"La Argentina, sola, no tiene unidad
económica; Brasil, solo, tampoco; Chile, igual. Pero estos tres
países, unidos, forman actualmente la unidad económica más extraordinaria del
mundo. No caben dudas de que, realizada esa unión, los demás países sudamericanos
entrarán en su órbita". – Peron.
O
Termo "Terceira Posição" foi cunhado por Juan Domingo Peron,
presidente da Argentina de 1946 à 55 e 73-74,
defendendo a união da América do Sul sob a formação de um bloco
estratégico, de modo a evitar um alinhamento entre os EUA ou a URSS. Uma
tentativa de reativação do Pacto ABC, entre Argentina, Brasil e Chile para
cooperação exterior, de não agressão e arbitragem, firmado em 15 de maio de 1915.
Uma forma de estabelecer um equilíbrio e mecanismos de consulta entre os três
países e responder as influências externas na América do Sul. Iniciativa tomada,
após o bloqueio e bombardeio a Venezuela ocorrido em 1902-03, por uma força
conjunta da Inglaterra, Itália e Alemanha, sob consentimento dos EUA, ante a
recusa da Venezuela de pagar dívidas externas.
Peron
via a América do Sul como uma região depositária das "mayores reservas de los elementos fundamentales de la vida humana:
alimento y materias primas" e diante dessa imensa riqueza antevia o
perigo da cobiça das potências externas. A história da humanidade mostrava que
as grandes potencias, quando necessitam de bens que não possuem ou que se
esgotaram, vão em busca e os conseguem: "por las buenas o por las malas".
Em
1950, eleito Getúlio, Perón pode iniciar o sonho de unir a América do Sul. O
Plano previa a união de três países: Argentina, Brasil e Chile. No Chile, Perón
apoiou o então candidato: general Carlos Ibáñez del Campo.
Em
fevereiro de 1951, logo após a posse de Vargas, Perón enviou um emissário
especial ao Rio de Janeiro. Coronel Roberto T., que lhe teria dito:
"Señor
presidente, quiero transmitirle un mensaje personal de Perón. El me ordenó
decirle que su parte del acuerdo realizado meses atrás ha sido cumplida. Ahora ha llegado su turno de cumplir con la otra parte.”
Ao
que Vargas o respondeu:
"
- Diga ao meu grande amigo, general Peron, que agora, é absolutamente
impossível cumprir com minha parte. Governo um país com um congresso fortemente
opositor. Espero que Peron faça oque vou fazer, tirar dos EUA todas as
vantagens econômicas possíveis. E adiante veremos o tema do eixo Buenos
Aires-Rio de Janeiro.”
Sem
o Brasil podendo aderir ao pacto naquele momento, era necessário buscar o
Chile. Por isso, foi a Santiago. E disse ao general Ibáñez:
"Vengo
aquí con todo listo, traigo la autorización del presidente Vargas, porque yo
estaba comprometido inicialmente a hacer esto primero con Brasil. De manera que
todo está saliendo perfectamente bien, tal como fue planeado. Y, tal vez, al
hacerlo, se le facilite la acción a Vargas".
Perón,
em visita ao Chile (fevereiro de 1953), expressou seu desejo de ver reativado o
pacto ABC firmado entre a Argentina, Brasil e Chile em 1915, propugnando a
solidariedade entre as três nações ante qualquer tipo de agressão ou
intervenção externa.
O
que nem Perón nem Ibáñez esperavam era que o ministro das relações exteriores do
Brasil, João Neves da Fontoura, faria declarações duras contra o Pacto. Disse
que o Brasil estava contra os pactos regionais e que isto significava a
destruição do panamericanismo.
Na
tentativa de contornar o incidente diplomático provocado por esse pronunciamento,
Getúlio enviou a Buenos Aires o jornalista Geraldo Rocha, incumbido de
esclarecer ao governante argentino que tais declarações haviam sido feitas sem
seu conhecimento.
Desse
modo, no dia 19 de junho de 1953, João Neves da Fontoura apresentou seu pedido
de demissão, sendo substituído por Vicente Rao.
Em
4 de abril de 1954 João Neves da Fontoura, agora, ex-ministro das Relações
Exteriores, concedeu uma entrevista à imprensa denunciando o acordo entre
Vargas e Peron, para se opor à hegemonia norte-americana no continente. Esse
pronunciamento, foi explorado pela imprensa e pela oposição, sob a acusação de
que Vargas pretendia implantar uma república sindicalista no país.
Um
ofício secreto enviado a Buenos Aires em julho de 1954 da Embaixada Argentina
mostra que Vargas não tinha retaguarda para cumprir o que havia prometido a
Perón. Seu conteúdo, em linguagem diplomática cifrada, era o seguinte:
"O
presidente Getúlio Vargas tem simpatias por nosso país, mas seus meios de
expressão (políticos e administrativos) estão embargados por uma oposição forte
e total (Parlamento, imprensa e classes dominantes). A situação política o
obriga a silenciar seu verdadeiro pensamento e deixar livres seus ministros. A
isto se devem as profundas alterações da política externa dos gabinetes de um
mesmo presidente".
Com
o processo o aliciamento de membros do governo pelos EUA, como sucedeu ao
próprio João Neves da Fontoura, que ainda em 12 de janeiro de 1951, se associou
a Standart Oil, como presidente da Ultra Gás, e mesmo de outros setores,
especialmente, a aeronáutica, que veio a desencadear os acontecimentos
da rua Toneleiros. O processo de desestabilização atingiu um ponto cuminante,
que levou Getúlio a cometer o derradeiro ato de 24 de agosto de 1954.
O
martírio de Vargas impediu o golpe que o teria derrubado em 54, contudo, a
oposição conseguira impedir naquele momento a consolidação de uma aliança do
cone-sul que teria se não anulado, ao menos, diminuído bastante a influência
imperialista dos EUA e da Inglaterra sob a América do Sul.
O
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul, fundado em 1991, inicialmente pensado como um
processo de maior abertura econômica, terá sob a liderança do ministro das
relações exteriores Celso Amorim, ainda no governo Fernando Henrique, e
fortalecido no governo Lula, um impulso
muito além do originalmente previsto, retomando as idéias autonomistas do Pacto
ABC. Tendo sido um núcleo vitorioso de enterramento da ALCA – Aliança de Livre
Comércio das Américas.
Como
entidade complementar, ante os entraves comerciais que estagnavam o MERCOSUL,
foi criado a UNASUL de modo a haver uma maior articulação política entre os
países da America do Sul, inclusive, com repercussões militares de formação de
uma organização de defesa sul-americana, nos moldes da OTAN.
Essas
iniciativas, sempre tiveram violentas reações dos EUA, a exemplo do que já
houvera acontecido com o Pacto do ABC entre Brasil e Argentina. De modo a minar
essas alianças. Os EUA articularam a criação da Aliança do Pacífico, também
chamado “Arco do Pacífico” (Chile, Peru, Colombia e México) visando impedir o
acesso dos países do MERCOSUL ao mercado asiático via Pacífico.
A
isso se segue os golpes: na Guatemala, como projeto piloto, derrubando o então
Presidente Manoel Zelaia; no Paraguai o presidente Lugo, a desestabilização e tentativas de golpes na Venezuela e no
Equador, e finalmente o golpe de Estado de 2016 no Brasil. No momento que o
Brasil assinara a criação do Banco do BRICS, e que teria dado ao Brasil uma
enorme influência sob os outros países da América do Sul. Isso se traduziria, dentre
outras inúmeras possibilidades, numa maior facilidade de financiamento das
empresas brasileiras em um valor nunca antes visto e uma consequente expansão não só na América do Sul, como para além do Atlântico Sul, na África austral
como já vinha se processando e outros mercados, incluso, o estadunidense.
Fica
fácil deduzir, o objetivo da operação “Lava Jato”, quebrar a indústria nacional
de setores estratégicos do Brasil, ao mesmo tempo: retirar da cena política,
políticos empenhados nesse processo de integração, sob o pretexto do “combate a
corrupção”. O mesmo discurso dos processos de desestabilização de Vargas em 54
e de Goulart em 64. Como também, assim foi, na Argentina contra o Peron.
Lembremos a sempre oportuna frase de Henry Kissinger, secretário de Estado dos
EUA, por 50 anos! E que esteve a frente da derrubada de Vargas e Peron: “Não permitiremos um novo Japão ao sul do equador”, se referindo ao Japão anterior a
II Guerra, nacionalista, que se fez potência.
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