segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A Campanha de Itamaracá Contra os Franceses.

Com os potiguaras, tinham os franceses levantado grandes exércitos, temíveis pela bravura do gentio, a mestria do comando e a qualidade das armas. Sob as ordens de oficiais franceses, os valentes caboclos serviam-se dos canhões como aguerridos europeus. E os brasileiros tiveram que lhes opor poderosos exércitos coloniais, que foram os maiores da América, até aquele momento – Num dos combates, Diogo Dias chegou a perder 600 homens. Nas vicissitudes da luta, o forte português, na Paraíba, o S. Thiago e S. Filipe, teve uma vida de infortúnios e transes durante muitos anos: sitiado, liberado, rendido, tomado, perdido de novo... Num desses lances, é que nesse mesmo forte vivamente atacado, que apela-se para Olinda: em 4 dias organizaram-se forças e partiu a expedição, levando, já, muitos soldados da terra – moços de Itamaracá, chama-os Frei Vicente, logo mudaram as coisas: 

Os do Brasil tiveram a vitória, perseguiram os franceses até a baía da Traição. Era um surto de triunfo, e foi surpresa para o português encontrar o inimigo fortificado, ali. Contudo, deu-lhe combate, derrotou-o, incendiou-lhe navios, e tomou-lhe canhões. Voltaram os franceses à ação: reuniram numeroso gentiu e, de novo, em 1585, sitiaram o forte, com um exército de quase 10.000 homens e muita artilharia. De novo, Olinda se sentiu perdida, nas mãos de tabajaras e potiguaras. A questão se resolveu pela habilidade política de Martim Leitão que conseguiu desligar o valente Piragibe e, com auxílio dos seus tabajaras e de outros índios amigos , formou um grande exército onde, só de brancos, havia 600 soldados... Agora, estas forças já tem um caráter acentuadamente brasileiro. Pelo seu lado, os franceses se refaziam mais potentes e bem munidos do que nunca. Reforçaram as suas fortificações da baía da Traição e de Teribi; levantaram armazéns, oficinas e estaleiros, onde construíram embarcações de vulto. Martim Leitão conseguiu libertar o forte e enfraquecer os franceses que, no entanto, continuaram na baia da Traição. Para destruí-los completamente, ali, eram indispensáveis socorros da metrópole; a gente da terra tinha feito tudo, até aquele momento. 

Não vieram os socorros pedidos; mas voltaram os franceses à frente do gentiu que lhes ficara, e sitiam o forte. Trucidado o resto da guarnição portuguesa, tratavam de destruir o forte, quando chegou os socorros que Martim Leitão obtivera em recursos locais. Foi restabelecida a autoridade portuguesa na Paraíba, e refeita a Fortaleza. Funda-se então a primeira povoação civil ali – a cidade de Filipéia, à margem do Varadouro.

Nova campanha em fins de 1585. Martim Leitão marcha ao encontro do inimigo, a 5 léguas da baia da Traição, é detido por uma fortificação construída por franceses, e valorosamente defendida pelos índios seus aliados. Toma-a. Apesar dessa vitória, a oficialidade de Martim Leitão vê as coisas tão graves que se nega a prosseguir: o capitão impõe sua vontade, segue para adiante e, quando chega ao estabelecimento – povoação dos franceses -, já estes haviam embarcado, levando para bordo as peças da fortaleza. Houve peque no combate e o inimigo deixou a terra brasileira. Martim Leitão havia-lhe destruído a feitoria, tomando muitos mantimentos e roças, inutilizando 3 ferrarias e 60 caldeiras. Mas os potiguaras eram fortíssimos ainda, e o francês, que mantinha a velha pretensão, voltou a reuni-los para conservar o precioso apoio que eram eles. Em 1587, nova campanha, agora no vale do Mamanguape: os valorosos potiguaras são dizimados; mas os franceses, refeitos na sua feitoria da baía da Traição, vieram ajudá-los, em Copaoba, onde foi o mais forte da nova campanha. A sorte esteve indecisa; mas, finalmente, pendeu para os brasileiros. Enquanto isso, outra luta se acendeu nas terras do principal Tejucopapo, sempre auxiliados os potiguaras pelos franceses. Nunca os defensores do Brasil-colônia desenvolveram mais valor do que ali. Houve capitão, em cujo corpo se contaram 14 flechas. Antônio de Albuquerque foi um dos heróis dessa vitória em que o francês mostrou quanto valia como soldado. Muito dos seus oficiais acabaram a vida, ali.


Foi a última tentativa dos franceses na Paraíba, cuja conquista custou ao Brasil 60 anos de lutas e muitos milhares de vida.

 
Ponderando sobre àqueles homens que atuaram na remissão definitiva da terra brasileira, vemos aparecer nomes que são de brasileiros, heróis que, sendo portugueses de nascimento, são brasileiros em tudo mais: a educação guerreira, os interesses definitivos, e até os sentimentos. Martim Leitão é o homem afeito ao Brasil, com afins aqui, e cuja a ação, em todos os seus magníficos resultados, se caracteriza em ser um ótimo aproveitamento dos recursos da colônia. Não esqueçamos de que, no momento mais difícil, a resolução salvadora com que esse ouvidor abriu a campanha, foi dos moradores da capitania. Ele foi o executor. Tomaram armas, sob seu comando, todos os homens válidos da terra. A sua vanguarda era de confiança máxima, “...por ser toda de gente solta e muitos mamelucos e filhos da terra, porque estes nisto são de muito efeito”. Nesse exército, que fez a conquista definitiva, os capitães eram, quase todos, homens da colônia, muitos já nascidos nela: “este exército, que foi a mais formosa coisa que Pernambuco nunca viu, nem sei se verá..” no enternecido conceito histórico de Frei Vicente. Esse exército foi, certamente, a primeira afirmação da colônia em manifestação das suas energias. Maximiniano Machado é bem explicito no enumerar as gentes que o compunham: “Toda essa gente constava de mamelucos e filhos da terra, a melhor gente que se podia desejar, em bravura e resignação com que sabia sofrer a fome, a chuva, o sol, e todos os trabalhos da guerra”. Alexandre de Moura,competente para ocaso, dirigiu e assistiu a prova de valor desses soldados, dá confirmação de todas as suas virtudes, e mais estas: “...costumados a má vida e ruins comeres, calejados dos bichos e das chagas...”. E por isso, não queria outros para as campanhas do Brasil.


Os próprios colonos tinham bem consciência de que a boa defesa da terra se devia a brasileiros. Em outros lances que ilustram a têmpera daquela gente, se revela quando em 1595, atacou ilhéus parte da esquadra francesa, a gente da povoação logo decidiu resistir e, como o capitão da terra estava longe, “elegeram outro, não o mais rico, mas o mais valente, ... um pobre mameluco chamado Antônio Fernandes, e por alcunha o Catucadas... E foi coisa maravilhosa que sendo os nossos só quinze ou vinte, sem outras armas mais que arcos, setas e espadas, mataram, dos franceses, no campo, 57, em que entrou o capitão”. 

É nesse influxo que se resolve a estabilização d´aquela zona das investidas francesas. E estes repetidamente batidos, se afastam com a colonização que avança.



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A Expulsão dos Franceses de Pernambuco

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Voar é Com os Pássaros e Com os Brasileiros!

A FARSA DOS "IRMÃOS WRIGHT":

Em 2003, quando das comemorações de 100 anos do suposto vôo dos "irmãos Wright", na tentativa de reproduzir o "vôo" com uma réplica na Carolina do Norte, com a presença então de George Bush em que exaltava a "façanha" centenária... se revelou um fiásco. O Flyer não só não decolou, como acabou em uma poça de lama.



 "O telegrafista Alpheus Drinkwater [1875 – 1962] que trabalhava numa estação próxima onde os irmãos faziam suas experiências e de lá os observava. Em 17 de dezembro de 1903, ele estava em seu posto e assistiu ao que os Wright fizeram nesse dia. Atestando que em 17 de dezembro de 1903 os Wright apenas planaram e que seu primeiro vôo real só veio a ocorrer em seis de maio de 1908, dois anos após Santos Dumont voar”.
  
Já no Brasil, a réplica do 14 bis do Santos Dumont alça vôo sozinho ( e não catapultado)  bem como voa e pousa perfeitamente.





quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O Trabalhismo e a Educação



O Trabalhismo brasileiro desde sua formação e estruturação ideológica defende a educação, sendo um dos seus pilares para a emancipação do povo brasileiro, iniciando o seu  desenvolvimento no Rio Grande do Sul, através do positivismo castilhista e seus seguidores, projetando e investindo na educação de base.

  Através da Revolução de 30 e a chegada de Getúlio ao poder, inicia-se um processo de transformação social no país, deixando a estagnação e atraso, através de medidas do líder revolucionário, fazendo com que o modelo criado no sul seja expandido nacionalmente. O projeto é gerado com a criação, no mesmo ano,  do Ministério da Educação, nomeando Francisco Campos em 1931 como ministro, com o objetivo de implementar a reforma educacional. Em dezembro do mesmo ano, na IV Conferência Nacional de Educação, o Governo solicita a elaboração de diretrizes para uma política nacional de educação. A partir dessa conferência é elaborado o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, publicado em 1932, idealizando a educação como pública, laica, gratuita, obrigatória, tendo função social e um serviço essencialmente político.
  A partir da Constituição de 1934 os avanços educacionais por meio do Estado são oficializados:
O artigo 5º estabelece como competência privativa da União a elaboração de diretrizes e bases para a educação nacional.
O artigo 149 afirma ser a educação direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelo poder público. Afirma ainda ser finalidade da educação, desenvolver a solidariedade humana.
O ensino primário deverá ser integral gratuito e de frequência obrigatória, extensivo aos adultos.
  Francisco Campos é substituído no ministério, em julho de  1934, por Gustavo Capanema que, em 1942, complementa a reforma educacional e universitária, através das Leis Orgânicas, com a criação e a padronização do sistema universitário público federal, criação da Universidade do Brasil e com os decretosDecreto-lei  4.073, em 30 de janeiro de 1942 (Lei Orgânica do Ensino Industrial); Decreto-lei 4.048, em 22 de janeiro de 1942, criando o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Decreto-lei 4.244, em 9 de abril de 1942 (Lei Orgânica do Ensino Secundário). Para Getúlio a educação é fundamental para a formação da identidade nacional, sendo uma extensão de seu projeto de nação:
"O programa de realização do Estado Novo compreende o reajustamento completo dos quadros da vida brasileira, desde a substrutura econômica até à formação intelectual e moral das gerações novas" (VARGAS, p. 249).
Posteriormente, já no segundo governo, Vargas cria o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O interesse pelo ensino técnico profissional é uma herança dos governos castilhistas e borgistas, que pode ver-se com a criação da "taxa profissional", em 1913 por Borges de Medeiros, para assegurar recursos financeiros à execução de um programa de ensino voltado para a formação de operários, especializados no sul do país. Em todo o governo trabalhista de Vargas a educação passa a ocupar o sexto lugar das despesas no âmbito da União e o segundo dos estados brasileiros. As matrículas são ampliadas e o analfabetismo diminuído consideravelmente. Por seu caráter de Estado modernizador, igualitário e de paz social, o Trabalhismo tem nas reformas educacionais o mesmo pensamento modernizante:
"Não haverá transformações sociais estáveis e duradouras se não se formar, ao mesmo tempo, o caráter do homem. O que é necessário, por isso, é educá-lo [...]. Educar é ensinar a compreender, a sentir e a reagir. Educar é formar convicções" Alberto Pasqualini (SIMON, 1994, p. 13-14).  
  Após a morte de Getúlio, já em 1959, a pauta da educação volta a ser debatida entre os educadores, lançando o segundo manifesto chamado "Uma vez mais convocados", defendendo novamente o direito à escola pública, laica, gratuita e obrigatória, liderados por Darcy Ribeiro contra os defensores da escola privada, liderados por Carlos Lacerda. As discussões ampliaram-se com a chegada de João Goulart, até então vice presidente, ao Governo Federal em 1961.

  Ao começar o governo, Jango sanciona a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, gerando novamente o modelo de desenvolvimento educacional trabalhista, agora no âmbito das reformas de base, reunindo os principais educadores e movimentos sociais, colocando em pauta a alfabetização, o desenvolvimento e ampliação do ensino fundamental, médio e universitário. Cria em 15 de dezembro de 1961 a UnB, projetada por Darcy Ribeiro, que se torna ministro da Educação e cultura, modernizando o ensino superior com o conceito de Universidade nova:
"A UnB foi organizada como uma Fundação, a fim de libertá-la da opressão que o burocratismo ministerial exerce sobre as universidades federais. Ela deve reger a si própria, livre e responsavelmente, não como uma empresa, mas como um serviço público e autônomo" Darcy Ribeiro.
Jango utiliza-se do método Paulo Freire, na implementação do Plano Nacional de Educação, que entre seus objetivos são: formar educadores em massa, criar 20 mil círculos de cultura, alfabetizar até 1970 todas as crianças e jovens dos 7 aos 23 anos com investimentos de até 20% do PIB. Para João Goulart o método é fundamental na conjuntura social brasileira:
"Através de um processo de ensino tão rápido, possivelmente chegaremos à grande revolução da nossa pátria, que é a revolução do ensino, a revolução pela alfabetização do povo brasileiro" (GOULART appud TEIXEIRA,2008:110).

  A partir do dia 1º de abril de 1964, com o golpe civil-militar, os projetos sociais de Jango são anulados pela Ditadura, que opta por seguir a cartilha americana de ensino através do acordo MEC-USAID, enfraquecendo o ensino público, reduzindo as matérias de ciências humanas, instituindo o ensino da língua inglesa obrigatória e a perda de um ano letivo, o marco na privatização da educação no país. 

  Nos anos finais da Ditadura militar o Trabalhismo retorna ao poder, através da campanha popular de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, em 1982, gerando uma revolução na educação, juntamente com Darcy Ribeiro, no Estado fluminense.
"Todas as crianças deveriam ter direito á escola, mas para aprender devem estar bem nutridas. Sem a preparação do ser humano, não há desenvolvimento. A violência é fruto da falta de educação", Leonel Brizola.
  Brizola, ao assumir o Governo do Rio de Janeiro, encontra um Estado em crise social e abandonado, pelos anos do Regime Militar. Então, com o objetivo de modificar tal situação, transformou o quadro vigente da educação no Rio implementando reformas educacionais socialistas, herdadas pelo pensamento castilhista, como já havia feito como prefeito de Porto alegre e governador do Rio Grande do Sul, quando construiu 5902 escolas de ensino fundamental, 278 escolas técnicas, contratando mais de 40 mil novos professores, abrindo 688.209 novas vagas, acabando com o déficit educacional no Estado sulista. Cria o Programa Especial de Educação, projeto ambicioso investindo mais de 30% das receitas do Estado, que tem como base a construção dos CIEPs (Centros Integrados de Ensino Publico), escolas em tempo integral com cada unidade tendo capacidade para mil alunos, bibliotecas, áreas de esporte, alimentação, atendimento médico-odontológico e reforço escolar, projetada pelo então vice-governador Darcy Ribeiro e desenhada por Oscar Niemeyer, viabilizada através da Fábrica de Escolas, fazendo com que a estrutura seja pré-moldada, padronizando tanto o modelo quanto o ensino. 
"Ao invés de escamotear a dura realidade em que vive a maioria de seus alunos, proveniente dos segmentos sociais mais pobres, o Ciep compromete-se com ela, para poder transformá-la. É inviável educar crianças desnutridas? Então o Ciep supre as necessidades alimentares dos seus alunos. A maioria dos alunos não tem recursos financeiros? Então o CIEP fornece gratuitamente os uniformes e o material escolar necessário. Os alunos estão expostos a doenças infecciosas, estão com problemas dentários ou apresentam deficiência visual ou auditiva? Então o Ciep proporciona a todos eles assistência médica e odontológica" (Ribeiro, 1986, p.48).
  O modelo de educação pública criado no Rio de Janeiro, passa a se tornar o projeto Trabalhista para o Brasil. Consegue êxito no Estado gaúcho, através do governo de Alceu Collares, construindo 94 CIEPs, mas por não chegar á presidência, Brizola não consegue levar o projeto educacional para o complemento da nação.
   Mesmo sofrendo perseguição das grandes corporações da informação, Brizola consegue reeleger-se em 1990 e conclui os 506 CIEPs, retoma o programa de educação abandonado pelo governo anterior. Ainda em seu governo, Brizola e Darcy Ribeiro criam a UENF, universidade voltada para o desenvolvimento tecnológico, se tornando modelo de educação superior.
  A educação trabalhista de Brizola e Darcy é absorvida pelo governo de Fernando Collor, através da criação dos CIAC's. Com o impeachment do presidente, o projeto muda de nome e subsequentemente é abandonado, juntamente com a educação no Rio de Janeiro, pelos governos seguintes. 
   O projeto de educação pública trabalhista continua vivo, ainda que adormecido por governantes que  não primam pela libertação de seu povo. Apesar de afastado do poder, o Trabalhismo se aperfeiçoa com o tempo, a espera de que levantem suas bandeiras.
"Uma das necessidades mais imprescindíveis da vida brasileira é a revolução educacional"   Leonel Brizola.

domingo, 11 de agosto de 2013

Uma Raça de Homens Mais Ousados, Ainda, Que os Primeiros Conquistadores.

Enquanto os do norte mos­travam o Brasil já intangível, no sul, outros, de outro modo, anunciavam a nova pátria, e a fortaleciam e distendiam domi­nando o gentio, incorporando-o à nacionalidade nascente, des­bravando o continente, conquistando todo o seu interior, ga­nhando, para o Brasil que neles se fazia, o coração ainda virgem da América do Sul. Em verdade, o que os paulistas realizaram é único em toda América: nem Almagro, nem Cortês, nem o pró­prio Balboa... Estes são iluminados aventureiros, cuja ação não alcança além de ouro farejado. A mesma expedição de Pizarro ao "Eldorado”, que o faz penetrar até as águas do Amazonas: é um transe de delírio, sem efeitos úteis, pois que tudo se resume na coragem feroz, cruel, que decai se não lobriga a riqueza pronta para ser colhida. Falta, à intrepidez castelhana, a indômita tenacidade, a impavidez serena ante o desconhecido. Isto, com que se caracteriza o ganhador de terras é, no entanto, o mais vulgar, no valor dos brasileiros que nos deram fronteiras nos dois hemisférios, e levaram a pátria — das praias onde fica­ram os portugueses às quebradas dos Andes.

Quem quiser bem apreciar o valor das energias que dilata­ram o Brasil por todos os derivados do grande planalto central da América do Sul, e quiser julgar com verdade (se este, aqui, parecer excessivo apreço), verifique as razões, como o explicam os norte-americanos — de terem ficado agarrados ao litoral, até depois da independência, em fins do século XVIII. Note-se que, passado o período de domínio holandês em Nova York (meados do século XVII), os antepassados dos norte-americanos eram senhores incontestados e tranqüilos de toda a costa do Atlântico, de Lew Brunswick à Flórida. Não avançaram para oeste, justificam-nos, os de hoje: “... muitos rios davam acesso para o interior, mas nenhum, salvo o Hudson, era navegável a uma grande distância, pois os Alleghanies constituíam, de fato, um obstáculo formidável.., e os colonos gastaram muito tempo para transpô-los...”, Transportemos para os paulistas tais dificulda­des: os rios de que se serviam não eram francamente navegáveis, nem para navios de forte tonelagem, nem para os de fraca, nem para as simples canoas; os bandeirantes iam por eles a pequenos trechos tendo de carregar às costas, nos intervalos, as pirogas em que montavam, detidos a todo instante pelas dezenas e deze­nas de cachoeiras e corredeiras obrigados a passarem de uns rios para outros, para outros... Em mais de dois séculos, os futu­ros ianques não tinham subido os Alieghanies; antes de trinta anos, a gente de S. Vicente havia galgado Paranapiacaba e Cu­batão, e dominava o planalto de Piratininga, donde safra, depois, para distender a colônia por todos os sertões, mesmo os já ocupados.

Estas coisas são lembradas, não para encarecer valor, nem ostentar superioridades. Há, no estadunidense, pelas próprias condições de formação, tanta superioridade invejável, que a sua pouca inflação colonial em nada o diminui, não há tal intuito; mas, é impossível considerar esse caso, sem destacar o excepcio­nal poder de expansão do Brasil. Hoje, a grande República se dilata por um imenso país — maior que o Brasil no entanto, como cresceu a nação americana? Comprando, comprando... ou, já poderosa e rica, avançando sobre vizinhos fracos, atormenta­dos internamente pelas repetidas revoluções, e mais enfraqueci­dos, ainda, pela afronta do estrangeiro. Em contestação com o inglês, após a independência, a Norte-América teve de ficar no que era. Cresceu porque o francês, incapaz, então, e o espanhol, degradado, deram-lhe, por pouco dinheiro, das melhores terras do mundo, já desbravadas, com uma população feita (na Louisia­na), e, assim, em menos de meio século, os Estados Unidos pu­deram ser, em tudo, uma grande nação. Iniciado, assim, na ex­pansão, o ianque tomou gosto, e não lhe custou quadruplicar, quase, a extensão primitiva. Houve, não há dúvida, uns aspectos duros, no seu avanço para o decantado far west, em contestação viva com o gentio ainda existente pelos sertões... Foram grandes lances, muitas vezes; mas tudo não passou de conquista realizada por uma nação feita, poderosa e rica, servindo-se de todos os maravilhosos recursos militares do tempo. O que os bandeirantes paulistas fazem, em 1650, em número insignificante, com os seus pobres meios pessoais, sem outros recursos válidos além da indefectível coragem; esse desbravar do continente, só no século XIX o tentam os norte-americanos. E os sucessos lhes parecem façanha épica. Lá está a estátua eqüestre do general, vencedor te­mível de sioux e apaches...

Não podemos deixar de pensar que, ali, empregando os meios que o século e a riqueza toda da nação permitiam, eles(ianques) lutavam contra tribos em parte desmoralizadas por três séculos de vizinhança dos brancos, ao passo que os paulistas, desprovi­dos de tudo, enfrentavam nações ainda em pleno vigor, apenas aproximadas dos brancos, ou admiravelmente organizadas pelos jesuítas, em aglomerações como as de Guaíra de 200.000 almas, segundo cálculos repetidos nos historiadores. Reflita-se nisto: em 1650, já estava absolutamente sistematizado o tráfico para as minas de Cuiabá; no entanto, todo o caminho se fazia, ainda, desde o Piratininga até lá, tendo, como escalas, seis ou sete casais de roceiros, nos intervalos de dezenas e dezenas de léguas de natureza crua, apenas percorrida pelos sertanistas e as tribos Inimigas. Em 1797, relatava o sargento-mor de enge­nheiros. Ricardo de Almeida Serra: "A viagem que se faz de S. Paulo a Cuiabá, é pelos rios Tietê, Paraná, Pardo Camapuã, Coxim, Taquari, Paraguai, Porrudos e Cuiabá, descem do uns e subindo outros, nos quais se passam mais de 10( cachoeiras... compreende boas 600 léguas de navegação, em que se gastam seis meses”. Faltou ao oficial engenheiro mencionar: que longas e ásperas léguas se faziam tendo o gentio inimigo a lado, ou pelas costas, a alvejar do mato, bem escondido, os viajantes, que não tinham melhor garantia, nem outro resguardo além da impávida valentia. O ministro — Lopo de Saldanha —que até nos parece exceção de lucidez, na sua gente daqueles tempos; quando procura o remédio possível para a mísera situa­ção do sul (Colônia do Sacramento), manda que recorram aos paulistas “que com o só provimento de pólvora e chumbo, têm penetrado e descoberto a maior parte do Brasil”. O ministro português evocava uma tradição viva: bastou que se falasse na ida de paulistas para ali, e a onda de tapes e castelhanos estreme­ceu. Note-se, agora: a formidável expansão dos paulistas é de efeitos que se impõem aos outros colonizadores do continente. Garray, que pelo pensamento muito elevou e muito defendeu o seu Paraguai, deixa bem demonstrado que o grande sucesso das reduções de jesuítas era devido à necessidade de manter, naquela forma, as tribos e os territórios contra a atividade dos paulistas. Nem por isso, evitaram aquilo que, em Guaíra, foi um tremendo desastre para espanhóis e jesuítas, isto é, o aniquilamento de aldeamentos contendo população de províncias, sem contar as povoações civis que também foram destruídas. E foi assim que todo o alto Paraná se incorporou ao Brasil. Bandeirantes homens, diante de quem, apesar de quantas ferezas e crimes lhes sejam imputados, a alma boa de Southey o defensor dos je­suítas seus inimigos, não se contém, e transborda de admiração, em longos elogios. Para esse historiador, não terá havido, pela América, mais bravura, e patriotismo, e intrepidez: “Homens de indômita coragem, e a toda prova para os sofrimentos.., Eram os paulistas incansáveis nas suas explorações... Uma raça de homens mais ousados, ainda, que os primeiros conquistadores. Ao passo que extinta era nos espanhóis do Paraguai toda ativida­de e empresa”.

Em empresas tais, na mesma fortaleza de ânimo, fizeram-se os nomes que, na expansão do Brasil, rivalizaram com a fama dos heróis pernambucanos. Criadores de caminhos, obra essen­cialmente civilizadora, esses bandeirantes conduzem o Brasil para uma autonomia indestrutível, que é a de quem, por si mes­mo, por si só, adquiriu a terra em que se estabeleceu. É por tudo isso que o nome deles se tomou distinto, como os dos pernam­bucanos, e de valor internacional. Todos que conhecem e tratam de coisas sul-americanas, mencionam o povo valente, e intransi­gente na sua autonomia, esses paulistas que, ainda nas cortes portuguesas de 1820, são nominalmente referidos como efeito de irritante pavor para aqueles que, então, pensavam reduzir-nos à simples condição de colônia.

É verdade que, no Brasil, tão bem unificado em sentimento patriótico, tais qualidades de destaque não podiam ser exclusivas, nessa, ou naquela província, e Southey mesmo reconhece que as qualidades cm que valiam os paulistas estendiam-se a outros bra­sileiros: “Pernambucanos e paraenses eram igualmente intrépidos em dominar territórios”. Sim: mas também é verdade que o traça dos intrépidos paulistas riscou todo o interior do Brasil — Bahia, Minas, Pará, Mato Grosso... até as águas do Tocantins e Amazonas. Em abril de 1674, uma Carta Régia de Lisboa tem dc gritar, sobre a extensão do continente: “Cabo da tropa da gente de S. Paulo que vos achais nas cabeceiras do rio Tocantins e Grão-Pará: eu vos envio muito saudar!...”.

Um mineiro de grande pensamento, repetido em Paulo Prado, se contempla o passado em que se desvendaram as minas, curva-se ante os pioneiros do sertão: “... arrostavam os malotes perigos; não temiam o tempo, as estações, a chuva, a seca, o frio, o calor, os animais ferozes, répteis que davam a morte quase instantânea, e mais que tudo, o indomável e vingativo índio antropófago... em renhida e encarni­çada guerra. Para eles não havia bosques impenetráveis, serras alcantiladas, rios caudalosos, precipícios, abismos insondáveis. Se não tinham o que comer, roíam as raízes das árvores.., e lagartos, cobras, sapos... se não tinham o que beber, sugavam o sangue dos animais que matavam” (Paulística, pág. 66).

Ao tempo que os pernambucanos arrancavam a sua terra ao domínio do holandês, os paulistas afirmavam o seu patriotismo — defendendo, por antecipação, o solo por onde o Brasil devia irradiar-se. Um dos poucos espanhóis desbravadores de sertão, Irala, tinha levado a sua gente até o alto Uruguai, Paraguai, Paraná. Pois, veio mais população espanhola, na ambição de minas, e resultou fundarem-se, sucessivamente, três povoações: Oitiveros, Ciudad Real e Vila Rica. Mas, dado o regime da colo­nização castelhana, isolaram-se esses pueblos do Paraná, degradando-se em barbárie, por esse mesmo isolamento, e houve que entregar a obra de civilização dos sertões, com o respectivo gentio, aos jesuítas. Segundo a norma que lhes era própria, aos jesuítas espanhóis, os do Paraná internaram-se para isolarem-se dos próprios compatriotas, e vieram estabelecer as suas reduções bem no alto sertão, que é hoje essencialmente brasileiro — no território de Guaíra. Fez-se a primeira Missdc, de Loreto, com sucesso imediato, e tanto que não tardou formarem-se outras, como a dc 5. Ignácio-Gt~açu. Em breve, havia para mais de 120.000 guaranis aldeados, captados pelos jesuítas, para a p*ria dos novos castelhanos e, com eles, as respectivas possessões tinham avançado até o coração do continente, a entestar com os redutos brasileiros. A energia de expansão do paulista não o per­mitiu, porém, e o domínio castelhano foi extirpado, dali, até às raízes. Os jesuítas, que eram os melhores cronistas da época, adversários tradicionais dos paulistas, fizeram para estes uma reputação em que só não lhes é negada, dentre boas qualidades, a coragem. Para este caso — Guaíra, em que eles, -osrje-wftas~ foram os feridos, a história é contada de modo a que se faça des­ses brasileiros o pior conceito.

Paulo Prado, antes de lembrar que, durante dois séculos, os inventários paulistas repetiam a lúgubre glorificação — morto no sertão —, acentua o apavorado ódio do jesuíta contra os ma­melucos de Piratininga., que “invadiam os desertos, destruindo-lhes as reduções, e repelindo o tradicional inimigo para além das barrancas dos grandes rios do sertão”. E mostra que os excessos dos bandos mamelucos tinham explicação na rudeza dos tempos, ao mesmo tempo que afirmavam as qualidades fortes da raça... Ora, é isto o que mais importa quando se trata de verificar a ca­pacidade de realização de um povo, a quem o tempo necessaria­mente humanizará. De fato, qualquer que fosse a carência moral do bandeirante, o Brasil a fazer-se pedia, sobretudo, essa capaci­dade de afirmação. Nada mais fácil e mais simples do que ex­trair e apuraria natural generosidade do homem forte. Duros e feros como parecessem os bandeirantes e os Insurgentes, isto não impediu que o Brasil chegasse a essa bondade d’alma, característica do brasileiro.
 
Manoel Bomfim.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Capoeira, Original do Brasil.




Ouviu-se falar de Capoeira pela primeira vez durante as invasões holandesas, em 1624, quando os índios, e Negros escravos. Aproveitando-se da confusão gerada, fugiram para as matas, aumentando o contingente dos Quilombos dos Palmares.

Em 1647 o escritor Holandês Gaspar Barleus descreve em seu livro “Rerum Per Octenium in Brasília-1647, a luta dos índios tupis praticada no litoral brasileiro” chamado de Maraná, luta de guerra.

Um outro cronista, Johann Nieuhoff, alemão, descreve em seu livro “Crônicas do Brasil Holandês” de 1670, a luta do Maraná.

Maraná a Dança da Guerra
"As cartas do escrivão Francis Patris, que acompanhava o cortejo do príncipe Mauricio de Nassau durante a invasão Holandesa, descreve entre muitos obstáculos para a ocupação do território brasileiro a resistência dos Habitantes do Brasil.

Negros comandados por Henrique Dias, portugueses por Vidal de Negreiros, Índios Potiguares comandados por Felipe Camarão, o “Ìndio Poti”. Esses índios usavam durante o confronto, alem de flechas borduna, lanças e tacapes, os pés e as mãos desferindo golpes mortais, destacando-se por sua valentia e ferocidade.

Pertencia a cultura potiguara a dança e guerra Maraná, que avaliava o nível de valentia. Em círculos, os guerreiros com perneiras de conchas compunham um compasso ao bater com os pés e as mãos, invocando seus antepassados, acompanhado de atabaques de troncos com pele de Anta, chocalhos e marimbas, em quanto que dois guerreiros se confrontavam ao centro com golpes de pernas, cotoveladas e movimentos que imitavam os animais."
Cartas do Jesuíta Antonio Gonçalves para os superiores de Lisboa, em 1735, descreve uma luta que os índios praticavam antes de qualquer conflito, em forma de roda dois a dois usando os braços, pernas, cotoveladas, joelhadas, e usando todo corpo como armas (convento de Santo Inácio de Loyola, anais das missões no Brasil. Tomo III pág. 128).

N´Golo, a "Dança da Zebra".

A Dança da zebra ou N’Golo de origem do povo “Mucope” do sul da Angola, ocorria durante a “Efundula” (festa da puberdade), onde os adolescentes formam uma roda; com uma dupla ao cetro desferindo coices e cabeçadas um no outro, até que um era derrubado no solo. Essa luta é oriunda das observações das disputas entre as zebras machos pelas fêmeas, no período do cio, onde os machos lutam com mordidas, cabeçadas e coices.

A dança N´Golo praticada em Angola, não aparenta nenhuma similaridade com a atual Capoeira Brasileira.

A dispersão da Capoeira para outros pontos das Américas e África.

Com a “revolta dos Malês”, na Bahia, pelos Negros Malês em 25 de fevereiro de 1835, vários envolvidos foram enviados em um navio para África e outro para a América Central.

Em Cuba e Martinica os Malês fundiram com a dos navios e negros dos canaviais dando origem ao “Mani”, em Cuba e “Ladva”, em Martinica.

Daí a certa similaridade existente entre essas danças observadas na América Central e a Capoeira Brasileira.

A Capoeira Brasileira

A Capoeira é a Fusão do N”Golo, que reitere-se, não era uma forma de luta, mas de dança, trazida da África e o Maraná, existente no Brasil antes do Descobrimento.
  1. Guilherme de Almeida, no livro música do Brasil, sustenta serem indígenas as raízes da capoeira; 
  2. o Navegador Português Martins Afonso de Souza, observou tribos jogando capoeira.
  3. Um trabalho publicado pela xerox do Brasil, o professor austríaco Gerhad Kubik, antropólogo e membro da associação mundial do folclore, e profundo conhecedor de assuntos africanos, diz estranhar que o brasileiro chame “Capoeira de Angola", quando ali não existe nada semelhante.
A Capoeira é a Arte Marcial Brasileira por ter sido utilizada em vários eventos bélicos ao longo da História do Brasil, como nas Maltas, Guerra do Paraguai, Revoltas dos Mercenários, nas caramussas entre monarquistas e republicanos, Guerra das Tabocas, Mascates, Guardas costas de José do Patrocínio e Dom Pedro I, Canudos, Farrapos, Primeira e segunda Guerra Mundial, ETC…

No episódio em que mercenários irlandeses, contratados por D. Pedro I se rebelaram no Rio de Janeiro, foram os civis dentre os quais os mais valentes capoeiristas que fizeram, a base de bala e pernadas, os rebelados se recolherem de volta ao quartel levando consigo seus mortos e feridos.

Na Guerra do Paraguai, os mais temíveis batalhões eram os de capoeiristas dentre os quais o Batalhão Zuavo, da Bahia e o 31º do Rio de Janeiro, que na falta de munições nas trincheiras se utilizavam de golpes de capoeira contra os paraguaios.

Referência:
Profº. Douglas Tessuto, Grupo Muzenza de Capoeira