quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Influência Positivista no Nacional-Trabalhismo.

O positivismo, muito mais do que na Europa, disseminou-se pelo novo mundo, especialmente no Brasil, o projeto constituinte de Teixeira Lemos (que seria a constituição positivista) foi rejeitado, a constituição de 1891 pouco terá dos ideais positivistas. O Progresso é a expressão máxima buscado pelo positivismo dentro de um processo evolucionista que compreende estágios tecnológicos por qual todas as sociedades devem passar e por isso a educação é um alicerce básico para essa consecução, bandeira até hoje empunhada pelo Nacional-Trabalhismo. Mas esse Progresso só pode ser alcançado em um ambiente de paz, portanto de Ordem, por isso ser contrário a luta de classes.

Essas idéias, rejeitadas na constituinte nacional, plantará raízes sólidas no Rio Grande do Sul. Aqui a filosofia encontrou implementadores da estatura de Júlio de Castilhos, estadista notável e messiânico defensor do sistema republicano de matiz positivista. Seus discípulos formaram a vanguarda dos homens públicos que assumiram o Estado brasileiro após a revolução de 1930, sob os auspícios dos quais foram implementadas as reformas de estado e principalmente a legislação trabalhista consolidada.

O governo castilhista e seus sucessores adotaram os preceitos positivistas com relação às questões sociais. Defendendo um Estado regulador e intervencionista do ponto de vista da promoção do desenvolvimento. Incrementou a industrialização e os setores produtivos médios, urbanos e rurais contra o latifúndio pastoril. Incentivou-se a integração dos trabalhadores à sociedade, com apoio às reivindicações laborais, sob a tutela do Estado.

Os movimentos anarquistas e comunistas são rejeitados, com suas propostas de ruptura violenta da ordem estabelecida. A luta de classes não era acatado como mola propulsora da evolução da sociedade. A ordem, sim, dentro do lema positivista-castilhista do “conservar melhorando”. Esta era certamente a teoria que constaria do ideário dos idealizadores políticos da carta de direitos trabalhistas do período getuliano.

A luta de classes é repudiado como mola propulsora da história pelo positivismo, que acatava como tal o processo evolutivo. Tal, inclusive é confessado pelo próprio jornal A Federação, órgão oficial do Partido Republicano Rio-grandense, braço político do positivismo gaúcho, citado por Silvia Regina Petersen:
"Nenhum regime político, nenhum Estado do Brasil facilita melhor do que as leis do Rio Grande republicano a incorporação definitiva do proletariado à sociedade. Não se tem limitado as instituições rio-grandenses a uma série regular de disposições salutares em favor da classe operária. Toda vez que se tem tornado mister a interferência dos dirigentes em conflitos de interesses entre operários grevistas e seus patrões e as empresas respectivas, o governo do Estado não só tem respeitado o direito de greve, de reunião, toda a estratégia de defesa dos operários modernos, atendendo os elementos políticos dessa grande questão social com a maior justiça e prudência, como facilitado a reivindicação de seus direitos de ordem material e moral." (PETERSEN, 2001, p. 327).
Oque também explica o caráter estatutário da regulação do trabalho. O Estado intervencionista apoiado por segmentos teóricos do positivismo, traria para si, o papel de regulador da inserção do operariado na compreensão cientificista da sociedade em evolução.
Essa também a opinião de José Augusto Ribeiro:
“...os republicanos do Rio Grande, liderados por Júlio de Castilhos, tinham lutado, em primeiro lugar, pela abolição da escravatura, e, em seguida, pela República. Proclamada esta, lutaram pelo princípio positivista, formulado por Augusto Comte, da incorporação do proletariado à sociedade moderna. Nada conseguindo dessa luta no Congresso Constituinte Federal de 1890-1891, levaram suas idéias para a primeira Constituição republicana do Rio Grande”.
Getúlio teria pensado com Lindolfo Collor a legislação trabalhista, entregando a um professor de direito do trabalho, socialista revolucionário, Joaquim Pimenta, a tarefa de elaborar a lei sindical. Sintetizando sua influência positivista em uma frase: "tomo do positivismo tudo que me interessa".




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Brizola, Origens e Legado.

Resenha do artigo "O Farroupilha Leonel Brizola" de Júlio Ambrozio, encontrado em:


O grande objetivo de Leonel Brizola foi conduzir o país à união nacional originada em 1930: povo, exército e indústria - a aliança da classe média com o povo. Essa luta pela formação da Civilização Brasileira, visando a união nacional, mantêm-se urgente e atual.

Tanto isso é verdade que a grande mídia só agora quis saber de Leonel de Moura Brizola, quando desce às catacumbas; com ele, descem também a compreensão e o sentimento fronteiriços de nacionalidade, originados nos conflitos entre espanhóis e o mundo luso-brasileiro, em constituição no antigo continente de São Pedro do Rio Grande no período colonial.

Quem se debruçar sobre a literatura guasca, sem dúvida, irá encontrar em Brizola, com a Cadeia da Legalidade e com a tentativa de resistência ao golpe imperialista de 1964, a descendência de Mestres-de-Campo, tais como Francisco Pinto Bandeira e Rafael Pinto Bandeira, ou mesmo a herança de José Borges do Canto e Manoel dos Santos - responsáveis estes dois pelo embate que pacificou as fronteiras de tensão do Rio Grande do Sul em 1802: a definitiva conquista da região das Missões.

O leitor que procurar a Farroupilha e o Positivismo irá encontrar as origens republicanas de Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola: o fortalecimento do Estado como veículo do Federalismo meridional; o guarnecimento do Estado, já agora com Getúlio Vargas, como garantia da nacionalidade. O Positivismo gaúcho possibilitou transferir o respeito, a disciplina e a solidariedade dos clãs de fronteira para o Estado. O campo gauchesco-brasileiro, pois, expandindo-se para o Brasil com a Revolução de 1930, resultou na luta pela democracia social, acoplada à descolonização do país, ao fortalecer o Estado brasileiro.

Eis o brasileiro Estado de bem estar social: a Era Vargas, saída dos campos raianos do Rio Grande do Sul, em 1930, envolveu o país com um projeto de Brasil em defesa dos brasileiros, incorporando a projeção da Civilização Brasileira encontrada em autores como  Euclides da Cunha, Alberto Torres, Oliveira Viana e outros que deram as bases, bem antes de sua fundação, do Partido Trabalhista Brasileiro criado em 1945. Se o cosmo deste período - 1930-1964 - existia em transe, isso somente significa que o povo brasileiro exercia a sua pulsão energética, criativa e de resistência, desse modo, afirmando que a sua Civilização não se construiria à imagem da antiga URSS e à dos EUA, mas como brasilidade popular e soberana.

Contudo, 1964 foi um duro golpe. Quando, 15 anos depois, a anistia traz Brizola de volta, retorna como legítimo e único herdeiro do Trabalhismo. As dificuldades deste período podem ser ilustradas através da perda da legenda PTB para Ivete Vargas-Golbery do Couto e Silva e das sistemáticas traições de personagens saídos do PDT. Trânsfugas municipais, estaduais e federais. Além de outras traições. É verdade que tais deslealdades foram antes ao Trabalhismo do que propriamente a Brizola, pois 1964 configurou-se como fratura dorsal desse movimento, dando asas para personagens que, na antiga circunstância pré-64, não teriam interesse ou coragem de praticá-las.

Em contrapelo, sem consciência, aquilo que falaram alguns políticos - elogiando a coerência e pertinácia de Leonel Brizola - , na verdade, foi o seu admirável senso de responsabilidade pública com a sua terra, o seu mundo, a sua tradição e história.

Leonel de Moura Brizola - talvez mais do que Jango - está ao lado de Getúlio Vargas.

Em tempo.... Brizola, quase ia dizendo, o Trabalhismo campeiro, vagou por esses anos pós-exílio em busca de herdeiro(s).

É chegado a hora de tomarmos posse!


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O Combate de Getúlio Vargas aos Regionalismos e as Doutrinas Estrangeiras

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

INTERVENÇÃO ESTADUNIDENSE NO PROCESSO POLÍTICO BRASILEIRO




























GOLPE MILITAR OU REVOLUÇÃO REDENTORA?

O Golpe de 64, propalado pelas viúvas de 64 como "revolução cívico-militar", foi fundamentalmente o resultado de um governo estrangeiro (EUA), contra o Brasil, contra o Trabalhismo Brasileiro, contra o Nacionalismo Brasileiro! Sem o qual, tal processo subversivo não teria se efetivado.

Carlos Fico, em seu livro: "O Grande Irmão",  expõe uma coletânea de documentos secretos, desarquivados, que fundamentam de forma, ultracientífica,  o  processo de Deposição do Presidente João Goulart, e a relação deste processo com a intervenção estadunidense com uma cúpula militar atuante no seio das forças armadas.


CONSPIRAÇÃO VS CAMPANHA DE DESESTABILIZAÇÃO

Fico distingue o processo de conspiração do da campanha de desestabilização. O primeiro era anterior, já existente desde a queda de Vargas em 45, e que resultou em seu martírio em 54, junto com a tentativa de golpe em 55 contra a posse de Jucelino Kubitschek. Todos já de  influência externa, ainda que indireta, no ânimo dos conspiradores. E que resultarão na Campanha de desestabilização iniciada em 62 com a posse de Goulart e que resultará, por fim, no Golpe de 64. Segundo Fico: 
“{...} foi bem desarticulada até bem perto do dia 31 de março {..} a movimentação militar que levou ao golpe iniciou-se sem o conhecimento dos principais lideres da conspiração e seus resultados foram bastantes fortuitos {..}
Durante a campanha de desestabilização do governo Goulart, montou-se um amplo aparato pelo qual se conduziu um processo de planejamento desde o início da assunção de Goulart, comandado por organizações brasileiras e estadunidenses, capitaneadas internamente por Golbery de Couto e Silva.

A CAMPANHA DE DESESTABILIZAÇÃO, ANTECEDENTES

Desde o início da Guerra Fria o EUA buscou manter sua influência sobre a América Latina. Em meados dos anos 50, era comum os planos de ajuda militar, planos esses restritos, que embora se desse por meio do fornecimento de armas e treinamento militar, não tinha um caráter de cooperação, visando à militarização dos países latino americanos. Nas palavras de Fico: 
“ {...} objetivava manter a dependência da região aos EUA {..} a idéia principal era excluir os antigos fornecedores europeus ( inclusive a Alemanha e Itália).
Foi com a Revolução Cubana que o EUA passou a se preocupar mais com a Região e a investir seus esforços para conter a expansão do comunismo. Para o Presidente Kennedy, conforme coloca o historiador: “a América Latina é região mais perigosa do mundo”. A partir de então, começou-se a montar um aparato ideológico que mantivesse tais países sob sua esfera de influência. Uma das estratégias foi investir no desenvolvimento da região, pois sabiam que a pobreza poderia constituir-se num verdadeiro catalisador de golpes comunistas. Surge, então, a “Aliança para o Progresso” que chegara aqui no Brasil no primeiro semestre de 1961, chefiada pela USAID, Agência de Desenvolvimento Internacional. Nas palavras de Fico, em alusão à doutrina da Aliança Para o Progresso:
{..} essa doutrina global que articulava segurança interna da região à necessidade de combater a pobreza, identificada como motivadora de regimes de esquerda, Levaria Lindon Johnson a buscar o envolvimento de lideres civis norte-americanos, especialmente empresários, na causa anticomunista {..}
Dentro desse período, passou-se a operar também no Brasil a organização “Peace Corps”, que consistia na infiltração jovens voluntários, demandados pelos governadores de Estados em determinadas áreas (escolar, agrícola, de saúde e outras). Segundo Fico, “o EUA não propagandeavam sua presença no Brasil para evitar críticas de intervencionismo ou algo do gênero”.

ELEIÇÕES PARLAMENTARES DE 1962

O finaciamento de candidatos brasileiros simpaticos aos EUA e avessos ao governo Goular, revelou-se como uma das ações estratégicas para que o império pudesse se infiltrar no poder legislativo e garantir, sobretudo, que algum parlamentar, no caso o presidente da câmara, assumisse o poder quando o processo de deposição de Jango fosse deflagrado. Segundo Fico:
Foi no contexto das eleições parlamentares de 1962 que a intervenção norte-americana no processo político brasileiro intensificou-se, ultrapassando os limites da propaganda ideológica que os EUA faziam em qualquer país, enaltecendo os costumes norte-americanos e defendendo o capitalismo contra o comunismo.”

MISSÃO DRAPER

Um dia depois da Eleição de outubro de 1962 chegou ao Brasil uma missão enviada pelo presidente John Kennedy cujo comando coube ao investidor republicano Willim H. Draper com auxílio do Departamento de Defesa e outras agências governamentais e objetivava avaliar o resultado das eleições, que, apesar de todo esse apoio externo, não teve um resultado positivo para as forças anti-gulart.

“ILHAS DE SANIDADE”

O Republicano Draper também sugeriu que o Brasil passasse a ser englobado num plano econômico de ajuda financeira que consistiu em repasses aos governos estaduais que eram contra Jango. Segundo o Embaixador Gordan, esse plano foi sugerido pela Cia. Tal plano visava favorecer a imagem dos EUA nos Brasil e minar o governo de João Goulart.

O embaixador Gordan denominava os Estados que recebiam os repasses financeiros de “Ilhas de Sanidade”, já que eram meticulosamente avaliados os lugares que receberiam tal empreendimento, pois se tomava o cuidado de não ajudar os governadores pró-jango.

PROPAGANDA DOUTRINÁRIA

Dentro da indústria de propaganda alienígena podemos destacar:
1- Distribuição de publicações a parlamentares e outras autoridades: exemplares de U.S New s Letter, espécie de boletim informativo eram entregues aos parlamentares diariamente, enquanto que aos Governadores, Prefeitos e Juízes eram entregues Wireless File, sem contar outras publicações, como livros, estatísticas e análises. De 1963 a 1964 os gastos com tradução de livros para militares saltaram de US$6 mil US$15 mil.

2- Exibição de Filmes nos quartéis: o USIS (Serviços de informações) adquiriu unidades moveis de projeção de filmes, chegando em 1963 segundo o relatório a completar mais de 1.706 exibições nos quartéis do Rio de Janeiro, abrangendo cerca de 180 mil militares.

3- Concessões Financeiras para entidade de ensino de Língua Inglesa

4- Programas de intercâmbio: considerada a iniciativa mais eficaz, pois consistia na oferta direta de dinheiro a braileiros influentes p’ra que viajassem aos EUA e tomassem contato com a civilização anglo-americana, trazendo pra cá seus paradigmas culturais. Havia diversas categorias. A categoria Líderes, dos 36 beneficiados em 1963, 15 foram para Deputados e 10 para governadores, dentre os quais, José Sarney UDN e Mário Covas PST. Havia um núcleo do USIS (Serviços de informações) voltado apenas para assuntos estudantis, chegou se a selecionar 5 mil lideranças estudantis em 22 universidades. As Mulheres representantes da Camde ( Campanha das Mulheres pela Democracia) também foram abarcadas pelo programa. Entre 1967 a 1968, foram abrangidos pelo programa cerca de 1.131 brasileiros.
INVESTIMENTOS MACIÇOS

Dias antes do Golpe, foi elaborado pelo USIS (Serviços de informações) um relatório que explicitava a necessidade de reforçar a confiança das Relaçoes entre Brasil e EUA, sugerindo criação de “centros democráticos progressista” que eram centros de propaganda norte-americana anti-comunista, para os quais destinou-se US$ 891 mil dólares, contenplando Unidade móveis de exibições de filmes , rádio, imprensa e propaganda . Rassalte-se que essa monta não incluía outras despesas como custeio de pessoal, nem outras atividade que Washington apoiava tais como os fundos adicionais do programa de publicação de livros US$ 490 mil, concessões financeras para o ensino de língua US$ 400 mil, recursos do programa de intercâmvio US$ 1 milhão. Os gastos do USIS entre 1965 e 1970 ficaram sempre acima de US$ 5 milhões anuais.
Lincol Gordam confessou que foram gastos na ordem de US$ 5.000.00 com o financiamento de campanha de parlamentares pró-EUA.


EFICÁCIA DAS ATIVIDADES DE DOUTRINAÇÃO E PROPAGANDA DO USIS (SERVIÇO DE INFORMAÇÕES)

As avaliações eram feitas por órgãos externos ao USIS (Serviços de informações), como as Embaixadas de Brasília e Rio de Janeiro.

PLANO DE CONTINGÊNCIAS

Segundo Fico,

“{...} A campanha de desestabilização evoluiu para o planejamento de um possível golpe. O plano de contingências consistiu num documento no qual se vislumbrou certas conjecturas traçando para cada cenário uma possível linha de ação. {..}"

Ao contrário do que o Embaixador Gordan disse, que plano foi elaborado às pressas, o historiador nos mostra por meio de um documento em anexo que o plano foi concebido em 11 de dezembro de 1963. Igualmente, a operação Brother San, contida no plano, também não fora traçada às pressas, o autor cita um fragmento do plano em cuja operação brother Sun estaria inserida:
“deve-se usar de precaução contra passos preparatórios suscetíveis de serem descobertos prematuramente identificados como preparativos para os EUA intervirem aberta ou secretamente no Brasil.”
Partindo-se de algumas pressuposições, estabeleceram-se quatro cenários com quatro ações correspondentes. O primeiro cenário previa uma hipótese de tentativa de golpe contra o governo de Goulart, partindo de movimentos de extrema esquerda, com apoio reduzido das Forças Armadas; o segundo, supunha a possibilidade de uma resistência organizada, aberta, das Forças Democráticas de bom tamanho com considerável apoio militar, contra uma tentativa de Goulart obter poder autoritário, tentativa essa que seria identificada por meio de qualquer gesto anticonstitucional de Goulart, nesse cenário, vislumbrava-se também a possibilidade de Goulart instaurar uma ditadura do tipo peronista e depois acabar sendo dominado pelos comunistas; a terceira, vislumbrava um golpe militar que implantasse uma liderança nacional “mais efetiva”, golpe esse motivado por um descontentando acumulado com o caos econômico e político, não por uma episódio específico, como no segundo cenário; e o quarto, previa a possibilidade de uma tomada de poder por setores ultranacionalistas de esquerda, com ou sem a participação de Goulart, acompanhada por uma neutralização ou fracionamento das Forças Armadas. Segundo Fico: “{..} era a defesa de um ponto de vista desejado, uma opção escolhida pelo autor {..}”.

Era o caso do primeiro e quarto cenário, improbabilissíssimos, que seus autores mesmo admitiam-nos como os menos prováveis e sobre a atitude a ser tomada pelos EUA no primeiro cenário, remetiam suas considerações as atitudes que deveriam ser tomadas no segundo plano, enquanto que as que deveriam ser tomadas no quarto, apenas diziam que deveriam ser impedidas, sem definirem qualquer linha de ação.

As linhas efetivas referiam-se aos segundo e terceiros cenários e traduziam o que de fato ocorreu:

1- controle militar temporário;
2- posse do presidente da câmara dos deputados;
3- e posterior eleição de um novo presidente.


No caso de um conflito com as forças legalistas, afirmava-se a desejabilidade de formação de um governo provisório, composto pelos militares, pra que se pudesse reconhecê-lo e tão-logo descartar Goulart. Porém era necessário que o governo alternativo estivesse controlando uma região significativa para que se pudesse clamar por legitimidade internacional para finalmente ser reconhecido. Segundo Fico, isso era praticamente uma sugestão aos conspiradores não-estadunidenses, pois seria ilógico constar tal previsão de desejabilidade de um governo provisório, num plano que tratava de uma intervenção duma potência estrangeira, a não ser que ele tivesse de ser observado por outras pessoas.

OPERAÇÃO BROTHER SAN

Ainda no caso de um conflito com as forças legalistas de Goulart, o plano previa que os EUA deveriam prover os conspiradores com suprimento, derivados de petróleo, alimento, munição, enfim, com todo apóio logístico, aberta ou secretamente.

O plano previa ainda a hipótese de uma intervenção direta dos EUA, se caso houvesse alguma evidência de intervenção soviética ou cubana, diretriz que estabeleceu a Força tarefa naval que futuramente se chamaria Brotehr San. Fico esclarece:
“A operação contou na pratica com um porta-aviões, um porta helicópteros, um posto de comando aerotransportado, seis contratorpedeiros (dois equipados com mísseis teleguiados), carregados com 100 toneladas de armas (inclusive um gás lacrimogêneo para controle de multidões, chamado CS agent) e quatro navios-petroleiros que traziam combustível para eventual boicote das forças legalistas”
“Os EUA poderia intervir militarmente na hipótese, por exemplo, de um segundo estágio, caracterizado por um eventual confronto entre os golpistas e as forças legalistas {..}
"A operação Brother San poderia se desdobrar nesse sentido, mas originalmente ela não previa o desembarque de um punhado de fuzileiros navais e, portanto, se um confronto se instaurasse no Brasil e a casa branca decidisse intervir militarmente, Washington teria de agir às claras, consultando o congresso dos EUA e , possivelmente, a Organização dos Estados Americanos (OEA) - cenário realmente chocante e quase inimaginável.”
O historiador chama atenção para um dado novo, até então despercebido, quanto à participação de Brasileiros na Brohter San, diz Fico:
“ao contrário das negativas de envolvimento de brasileiros na operação brother san, havia um contato brasileiro cuidando da entrega de armas, munições e combustível, o General de Brigada José Pinheiro de Ulhoa Cintra, um dos grandes revolucionários do Exército {...} descrito por Costa e Silva como “ um homem violento e querendo fazer bobagem”. O General Cintra deveria fazer uma avaliação da necessidade suplementar de armas e avisar Vernon Walters, adido militar estadunidense, conhecido de Castelo Branco desde a II Guerra". 

PLANO DE DEFESA INTERNA PARA O BRASIL

Mais um documento inédito revelado pelo Historiador. Tratava-se de um plano de avaliação para se precisar as condições de segurança do Brasil em face de ameaças internas que pudessem pôr em risco os interesses estadunidenses, elaborado dias antes do General Cintra fazer a tal solicitação dos artefatos ao adido Vernon Walters. Com efeito, o embaixador Gordan já sabia em detalhes das necessidades de equipamentos e recursos humanos dos militares e policiais brasileiros, graças a tal plano que antecedia a transação. Tal plano decorreu, segundo Gordan, do acordo de segurança interna entre os governos brasileiro e estadunidense, que por sua vez decorreu graças a renovação do acordo militar do Brasil com os EUA, efetivado pelo Ministro Interino João Augusto de Araujo Castro, sem permissão de Goulart, em janeiro de 64, o que lançou fortes suspeições sobre ele, segundo o historiador.

O historiador cita ainda que “segundo o Embaixador Gordan, os equipamentos dos militares e da policia eram obsoletos e as Forças Policiais do País seriam incapazes de arcar com distúrbios internos sérios sem a ajuda do Exército."

E continua:
“Por causa dessas insuficiências e da iminência do Golpe, o Embaixador Gorgan sureriria ao governo norte-americano, dias depois, em outro documento, que se fizesse ma entrega clandestina de armas de origem não-americana (para impedir identificação e evitar acusações de intervencionismo) a serem repassada aos cúmplices de Castelo Branco em São Paulo, nada muito diferente do que já vinha sendo previsto desde de o plano de contingências do final de 63.”

MONITORAMENTO DO CONGRESSO NACIONAL

Na semana do golpe, o Congresso Nacional exerceu a função de “sistema nervoso” segundo Robert Dean, citado por Fico. Dean era conselheiro do escritório de representação da embaixada ianque em Brasília, especializado no monitoramento das atividades do Congresso. Ele emitia boletins semanais - The Week in Congress- ao Embaixador Loncol Gordan e ao Departamento de Estado estadunidense.

O monitoramento se dava tanto na capital da república como no Departamento de Estado de Washington e foi fundamental para o reconhecimento quase que imediato da posse do Presidente da Câmara, Rinieri Mazilli. De acordo com Fico, assim que o Departamento de estado foi avisado da posse de Mazzilli na madrugada do dia 2, enviaram o seguinte telegrama:

Eu enviei um telegrama ou emiti uma declaração que teve o efeito, com efeito, de reconhecer o novo governo. Goulart não estava totalmente fora do País e eu estava me arriscando. Mas funcionou belamente e foi muito efetivo. Foi o tipo de coisa que marcou o fim para o Sr. Goulart.
George. W. Ball

Contudo, tal telegrama não foi encontrado e o reconhecimento se deu com o envio de outra mensagem ainda na noite do mesmo dia.

Esse acervo documental que compõe a obra é uma robusta prova de violação da nossa soberania. Revela o trabalho de alienação promovido por uma potencia estrangeira contra nosso País, com graves repercuções não só em nossa soberania como em nosso desenvolvimento nacional e degradação social cada vez mais graves no Brasil. 


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