“Cumpre ter sempre presente que a Lusitânia é habitada
pela mais poderosa das tribos da península ibérica; e que, achando-se já
subjugadas as outras, é esta a que se atreve ainda a deter as armas romanas.
Não provém a sua força do número dos seus habitantes, mas da sua resistência,
devida a um temperamento tenaz e incansável, a uma dignidade individual que
antes prefere a morte a qualquer aparência de servidão a Roma.”
Caio Lélio, cônsul romano, 190 A.C.
Foi na resistência aos romanos que os lusitanos se tornaram famosos, incorporando-se definitivamente à história do mundo antigo. De modo geral, o poder de Roma foi sempre menos sensível no Oeste do que no Leste da Península Ibérica. No primeiro século de ação, ali, verifica-o Mommsen, limitavam-se os romanos a conter as incursões dos lusitanos sobre a Espanha citerior, na parte ocidental, o domínio era puramente nominal; nem havia contato com os celtas do noroeste(galegos). E foi no esforço contra as reações dos lusitanos, que os romanos provocaram a guerra genialmente conduzida por Viriato, natural de Viseu. Nota-se, que esses povos, dos mais bárbaros da península, foram os únicos que se uniram e se levantaram, num movimento de caráter geral – nacional, acentuadamente político. Pelo resto da Espanha, os casos de resistência, mesmo os mais célebres e heróicos, como em Sagunto e Numância, são absolutamente locais, sem significação política. Na Lusitânia, não: o ânimo geral das tribos levantadas para resistir é que faz do humilde pastor, um grande general, o único da Ibéria primitiva.
Foi nas márgens do baixo Tejo que Viriato bateu o exército romano do pretor Caio Palutius; e nunca mais a Roma avassaladora conheceu vitórias sobre ele. Finalmente, a perfídia do conquistador a todo preço fez assassinar o inimigo invencível, e os lusitanos não tiveram quem os substituísse. Mas, nem por isso se rendem submissos: continuam numa resistência tão temível, por tanto tempo, com tantas provas de valor e decisão, que Sertório os escolhe para fazer com eles a sua grande campanha contra a Roma aristocrática, e criar, ali, uma segunda pátria, latina, mais democrática. À frente dos lusitanos, por oito anos, o grande general resistiu aos exércitos romano, repetidamente refeitos, e repetidamente batidos. Houve momentos em que foram mobilizados contra os lusitanos de Sertório 130.000 homens. No baixo tejo também, quase onde é Lisboa (em Longóbriga), de uma feita, foi aprisionada uma divisão inteira de tropas romanas comandada pro Aquino, sendo o grande Metelo obrigado a retirar-se com o resto das forças. Mommsen considera Sertório o maior romano, até então, mas, ao mesmo tempo reconhece que foram os lusitanos que lhe permitiram revelar-se; que sua superioridade esteve em adaptar-se a eles, deixando de ser o romano pesado, enfático, para ser o capitão cavalheiroso, vivaz, guerrilheiro como o próprio Viriato: "Todos os sucessos de Sertório se ligavam ao país (Lusitânia), às aptidões dos seus habitantes". Também com Sertório - só o assassínio desembaraçou os romanos do inimigo invencível. Ainda assim,, obtida a vitória do punhal traiçoeiro, não coube a Roma ser senhora desassombrada dos temíveis lusitanos. Nem César, apesar de representar as mesmas idéias de Sertório, e de admitir, em princípio, as pretensões da Lusitânia. Ainda foi preciso a Augusto uma campanha, mais política do que militar, e que conformou definitivamente a velha nação guerreira em província romana.
De todo modo – Lusitânia, ou
Portugal, quele pedaço de península nunca esteve inteiramente fundido, ou
confundido, no resto da Ibéria. Oliveira Martins, em busca de explicação
racional para essa tendência dos lusitanos em distinguir e afirmar o seu
caráter nacional, admite que tudo seja devido a uma forte dose de sangue celta.
Nos antepassados dos portugueses,
as energias de raça guardaram o seu valor intrínseco; mas, desde cedo, a
tradição lhe acentuou o caráter numa divergência de formas que ao
expandirem-se, diferenciam-se de mais em mais, até firmarem-se em feição
abertamente distinta, inconfundível, e, por muitos aspectos, contrastantes com
o caráter nacional dos outros iberos. Certamente, mais homogêneos, por mais
bárbaros, os lusitanos uniram-se melhor dentro do grupo e, por isso mesmo,
foram levados a resistir ao romano nacionalmente, lutando mais eficazmente do
que os outros. Assim dispostos, a reação contra Roma facilitou-lhes o
desenvolvimento das virtudes coletivas. Está reconhecido e consagrado, em tais
casos, o efeito dos motivos exteriores – orientando a ação interior nos grupos
sociais, afeiçoando-lhes o caráter. É uma teoria longamente exposta e
documentada por W . Malgaud, no seu livro O problema lógico da sociedade. De
tudo isso resultou, para os lusitanos, a relativa superioridade política, e uma
acentuada tendência para a unificação nacional explícita. A união formal e
coerente com que eles fazem as suas campanhas, e em que se fortalecem,
pressupõe o instinto de pátria, ainda que a idéia não seja patente no nome. Tal
não se nota no resto da Espanha antiga, onde, como levante geral, só se conhece
o de Viriato, repetido com Sertório.
Com a queda de Roma, nas crises que se seguem, dada a extensão das consequências, o motivo limitado - a alma lusitana, pareceu anulado; e, através da ocupação sueva, o objetivo explícito de uma pátria lusitana ainda não se define. Invadida a Ibéria, foi a Lusitânia ocupada pelos alanos, num domínio frustro, e que não teve ali, importância análoga ao da parte leste, aonde, por isso mesmo, ficou o nome Catalunha. Na Galiza e norte de Portugal, estiveram os suevos, numa forma de domínio ainda menos acentuado, e que não tocou fundo a vida nacional. Vieram por sua vez os árabes; mas, ao passo que, em Castela, a sua presença vai até a entrada do Séc. XVI, no noroeste, eles não demoram nem um século. E Portugal nasceu nessa parte da ibéria, no norte, que gerou-se Portugal, que reagiu mais cedo ao sarraceno, em tais condições de força e espontaneidade que toda a região de Porto, Braga e Viseu.... não conheceu o domínio mulçumano mais de cinqüenta anos. Mesmo no sul, o seu domínio cessa com o Séc. XIII.
Os ânimos se retemperam na campanha da reconquista, ao primeiro pretexto, destaca-se Portugal, levado por uma iniludível necessidade de soberania e individualidade.
Isto significa que estava feita a comutação das energias: os espírito orientaram-se por outros impulsos sociais - esses que tornaram os portugueses mais aptos que quaisquer outros povos peninsualres para a realização da idéia nacional. Vigorosos sempre, até o heroísmo e, com isto, intimamente disciplinados, tal nos aparecem os povos que devem fazer o Portuga histórico e glorioso. Tudo que nos outros ibéricos é orgulho do indivíduo, afirmação pessoal, viço de intransigência retumbante, fulgor de manifestação e expressão.... é pura força de ânimo no português tradicional. Para ele, os impulsos não arrebentam em gestos e vozes.... difundem-se em profundidade, e vão alimentar uma vontade pertinaz, para esforços indomáveis e persistentes. Pertinácia, valor definitivo na pertinácia, intransigêncianos objetivos - eis as constantes no caráter português. Nessa formula de ação, o grupo humano primitivo se transformou em povo nacionalizado.
Com a queda de Roma, nas crises que se seguem, dada a extensão das consequências, o motivo limitado - a alma lusitana, pareceu anulado; e, através da ocupação sueva, o objetivo explícito de uma pátria lusitana ainda não se define. Invadida a Ibéria, foi a Lusitânia ocupada pelos alanos, num domínio frustro, e que não teve ali, importância análoga ao da parte leste, aonde, por isso mesmo, ficou o nome Catalunha. Na Galiza e norte de Portugal, estiveram os suevos, numa forma de domínio ainda menos acentuado, e que não tocou fundo a vida nacional. Vieram por sua vez os árabes; mas, ao passo que, em Castela, a sua presença vai até a entrada do Séc. XVI, no noroeste, eles não demoram nem um século. E Portugal nasceu nessa parte da ibéria, no norte, que gerou-se Portugal, que reagiu mais cedo ao sarraceno, em tais condições de força e espontaneidade que toda a região de Porto, Braga e Viseu.... não conheceu o domínio mulçumano mais de cinqüenta anos. Mesmo no sul, o seu domínio cessa com o Séc. XIII.
Os ânimos se retemperam na campanha da reconquista, ao primeiro pretexto, destaca-se Portugal, levado por uma iniludível necessidade de soberania e individualidade.
Isto significa que estava feita a comutação das energias: os espírito orientaram-se por outros impulsos sociais - esses que tornaram os portugueses mais aptos que quaisquer outros povos peninsualres para a realização da idéia nacional. Vigorosos sempre, até o heroísmo e, com isto, intimamente disciplinados, tal nos aparecem os povos que devem fazer o Portuga histórico e glorioso. Tudo que nos outros ibéricos é orgulho do indivíduo, afirmação pessoal, viço de intransigência retumbante, fulgor de manifestação e expressão.... é pura força de ânimo no português tradicional. Para ele, os impulsos não arrebentam em gestos e vozes.... difundem-se em profundidade, e vão alimentar uma vontade pertinaz, para esforços indomáveis e persistentes. Pertinácia, valor definitivo na pertinácia, intransigêncianos objetivos - eis as constantes no caráter português. Nessa formula de ação, o grupo humano primitivo se transformou em povo nacionalizado.
Manoel Bomfim,
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