"Essa
geração que curte roque é muito fraca, culturalmente falando. É a geração que
lê gibi, não lê livros. A maioria dos grupos de roque, que eles chamam de
"roque brasileiro", mas isso não existe — tem nomes tirados de gibi:
Barão Vermelho, Jota Quest... Ou seja, eles só leram gibi e jornal, não podem
fazer uma bela poesia, mesmo que tenham talento. E se tem talento, geralmente
não partem para esse caminho. No que diz respeito à poesia e à música, o
sujeito pode ser analfabeto, como é o caso do Patativa do Assaré, João do Vale
ou Cartola. Alguns tiveram oportunidade de estudar, mas mal fizeram o primário.
Essa geração, no entanto, foram criados sob o massacre. E fizeram suas músicas,
que não eram brasileiras, de acordo com as que eles ouviam: o roque. E a literatura
deles, na minha opinião, é literatura de redação de ginásio, do cara que lê
gibi."
Não se deve confundir as influências culturais, que são naturais e espontâneas com o imperialismo cultural.
As influências culturais são naturais, como explica Tinhorão: " - são naturais quando
são espontâneas. Se você pegar a música pantaneira, ela é muito parecida com a
música paraguaia, mas por que? Porque há uma influência da música paraguaia no
território brasileiro e da música brasileira no território paraguaio. É muito
espontânea, porque alí não tem controle de fronteira; um tocador de guaraña ele
vem às vezes tocar num daqueles cabarés de bandido, alí no Mato Grosso, pobre,
com aquelas prostitutas baratinhas... Então ele fica lá tocando aquele treco,
resultado: o compositor do Mato Grosso fica impregnado com aquela música da
Guaraña, daqui a pouco, ele faz um negócio aguaranhado, é natural..
Agora este mesmo compositor, se ele veio pra uma cidade grande do Mato Grosso, ele vai ser bombardeado pelo rádio, pela TV, aí quando ele fizer o chamado roquinho brasileiro já não é autêntico, porque não é normal ! Não é uma influência normal, é uma coisa imposta e artificial".
Agora este mesmo compositor, se ele veio pra uma cidade grande do Mato Grosso, ele vai ser bombardeado pelo rádio, pela TV, aí quando ele fizer o chamado roquinho brasileiro já não é autêntico, porque não é normal ! Não é uma influência normal, é uma coisa imposta e artificial".
Uma vez que surge a consciência dessa imposição cultural, desse imperialismo cultural, a ideologia nacionalista surge como reação e negação dessas influências. De se opor ao que destrói sua cultura nacional.
O Nacionalismo é a tomada de consciência da cultura brasileira, e como brasileiros a tomada de sua defesa.
Antes
do fim da II Guerra tínhamos um repertório que ia de Dorival Caymmmi a Ari
Barroso, Noel Rosa, Cartola, Villa Lobos, gênios notáveis!
Com
a busca de mercado pelas multinacionais fonográficas lançando seus tentáculos no
Brasil, as rádios passaram a tocar música estrangeira, não que fossem boas, mas
porque as pagavam e ainda pagam pra isso! E eis o resultado.... "eguinha pocotó", "funk", todas essas porcarias surgiram no vão de músicas estrangeiras.
O imperialista crava a cultura dele no meio da sua, esmaga a sua e a cospe fora. Todos os meninos, hoje, falam inglês. Hoje se escuta muito mais inglês do que português. As gírias, criação do povo e fazem parte da mutação da língua, são em inglês.
É nesse cenário que surge a Bossa Nova. No mesmo diapasão da Bossa Nova veio a o "Iê iê
iê"(já não bastasse o ridículo do nome), Tropicália.... e no que isso resultou? No que se
convencionou chamar de "Roque Brasileiro", que de brasileiro não tem
nada! Pura e simples importação, corroborando para perda da identidade musical brasileira, e sua degradação.
A
publicidade e a propaganda agem diretamente nos desejos das pessoas, novelas e
programas de TV, induzem o gosto das pessoas exibindo roteiros, cenários,
estilos de vida de personagens e apresentadores. O mesmo acontece com as
produções cinematográficas que, na sociedade atual, também foram transformadas
em objetos de consumo. Assim, visa-se o consumo dos produtos dos países centros
pelos países periféricos. Por cada música da Britney Spearl consumido aqui, nossos
reais são convertidos em dólares e nossas divisas enviadas para fora com o
pagamento de "royalties" e direito autorais, além de impedir o surgimento de uma indústria cultural nacional geradora de produtos, empregos e renda. Ou seja, ficamos mais pobres e
eles mais ricos!
A França, na União Européia - UE, fez impor oque se designou chamar de "exceção cultural", resguardando seu setor audio-visual. Medida que permite o governo francês subvencionar o teatro, o cinema, impor cotas de difusão de filmes, músicas ou
programas de TV, estabelecer benefícios fiscais, enfim, proteger sua criação artística e cultural. Medida natural, que qualquer país minimamente preocupado em defender sua nacionalidade deveria tomar como exemplo.
É diante dessa superficialidade estrangeira, quando você tem um conhecimento profundo a respeito de alguma coisa, e passa a renegar essas influências externas, dizem que você é radical. Mas radical é aquele que foi na raiz e aprendeu, sabe dialogar a respeito do que aprendeu, diferente dos alienados. E são esses alienados, corrompidos por influências estrangeiras, que te rotulam de radical, como se isso fosse um xingamento.
Para
finalizar merece ser repensada uma colocação do compositor Paulo César
Pinheiro, autor de mais de 1500 músicas compostas, dos quais 900 gravadas:
"No
lugar que hoje poderia estar o samba mais bonito do mundo, está um rap que não
é brasileiro — que não é nem música, aliás, é uma forma de verso falado com um
ritmo chato embaixo. Aquilo que a gente dizia, a revolução que a gente trazia
nas letras da nossa época, tinha como base músicas muito bem feitas. Hoje, a
reclamação é feita com a música do país contra o qual se reclama. Ou seja, está
tudo errado.".
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