sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Oligarquia dos Pardais.

"Lembro de uma grande figura brasileira que dizia que o Brasil não pode ter um Balzac nem um Anatole France, não por falta de romancistas, mas por falta de material romanceável. Quer dizer, o material romanceável dele tem que estar na beira do Sena, ou, na melhor das hipóteses, no Roissy: é a absoluta incompetência para observar o terrível drama de seu próprio povo, do seu vizinho, do que se passa na rua, um nível de alienação que seria inconcebível, se não fosse real.

"As oligarquias latino-americanas têm bastante semelhança entre si e seu traço fundamental é a alienação. Vive­mos num país que talvez seja o mais rico do mundo em pás­saros, os nossos museus estão cheios de arte plumária indí­gena. No entanto, foi preciso que o prefeito Passos trouxesse os pardais para o Rio de Janeiro, que o prefeito António Prado os introduzisse em São Paulo, e que Sarmiento os levasse para Buenos Aires, los gorriones. Quer dizer, para ser possível en­xergar sua cidade, ela tem que ter pardais - esses ratos voado-u-s vindos de Paris -, para que se assemelhe com aquilo que se tem na cabeça como valor supremo.

"Esta é a 'oligarquia dos pardais', que não têm identificação cultural e que, praticando atos aparentemente inocentes,  conduzem sempre o país para o processo de dominação externa, dentro de uma linha de raciocínio padronizado, que encontramos no discurso das figuras mais ilustres."


(Texto de Severo Go­mes, retirado de sua conferência "Os Trópicos e o Primeiro Mundo", do livro Desafio Amazônico - O Futuro da Civilização dos Trópicos . Para maiores informações, visite o sítio www.institutodosol.org.br)

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