domingo, 19 de março de 2023

O Gripen F-39 da Força Aérea Brasileira e Sua Capacidade de Combate


Após mais de oito anos de atraso, frutos de uma proposital política de sucateamento das Forças Armadas pelo des-governo Temer/Bolsonaro (tal como feito contra as Forças Armadas da Argentina) foram incorporados, ano passado, dia 22 de abril, os primeiros dois gripens operacionais pela Força Aérea Brasileira – FAB. 

Os gripens F-39E, tal como foi taxomizado pela FAB, é resultado de uma parceria EMBRAER-SAAB. E ao contrário do que possa parecer, não se trata de uma simples atualização do JAS-39 C/D operado pela Força Aérea Real Sueca. Trata-se de uma nova aeronave, mais moderna e muito mais capaz do que sua antecessora. 

Comparado ao Gripen C, o Gripen E é cerca de 3% maior (é mais longo - 15,2 m - e tem maior envergadura - 8,6 m), mais pesado (o peso máximo de decolagem é de 16.500 kg), o trem de pouso principal  foi realocado, permitindo 40% a mais de combustível, proporcionando um alcance máximo de cerca de 4.000 km e um alcance operacional de mais de 1.300 km, contra 800 Km da versão C/D. A nova turbina F414 produz 25% a mais de empuxo (atingindo Mach 2 em altitude elevada e cerca de 1.400 km/h em níveis baixos), enquanto o interior da aeronave é praticamente novo. Ele é construído em um princípio de guerra eletrônica semelhante ao F-35, mas com a diferença de que tudo é facilmente substituível e atualizável.

O Gripen E também pode transportar uma carga útil maior devido aos seus dez hangers, possui um novo radar AESA, tem a capacidade de conduzir guerra eletrônica avançada com cobertura esférica (sistemas de autodefesa como alerta de interceptação de radar, alerta de míssil, jammer, contramedidas ativas; mas também capacidades ofensivas nesta área, úteis não apenas para combater defesas aéreas adversárias), possui HMC (Human-Machine Collaboration) intuitivo com inteligência artificial e vários sensores passivos que aumentam significativamente a consciência situacional do piloto. É uma aeronave repleta de tecnologia de ponta e, em aspectos básicos, pode-se dizer que não fica muito atrás do F-35A e, de certa forma, o supera. Ao contrário do F-35, o Gripen carece de integração de armas nucleares. E difere de seus concorrentes estadunidenses na forma como aborda a questão da furtividade. 

O Gripen E carrega seis mísseis ar-ar em configuração padrão, a mesma do F-35A, mas sua grande vantagem é a integração do míssil Meteor, considerado significativamente melhor que o AIM-120D usado pelo F -35. O Gripen também tem a vantagem de poder pousar em pistas improvisadas, incluindo estradas de tráfego normal, enquanto o F-35A precisa de aeródromos com parâmetros bastante mais exigentes para operar.

Em seguida, compartilha com seu antecessor a durabilidade e a operacionalidade confiável em condições climáticas difíceis e a capacidade de operar em pistas improvisadas, como estradas. Significativamente, não apenas dentro da doutrina sueca de implantação supersônica, ela fortaleceu a independência do GPS e a resistência ao bloqueio do GPS por meio de uma capacidade de navegação aprimorada que usa monitoramento de perfil de altura do terreno e comparação com um banco de dados, odometria (rastreamento de dados de movimento para estimar mudanças em posição ao longo do tempo) e comparação de imagens de sensores ópticos com um banco de dados armazenado.

Os mísseis ar-ar no Gripen E, incluem o míssil guiado por infravermelho IRIS-T de curto alcance e o já mencionado míssil Meteor, que possui um alcance além da visibilidade (BVRAAM). A aeronave também pode, é claro, continuar equipada com mísseis Sidewinder ou AMRAAM. Também pode ser equipado com outras armas de longo alcance (R-Darter e Derby) e de curto alcance (ASRAAM e Python). As capacidades anti-superfície da máquina também são aprimoradas na forma de munições multifuncionais inteligentes, capacidade de direcionamento para qualquer clima e uma rede de aeronaves implantadas com a capacidade de alterar alvos, verificar acertos e avaliar danos de batalha.

A ampla variação de tipos e procedência das armas transportadas, disponível sem a necessidade de projetos de integração, é outra vantagem da aeronave, que assim oferece grande flexibilidade ao seu usuário e reduz a dependência do sistema de fornecedores. 

Italianos e britânicos estão integrando mísseis de alto desempenho Meteor e Spear em seus F-35s, mas é um projeto demorado e custoso envolvendo o fabricante de aeronaves Lockheed Martin e BAE Systems e MBDA.

Uma característica única do Gripen E que o leva um passo além de todos os outros caças atuais é o seu aviônico. Em particular, possui aviônicos modulares com uma arquitetura desacoplada. Isso significa que qualquer hardware ou software opera separadamente. O hardware pode ser substituído independentemente do software e vice-versa, sem afetar os sistemas de voo críticos. As versões beta do software de avaliação podem ser executadas dentro do sistema sem nenhum risco. Assim como no Gripen C, o fabricante adere ao conceito de ciclos curtos de atualização - a revolucionária arquitetura aviônica suporta um crescimento suave na capacidade de manter a superioridade tecnológica e se adaptar perfeitamente às novas necessidades operacionais.

Quanto à capacidade furtiva do F-35 e a comparação com o Gripen E, este último não é baseado em tecnologia furtiva. No entanto, possui um RCS (Radar Cross-Section) menor do que qualquer outro caça operacional, exceto o F-35 e o F-22. Graças às tecnologias de guerra eletrônica (EW-suite) acima mencionadas usando GaN (nitreto de gálio), pode-se argumentar que o Gripen E definitivamente não é um alvo fácil detectável.

“Com nosso conjunto de guerra eletrônica de última geração, superamos a furtividade. Os radares avançados do Gripen E podem detectar os alvos que são dez vezes menores do que o normal. Os sensores passivos garantem que a posição da aeronave não seja comprometida. Juntamente com o conjunto EW integrado, o Gripen pode ser integrado a jammers e mísseis chamariz para missões mais exigentes. Com uma proteção de 360 ​​graus de classe mundial, o Gripen E oferece à IAF uma alternativa superior à furtividade” - Mats Palmberg.

Os requisitos de manutenção do F-35 ainda são muito altos para um caça monomotor e a taxa de tempo de atividade é relativamente baixa, enquanto o Gripen é altamente tido entre os caças ocidentais por sua incomparável facilidade de manutenção. Comparado a um número equivalente de F-35As (24 aeronaves em nossas condições futuras, ou seja, dois esquadrões), mais Gripens podem ser mantidos prontos para o combate do que os F-35As mais exigentes (que provavelmente se equilibrarão até certo ponto com o tempo).

Gripen F-39E da Força Aérea Brasileira

Tanto o Gripen E/F quanto o F-35A têm muito em comum. São projetados pensando em baixos custos de produção e operação em comparação com outras aeronaves de sua geração (o que ainda não está confirmado para o F-35, dada a falta de uma comparação confiável). Ao mesmo tempo, ambas as máquinas têm, à primeira vista, desempenhos de voo não muito significativos em sua categoria (por exemplo, no que diz respeito à velocidade máxima, é Mach 1,6 para o F-35, enquanto o Gripen E atinge Mach 2. Ambas as velocidades são inferiores aos do bimotor F-15, Su-27, mas também do monomotor Mirage 2000). No entanto, esse fato é mais do que compensado pela aviônica avançada e pela capacidade de operar contra o inimigo além do alcance visual (no caso do F-35, o fato de o armamento ser fechado em poços e a aeronave atingir sua velocidade máxima totalmente armado). 

O F-22 é o único caça estadunidense operacional que pode dar ao Gripen algum problema substancial, quanto ao Typhoon e Rafale, são caças bastante similares, mas a capacidade de guerra eletrônica do Gripen é superior, oque lhe dar vantagem. Os exercícios internacionais mostram uma imagem bastante clara da superioridade do gripen sobre as outras aeronaves. 

Na Red Flag 2006, ocorrido no Alaska. O Gripen versão C/D abateu dez caças dentre os quais 1 Typhon/eurofighter, um único gripen C/D abateu cinco F-16 Block 50. Nenhum gripen C/D foi abatido. Também foi o único caça que realizou todas as operações, a revelia das condições meteorológicas, enquanto outras aeronaves ficaram em solo esperando melhores condições. 15/1 ou seja, a cada 16 embates, o gripen abateria 15 F-16. 

Durante um exercício de combate com a Força Aérea Real Norueguesa, 3 gripens C/D suecos enfrentaram 5 F-16 noruegueses. Em três combates, os Gripens venceram todos os três, por: 5 X 0; 5 X 0; e 5 X 1. 

Em exercícios de combates BVR, entre a Força Aérea Suéca e a Finlandesa, envolvendo caças F-18 finlandeses, e os gripens C/D da Suécia: 10 X 1. 

No exercício de combate entre gripen C/D e o F-15, na  Leal Arrow na Suécia. Três F-15 dos EUA, foram interceptados por um único gripen, sendo dois abatidos e um F-15 conseguindo se evadir. 

No exercício Falcon Strike 2015, gripens C/D da Força Aérea Real Tailandesa – RTAF, contra os J-11A (versão chinesa do SU-27SK Flanker) da Força Aérea do Exército de Libertação Popular - PLAAF, em combates além do alcance visual (BVR), abateram 41 Su-27, em um período de quatro dias, contra apenas nove gripens. Em combates dentro do alcance visual, a vantagem foi dos flankers , com 25 gripens abatidos contra apenas um Su-27. Nesse embate a curta distância, os gripens tailandeses usaram misseis AIM-9L Sidewinder da geração mais antiga, ao invés do Diehl IRIS-T de última geração usados pelos suecos. 

O Gripen no Red Flag Alaska 2006 mostrou o quão superior pode ser mesmo com uma mínima logística. O Gripen, a época, não tinha capacidade de reabastecimento aéreo, por isso foi um feito ir da Suécia ao Alasca e permanecer operacional em um grau muito alto. 

Em todos esses embates, perceba, ocorreram em operações envolvendo a versão C/D, que é bem inferior a ao atual Gripen E. 

Ainda Mais Manobrável e Mais Estável em Baixa Velocidade:

Foi, recentemente, tornado público uma alteração na asa do Gripen, o elevon (junção do inglês: aileron e elevator) pela SAAB. A alteração se encontrava em testes desde 2021 em um protótipo, alcançando bons resultados. Tornando o caça mais estável em voos em baixa velocidade, e mais manobrável. A maior área do elevon também possibilitará decolagens e pousos em pistas mais curtas, mais ainda! O Gripen é capaz de decolar em pistas de apenas 500 à 800 m, uma marca impressionante que poderá ser melhorada, ainda mais! A guisa de comparação o F-5 Northrop, operado pela FAB, necessita de pistas de 1.128m para pousar, e de 884 m para decolar, sem carga! (Há menções da necessidade, de pistas ainda mais extensas, superiores a 1.600 m para pousos). A melhoria também possibilitará o aumento na capacidade de transporte de cargas mais pesadas, como armamentos e tanques de combustível. Oque implica em um maior raio de combate e traslado, e como dito de armamento. O Atual raio de combate do Gripen é de 1.300 Km, e 4.000 de traslado. A SAAB não informou o quanto melhorará essa performance. A alteração será inclusa em todos os caças a serem produzidos data venia, tanto na Suécia como pelo Brasil, incluso caças anteriores. 

A esquerda protótipo com o elevon alterado, a direita concepção original do elevon.





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