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terça-feira, 30 de abril de 2019

Carlos Nunez, A Descoberta do Brasil Galaico!

"Sempre nos disseram que o Brasil era muito português, misturado com o africano e o indígena, mas mais que  português é galego."
Carlos Nunez

Músico galego Carlos Nunez
Carlos Nunez é um dos mais prestigiados gaiteiros da Galiza, ganhou projeção mundial compondo a trilha sonora da obra cinematográfica "Mar Adentro". Após três anos morando no Brasil, em 2009, lançou seu album "Alborada do Brasil", que reuniu uma gama de artistas como: Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Lenine, Carlinho Brown, etc..., no qual manifesta as raízes galaicas que encontrou na música brasileira.  Posteriormente, esse trabalho etno musical, rendeu um documentário: "Brasil somos nós". 

Carlos Nunez conta que um dos motivos de sua vinda, foi a procura da história de seu avô que imigrou para o Brasil em 1907, e que havia sido morto no Rio de Janeiro. Aqui descobriu, que seu avô foi um músico bastante influente no Rio na época, que havia constituído uma nova família. 

Durante sua estadia, Carlos Nunez atesta que a pegada galega no Brasil é mais profunda do que a portuguesa. Com a certeza de que o Brasil é a Galiza do futuro, que nos três anos de preparação: "me sentia na minha casa nos dois países: o Brasil era a Galiza, e a Galiza era o Brasil."

Indagado no que o Brasil tinha em comum com a Galiza, diz:  
"O Brasil está cheio de cultura galaica, de fogueiras de São João, noites de luar, orvalho, lobisomem, coroças, luscos-fuscos... Essa Galiza profunda está viva no Brasil, mas pouca gente passou o trabalho de pesquisar o que se passa no terreno musical." 
"Sempre nos disseram que o Brasil era muito português, misturado com o africano e o indígena, mas mais que português é galego. Quando exploramos o terreno musical está claríssimo que aquele Portugal que chegou ao Brasil há 500 anos com instrumentos como a gaita era mais galaico, menos lusitano. O objetivo deste disco é abrir esse grande segredo que esconde o Brasil que no fundo esconde uma Galiza, misturada."
Discorrendo sobre a imagem vendida do Brasil para o exterior, "turística", Carlos Nunez faz um paralelo com a Espanha em que se veiculam a imagem caricata de: "touros, flamengo e futebol". 
"Eu não vim a procura desse lado turístico do Brasil que todos conhecemos. Procurei o lado galego, esse que não teve as oportunidades do outro mais oficial de capoeira, samba e futebol... 
Do Brasil (no exterior) somente se conhece samba, carnaval e futebol, ou seja, o Brasil turístico, e isso não é Brasil, é uma minoria, a maior parte da música brasileira lembra mais daquela música desconhecida do Norte de Portugal, do Norte da Península Ibérica, que para o samba. Este outro Brasil que descobrimos com este disco conecta com esta Espanha. Eu fiquei feliz porque o vice-presidente Fernández de la Vega, recomendou o disco Alborada do Brasil durante uma viagem ao Brasil, quando esteve com Lula poucos dias. Perguntaram-lhe por seus gostos musicais e recomendou especialmente o disco Alborada do Brasil " Puxa, menos mal, por fim, não somente, flamengo!"
Dos lugares em que mais achou ligações com a Galiza e Portugal, Carlos Nunez afirma que em todo o Brasil se constata essa presença galaica, variando sua intensidade conforme "os diferentes momentos de nossas ondas, ibéricas ou galaicas, para lá". Ressalta, porém o nordeste do Brasil, como também Minas Gerais e os Sertões, citando ainda o Rio de Janeiro bem como os demais centros urbanos, havendo nesses, uma mescla maior com ritmos e estilos contemporâneos.
O nordeste do Brasil, a área de Pernambuco, mesmo a Bahia, é a parte mais antiga. O nordeste foi a primeira região a ser colonizada e encontramos músicas peninsulares que lembram muito a música da gaita-de-foles, porque foi a gaita-de-foles, o primeiro instrumento que levaram os portugueses lá em 1500, quando chegaram à praia de Porto Seguro. Na carta do Descobrimento, redigida por Pero Vaz de Caminha, nos conta como se abaixou um gaiteiro que começou a tocar aos índios, eles gostaram, e a partir daí isso foi como uma bomba. A gaita foi o instrumento que lhes juntou-se acima das línguas. Os jesuítas escreviam cartas que diziam que não haverá um chefe índio que não deixe seus filhos para que lhes ensinarem a tocar. Encontramos gaiteiros negros em quadros, gaiteiros indígenas, com penas, algo impressionante. Depois da gaita de fole foi desaparecendo, mas sua alma ficou no imaginário da música. A alma da gaita continua a existir na alma da música popular, as melodias, os modos, as quedas...
No Sertão, que vem do deserto e é o grande deserto no interior do Brasil, salve a nossa idade média viva. Lá você encontra instrumentos que estão esculpidos no Pórtico da Glória de Santiago de Compostela, instrumentos medievais, que já não há quase na Europa, como as rabecas ou até as violas medievais, e que continuam tocando e a serem construídas no interior do Brasil. Por isso, eles têm o sonho de que no interior do Brasil é a Idade Média, é por isso que Paulo Coelho se tornou tão famoso com esse livro sobre o Caminho de Santiago, esse imaginário medieval no Brasil é fortíssimo...
Em Minas Gerais, lá se encontra uma Galiza do período Barroco. Era a febre do ouro, para onde iam os Minhotos, eram áreas repovoadas por galaicos provenientes da zona do Minho, em toda a zona de Portugal, do Porto para cima, foi a Gallaecia histórica, eles repovoaram Minas Gerais. Daí o uso da gaita, de costumes, como as fogueiras de São João, o advento e todas essas palavras mágicas galegas que estão no Brasil. Foram conduzidas pela Galiza e Portugal antigo, em Minas encontramos essa parte de festas galegas e melodias muiñeirosas, como se fossem muiñeiras mas na música brasileira. Em cada parte do Brasil encontra interações diferentes. 
Há novas áreas, como o Rio de Janeiro, as cidades burguesas, onde existe mais a interação com os negros africanos, com o século XX, as harmonías do jazz, a música de guitarra está muito misturado com a música popular do século XX. Os galegos, como meu bisavô, participaram da criação de todas essas músicas que são no fundo, a soma da polca europeia com todos os ritmos internos brasileiros, como o samba ou o caxixe, tudo isso.
Linguisticamente, Carlos Nunes, também constata essa maior proximidade do português do Brasil com o da Galiza, do que entre o de Portugal. Oque explica pela uma melhor conservação da língua no Brasil, que conservou vários arcaísmos como ainda se observa na Galiza também. Propugnando que o idioma galego, tão combalido na atualidade pelo castelhano, e ameaçado de extinção, encontra no Brasil um poderoso meio para se manter vivo.
"No Brasil descobres o poderio enorme que tem o galego. Insisto em que não sou linguista mas descobri que o brasileiro é mais semelhante ao galego que ao português, percebe-se melhor. No Brasil guardam muitas coisas do galego antigo, das cantigas de amigo, do mundo dos trovadores e poesia galego-portuguesa, que se perderam por influência do castelhano. Não viria mal fazer um pouco de esforço na escola e, do mesmo modo que aprendes a gramática galega oficial, aprender o português. Se são três ou quatro coisas! Por esse pouquinho mais de trabalho podes chegar a mais de 200 milhões de falantes. Uma vez Jordi Pujol disse-me que o problema do galego era que estava castelhanizado de mais e não o entendi, mas agora captei a mensagem deste catalão que se dava conta das possibilidades do nosso idioma."
".... galego lhe vai abrir portas no mundo, de que podes perceber-te com 200 milhões de pessoas porque, como diz Caetano Veloso, 'é uma língua superior para cantar e para a poesia'."
Descobrimos a nós mesmos, por que alí (Brasil) se guarda nosso passado, nossas antigas tradições peninsulares e, certamente, guardam o nosso futuro, porque foram misturado com muitos outros componentes, como a música afro, música indígena, etc, é como uma música do futuro, que aponta para muitas questões. A ter misturado bem, fizeram-no com sabedoria e, de alguma forma, incorpora a minha música uma espécie de glamour urbano, porque o invadiu a partir do rap no Início de Rosalía de Castro, toda a parte do swing, lundum africano, esses ritmos sensuais, essa sensibilidade das melodias adaptadas ao ritmo...é um grande mistério o Brasil, que aí estava isolado. Todo o mundo sabia da ligação linguística, o brasileiro é como um galego antigo, nos entendemos melhor brasileiros e galegos, que galegos e portugueses, porque no Brasil se mantêm toda uma série de palavras antigas do galego, da época das cantigas medievais, que chegou ao mundo moderno através de trovadores contemporâneos, como Adriana Calcanhotto, ou Caetano Veloso, são todos contemporâneos, que, de repente, se falam de "as noites de luar" "as noites das estrelas", são criadores urbanos, como trovadores que jantam sushi e moram em apartamentos.

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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A Cepa - Os Lusitanos.

“Cumpre ter sempre presente que a Lusitânia é habitada pela mais poderosa das tribos da península ibérica; e que, achando-se já subjugadas as outras, é esta a que se atreve ainda a deter as armas romanas. Não provém a sua força do número dos seus habitantes, mas da sua resistência, devida a um temperamento tenaz e incansável, a uma dignidade individual que antes prefere a morte a qualquer aparência de servidão a Roma.”

Caio Lélio, cônsul romano, 190 A.C.


Foi na resistência aos romanos que os lusitanos se tornaram famosos, incorporando-se definitivamente à história do mundo antigo. De modo geral, o poder de Roma foi sempre menos sensível no Oeste do que no Leste da Península Ibérica. No primeiro século de ação, ali, verifica-o Mommsen, limitavam-se os romanos a conter as incursões dos lusitanos sobre a Espanha citerior, na parte ocidental, o domínio era puramente nominal; nem havia contato com os celtas do noroeste(galegos). E foi no esforço contra as reações dos lusitanos, que os romanos provocaram a guerra genialmente conduzida por Viriato, natural de Viseu. Nota-se, que esses povos, dos mais bárbaros da península, foram os únicos que se uniram e se levantaram, num movimento de caráter geral – nacional, acentuadamente político. Pelo resto da Espanha, os casos de resistência, mesmo os mais célebres e heróicos, como em Sagunto e Numância, são absolutamente locais, sem significação política. Na Lusitânia, não: o ânimo geral das tribos levantadas para resistir é que faz do humilde pastor, um grande general, o único da Ibéria primitiva.

Foi nas márgens do baixo Tejo que Viriato bateu o exército romano do pretor Caio Palutius; e nunca mais a Roma avassaladora conheceu vitórias sobre ele. Finalmente, a perfídia do conquistador a todo preço fez assassinar o inimigo invencível, e os lusitanos não tiveram quem os substituísse. Mas, nem por isso se rendem submissos: continuam numa resistência tão temível, por tanto tempo, com tantas provas de valor e decisão, que Sertório os escolhe para fazer com eles a sua grande campanha contra a Roma aristocrática, e criar, ali, uma segunda pátria, latina, mais democrática. À frente dos lusitanos, por oito anos, o grande general resistiu aos exércitos romano, repetidamente refeitos, e repetidamente batidos. Houve momentos em que foram mobilizados contra os lusitanos de Sertório 130.000 homens. No baixo tejo também, quase onde é Lisboa (em Longóbriga), de uma feita, foi aprisionada uma divisão inteira de tropas romanas comandada pro Aquino, sendo o grande Metelo obrigado a retirar-se com o resto das forças. Mommsen considera Sertório o maior romano, até então, mas, ao mesmo tempo reconhece que foram os lusitanos que lhe permitiram revelar-se; que sua superioridade esteve em adaptar-se a eles, deixando de ser o romano pesado, enfático, para ser o capitão cavalheiroso, vivaz, guerrilheiro como o próprio Viriato: "Todos os sucessos de Sertório se ligavam ao país (Lusitânia), às aptidões dos seus habitantes". Também com Sertório - só o assassínio desembaraçou os romanos do inimigo invencível. Ainda assim,, obtida a vitória do punhal traiçoeiro, não coube a Roma ser senhora desassombrada dos temíveis lusitanos. Nem César, apesar de representar as mesmas idéias de Sertório, e de admitir, em princípio, as pretensões da Lusitânia. Ainda foi preciso a Augusto uma campanha, mais política do que militar, e que conformou definitivamente a velha nação guerreira em província romana. 

De todo modo – Lusitânia, ou Portugal, quele pedaço de península nunca esteve inteiramente fundido, ou confundido, no resto da Ibéria. Oliveira Martins, em busca de explicação racional para essa tendência dos lusitanos em distinguir e afirmar o seu caráter nacional, admite que tudo seja devido a uma forte dose de sangue celta.

Nos antepassados dos portugueses, as energias de raça guardaram o seu valor intrínseco; mas, desde cedo, a tradição lhe acentuou o caráter numa divergência de formas que ao expandirem-se, diferenciam-se de mais em mais, até firmarem-se em feição abertamente distinta, inconfundível, e, por muitos aspectos, contrastantes com o caráter nacional dos outros iberos. Certamente, mais homogêneos, por mais bárbaros, os lusitanos uniram-se melhor dentro do grupo e, por isso mesmo, foram levados a resistir ao romano nacionalmente, lutando mais eficazmente do que os outros. Assim dispostos, a reação contra Roma facilitou-lhes o desenvolvimento das virtudes coletivas. Está reconhecido e consagrado, em tais casos, o efeito dos motivos exteriores – orientando a ação interior nos grupos sociais, afeiçoando-lhes o caráter. É uma teoria longamente exposta e documentada por W . Malgaud, no seu livro O problema lógico da sociedade. De tudo isso resultou, para os lusitanos, a relativa superioridade política, e uma acentuada tendência para a unificação nacional explícita. A união formal e coerente com que eles fazem as suas campanhas, e em que se fortalecem, pressupõe o instinto de pátria, ainda que a idéia não seja patente no nome. Tal não se nota no resto da Espanha antiga, onde, como levante geral, só se conhece o de Viriato, repetido com Sertório.

Com a queda de Roma, nas crises que se seguem, dada a extensão das consequências, o motivo limitado - a alma lusitana, pareceu anulado; e, através da ocupação sueva, o objetivo explícito de uma pátria lusitana ainda não se define. Invadida a Ibéria, foi a Lusitânia ocupada pelos alanos, num domínio frustro, e que não teve ali, importância análoga ao da parte leste, aonde, por isso mesmo, ficou o nome Catalunha. Na Galiza e norte de Portugal, estiveram os suevos, numa forma de domínio ainda menos acentuado, e que não tocou fundo a vida nacional. Vieram por sua vez os árabes; mas, ao passo que, em Castela, a sua presença vai até a entrada do Séc. XVI, no noroeste, eles não demoram nem um século. E Portugal nasceu nessa parte da ibéria, no norte, que gerou-se Portugal, que reagiu mais cedo ao sarraceno, em tais condições de força e espontaneidade que toda a região de Porto, Braga e Viseu.... não conheceu o domínio mulçumano mais de cinqüenta anos. Mesmo no sul, o seu domínio cessa com o Séc. XIII.

Os ânimos se retemperam na campanha da reconquista, ao primeiro pretexto, destaca-se Portugal, levado por uma iniludível necessidade de soberania e individualidade.

Isto significa que estava feita a comutação das energias: os espírito orientaram-se por outros impulsos sociais - esses que tornaram os portugueses mais aptos  que quaisquer outros povos peninsualres para a realização da idéia nacional. Vigorosos sempre, até o heroísmo e, com isto, intimamente disciplinados, tal nos aparecem  os povos que devem fazer o Portuga histórico e glorioso. Tudo que nos outros ibéricos é orgulho do indivíduo, afirmação pessoal, viço de intransigência retumbante, fulgor de manifestação e expressão.... é pura força de ânimo no português tradicional. Para ele, os impulsos não arrebentam em gestos e vozes.... difundem-se em profundidade, e vão alimentar uma vontade pertinaz, para esforços indomáveis e persistentes. Pertinácia, valor definitivo na pertinácia, intransigêncianos objetivos - eis as constantes no caráter português. Nessa formula de ação, o grupo humano primitivo se transformou em povo nacionalizado.

Manoel Bomfim,

domingo, 23 de outubro de 2016

Nacionalidade e Nacionalismo.

"Um Estado gigante, um verdadeiro continente,
uma nação-continente!"

Pierre Deffontaines,
proeminente geográfo francês
ao se referir ao Brasil.


Ante o deturpamento generalizado do conceito de nacionalidade, devemos nos ater ao conceito de nação e por desiderato de nacionalismo.

Nação como denuncia a própria terminologia significa “nascidos de...”, oque compreende uma ascendência comum. Nem precisaríamos recorrer ao termino grego “genos”, que também remete a uma ancestralidade comum.  

Na Gália, Júlio César reporta, que todos os gauleses afirmavam descender de Dis PaterOs irlandeses guardaram essa tradição mítica e referiam à Galiza, como o berço do qual descendiam. Cria-se que Breogan era o avô-divino da teuta.

Para os celtas, mesmo os filhos adotivos, não provindos diretamente dos laços matrimoniais, eram tidos como parte da teuta(nação), por possuírem essa descendência comum.

No atual hino da Galiza, seu autor, Pondal, alude a Breogan como mítico progenitor de todos os galaicos. A "nação de Breogan", de todos aqueles com ascendencia em Breogan, e por conseguinte, galaicos, seriam todos os seus descendentes. 

De modo que, o conceito de "nação", remete a uma descendência comum de algum personagem mítico, ou sanguíneo (o genitor)". Na antiguidade a transmissão cultural: valores, crenças, línguas, etc.... estavam intrinsecamente interligados a descendência, porque assim se operava a transmissão cultural, de forma orgânica. Mesmo povos eventualmente submetidos, tendiam a se integrarem e assim eram absorvidos.

De sorte que o deturpamento ideológico atual, de “nacionalismo” no Séc. XX, é flagrante, em completo desalinho com sua concepção original. Especialmente na idéia difundida da equiparação do conceito de “nação” a um padrão racial. Oque são coisas distintas.

Por “raça” se compreende um padrão homogêneo de caracteres físicos de um agrupamento humano. Quando a antropologia passou a se debruçar com mais vigor sobre o assunto, vários estudiosos da época, já apontavam que os grupos raciais humanos, em especial os da Europa, já se encontravam amplamente misturados.

Então se levarmos em conta a “raça” como equivalente a um elemento definidor da nacionalidade, para efeito de lógica, mesmo recuando no tempo e no espaço, no início das formações nacionais da Europa. NENHUM! Nenhum país atualmente subsistiria como entidade nacional. O caso da Alemanha é sintomático, a Baviera, de raça alpina(majoritariamente, havendo outros elementos presentes), contraposta ao norte saxão. Sem levar em conta as profundas diferenças culturais de credo e língua, completamente antagônicos. De mencionar ainda o berço da “nacionalidade alemã” com a antiga Prússia, báltica, sem qualquer ligação com os germanos. Falamos da Alemanha apenas por uma questão simbólica, de sempre mencionarem-na como exemplo de um corpo nacional. Itália, França, Inglaterra, Espanha, Rússia, etc.... são casos ainda mais gritantes.

Reiteramos que a definição da nacionalidade não se liga a um padrão racial homogêneo, que é um deturpamento ideológico surgido em fins do Séc. XIX. Mas sim, a uma origem comum, consanguínea. Oque não necessariamente resulta em um padrão racial.

É bem possível, e natural, que um agrupamento humano, estabilizado, que não sofra influxos externos, venha constituir com o tempo, e de forma orgânica, um padrão racial homogêneo. Sendo isso conseqüência e não fator original de sua unidade. 

Contudo, não basta a consanguinidade. O fator decisivo para configuração de uma nacionalidade reside na sua unidade política, Assim pois, se explica as diversas tribos celtas, nunca terem constituído uma nação, pois careceram de unidade política, que lhes conferissem esse status quo.E no que pese, antes dominarem praticamente toda Europa continental, todas caíram sob julgo de outros povos, com exceção de Portugal, que se constituiu como nação, e veio a ser o único país de orígem celta com soberania. A Irlanda, só recentemente consegue ascender a soberania e mesmo assim, não conserva seu nome de orígem "Eire", tomará o nome dado por seus algozes ingleses "Ireland". Eslavos, germanos, helenos.... são todos povos que dispõe de uma orígem comum, mas se encontram pulverizados em diversas nações, isso porque reiteramos, o fator decisivo para a nacionalidade reside na unidade política. 

Alguns autores, falam da necessidade de haver consciência da nacionalidade. Somos de acordo, apenas ponderamos que essa "consciência" se materializa mediante uma unidade política. 

Finalmente aplicando esses conceitos aos brasileiros, vemos de forma muito evidente como os brasileiros constituem uma nacionalidade mais do que de quantas haja na Europa ou no resto do planeta. A primeira formação nacional das Américas! Anterior a imensa maioria das atuais formações nacionais europeias.

Todos os brasileiros, praticamente em sua esmagadora maioria, tem como ancestralidade comum aquela proto-célula luso-tupi que lhes deu a base da nacionalidade. Um Estado próprio, um território próprio, uma unidade política incomum para um país de proporção continental, que nem Rússia, nem EUA, nem tampouco Canadá detém. 

Este Estado do Brasil que desde o Séc. XVI é visto como unidade política, com armas e brasões próprios. Mesmo a política mesquinha da Metrópole quando tenta bipartir o Brasil em dois, o Estado do Maranhão, todo aquele norte, com o Brasil ao sul, não passam de atos infecundos, porque a unidade do Brasil já estava feita e a vida nacional segue normalmente. 

As levas de imigrantes despejadas no Brasil, ao contrário do que sucedeu nos EUA, Argentina e Uruguai, nunca suplantaram a população original, a ponto de se dizer na Argentina, que os seus descendentes dos heróis de 17, foram substituídos por gente outra estranha a sua história. No Brasil não, o contingente imigratório sempre foi ínfimo ao da população original. De se assinalar, que mesmo esse baixo contingente, logo em sua primeira geração se liga aos nacionais. No caso da imigração italiana, a segunda mais numerosa, 70% de italianos imigrados, em sua primeira geração, casam-se com brasileiras e 40% das italianas com brasileiros.  

A ressaltar que o maior corpo imigratório para o Brasil, de longe, foi o português, vindo depois italianos e em terceiros "espanhóis" sendo 80% desses galegos, daí a imigração espanhola ter passado tão desapercebida. Contingentes alemães, japoneses tão insistentemente repetidos pela boca de alguns, foram agrupamentos insignificantes. Basta comparar os números dos 3 maiores grupos imigrantes no Brasil (portugueses, italianos e espanhóis) aos dos EUA (15 milhões), para mensurar o quão ínfimo foram os corpos imigratórios para o Brasil. Mesmo somente a imigração italiana para a Argentina (três milhões) foi muitíssimo maior do que a ocorrida no Brasil. Ainda, a guisa de comparação, a imigração espanhola na Argentina foi de 1.38 milhões, contra 700 mil no Brasil (3ª maior). Contabilizando outros contingentes imigratórios, a Argentina totalizou 7 milhões de imigrantes, contra um total de 4.1 milhões no Brasil. A considerar, ainda, que o Brasil tinha, à época, uma população maior do que a Argentina.

Posição
Nacionalidade
Período Principal
Quantidade Estimada
1
Portugueses
1822-1960
~1,5 milhão
2
Italianos
1870-1930
~1,4 milhão
3
Espanhóis
1880-1950
~700 mil
4
Alemães
1824-1940
~200 mil
5
Japoneses
1908-1940
~190 mil
6
Franceses
1820-1930
~150 mil

Em suma, tudo isso apenas para ficar evidente que não houve impacto populacional na recente imigração para o Brasil. 

De mencionar ainda que alguém que analise a distribuição humana no Brasil, notará que determinadas faixas apresentam um maior ou menor grau de determinado biotipos humanos. A Faixa litorânea, que se estende de Pernambuco ao Vale do Paraíba em São Paulo, apresentará um maior número de biotipos mulatos, isso porque era zona canavieira, aonde se empregou mais amplamente o trabalho escravo. Oque não desnatura serem populações com mesma origem luso-tupi presentes em todo o território nacional, apenas variando em seu maior ou menor grau com outros contingentes. 

Tudo isso já foi amplamente dito e repetido por historiadores e antropólogos brasileiros e comprovado geneticamente. Sérgio Penna, geneticista, e profº da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, após realizar amplos estudos genéticos na população brasileira constatou que os brasileiros de diferentes regiões são geneticamente muito mais homogêneos do que se esperava. Segundo o geneticista Sérgio Pena:

“Pelos critérios de cor e raça até hoje usados no censo, tínhamos a visão do Brasil como um mosaico heterogêneo, como se o Sul e o Norte abrigassem dois povos diferentes. O estudo vem mostrar que o Brasil é um país muito mais  integrado do que pensávamos.”.


Ver também:

01. O Castilhismo como Materialização do Período dos "Cinco Bons Imperadores".
17. Uma Grécia nas Ribeiras do Atlântico Sul.