segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Japão: o capital se faz em casa". - Barbosa Lima Sobrinho.


Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho
Faremos uma breve síntese do livro, "Japão: o capital se faz em casa", de autoria de Barbosa Lima Sobrinho, um dos maiores expoentes do nacionalismo brasileiro, historiador, biógrafo de personalidades políticas, jurista, jornalista, ex-governador de Pernambuco, deputado federal.

Esse livro se originou de seis artigos publicados no Jornal do Brasil em 1964 e 1965, afim de contestar uma publicação da agência oficial de relações públicas internacionais dos Estados Unidos, a USIS, na qual veiculava que o desenvolvimento dos EUA foi realizado com ajuda importante de capitais estrangeiros. Isto não foi verdade para os EUA, nem para os países europeus industrializados e muito menos para o Japão.

Utilizando-se de uma frase de Ragnar Nurkse, economista suéco, pioneiro na teoria do desenvolvimento industrial, segundo a qual o "Capital se faz em casa", Barbosa Lima Sobrinho aplica-a ao caso japonês como espelho para o Brasil e aos demais países subdesenvolvidos, vítimas do imperialismo.

A tese central do livro é que: "o desenvolvimento econômico, sendo acumulação de capital, só se realizará com poupanças e capitais nacionais. Não há lei que possa desviar o capital estrangeiro de seu roteiro natural, orientado para o rumo que mais convier aos seus donos, aos homens que na verdade o comandam. Ao passo que o capital autóctone terá sua tarefa e o seu destino incorporados ao processo de desenvolvimento nacional"(p. 285).

A ÉRA TOGUKAWA

O Japão quando entra em contato com o ocidente, por intermédio dos portugueses, era um país feudal e em pouco tempo ocorre uma considerável conversão ao catolicismo. Os japoneses começam a perceber que a presença de estrangeiros  representa uma ameáça. Em 1614, o Japão se fecha para o ocidente. Os missionários são deportados ou supliciados. Os convertidos tiveram que renunciar à nova religião. O comércio com estrangeiros é proibido.

Inicia-se uma fase de isolamenteo absoluto e sistemático do Japão. O comércio, mesmo com a China e as Filipinas, quando não era proibido era rigorosamente limitado. A triste experiência da China sujeita ao imperialismo britânico, serve de exemplo ao Japão, foi uma lição que os chefes japoneses aprenderam muito bem.

Não obstante, as pressões dos ocidentais para abertura comercial do Japão foram grandes. E durante muito tempo o Japão resistiu firmemente. Coube afinal aos EUA, apoiados pela força de nove navios de guerra, a tarefa de abrir o Japão ao ocidente.

A ÉRA MEIJI

Em 1868, assume o Imperador Meiji no bojo de uma revolução. A partir de então, tem início um extraordinário processo de desenvolvimento econômico nacional. O desafio representado pelos navios de guerra ocidentais é aceito. Um país então ainda essencialmente agrícola, com apenas 15% de suas terras aráveis, pobre em materias primas, começa um processo intenso de industrialização. A seu favor possuia uma unidade nacional sólida e poderosa, um aliderança política esclarecida e modernizante e a "ausência de grupos de pressão fundados em empresas controladas pelo capital estrangeiro".(p. 41)

O desenvovlimento econômico japonês se confunde com a decisão política do imperador e da classe dominante que ele representa. "O desenvolvimento econômico do Japão é um desenvolvimento comandado e dirigido pelo Estado".(p. 58).

O ESTADO INTERVENTOR E REGULADOR DA ECONOMIA.

Cabe ao Estado o controle total da economia e da sociedade japonesa, a interferência do Estado foi tão grande que o Japão pode ser considerado um caso de desenvolvimento planejado anterior ao da União Soviética.

O Estado seráo grande empresário da revolução industrial japonesa. A indústria textil, química, as fábricas de cerâmica e cimento, as usinas de açucar, as fábricas de cerveja, de munição e de armamentos, os estaleiros, as empresas de mineração - tudo é iniciado empresarialmente pelo próprio Estado. No final do século XIX, o Japão já possuia uma indústria poderosa e diversificada, toda ela construída pelo Estado.

Para promover o desenvolvimento tecnológico, o Estado japonês usou de todos os recursos possíveis. Deu sempre grande ênfase a educação. Comprou patentes, estimulou a imitação, exigiu sempre que a importação de máquinas fosse acompanhada de assistência técnica, enviou japoneses ao exterior, trouxe técnicos estrangeiros para trabalhar no Japão, criou instituições para a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico. Em suma, promoveu a importação maciça de técnicas estrangeiras.


O que comprova, que não é necessário o capital estrangeiro para que a modernização tecnológica ocorra.

CAPITALISMO E MILITARISMO

A antiga aristocracia, que a restauração Meiji expropriara mas indenizara amplamente, será a nova classe capitalista do novo Japão industrial que se formava. Sua consolidação definitiva ocorrera no fim do século quando o Estado lhe vende a grande maioria de suas indústrias a preços fortemente subsidiados.

Apesar da transferência, para o setor privado, das empresas estatais, a economia não se desnacionalizou. Também não se liberalizou, ainda que o objetivo da venda das empresas fosse este. O governo conservou firmemente para si o controle e a coordenação dos grandes monopólios japoneses que então se formavam.

A CONSOLIDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

Em 1908-12, as exportações de produtos manufaturados representam mais de 70% do comércio exterior japonês. Os tecidos e os produtos metalúrgicos dominavam a pauta de exportações predominavam cada vez mais as matérias primas. Assim, o Japão não passou pelo modelo primário-exportador de subdesenvolvimento;não foi vítima, portanto, da divisão internacional do trabalho imposta pelos países imperialistas aos países periféricos.



01. Marcha Para o Oeste e O Homem Novo.
02. Goiania A Cidade Símbolo da Marcha Para o Oeste.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

"New Deal" foi inspirado em Vargas.

Em um pronunciamento público em 27 de janeiro de 1936, no de Rio de Janeiro, o Presidente Franklin Roosvelt atribuiu a criação do "New Deal" a Getúlio Vargas:
"Despeço-me esta noite com grande tristeza. Há algo, no entanto, que devo sempre lembrar. Duas pessoas inventaram o New Deal: o Presidente do Brasil e o Presidente dos Estados Unidos." - Franklin Delano Roosevelt, 27 de novembro de 1936.

Como revela o jornalista José Augusto Ribeiro em sua biografia sobre Getúlio:
"Roosevelt era admirador de Hamilton desde a juventude, tendo lhe dedicado a sua dissertação de graduação em Harvard. Além disto, também tinha uma admiração confessa por Vargas, tendo lhe atribuído publicamente parte da inspiração para o New Deal"

Alexander Hamilton fora um estadista estadunidense introdutor do protecionismo econômico nos EUA. Em uma única frase, poder-sei-ia dizer que Hamilton foi o principal mentor das diretrizes de política econômica e financeira e, em grande medida, institucionais, que possibilitariam a extraordinária ascensão dos Estados Unidos da América, da condição de ex-colônia recém-liberta, mas afogada em dívidas e incertezas, para, já nas décadas finais do século XIX, despontar como a maior potência industrial e econômica do planeta. Acima de tudo, ele foi um campeão da idéia revolucionária de estabelecer um Governo poderoso para colocá-lo a serviço do bem-estar geral (general welfare) ou bem comum.

Getúlio em sua juventude havia sido leitor do economista Friedrich List que tinha em Hamilton uma de suas referências.

Quando do advento do "New Deal" por Roosevelt, os Estado Unidos da América(EUA), se encontravam quase uma década em depressão econômica e outras tantas em recessão. O liberalismo se mostrou um sistema falído levando os EUA a bancarrota. Enquanto ao sul, no Brasil, a Revolução de 30 instaurara um novo modelo de Estado com uma nova proposta econômica e de ordem social levada a cabo por Getúlio. O Castilhismo.

É esse modelo brasileiro, que será copiado por Roosevelt para retirar os EUA da grande depressão. Roosevelt a exemplo de Vargas, faz do Estado um intermediador nas relações entre o capital e o trabalho. Cria em 1935 agência Nacional de Relações de Trabalho que terá poder de criar normas e julgar litígios trabalhistas envolvendo as organizações de trabalhadores, a exemplo da Justiça do Trabalho no Brasil com seu poder normativo. 

O Estado passou diretamente a intervir na economia como já pregava o economista brasileiro Aarão Reis desde 1896, que influiu na política econômica de Getúlio desde sua ascenção ao poder em 1930 e mesmo antes no Rio Grande do Sul.

Roosevelt buscou o fortalecimento do executivo, uma avocação incomum no Estado ianque, lançando mão de um sem número de decretos para se sobrepor ao Congresso, buscando a Centralização do poder político, ao mesmo tempo que já contava com a reeleição ilimitada, princípio castilhista da continuidade administrativa.

Como ocorreu com Vargas, Roosevelt foi ferozmente combatido pela direita oligárca estadunidense, acusado de "comunista", que vêem no Estado um mero instrumento de interesses corporativos e, na economia, um campo de caça para a ação dos “setores mais dinâmicos do capitalismo”.

De modo que foi o advento desse novo modelo brasileiro que mudou o curso da história mundial e ironicamente salvou os EUA da ruína.