sul do Brasil, alardearam os "200 anos da imigração alemã para o Brasil.". Trata-se de uma grande mentira, propagada com fins puramente comerciais. Qualquer um, minimamente conhecedor do assunto, sabe que a imigração alemã teve sua origem na Bahia. E não só alemã, como também foi o marco que deu inicio a imigração em massa para o Brasil, quando em 1818 é fundada a primeira colonia oficial pela coroa, um ano antes da colonia de Nova Friburgo no RJ, e 6 anos antes da primeira colonia alemã ao sul do Brasil. 

A presença de imigrantes alemães e suíços na Bahia antecede 1818. Com registros desde 1816, em Salvador e no sul da Bahia. Georg Wilhelm Freyreiss fundador e primeiro administrador da Colônia, chegou ao Brasil em agosto de 1813, com 24 anos. Era naturalista, tendo tomado parte na expedição do príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, entre 1815-17, que percorreu partes do Brasil, incluso o sul da Bahia.

Em 1820, foi aberto o Consulado de Hamburgo em São Salvador. Sete anos mais tarde, o Brasil celebrou o Tratado de Comércio e Navegação com as cidades hanseáticas de Lübeck, Bremen e Hamburgo, aumentando o fluxo de germânicos que aportavam em São Salvador, principal porto brasileiro, enquanto Hamburgo era, ao seu tempo, o  mais importante porto germânico. 

Pela ocorrência da Revolução do Porto, no ano de 1820, evento que desencadiou a Independência do Brasil (1822), o médico e militar germânico Georg Anton von Schäffer solicitou a D. João VI permissão para radicar-se no Brasil. Concedida a autorização, o Rei permitiu-lhe a escolha de uma porção de terras de sua predileção. Naquele mesmo tempo, Schäffer, em sua terceira vinda ao Brasil, foi recebido pela Princesa Leopoldina. Após a formalização do documento régio, partiu para o norte acompanhado de alguns colonos, chegando à Vila Viçosa, descrita por Schäffer como local de grande abundância.

Fixando sua escolha na margem setentrional do Rio Peruípe, junto ao córrego Jacarandá, delimitou terras contíguas à Colônia Leopoldina, a qual, abrigando já quatro famílias, mostrava-se em franco progresso. Baseando-se no documento real firmado por D. João VI, as autoridades de Vila Viçosa estabeleceram para a nova colônia um terreno equivalente a uma légua quadrada. Ali, os colonos principiaram uma modesta lavoura, com o auxílio de indígenas.

Schäffer denominou a colônia de Frankenthal, ou "Vale dos Francos", em homenagem à sua terra natal e de outros colonos, Francônia. Sua fazenda tomou o nome de Fazenda Jacarandá.

Após fundar Frankenthal, Schäffer retirou-se para o Rio de Janeiro e, subsequente, foi enviado à Europa por ordem de José Bonifácio, na qualidade de agente de negócios públicos, logrando trazer numerosos colonos ao Brasil. Ao partir para a Europa, Frankenthal contava, 20 almas e 16 mil pés de café, deixando a supervisão da colônia a seu amigo Johann. 

Schäffer possuía como sócios Johann Martin Flach, suíço originário do Cantão de Schaffhausen, pioneiro que chegou ao Brasil em 1809 e que conheceu Schäffer no Rio de Janeiro, em 1814.  proprietário da Fazenda Helvécia, uma das fazendas da Colonia Frankenthal, e o arquiteto alemão Johann Philipp Henning, oriundo de Wertheim, que veio acompanhado de sua esposa. Inicialmente, as colônias Leopoldina (margem sul do Peruípe, em Viçosa) e Frankenthal (margem norte, em Caravelas) constituíam empreendimentos distintos. Diversos suíços e alemães adquiriram propriedades na região, com o tempo, suas propriedades passaram a ser referidas, de forma unificada, como Colônia Leopoldina.

Henning, sócio em Frankenthal, foi posteriormente designado por Freyreiss como administrador de Leopoldina. As colônias foram estruturadas sobre cinco sesmarias, três em Leopoldina e duas em Frankenthal, cujos titulares tinham por obrigação ceder parcelas de terras a outros colonos, consoante preceitos da legislação vigente. Após a Independência, o sistema de sesmarias foi extinto, e a figura do administrador da colônia deixou de existir.


1. Colônia Almada (1816)

Por volta de 1816, Peter Weyll, alemão originário de Frankfurt, estabeleceu-se com sua família nas margens do rio Itaípe, ao norte de Ilhéus, em uma sesmaria de uma légua quadrada que lhe fora concedida com o objetivo de promover a colonização da região ainda deserta. Com o auxílio de indígenas e 12 escravos, Weyll desmatou vastas áreas, destinando-as ao cultivo de milho, arroz e cana-de-açúcar. 

Ao redor de sua propriedade, outros imigrantes fixaram-se, como Frederich Schmidt, também alemão, de Stuttgart, proprietário da fazenda Luisia, e Eugênio Borrel, suíço de Neuchâtel, que cultivava café na propriedade Castel-Novo. Durante a expedição de 1818, os renomados naturalistas bávaros Spix e Martius hospedaram-se na fazenda de Weyll, mencionando em seus relatos outros imigrantes alemães, como Scheuermann, residente em Salvador, que os acompanhou em parte de suas explorações pela região.


2. Colônia Leopoldina, A Primeira Colonia Alemã Oficial no Brasil (1818)

No ano de 1818, fundou-se a Colônia Leopoldina, no extremo meridional da Capitania da Bahia, na comarca de Caravelas, às margens do rio Peruípe, distante oito léguas de Vila Viçosa. Entre os principais fundadores contavam-se Georg Wilhelm Freyreiss, naturalista suíço; o Barão Von dem Busche, agrimensor alemão; Carlos Guilherme Mohrardt, médico estabelecido em Viçosa desde o mesmo ano; e o cônsul hamburguês Pedro Peyck. Esses empreendedores, ao receberem cinco sesmarias, congregaram seus capitais e ali deram início a uma colônia formada por imigrantes oriundos da Suíça e da Alemanha, nomeando-a em honra à Princesa Leopoldina, patrona da colonização germânica no Brasil.

Esta fora a primeira colônia no Brasil fundada por europeus não lusitanos, antecedendo em um ano a criação da colônia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro. Leopoldina destacou-se pelo cultivo de café, vindo a prover cerca de 60% da produção cafeeira da província baiana em 1842, e excedendo 90% dessa produção em 1853. Seus colonos, além do café, também se entregavam ao cultivo de mantimentos como abacaxi, jaca, laranja, manga, banana, fruta-pão, mamona, cana-de-açúcar, algodão, fumo, milho, mandioca e leguminosas, conforme registrado no Journal du Jura de 1820.

Colônia Alemã  Leopoldina, sul da Bahia.


3. Colônia do Rio da Salsa (1818)

No ano de 1818, instituiu-se às margens do rio da Salsa, entre os rios Pardo e Jequitinhonha, uma colônia singularmente composta por soldados brasileiros casados e estrangeiros de origem germânica. À semelhança das colônias de Almada, São Jorge dos Ilhéus, Leopoldina e Frankental, esta fora fundada com o intuito de povoar e tornar produtiva uma vasta região da Bahia ainda recoberta por densas matas, e população rarefeita. Distinguia-se, contudo, por estar inserida em área de presença de indígena, e por assim, insegura para o avanço da colonização. Por tal razão, a colônia do Rio da Salsa apresentava o caráter peculiar de abrigar um destacamento militar, denominado "Quartel da Palma", cuja função era garantir a segurança dos caminhos que ligavam o sul da Vila de Ilhéus à povoação de Canavieiras, elevada à vila em 1832.

Os colonos dali teriam desaparecido por volta de 1827, enquanto os soldados permaneceram no destacamento até 1836. Nesse ano, em ofício datado de 7 de junho, o juiz de direito de Ilhéus comunicou ao Presidente da Província o desaparecimento do referido destacamento. A Colônia do Rio da Salsa, embora jamais oficialmente extinta, sucumbiu em seus propósitos, desaparecendo de maneira definitiva e marcando mais um fracasso na tentativa de colonização da região.


4. Colônia Frankental (1821)

No ano de 1821, Georg Anton von Schaeffer, natural de Münnerstadt, acompanhado de dois sócios, João Felipe Henning e João Martinho Flach, recebeu uma sesmaria nas terras devolutas do Sul da Bahia. Juntamente com 20 conterrâneos da Francônia, Schaeffer navegou o rio Peruípe e fundou uma colônia na margem do afluente Jacarandá, região da Colônia Leopoldina, à qual deu o nome de Frankental (vale dos Francos). Médico naturalista, Schaeffer desempenhou o papel de agente de colonização de D. Pedro I, promovendo uma imigração espontânea ao oferecer terras, sementes, ferramentas e auxílio financeiro aos imigrantes dispostos a partir para o Brasil por conta própria.

Uma parte dos colonos chegou como soldados a serviço do imperador, enquanto os demais tinham a liberdade de escolher sua destinação. A colônia de Frankental destacou-se por não recorrer ao trabalho escravo, sendo Schaeffer contrário à utilização de escravos, defendendo que a produção poderia ser lucrativa apenas com colonos, como na cultura cafeeira. Em suas palavras: "pelo trabalho escravo, perder-se-ia uma vantagem da emigração alemã, continuando uma economia que já existe no Brasil. E cujo resultado não constitui uma benção geral para a pátria brasílica.". Schäffer, faleceu em 1836, em sua Fazenda Jacarandá.

Com a extinção da colônia em 1838, as propriedades de Schaeffer e Flach foram incorporadas à crescente Colônia Leopoldina, marcando o fim de ambos os empreendimentos e o início de um modelo capitalista baseado no trabalho escravo e na produção voltada para a exportação. João Flach, filho do pioneiro, foi senhor de quatro fazendas: Helvécia, Kaya, Samambaia e St. Prés, todas outrora pertencentes à Colônia Frankenthal.


5. Colônia de São Jorge dos Ilhéus (1822)

Peter Weyll, o mesmo que fundara a Colônia de Almada, em sociedade com Adolpho Saueracker, estabeleceu, ao sul de Ilhéus, a Colônia de São Jorge dos Ilhéus, em terras de uma sesmaria que lhes fora concedida no ano de 1818. Em 1822, aportaram à Vila de Ilhéus os primeiros colonos alemães, e, no ano seguinte, chegaram 28 casais, totalizando 161 imigrantes, que haviam embarcado no porto de Rotterdam munidos de ferramentas e algum pecúlio para os primeiros tempos.

Entretanto, em razão dos embaraços causados pela Guerra da Independência, os instrumentos de trabalho foram retidos no porto, enquanto a colônia permanecia incompleta para recebê-los. Muitos, enfrentando enfermidades e escassez de recursos, abandonaram o empreendimento e buscaram refúgio na vila. Sensibilizada pela miséria dos imigrantes, a Câmara Municipal de Ilhéus apelou a D. Pedro I, que liberou fundos destinados à manutenção da colônia por dois anos. Tais providências, somadas à derrubada das matas e à preparação das roças, permitiram que os poucos colonos restantes se estabelecessem de modo definitivo nas margens do rio Cachoeira, a uma distância de três a quatro léguas acima de Ilhéus.

Com o tempo, a colônia tomou feição de um conjunto de fazendas, assemelhando-se à trajetória da Colônia Leopoldina. Sua população foi paulatinamente assimilada pela sociedade local, sendo reconhecido que “quase todos os fazendeiros ou são brasileiros, ou descendentes dos antigos colonos.”

Colonia Alemã de São Jorge de Ilhéus, por Rugendas.


6. Colonia de Assuruá (1857)

Posteriormente, em 1857, a Associação Baiana de Colonização organizou outro núcleo de imigração alemã, trazendo 150 alemães do norte da atual Alemanha (Klausthal e Zellerfeld), para trabalhar na Companhia Metalúrgica de Assuruá, fundada por negociantes de Lençóis e pelo alemão Kramer. O empreendimento não durou mais do que dois anos ante uma seca e mudanças ocorridas na Companhia, com os imigrantes se dispersando pela região. 


7. Colonias no Vale do Mucury (1873)

Em 1873, novas colônias foram estabelecidas, como Carolina, Muniz, Teodoro e Rio Branco, com famílias alemãs trazidas pela empresa Moniz. A primeira localizou-se nas proximidades do rio Pardo, e as outras na região de Comandatuba, no sul da Bahia, uma área em processo de ocupação, com a abertura de uma nova fronteira agrícola. O comendador Egas Moniz Barreto de Aragão e o conselheiro Policarpo Lopes de Leão, falantes de alemão, estabeleceram em Hamburgo a agência central de emigração. 

A primeira leva, de 1800 imigrados, veio em 1873, oriundos da Prússia Oriental, de etnia polonesa, dos quais apenas 150 eram alemães propriamente. Foram estabelecidos em Muniz e Teodoro, além de outros dois núcleos de menor dimensão: Núcleo Colonial Carolina e do Poço. Na região do rio Una, em Comandatuba. A precaria infra-estrutura da Companhia para amparar esses colonos, gerou escasseis de viveres, oque deu azo a distenções entre colonos católicos (poloneses) e protestantes (alemães). Oque forçou a intervenção de força pública e transferencia dos poloneses para outra área. Desses, conta-se que mil foram repatriados para a Prússia, 738 faleceram, e apenas 160 permaneceram na região.


8. A Colônia de Una (Itacará-BA, 1927)

O governo da Bahia se predispois abrigar 22 famílias "russo"-alemães do Volga (comunidades alemães assentadas na margem do rio Volga ao tempo de Catarina, na Rússia), acossados pelo comunismo soviético. Segundo os pressupostos de sua Lei de Imigração e Colonização, esses imigrantes deveriam ser assentadas na preparada Colônia de Itaracá em Una, criada desde o ano de 1927, pelo governador Góis Calmon.

A colônia de Una tornou-se a última tentativa de assentar colonos alemães na região do cacau na Bahia. Esse empreendimento transcorreu como os anteriores do século XIX: doenças diversas, e epidemia, fez enorme número de vítimas e os sobreviventes migram quase todos em pouco tempo para outras colonias alemães em  Santa Catarina.


O Legado da Imigração Suíço-Alemã

A colonização do sul da Bahia mediante a imigração alemã, foi um empreendimento pioneiro, antecedendo em pelo menos seis anos ao sul do Brasil, no intuito de substituição da mão de obra escrava por braços livres. Oque redundou nesse sentido, em um fracasso. Mas, não fracassaram os esforços materiais para a provincia da Bahia. Com a imigração alemã, houve um incremento nas lavouras de café e fumo, introduzindo de forma pioneira a cultura do Cacau no sul bahiano. A provincia da Bahia passou a figurar atrás do eixo Rio-Minas-São Paulo na quarta maior exportadora de café do país. E com a abolição, as provincias que utilizavam a mão de obra escrava, entraram em uma profunda decadência, caso do Maranhão, que durante o Império foi uma das mais ricas províncias do Brasil. A Bahia teria tido o mesmo destino, ainda que parcialmente também foi vítima, não fosse a cultura caucaueira, em alta, que manteve a arrecadação de suas finanças . Os imigrantes alemães não só converteram o sul da Bahia como um polo agro-exportador, como deram inicio a uma incipiente industria agro-industrial, manufaturando de forma pioneira as folhas de fumo. O cultivo do fumo, era pouco valorado tido como uma cultura de segunda ordem, legado a pequena agricultura, e os pequenos agricultores alemães a cultivaram em suas pequenas glebas, elevando como parte do que virá ser um importante produto para exportação.

Mesmo com o malogro das colonias com finalidade da implementação de braços-livres, o fluxo de imigrantes alemães continuou, ainda que em menor escala. Registros avulsos, contabilizam,  entre 1856-64, a entrada de 299 imigrantes alemães na Bahia. Esses imigrantes suiço-alemães logo na primeira geração foram assimilados. O Presidente da Provincia  João Maurício Wanderley, em 1855, testemunha que quase todos os fazendeiros da região ou eram brasileiros, ou descendentes dos antigos colonos. O príncipe austríaco Maximiliano, em 1860, de passagem pelo sul da Bahia, diz com frustração que nenhuma das crianças "alemães" falavam a língua de seus pais, que só se comunicavam em português. O antecedente bahiano, e que se repete no sul, mais uma vez corrobora a falácia mentirosa de que a proibição do ensino de línguas estrangeiras, no pequeno interregno de 38 à 45, e que mal durou sete anos, durante o Estado Novo, "matou" a cultura alemã no sul do Brasil. A não pervivencia das línguas germânicas no Brasil, ocorreram determinantemente por seu pequeno vulto ante um corpo nacional, brasileiro, já de longa data sedimentado e amplamente majoritário, conjuntamente, a grande variedade dialetal entre os colonos, aonde o português servia como língua comum, entre colonos de diferentes procedencias. Exceção, de pequenos nucleos que permaneceram em certo isolamento e se casando entre si, uma parcela ínfima entre os proprios imigrantes de origem germânica. 


Artigos Correlatos:


quinta-feira, 24 de outubro de 2024

São Rafael Arcanjo - O Anjo da Guarda do Brasil.

"cada paróquia e diocese, cada cidade e país tem seu próprio anjo da guarda particular e poderoso."

Anne Catherine Emmerich


Desencadeada a Revolução de 30, também dita Revolução de Outubro, a três do dito mês, após 21 dias, no dia 24 de outubro a Revolução chegava ao seu fim, com a deposição de Washington Luís, evitando uma sangrenta batalha fratricida que teria se dado entre as duas forças em Itararé.  Por ter findada na data de festejo de São Rafael Arcanjo (24 de outubro), que a tradição já creditava como o anjo guardião do Brasil, São Rafael Arcanjo foi oficializado como o anjo da guarda do Brasil. 

A devoção de São Rafael Arcanjo no Brasil, esta umbilicalmente ligado a Nossa Senhora de Aparecida, posto que na antiga basílica de Aparecida figurava uma imagem do Arcanjo Rafael aos seu pés. Na bíblia, o Arcanjo Rafael, realiza curas através de um peixe, assim foi associado a Nossa Senhora de Aparecida, que surgiu em meio a rede de pescadores.  

Nas comemorações da Revolução de 30, a igreja a celebrava dizendo:

O Brasil, jovem nação, que suportou durante 40 anos um regime constitucional absurdo, eivado do confucionismo doutrinário das éras passadas e de um exótico liberalismo agnóstico, como o filho de Tobias, necessitava de um guia para conduzi-lo na viagem de regresso as suas tradições católicas. Daí a Providencia Divina, permitindo que fosse invocado São Rafael, quando o País, em armas lutava por uma reforma constitucional e regeneração política; consagrando o dia de sua festa litúrgica (24 de Outubro) com o término da luta fratricida, que, havia 21 dias, ensanguentava o território brasileiro.... Foi assim São Rafael, mais uma vez o portador da alegria – Ele que saudou a Tobias dizendo “Gaudium sit tibi semper” – alegria seja sempre contigo. E podemos afirmar que nunca o Brasil vibrou tanto de alegria tão explosiva, como naquele memorável 24 de Outubro de 1930.

É mister que o Brasil nunca se esqueça de tamanha proteção, em tão singular acontecimento, e que cultue São Rafael como seu Anjo da Guarda. Se hoje os brasileiros regem-se por um Constituição que reconhece e acata os Direitos de Deus e de sua Santa Igreja, podemos afirmar que não pode ser senão graças à proteção de São Rafael, invocado de norte a sul do País, por mais de 300 mil fiéis. 

Aos pés do trono de Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, assiste o Arcanjo São Rafael, como primeiro Ministro do seu abençoado Reino!


São Rafael Arcanjo

O nome Rafael significa "Cura de Deus" ou, também, "Curador divino". É considerado o chefe dos anjos da guarda. Também invocado como o anjo da Providência, que está sempre velando por toda a humanidade. Na missão de São Rafael Arcanjo, está inclusa a cura das feridas da alma e do corpo. Também é um dos sete espíritos que assistem mais próximos de Deus. O Arcanjo Rafael é o terceiro mencionado na Bíblia, no livro de Tobias, velho testamento.

O Arcanjo Rafael é o guia e o defensor do jovem Tobias, enviado por Deus para ajudá-lo na tarefa que lhe foi confiada por seu pai, que se tornou cego, e o envia para receber um crédito que ele havia deixado em uma cidade na Média, na antiga Pérsia. No caminho, Arcanjo Rafael consegue um feliz casamento para Tobias com a jovem Sara, a cura dos sofrimentos causados por forças demoníacas e cura também Tobit, o pai de Tobias, da cegueira. Somente no final de sua missão, antes de retornar para o céu, ele se revela, declarando-se “um dos sete espíritos que estão sempre prontos para entrar na presença da majestade do Senhor” e se encarregando de escrever o que aconteceu.

Sendo um personagem de um Livro da Bíblia não reconhecido pelos protestantes, Arcanjo Rafael não é reconhecido pela maioria das confissões evangélicas. 

No Novo Testamento, quando Jesus cura um paralítico que tentava tocar a água do tanque de Betesda. Embora não seja mencionado o nome do anjo, se intelege ser o Arcanjo Rafael, que vez em quando descia no tanque e agitava a água, afim de curar qualquer doença ao primeiro que mergulha-se em seguida ao movimento das águas (João 5,4). 

Essa identificação permaneceu no culto, tanto que o trecho da cura do cego era lido nas missas dedicadas ao santo.

Posteriormente, o hábito de celebrar a festa litúrgica em 24 de outubro foi consolidado, e aceita pelo Papa Bento XV, que estendeu a festa de São Rafael a toda a Igreja Católica.

Particularmente devotado ao arcanjo Rafael era São João de Deus, a quem o anjo teria aparecido, garantindo-lhe proteção em sua obra de cuidar dos doentes e dos pobres; essa devoção continuou na ordem que ele fundou, os Irmãos Hospitalários.

Em consequência da influência de Arcanjo Rafael no catolicismo e dos hospitais católicos, inúmeros hospitais são dedicados a Rafael.


O Catecismo Católico Sobre os Anjos

§ 336 Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida." Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.

Imagens nas artes

§ 1192 As santas imagens, presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nelas representadas.

§ 2131 Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que (sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova "economia" das imagens.

§ 2502 A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde, por sua forma, à sua vocação própria: evocar e glorificar, na fé e na adoração, o Mistério transcendente de Deus, beleza excelsa invisível de verdade e amor, revelada em Cristo, "resplendor de sua glória, expressão de seu Ser" (Hb 1,3), em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2,9), beleza espiritual refletida na Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, nos anjos santos. A arte sacra verdadeira leva o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Santo e Santificador.

Identidade e encargos

§ 329 Santo Agostinho diz a respeito deles: "Angelus officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen huius naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est; quaeris officium, angelus est, ex eo quod est, spiritus est, ex eo quod agit, angelus - Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são "poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103,20).

§ 332 Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu filho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por seu ministério, conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas, para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.

§ 333 Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da adoração e do serviço dos anjos. Quando Deus "introduziu o Primogênito no mundo, disse: - Adorem-no todos os anjos de Deus- " (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor da Igreja: "Glória a Deus..." (Lc 2,14). Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda os anjos que "evangelizam", anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará.

§ 334 Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos.

§ 335 Em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adora o Deus três vezes Santo; ela invoca a sua assistência (assim em In Paradisum deducant te Angeli... - Para o Paraíso te levem os anjos, da Liturgia dos defuntos, ou ainda no "hino querubínico" da Liturgia bizantina). Além disso, festeja mais particularmente a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael, os anjos da guarda).

§ 336 Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida." Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.

§ 350 Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem a seus desígnios salvíficos em relação às demais criaturas: "Ad omnia bona nostra cooperantur angeli. - Os anjos cooperam para todos os nossos bens"

§ 351 Os anjos cercam Cristo, seu Senhor. Servem-no particularmente, no cumprimento de sua missão salvífica para com os homens.

§ 352 A Igreja venera os anjos que a ajudam em sua peregrinação terrestre e protegem cada ser humano

§ 1034 Jesus fala muitas vezes da "Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo. Jesus anuncia em termos graves que "enviar seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente" (Mt 13,41-42), e que pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o fogo eterno!" (Mt 25,41).

Na anáfora

§ 1352 A anáfora. Com a Oração Eucarística, oração de ação de graças e de consagração, chegamos ao coração e ao ápice da celebração. No prefácio, a Igreja rende graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras, pela criação, a redenção, a santificação. Toda a comunidade junta-se então a este louvor incessante que a Igreja celeste, os anjos e todos os santos cantam ao Deus três vezes santo.

Nas aparições de Fátima o Santo Anjo da Guarda de Portugal apareceu aos pastores e deu diversas instruções, entre elas, ensinou duas orações para serem rezadas em reparação pelos fiéis no mundo todo, são elas:

“Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Amém”

“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.

São Tomás de Aquino em sua obra Suma Teológica diz que os anjos são espíritos puros, criados por Deus, imortais e dotados de inteligência e vontade. Na mesma obra sistematiza uma hierarquia angélica, segundo o qual:

Todo o Coro Angélico se divide em três hierarquias. A Primeira Hierarquia se divide em três ordens:

1ª Ordem, a dos Serafins (ardor caritativo: imagem do amor divino);

2ª Ordem, a dos Querubins (plenitude de ciência: imagem da sabedoria divina) e a

3ª Ordem, a dos Tronos (assento de Deus: compreendem o juízo divino).

A Segunda Hierarquia se divide em três ordens:

1ª Ordem, Dominação (governo dos próprios anjos: domina e distingue o que fazer);

2ª Ordem, Virtude (executa a ordem da dominação com relação à natureza física) e a

3ª Ordem, Potestade (ocupa-se do combate aos anjos caídos).

A Terceira Hierarquia também se divide em três ordens:

1ª Ordem, Principado (guia na execução dos atos e dirigem os destinos das nações);

2ª Ordem, Arcanjo (anuncia importantes missões aos homens e guarda as pessoas que desempenham importantes funções para a glória de Deus, como o Papa, bispos e sacerdotes) e a

3ª Ordem, Anjo (anuncia, comunica e protege individualmente cada homem). 

Esta é a ordem hierárquica dos anjos estabelecida em relação à perfeição da glória e ao que a natureza tem e recebeu na origem de sua criação.


A beata Anne Catherine Emmerich em uma de suas revelações  disse que: "cada paróquia e diocese, cada cidade e país tem seu próprio anjo da guarda particular e poderoso.".

Outro que devotava grande devoção aos anjos era Padre Pio, que desde criança, dizia vê-los. Dizia, aos seus filhos espirituais, que se precisassem: "enviem-me o seu anjo da guarda.". E assim, durante várias horas, de dia ou noite, ouvia as mensagens trazidas por seus respectivos anjos da guarda. Dentre tantos casos relacionados entre Padre Pio e Anjos da Guarda, registra-se um em que: "Um homem contou para Padre Pio: 

- Não posso vir vê-lo freqüentemente. Meu salário não me permite tais viagens longas e caras. 

Ao que respondeu Padre Pio: 

- Quem lhe disse que precisa vir aqui? Você tem seu Anjo da guarda, não o tem? Conte-o o que quer, e o envia a mim, e você terá a resposta!


Querida filha de Jesus:

Que o teu coração sempre seja o templo da Santíssima Trindade, que Jesus aumente em teu espírito o ardor do seu amor e que Ele sempre te sorria como a todas as almas a quem Ele ama. Que Maria Santíssima te sorria durante todos os acontecimentos da tua vida, e abundantemente substitua a mãe terrena que te falta.

Que teu bom anjo da guarda vele sempre sobre ti, que possa ser teu guia no áspero caminho da vida. Que sempre te mantenha na graça de Jesus e te sustente com suas mãos, para que tu não tropeces em nenhuma pedra. Que te proteja sob suas asas de todas as armadilhas do mundo, do demônio e da carne.

Esforça-te, Annita, por ter uma grande devoção a esse anjo tão benéfico. Que consolador é saber que perto de nós há um espírito que, do berço ao túmulo, nunca nos abandona, nem mesmo quando nos atrevemos a pecar! E este espírito celestial nos guia e protege como um amigo, um irmão.

É mais consolador ainda saber que esse anjo ora sem cessar por nós, oferece a Deus todas as nossas boas ações, nossos pensamentos, nossos desejos, se são puros.

Por caridade, não te esqueças desse companheiro invisível, sempre presente, sempre pronto a nos escutar e mais ainda a nos consolar. Ó deliciosa intimidade! Ó feliz companhia! Se soubéssemos pelo menos compreendê-la…!

Mantém sempre [teu anjo] diante dos olhos da alma, recorda-te com frequência da presença desse anjo. Agradece, ora, nutre sempre para com ele uma boa companhia. Abre-te e confia a ele teus sofrimentos. Toma sempre cuidado para não ofenderes a pureza do seu olhar: toma conhecimento e fixa bem esta verdade em tua alma. Ele é muito delicado, muito sensível. Dirige-te a ele em momentos de suprema angústia e experimentarás os seus benéficos efeitos.

Nunca digas que estás sozinha na batalha contra os teus inimigos. Nunca digas que não tens ninguém com quem te possas abrir e confiar. Isso seria uma grande ofensa que se faria a este mensageiro celestial.

No que diz respeito às locuções interiores, não te preocupes, fica tranquila. O que sim deves evitar é prender o teu coração a estas locuções. Não dês muita importância a elas, mostra-te indiferente. Não a desprezes; porém não ames nem desejes tais coisas. Deves sempre responder a estas vozes assim: “Jesus, se sois vós quem me falais, fazei-me ver concretamente os efeitos da tua palavra, ou seja, as santas virtudes em mim.”

Humilha-te diante do Senhor e confia nele. Gasta tuas melhores energias com a graça divina praticando as virtudes, e deixa então que a graça opere em ti conforme a vontade de Deus. São as virtudes que santificam a alma, e não os fenômenos sobrenaturais.

Não te perturbes procurando saber entender quais locuções vêm de Deus. Um dos principais sinais de que estas locuções vêm de Deus é que, tão logo ouvimos estas vozes, nossa alma se enche de temor e perturbação, mas logo em seguida deixam a alma numa paz divina. Por outro lado, quando as locuções interiores provêm do inimigo, no início provocam uma falsa segurança, mas logo em seguida vêm uma perturbação e um mal-estar indescritíveis. Não duvido em absoluto de que Deus seja o autor de tais locuções; mas é preciso que sejas cautelosa, porque muitas vezes o inimigo pode misturar ali coisas que são dele.

Mas isso não te deve assustar: esta é uma provação à qual foram também submetidos os maiores santos e as almas mais iluminadas que, não obstante tudo isso, foram agradáveis ao olhar de Deus.

Deves somente prestar atenção a nunca crer facilmente nestas locuções, e de forma especial quando se trata daquelas que exigem que faças algo ou indicam o modo de agir. E cuida de, ao recebê-las, submeter tudo ao juízo de quem te dirige espiritualmente, obedecendo às suas decisões.

Recebe, portanto, tais locuções com muita cautela e com humilde e constante indiferença. Comporta-te dessa maneira e tudo fará crescer teus méritos diante do Senhor. Põe teu espírito em paz: Jesus te ama e muito. Quanto a ti, procura corresponder a este amor, sempre progredindo em santidade diante de Deus e dos homens.

Faze também orações vocais, pois ainda não chegou a hora de deixá-las e suporta com humildade e paciência as dificuldades que experimentas ao fazer isto. Prontifica-te também a sofrer as distrações e a aridez, mas nunca abandones a oração e a meditação. É obra do Senhor que assim deseja tratar-te para teu proveito espiritual.

Perdoa-me se termino por aqui. Só Deus sabe o muito que me custou escrever esta carta. Estou muito doente; reza bastante para que o Senhor queira logo me livrar deste corpo.

Eu te abençoo, e também à querida Francisca. Desejo que vivais e morrais nos braços de Jesus. 

Frei Pio

 

Padre Pio tinha rezava diariamente ao seu Anjo da Guarda, a seguinte oração:

Anjo de Deus, meu guardião,

a quem a bondade

do Pai Celestial me confia,

Ilumine, proteja e guie-me agora e para sempre.

Amém.


durante a noite  “Oração do Santo Anjo para Antes de Dormir.”:

“Santo anjo da guarda, meu poderoso protetor, guardai-me sempre na paz de vosso amor. 

Dos perigos, livrai-me; do mal, libertai-me; e nos momentos de angústia, consolai-me! Durante o sono, velai sobre o meu descanso, não deixeis o mal de mim se aproximar. 

Sob as asas do seu amor, possa meus sonhos habitar! Nesta noite de luz, afugentai as trevas do medo, afastai também as tentações, para que minha alma tranquila descanse sem aflições. 

E que no alvorecer de um novo dia, eu acorde feliz e restaurado, e seja para o mundo testemunha de ser sempre por vós amado!”




ORAÇÃO AO  ANJO DA GUARDA DO BRASIL 

Santo Anjo do Brasil, vós fostes encarregado pelo Pai Eterno de guardar esta Terra de Santa Cruz e ajudá-la a crescer e desenvolver-se conforme Seus desígnios benevolentes. 
Nós cremos no vosso poder junto de Deus e confiamos na vossa prontidão em socorrer-nos. Sede, pois, nosso guia para que cumpramos convosco a nossa missão no mundo. 
Ajudai a Igreja no Brasil a anunciar Cristo com franqueza e alegria e penetrar toda a sociedade com o fermento do Evangelho. 
Afastai, com a força da Santa Cruz, todos os poderes inimigos que ameaçam os brasileiros. 
Unimos as nossas preces às vossas. Apresentai-as diante do Trono de Deus, para que, unidas ao sacrifício de Jesus, oferecido diariamente em nossos altares, alcancem aquelas graças que mais precisamos nesta hora de combate espiritual. 
E guardai-nos sempre debaixo do manto protetor de Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe e Rainha, para que permaneçamos fiéis no caminho de Jesus, o único que nos conduz da terra ao Céu. Lá na assembleia de todos os povos, unidos como uma só família de Deus, louvaremos e agradeceremos convosco ao Pai Eterno, com seu Filho e Espírito de Amor, por toda eternidade. Amém. 
 04/11/1934, Ação Católica, A Cruz. 

 

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A Infiltração Religiosa - A Fórmula Imperialista de Desfragmentar Nações



quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A Imigração Francesa Para o Brasil


A imigração francesa é completamente ignorada pelos dados estatísticos do IBGE, dentre outros, bem como na literatura sobre o tema. Talvez, por falta de dados oficiais. Embora existam e encontrem-se dispersos. Algumas estimativas apontam a vinda de 250 a 300 mil imigrantes franceses para o Brasil, oque a colocaria entre as cinco maiores correntes imigratória para o País. Contudo, dados mais conservadores e lastreados em registros mais fidedignos, sugerem entre 100 a 150 mil franceses. Ainda sim, é um número expressivo que coloca a imigração francesa logo em seguida as cinco maiores. Embora, não figure dentre as maiores, concorre, com a portuguesa e alemã, entre as mais antigas. E a exemplo da portuguesa, embora, diminuta, se revela constante, ante outras que cessam, e também, como a portuguesa, embora tenha uma maior concentração em determinados centros, Rio de Janeiro e São Paulo, notadamente, se faz presente em todo o País. 


A Presença Francesa no Período Colonial:

A presença francesa no Brasil concorre com a portuguesa, dentre as mais importantes na sua formação. O brasileiro é fruto do concubio entre pai português e mãe franco-brasileira, e não propriamente índia, como passou para história. Catharina (Paraguaçu) matriarca dos brasileiros é talvez a expressão maior desse entrelaçamento, filha de uma francesa que se casa com um português Diogo Alvares (o caramuru) dando origem a um dos principais troncos formadores da nação brasileira. Esse processo se operou em todo o Brasil, e os casamentos, entre portugueses e mulheres "indigenas" quase que imediato a conquista de tribos inimigas até então aliadas aos franceses, evidenciam de maneira muito clara a preferencia de portugueses solteiros por essas mamelucas franco-brasileiras. Essa presença francesa no Brasil se extende durante todo o primeiro século de formação. 

Com as invasões holandesas, estima-se que os franceses compunham 7% das forças da Companhia das Índias Ocidentais, oriundos da região da Picardia (fronteira com a Bélgica) notadamente. E muitos desses, católicos, desertaram, e passaram para o lado dos brasileiros, algo entre quinhentos a mil homens, resultando entre 70 a 140 mil descendentes desses, na atualidade, no nordeste do Brasil.

Nos séculos seguintes, até início do XIX, ainda se registra a presença de franceses, sob a forma de clérigos, comerciantes e por vezes como corsários. 

Em 1704, dar-se conta de franceses casados com filhas dos principais da terra em ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foi um francês,  Ambrozio Jauffret, de Marselha, radicado em São Paulo durante 30 anos, aonde casou e teve filhos, que prestou informações ao corsário René Duguay-Trouin para o saquear a cidade do Rio de Janeiro em 1711.

Ao longo do século XVIII, com a descoberta das minas, registra-se a vinda de franceses empenhados no ramo mineralogico, ouriversaria, e joaleiria, não somente em Minas Gerais, como em outras regiões que potencialmente vislumbravam essa possibilidade. Caso de: Jean Fontaneilles, que se estabeleceu em Viçosa do Ceará em 1724, mineralogista a serviço da coroa portuguesa, e que deixou larga descendencia; Antes, em 1690, logo que se descobriu ouro em Minas Gerais, veio Jean de Lannes, advindo de uma família de ourives de Bayonne, França, na região dos Baixos Pirineus; Louis-Claude de Saunier, que se estabeleceu em Paraty, e posteriomente na cidade do Rio de Janeiro (1740); Louis-François Rifflard, comerciante de escravos, diamantes e ouro, se estabelecendo no Rio de Janeiro, Paraty e posteriormente Ouro Preto-MG (1740); Pierre Lecomte, estabelecido em Salvador, Bahia, em 1760, aonde casou e teve filhos; Jean-Pierre Barral, imigrante em Florianópolis-SC, em 1789, casou com Maria Joaquina de Oliveira e Silva, natural da região; dentre outros..... é nesse bojo, embora, já inicio do século XIX, que advem, pelo lado paterno, os avós de Santos Dumont, o parisiense François Dumont, junto com sua esposa, D.ª Eufrásia François Honnorée Dumont, filha de rico ourives de Bordeaux, na primeira metade do século XIX, e se estabelecem em Diamantina, com negócios de mineração de ouro e lavra de diamantes. Na mesma época, outras famílias francesas se estabeleceram em Minas Gerais.


A imigração francesa pós Brasil Independente:

Finda as Guerras Napoleônicas, com a paz de 1815, numerosos franceses começaram a vir para o Brasil, atraídos pela corte portuguesa no Rio de Janeiro, com alguns se dirigido para a Bahia e Pernambuco.

O contra-almirante francês Julien de la gravière, a bordo do navio Le Colosse no Rio de Janeiro, registrou, em 8 de setembro de 1820, que se encontravam somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses, e que eram frequentes a chegadas de mais, que aumentavam sensivelmente esse número: " [...] nous comptons actuellement environ 3 000 Français rien qu'à Rio de Janeiro et les arrivées fréquentes augmentent considérablement ce nombre".

Na década de 30 do Séc. XIX, ocorre uma intensa imigração de franceses da região da Gasconia, uma região pobre e agrícola, no sudoeste da França, para a América do Sul, especialmente Uruguai e Argentina, tendo uma pequena parte desse contingente aportado no Brasil. Além da pobreza, e falta de terras agrícolas, especialmente, entre os bascos, ante o terreno montanhoso e íngrime dos Pirineus, vigia na época uma política anti-católica pelos liberais, perseguições políticas, oque impeliu muitos bascos do lado francês a imigração. 

No Rio de Janeiro no ano de 1834 contava-se a presença de 3.800 franceses. Constituindo na segunda maior comunidade estrangeira no Rio de Janeiro. Entre 1837-42 estima-se que tenham imigrado para o Brasil 25 mil franceses. A guisa de comparação para a Argentina, nesse mesmo período, 29 mil, e para o Uruguai 10 mil. Ao final desse ciclo, décadas mais tarde, esse contingente totalizará 239 mil imigrantes da França (maioria bascos) para a Argentina. Para a América do Norte esse contingente foi ainda maior, 480 mil. Houve na década de 40 do Séc. XIX um grande fluxo imigratório de franceses para os EUA, atraidos pela descoberta do ouro californiano. Quando esse ciclo finda em 1851, esse fluxo é direcionado para as grandes capitais da América do Sul, especialmente Buenos Aires, Montevideo e Rio de Janeiro. Daí pode-se mais uma vez mensurar o quão infíma foram os contingentes imigratórios para o Brasil. 

Doravante, gascões representarão o principal contingente imigratório francês, conjuntamente com bascos do lado francês, posto imigrarem via porto de Bordeaux e Bayonne. Mais das vezes um gascão será tomado por basco e vice-versa. Na Argentina e Uruguai, muitos imigrantes bascos advem desse período, pelo lado francês. Nesse bojo, concorrerá também uma minoria de outras regiões, muitos desses, profissionalmente bastante qualificados: engenheiros e profissionais autononomos. 

A Missão Artistica Francesa (1816)

A chegada da corte joanina no Brasil, fujidos das tropas napoleônicas, paradoxalmente, trouxe consigo uma enorme influência francesa, antes inexistente no Brasil. A guisa de exemplo, a corte adotava em seus protocolos palacianos, a língua francesa. Oque só foi parcialmente extinto pela Imperatriz D.ª Leopoldina, que fez adotar o português. Oque explica a posterior francofilia de D. Pedro II. A lembrar que a segunda esposa de D. Pedro I, a Imperatriz D.ª Amélia, madrasta do pequeno D. Pedro II, era francesa, sobrinha de Napoleão Bonaparte. 

A Missão Artistica francesa ganha destaque nesse contexto. Foi o ministro D. Antônio de Araújo de Azevedo, o conde da Barca, diplomata português e profundo admirador dos ideais franceses, quem teve a iniciativa de chamar um grupo de artistas e intelectuais diretamente da França (1816). Composta por artistas plásticos, arquitetos, músicos, carpinteiros, serralheiros, chefiada por Joachim Lebreton, com objetivo de instalar o ensino das artes e ofícios no Brasil através da construção da Academia de Belas Artes. 

A vinda desses franceses mais do que uma “missão”, constituiu uma colônia de refugiados. Compostos, em sua maioria, por partidários da frustrada restauração dos Bourbons, de ideais absolutistas e conservadores.

Em 12 de agosto de 1816, via decreto, foi criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Sendo designado o arquiteto Victor Grandjean Montigny para construção do prédio da Academia das Belas-Artes, logo paralisada em 1817, ante o falecimento do conde da Barca. E só inaugurada em novembro de 1826. Ante esse fato, os franceses foram transformados em funcionários públicos e pouco aproveitados. Houve desentendimentos e eles espalharam-se pelo Rio de Janeiro onde, motivados pela paisagem exuberante e pela existência de uma burguesia rica e desejosa de ser retratada, continuavam seus trabalhos.

Grandjean de Montigny ajudou a organizar o ensino da arquitetura e das artes e a implantar o estilo Neoclássico, que seria a tônica de todo o período monárquico. Foi autor de vários projetos, principalmente no Rio de Janeiro, como o Solar Grandjean de Montigny, a Academia Imperial de Belas Artes, o Chafariz da Carioca, entre outros. Muitos desses projetos, como a Academia em 1937, foram demolidos. A atual Casa França-Brasil, outrora Praça do Comércio, depois Alfândega e Tribunal do Júri, entre outros usos, construída em 1820,  foi o primeiro edificio de estilo neoclássico no Brasil. O edifício deveria ser símbolo de poder e modernidade com suas "ideologia da ilustração", "classe" e "proporcionalidade" específicas e novas, levando o Brasil a ingressar oficialmente no estilo mundial. Essas novas concepções cosmopolitas, levantaram fortes oposições dos artistas luso-brasileiros.

Jean-Baptiste Debret, tido como “a alma da missão francesa”. Pintou diversos retratos da família real, quadros históricos e gravuras, que são relatos dos costumes e vida no Brasil do século XIX. Além de pintor, Debret também foi desenhista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil, em 1829. Sua principal obra “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, em três volumes, retratou em suas viagens os indígenas, a sociedade do Rio de Janeiro e assuntos diversos. Debret permaneceu no Brasil até o ano de 1831, aonde dar-se conta, ter deixado um filho. Junto com Nicolas-Antoine Taunay, foi o primeiro artista profissional a chegar ao  Brasil desde o século XVII quando da invasão holandesa.


As Colonias Agrícolas Francesas

A imigração francesa para o Brasil foi um fenômeno essencialmente urbano, centrado nas grandes capitais brasileiras. Porém, houveram tentativas de colônias agrícolas. A recordar que os colonos suíços que fundaram, de forma pioneira, a colonia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro em 1818, eram francófonos. 

Benoit-Jule Mure
Entre essas iniciativas, destaca-se a fundação da Colonia Industrial de Sauí em 1841,  em Santa Catarina, na atual divisa com o Paraná, no estuário do rio Ivaí,  que protagonizou a primeira experiencia real de socialismo no Brasil. Inspirado nos ideais socialistas de Charles Fourier, que pregava uma forma de trabalho cooperativo ante os malefícios do capitalismo e sua degeneração moral, organizada em "Phalanstères": 

O Falanstério seria uma estrutura social e arquitetônica destinada a reunir um grupo de pessoas que viveriam e trabalhariam juntas em harmonia. O falanstério visava abrigar um número relativamente grande de pessoas em uma comunidade autossuficiente, onde todos contribuiriam para o trabalho e compartilhariam os frutos desse trabalho. Fourier acreditava que a sociedade deveria ser organizada em grupos chamados de "falanges", com cerca de 1.600 a 2.000 pessoas. Esses grupos deveriam cooperar em todas as áreas da vida, desde a produção até o lazer. O trabalho seria dividido de maneira que todos pudessem se dedicar a atividades que achassem agradáveis e produtivas, promovendo a ideia de que o trabalho deveria ser uma fonte de prazer e realização pessoal. O falanstério deveria ser projetado de forma a promover a convivência e a colaboração, com edifícios que facilitassem a interação e a eficiência. Fourier também enfatizava a importância da educação e da cultura dentro do falanstério, garantindo que todos tivessem acesso a atividades culturais e intelectuais.

Benoît-Jules Mure, foi o responsável pela implementação deste projeto no Brasil. 

A descoberta de jazidas carboníferas em Santa Catarina, pareceu propiciar a Mure, o local ideal para instalação de um falanstério (uma colonia industrial de regime cooperativista).

Jamain, Derrion e cerca de outros quarenta franceses se estabeleceram nas terras do Palmital.

entre fins de 1841 e início de 1844, cerca de 500 colonos vieram da França, oriundos da região de Lorraine-Alsácia. Um relatório de Charles Leclerc de novembro de 1843 fala de 236 os colonos em São Francisco, localidade da colônia. No relatório de Derrion em fins de 1844, aponta menos de três dezenas na área. A maioria dispersou ainda no Rio de Janeiro, bem como na região de São Francisco do Sul - SC, tendo alguns rumado para o Uruguai. 

Projeto do que deveria ter sido o Falanstério de Sahy

Por volta de 1847, foi criada a Colônia Dr. Faivre, rebatizada como Colonia Thereza Christina (em homenagem a então imperatriz do Brasil), atualmente, município Cândido Abreu-PR, às márgens do rio Ivaí, pelo médico francês Dr. Jean Maurice Faivre, que contava 87 colonos: 65 franceses e 22 belgas, e posteriomente brasileiros. Em sua maioria esses "franceses" eram etnicamente alemães  de Lorraine-Alsácia, região disputada entre França e Alemanha.

Região de Lorraine e Alsácia
disputada por França e Alemanha
Na mesma época, também no Paraná, na década de 1850, franceses se estabeleceram na Colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá. Em 1868 foi criada a Colônia Argelina na região que hoje é o bairro do Bacacheri, em Curitiba. Em Curitiba é realizado desde 1988 pela Aliança Francesa a Festa da Francofonia. Estima-se que na década de 2010 o Paraná tinha cerca de seiscentas famílias descendentes de franceses.

Em 1850, foi fundada a colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá.  Em Curitiba, no que hoje é o bairro Bacacheri, foi fundada a colônia argelina, franceses antes estabelecidos na Argélia e que advieram para o Brasil. Em 1858 contava 22 franceses 

Em 1875 foi fundada a colônia de Assungui, no município de Cerro Azul, a 100 Km de Curitiba, com 338 franceses e 875 brasileiros, havendo uma dispersão desses colonos para outros locais. Em 1880, a colônia contava: 2054 brasileiros, 288 alemães, 238 ingleses (chegados em meados de 1860), 195 franceses, 95 italianos, 76 suíços e 11 espanhóis, e alguns poloneses, suecos e dinamarqueses.


 publicação, em 1859, por parte do governo francês de uma "mise em garde" contra as tentativas de engajamento de emigrantes para o Brasil. Em 1875, dois decretos (14/04 e 30/08) proibiram o recrutamento para o Brasil e a Venezuela ( no caso do Brasil proibição só levantada no final dos anos 1890).


1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, advindos do Uruguai, que ante os tumultos políticos locais em Montevideo, não aportaram. Chegados em Recífe, ante as dificeis circunstancias enfrentadas, a maior parte preferiu migrar para o Pará, ou retornar para França.

1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses, 

  • 1841, Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí
  • 1841, Palmital, 40 colonos advindos da colônia do Saí. 
  • 1847, colônia Tereza Christina, em Cândido de Abreu - PR.
  • 1847, colonização do vale do Mucuri-MG.
  • 1875, colônia de Assungui - PR, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, que se dispersaram para outras localidades.
  • 1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, tendo a maior parte partido, migrando para o Pará, ou retornaram para França.
  • 1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses.
  • 1880, Colonia de Santo Antonio, Pelotas-RS, colonizada por 50 famílias francesas, advindas em sua maioria de Provença.


A Imigração Francesa para o nordeste do Brasil: 

Colonias Bretãs no Maranhão
O fluxo de imigrantes franceses para o nordeste do Brasil, se inicia em 1830 no Maranhão, quando a França, enfrentou uma escassez de produção do algodão devido ao crescimento da demanda internacional e à dificuldade de manutenção das plantações nas suas colônias. Oportunidade em que o governo imperial brasileiro, interessado em expandir a produção de algodão, ofereceu incentivos e facilidades para os imigrantes franceses. Sendo o Maranhão uma região propicia pela sua "proximidade" com a Europa e terras férteis. Cerca de 2 a 5 mil franceses, da Bretanha, entre 1830 à 1850, se estabeleceram no interior do Maranhão em Alto Turi, Caxias, Pindaré-Mirim, e Codó. São Luís como porto de entrada, acabou fixando também franceses que intermediavam a exportação algodonheira. A partir de 1850, o número de imigrantes franceses ao Maranhão caiu consideravelmente, já que a imigração para outras regiões do Brasil começou a ganhar força.

A França por volta de 1840, foi afetada por uma grave seca, que atingiu em cheio sua população rural. A miséria e o desemprego, forçou um grande contingente a imigração para as Américas. Como já dito, em sua maioria bascos e gascões do sudoeste da França, que tiveram como especial destino a  Argentina e o Uruguai. Com uma parte vindo para o Brasil, marcadamente, para as grandes capitais do nordeste do país: Salvador, Recífe, Fortaleza, e São Luís.

Principais centros de imigração
francesa ao NE do Brasil. 
Registros da imigração francesa indicam que, entre 1851 e 1914, 35 mil franceses imigraram para o nordeste do Brasil. Dados parciais do consulado da França em Salvador, na época, revelam um crescimento da comunidade francesa na cidade, passando de 592 indivíduos em 1861 para 6 mil em 1872.

Essa presença francesa, é bastante reveladora para a explicação fonética, na ênfase, da pronuncia do "r" aveolar (o "r" de carro) que se verifica na região. Fenômeno também observado no Rio de Janeiro, outro grande centro de imigrantes franceses.

Alguns filologos, sugerem, a título hipotético, sem maiores estudos sobre o tema, e que são bem escássos, uma suposta influencia holandesa para justificar esse "r" aveolar na região. Ocorre, que no interior, nos sertões, aonde tem-se uma descendencia holandesa mais consistente, ante a endogamia remanescente do meio rural, esse "r" não é tão marcante quanto nas grandes capitais. A imigração francesa, nesses grandes centros, explica o fenômeno. Além claro, da influência da língua francesa entre as famílias mais abastadas e com acesso a educação.

 
As Cifras da Imigração Francesa

A embaixada da França em 2013, informava haver 2 mihões de descendentes de franceses no Brasil. Em uma progressão, isso equivalia a cerca de 100 mil imigrados originalmente. Outras estimativas levantadas a cerca da imigração basca, notadamente, advinda do lado francês, apontava 100 mil imigrados entre 1850 e 1965. 

Como dissemos inicialmente, os números são conflitantes, e variam. O IBGE, ao menos publicamente, se quer menciona a imigração francesa. O Arquivo Público Nacional registra apenas 34 mil imigrados franceses. É um número bem aquem da realidade. 

Dados oficiais franceses, registram que somente para o nordeste do Brasil, imigraram 35 mil franceses entre 1851 à 1914 . A considerar que o fluxo imigratório francês para centros como Rio de Janeiro e São Paulo foram muito maiores. E se iniciam em 1815, com o fim das guerras napoleônicas, com fluxo tanto para o Rio, quanto para Bahia e Pernambuco. Em 1820, o contra-almirante francês Julien de la gravière, dizia haver somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses. No ano de 1834, ainda no Rio de Janeiro, contava-se 3.800 franceses. Constituindo a segunda maior comunidade estrangeira da cidade. 

Na década de 40 do Séc. XIX, houve uma grande imigração francesa para os EUA, atraidos pela descoberta de ouro na California. Quando esse ciclo finda em 1851, esse fluxo é direcionado para as grandes capitais da América do Sul, especialmente Buenos Aires, Montevideo e Rio de Janeiro. Dados parciais da imigração basca na América do Sul, estima em 25 mil imigrantes franceses de origem basca para o Brasil entre 1837 à 1842. A guisa de comparação, nesse mesmo período, para a Argentina, registrou-se 29 mil, e para o Uruguai 10 mil. Ao final desse ciclo, décadas mais tarde, esse contingente totalizará 239 mil imigrantes da França (maioria bascos) para a Argentina. Para a América do Norte esse contingente foi ainda maior, 480 mil. Daí pode-se mais uma vez mensurar o quão infíma foi os contingentes imigratórios para o Brasil. 

Por volta de 1837-1842Por volta de 1843-1850
EuropeusfrancêsEuropeusfrancês
Brasiln / cn / c250.000 (estimado) *25.000 (estimado)
Argentinan / c6.000 (estimado)300.000 (estimado)29.000 (estimado)
Uruguai30.00018.00020.00010.000


O arquivo Nacional registra que entre 1875-1910, 18.920 franceses aportaram no Rio de Janeiro.

O consulado da França em fevereiro de 1911, estimava em 11 mil a presença de franceses vivendo no Rio de Janeiro, em resposta ao ministro Stephen Fichon.

Em 1915, 14 mil imigrantes franceses, 6 mil em São Paulo, 4 mil no Rio de Janeiro, 1 mil no Rio Grande do Sul, 700 no Paraná, e 350 Bahia.

O Censo Republicano de 1920, apontava 31.984 franceses morando no Brasil. São Paulo contava com a maior parte desses imigrantes, contabilizando 13.576. Em seguida, vinham o Distrito Federal (na época, a cidade do Rio de Janeiro) com 10.538 franceses e o Rio Grande do Sul com 4.216. No estado de São Paulo, as cidades com os maiores números eram a capital (3.859), Santos (581), Campinas (389), Taubaté (371) e Ribeirão Preto (361). No Rio Grande do Sul, Porto Alegre tinha 2.356 franceses, seguido por Pelotas (775) e Rio Grande (730).

Outras fontes francesas estimam em 30 mil imigrados entre 1850 à 1889, 60 mil entre 1889 à 1914, e de 30 à 40 mil entre 1914 e 1930. Totalizando entre 100 à 120 mil franceses que imigraram para o Brasil. Ponderando que são cifras inferiores as anteriores. A notar o lapso temporal de 1815 à 1850:
"Au total, on peut estimer que entre 100 000 et 120 000 Français ont immigré au Brésil entre 1850 et 1930. Ce chiffre est inférieur aux estimations antérieures, qui étaient souvent beaucoup plus élevées. Cependant, il est basé sur une analyse plus rigoureuse des données disponibles."
É dificil mensurar nas estatísticas, que se seguem a outros levantamentos estatísticos de anos posteriores, quantos seriam os remanescentes e quantos seriam novos imigrados. De modo, que nos valendo de cifras mais isoladas podemos chegar a numeros mais fidedignos sem incorrer em erro. Assim, por exemplo, a menção de 3 mil franceses no Rio de Janeiro em 1820, limitamos essa quantidade ao censo de 1834 da cidade do Rio de Janeiro que registrava 3.800 franceses.

Ante os numeros oficiais e fidedignos registrados podemos fazer um balanço que se chega ao número de cerca de 121,5 mil imigrantes franceses entre 1820 à 1920:
  • 1830-50, 2 à 5 mil (Maranhão)
  • 1834: 3.800 (censo da cidade do Rio de Janeiro)
  • 1837-42: 25 mil (estimativa)
  • 1851-1914: 35 mil (dados franceses referentes somente ao nordeste do Brasil)
  • 1872: 2.884 (cidade do Rio de Janeiro)
  • 1882-91, o porto de Santos-SP,  registrou  a  chegada  de 1.922  franceses. 
  • 1875-1910: 19 mil (registro nacional referente, somente, a imigrantes chegados ao Rio de Janeiro)
  • 1920: 32 mil (censo republicando, nacional)
  • 1933: 22 mil. 
Os dados de 1851 à 1914, de 35 mil imigrantes franceses, são referentes apenas ao nordeste do Brasil, há um lapso geral referente a imigração para o sul, e que por certo houve tão ou mais forte. Referente ao periodo anterior, de 1830 à 1850 no Maranhão, imigraram entre 2 a 5 mil franceses, trata-se de estimativa, e como tal, sejamos conservadores, contabilizando apenas 2 mil. Há um lapso de dados entre 1834 à 1850 (com exceção do Maranhão entre 1830-50), contudo nesse período há uma estimativa de 25 mil imigrados, no bojo da imigração francesa para a América do Sul (Argentina e Uruguai). Entre 1875-1910 temos 19 mil imigrantes, somente na cidade do Rio de Janeiro! Novamente, um imenso silêncio no restante do País. E no censo republicano, nacional, de 1920,  32 mil. O registro de quotas para imigraçãodo governo federal, contava de 1884 à 1933, a entrada de 54 mil imigrantes franceses. Desses 54 mil, eliminemos 32 mil, apresentados pelo censo republicano de 1920, e temos 22 mil. Esses 22 mil, não é um numero tão fiel, posto que nesse bojo pode constar numeros de 1875-1910 (19 mil), mas, passados uma década até 1920, e dessa a 1933, cremos que é um numero próximo que se agrega. Na década de 30, o Estado Novo desestimulou a imigração, com exceção da imigração portuguesa. Razão pela qual os contingentes imigratórios de outras nacionalidades praticamente cessaram. Ocorrendo nas décadas de 40 à 60, um novo surto imigratório. Também há um lapso de dados nesse período sobre a imigração francesa, contudo, podemos traçar um paralelo com a Argentina, que antes teve um contingente imigratório de origem francesa muito maior do que o Brasil (250 mil), e que nesse interregno de 40 à 60, contou apenas 6 mil imigrantes franceses. É de supor que no Brasil esse contingente não seja também maior do que o ocorrido na Argentina, tendo sido se não igual, ou mais provavelmente menor. 

Somadas, essas cifras (dados oficiais) alcançam 121,5 mil imigrantes franceses, se computarmos as estimativas (bastante conservadoras, diga-se de passagem) alcançam 146,5 mil. Ressaltamos a imensa lacuna, no mesmo período, verificadas em outras regiões do País, que por certo receberam imigrantes. Assim cifras que estimam em 150 mil imigrantes franceses, são bastante realistas. 


A Influência Francesa

A imigração francesa, dentre as outras, foi a mais desejada durante todo período monárquico e que, paradoxalmente, a que menos se efetivou. No que pese, ter sido até o início da República, a terceira maior, atrás somente da portuguesa e italiana, e a frente da alemã.  Ainda, que menor do que as outras 5 maiores, ao menos, no plano intelectual, foi indiscutivelmente a de mais larga influência. Se os jesuítas, foram nossos professores primevos nos dois primeiros séculos de nossa formação, ao longo do Séc. XIX e parte do XX, esse posto foi ocupado pelos franceses.  Com a chegada da Missão Francesa em 1816, não somente a arte neoclássica atracou no Brasil, mas idéias de higiene e saneamento, iriam modificar o urbanismo das cidades. A cidade-luz foi referência constante e direta para o desenvolvimento das artes plásticas, da arquitetura, da literatura, da gastronomia, da educação e também do setor industrial e político. As idéias socialistas, eugenistas (Conde Gobineau, um dos mais destacados difusores das idéias eugênicas, era amigo pessoal de D. Pedro II), o positivismo que virá a infuenciar o surgimento do Castilhismo, são influências diretamente francesas. E que influirão a intelligentsia brasileira até a Segunda Guerra, quando essa influência decai em favor da estadunidense. Traçando um paralelo entre a influencia francesa e estadunidense, podemos dizer que ambas sufocam um pensamento nacional autóctone, que enxergue com lentes mais realistas nossos problemas. Mas, há diferenças. O pensamento francês, visava como fim último um bem público, essencialmente humanista, o estadunidense reduz tudo e a todos a mercadorias, a um individualismo todo contrário a tradição civilizacional latina, ocidental, do qual a França também é como nós parte e herdeira. 
O Castilhista






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