quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ação dos EUA na queda de Getulio Vargas



 Léo de Almeida Neves:
Contrastando com essas ignomínias, verdades históricas são bem enaltecidas no livro dos jornalistas norte-americanos Gerard Colby com Charlotte Dennett SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, com o subtítulo A Conquista da Amazônia: Nelson Rockefeller e o Evangelismo na Idade do Petróleo (Editora Record, 1998), tradução de Jamari França, que comentei no meu artigo "Ação dos EUA na queda de Getulio Vargas", publicado em 24 de agosto de 2001.
A criação da Petrobras, Lei 2004, de 03 de outubro de 1953, afrontou os donos das gigantes internacionais do petróleo. A obra baseou-se em documentos oficiais, liberados pelo governo estadunidense depois de 50 anos dos acontecimentos, e mostra que a política nacionalista de Getulio Vargas quanto à exploração do petróleo teve decisiva influência em sua deposição pelas Forças Armadas, em 29 de outubro de 1945, e na crise política de agosto de 1954.
O livro comenta a fundação da Petrobras e diz que "Vargas tentou preservar para a Petrobras todos os direitos de exploração e refino. As empresas americanas, lideradas pela Standard Oil, reagiram. O Brasil era um dos maiores mercados de petróleo do hemisfério, controlado pela Standard, Shell, Gulf, Texaco e Atlantic. Se Vargas expandisse a pequena capacidade de refino do Brasil através da Petrobras, as empresas seriam excluídas de todo o crescimento neste mercado crucial" (pag. 294). O livro deixa evidenciado que por causa da política nacionalista do petróleo houve o congelamento dos empréstimos norte-americanos ao Brasil.
As firmes posições de Getulio na questão do petróleo, na defesa da Amazônia e da autonomia econômica do Brasil foram fatores que determinaram a confessada interferência do Embaixador norte-americano Adolfo Berle no afastamento de Vargas da Presidência da República, em 1945.
Na concepção de Rockefeller (então "rei do petróleo"), partilhada pelo governo estadunidense, nos anos de pós-guerra em 1945, "quem quer que controle a torneira do petróleo do Oriente Médio pode controlar o destino da Europa. No entanto, a torneira latino-americana teria que fechar, porque uma superabundância de petróleo derrubaria preços e lucros. A solução encontrada por Washington é que as reservas de petróleo da América Latina não deveriam ser exploradas e sim mantidas pelas empresas americanas como reservas de petróleo" (pag. 225)
O livro relata (pág. 214) que "o petróleo brasileiro e as empresas estatais caíram sob a vigilância estreita do Embaixador Berle, que pediu a Vargas a substituição por um americano do diretor brasileiro da Cia. Vale do Rio Doce". O livro diz (pag. 215) que Vargas "continuava se opondo a qualquer controle estrangeiro sobre a exploração de recursos da Amazônia. Preservar a autonomia econômica do Brasil sempre foi uma prioridade".
"No dia 29 de setembro de 1945, Berle jogou sua bomba sobre o palácio presidencial". A obra conta em minúcias o discurso do Embaixador dos EUA na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), pondo em dúvida as intenções de Getulio realizar eleições. Nesse discurso ele aludiu que entre os direitos de "liberdade interna" estavam o "direito de acesso aos recursos econômicos do mundo". "No dia do golpe contra Getulio, Berle foi a uma festa. Ao saber que uma rádio anunciara a renúncia de Vargas "eu bebi meu café e conhaque em relativa calma", Berle, anotação do diário de 30 de outubro de 1945" (pags. 217 a 219 e 937).
O livro (pag. 222) salienta as diretrizes traçadas pelos EUA ao término da 2ª Guerra: "Nacionalizações proibidas, mesmo a reserva de uma indústria para a iniciativa privada nacional era inaceitável. A administração Truman estava efetivamente decretando que todas as economias, recursos, indústrias, comércio e mercados do mundo deviam estar abertos à penetração das corporações americanas".
Dá para dizer-se que qualquer semelhança dessa política de meio século atrás com a recente proposta felizmente frustrada da ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas) não é mera coincidência, mas sim a continuidade de consciente ação político-governamental, que deu como resultado os EUA se tornarem a nação mais rica do mundo.
Esse livro é a confirmação do que Getulio Vargas acusou na sua Carta Testamento:
"Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, e mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma."

Ver também:
O Anti-Getulimso de Jô Soares e Rubem Fonseca Autor do Livro "Agosto".

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