segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Porquê o nordeste do Brasil votou em peso no Lula?

A pergunta tem se proliferado desde 2018, quando a região já votara majoritariamente no seu preposto "Haddad". E com múltiplas respostas, sem enxergar, ou querer enxergar o óbvio, ou talvez silenciando uma verdade inconveniente. As populações dos Estados do nordeste do Brasil votaram no Lula e nos candidatos ligados a ele, porque seus respectivos governos foram bons. 

No curso das duas gestões do Lula como Presidente, Lula fez um bom governo, o melhor (ou menos ruim como preferir) de 88 para cá. Isso em todo País. Basta recordar que saiu com 80% de aprovação. Oque viabilizou, a eleição de governadores PTistas, ou ligados a ele, na região. Esses governos de "esquerda", repetiram a boa gestão do Lula. E essa é essencialmente a razão tanto pela qual a região vota no Lula, quanto porque o PT e seus aliados tem conseguido se reeleger. 

Elencar todos os investimentos, melhorias, dos respectivos governos aliados ao Lula na região, não é nosso propósito nesse artigo. Mas creio suficiente relatar, para um melhor juízo do quão foram bons os respectivos governos aliados do Lula na região, o caso do Ceará. O Ciro propagandeou, aos quatro ventos, que a educação pública do Ceará era a melhor do Brasil. Como se fosse obra de seu irmão Cid Gomes, governador por 2 vezes, atualmente, com mandato de Senador (eleito em 2018). Cid fez alguma melhora no ensino público no Ceará, mas basta olhar os índices ao final de sua gestão, para ver que o ensino público no Ceará ainda estava bem a quem da excelência que lhe caracteriza hodiernamente. Foi nas duas administrações PTistas, com Camilo Santana, que finda seu mandato agora em 2022, e que se elegeu ao senado nesse pleito, que a educação pública no Ceará deu uma verdadeira guinada de qualidade. E isso, não só na educação. Os serviços públicos de Saúde no Ceará são equiparáveis na atualidade a países de 1º mundo. Em suma, é dizer que os serviços públicos no Ceará, com a gestões PTistas, funcionam..... algo inédito no Estado, e mesmo raro no Brasil. E não por acaso, Camilo Santana fez seu sucessor. 

E porque nas outras regiões isso não ocorreu? De certa forma ocorreu, vede a eleição da Dilma, alguém sem qualquer carísma, eleita por reles apoio do Lula. Mas, oque pesou mais, na mitigação de sua influência, principalmente no sudeste, foi por essa região haver uma gama maior de caciques políticos de igual ou maior envergadura, antagônicos ao PT. E mesmo alianças feitas em que o PT abdicou em proveito de aliados, notadamente, o PMDB no Rio de Janeiro. No caso do Rio, mesmo o PMDB, não estando no campo da "esquerda", conseguiu eleger e fazer sucessores com apoio do Lula, e só foi apeado do poder por perseguições juridico-políticas, tal como veio a ser com o próprio Lula. Não tivessem cassado a candidatura do Lula em 2018, Lula teria sido eleito na sela da Polícia Federal em Curitiba. Ainda no Rio de Janeiro, emblemático também é o caso de Maricá, com o ex-prefeito Washington Quaquá, que no auge do anti-petismo em 2016, conseguiu fazer seu sucessor logo no primeiro turno. Isso devido a uma brilhante administração digna de elogios, quem não conhece, procure conhecer. 

Oque importa dizer, é que no sudeste como em outras regiões, essa menor influência do PT e seus aliados, foi mitigada por outras forças políticas atuantes, como também por perseguições juridico-políticas, e claro pela ostensiva campanha difamatória da imprensa hegemônica. 

E de um modo geral, essas políticas sociais, mais largamente adotadas pela "esquerda", encontra eco em populações historicamente menos favorecidas. Eis o Rio Grande do Sul, nessa eleição, na região do "pampa pobre", que votou majoritariamente no Lula, em contraste ao restante do Estado.  

A classe média alta, e os ricos, verdadeiramente ricos, que quase nunca precisam de serviços públicos essenciais, e que ignoram completamente essa realidade, alienados por uma imprensa hegemônica que satanizou o PT, de forma contínua e afrontosa de pelo menos 2013 à 2018. Parece não perceber ou fingir não perceber a causa do porque o Lula, 20 anos afastado do poder, e mais das vezes atacado sem razão (outras com razão) consegue ainda arrastar consigo uma massa de eleitores, saudosos dos tempos de bonança de que gozaram em seu governo, ante a realidade sombria e sem horizonte do bolsonarismo que se apoia exclusivamente em fantasmas e espantalhos criados e plantados pelos próprios embusteiros. 




domingo, 16 de outubro de 2022

LULA PRESIDENTE 2022 - Nossa Posição e Razões.

Esse singelo espaço castilhista, zeloso da responsabilidade para com a Pátria, nunca se eximiu em apontar o caminho a seguir, ainda que mais tortuoso ante o cenário apocalíptico que nos encontramos. Em 2018, recomendamos o voto no Lula, e nessas eleições de 2022, voltamos a recomendar Lula. 

Passado o primeiro turno, a composição do Congresso piorou, já havia assim sido em 2018, e agora em 2022, o fosso parece não ter fundo. O caso é que, com um congresso tendo uma expressiva representação bolsonarista. É de bom alvitre que o executivo (presidência) venha a ser assumido por uma facção contrária, no caso o Lula. Talvez, assim, eventuais arroubos entreguistas do Lula venham a ser mitigados, pela simples postura de se opor. Corre a calada da noite a tramitação da PEC 32, que acabará com os concursos públicos, e dará seguimento a ocupação de cargos públicos por políticos. A quem tenha um mínimo de noção de administração, sabe o quão desastroso é essa emenda constitucional. E mais ainda, àqueles que depositam todas as mazelas do Brasil, a "corrupção", isso literalmente é a legalização do uso da máquina pública para favorecimentos pessoais, oque entra de roldão nepotismo, corrupção, tráfico de influência. Uma verdadeira chaga, que se aberta, sabe-se lá se algum dia será capaz de se concertar. Eleito Lula, a oposição no congresso certamente engavetará essa tenebrosa PEC 32. 

Também, causa arrepios os acenos do Bolsonaro ao "mercado" (leia-se banqueiros e oligárcas) de privatizar TUDO! Paulo Guedes, menino de recado do George Soros, fala em privatizar até as praias! Pois também, recentemente, na mira para privatizar, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Quanto a essas duas, o Lula havia feito declarações de por na bolsa metade das ações desses bancos, é uma medida da qual discordamos profundamente, contudo, convenhamos, é um mal menor do que pura e simplesmente privatizar, que como regra no Brasil, não bastasse os efeitos deletérios das privatizações, ainda é feita a preço vil (doação, roubo do patrimônio público). Nesse aspecto, Lula ainda é um mal menor. Dentre outras barbaridades, do desmonte do Estado Nacional, o programa do Bolsonaro, desde a eleição passada, é privatizar TODAS as universidades federais. Por mais que ele já tenha diminuído as verbas, só o fato de haver ainda, já se esta no lucro! E se eleito, terá quatro longos anos para privatizá-las, se não o fizer agora, daqui pro final do ano. A expressiva diminuição de verbas, já é um forte indício! Há muito, muito mais a dizer sobre esse desgoverno do Bolsonaro, o sucateamento das forças armadas, a completa falta de investimento em setores estratégicos, a inflação dos alimentos, o desmonte e privatização da Petrobrás, etc... 

Nunca nos iludimos quanto ao Lula não ser liberal. Sendo apenas menos liberal do que seus concorrentes, dentre os quais o Ciro em 2018. E desde o começo dessas eleições, já nos pronunciamos que o Lula de 2022 esta mais liberal do que o de 2018 (não que em 2018 não fosse). O caso é que ainda que esse Lula de 2022 seja mais liberal do que os dos períodos anteriores. Se o Bolsonaro não é tanto quanto, é mais! E ainda que considere "a mesma coisa". A simples troca de governo, sua queda, representa um ato de insatisfação, e de reprovação a essa economia de cemitério.

Outro ponto a considerar, é que a vitória do Lula tornar-se-á vital para existência do PDT. Com todos os vícios e degenerações havidos no PDT com o Ciro Gomes, que representou a "tucanização do PDT", e seu loteamento por identitários. Com reles 17 deputados, se o PDT não compuser cargos em um eventual governo (Lula). Esses 17 deputados, por certo, diminuirá até o fim da legislatura. E nas próximas eleições, com menos tempo de TV, e verba partidária, o cenário será ainda pior. 

Se eleito, como já explanamos, a simples troca de governo, representa um ato de insatisfação. Como também abrirá um cenário para recomposição de forças, e uma melhor balança de poder com hora o congresso freando o executivo e o executivo freando o legislativo. E quanto ao ativismo judicial, que tem sido uma mácula sim a República, o congresso agora terá maioria para cassar ministros do STF e mesmo reformá-lo. Nesse ponto o Bolsonaro se elegendo ou não, não altera nada, isso dependerá única e exclusivamente do Congresso, já eleito. Ou seja, se os senadores bolsonaristas quiserem cortar as asinhas do STF, já tem maioria para isso, farão? Esperemos para ver. 




quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O Marquês de Barbacena, O Estadista do I Reinado - A Sucessão Portuguesa e os Arranjos do 2º Casamento de D. Pedro I

Segue como havíamos dito, a segunda parte do artigo: "O Marquês de Barbacena, O Estadista do I Reinado. Nessa parte, são abordados a sucessão portuguesa, sua contextualização política na Europa, e sua repercução no reconhecimento externo da independência do Brasil, bem como na própria política interna brasileira. Concomitante aos arranjos do segundo casamento de d. Pedro I, intrinsecamente ligados a essas questões.

Editorial   

O marquês de Barbacena e a Sucessão Portuguesa:

Após Passo do Rosário, no que pese as críticas da oposição, quanto a sua atuação na batalha. D. Pedro I continuou a depositar sua confiança em Brant, nomeando-o embaixador para ir a Londres se encontrar com seu irmão d. Miguel, para nomeá-lo lugar-tenente de Portugal (3 de jul. de 1827), mediante o acordo que se ajustou com a crise da sucessão do trono português, ante a morte de seu pai d. João VI. Convencionaram que sua filha, Glória Maria, e sobrinha de d. Miguel se casariam, quando atingisse sua maior-idade. Oportunidade também, estando na Europa, em que Brant se ocuparia de arranjar uma esposa para d. Pedro I, q antes havia ficado a cargo do seu sogro, d. Francisco I, pai da falecida Imperatriz d. Leopoldina.

Quando do seu embarque para a Inglaterra, em 19 de agosto de 1827, com passagens por Bahia e Pernambuco, o marquês de Barbacena alertou o imperador do estado de caos e perigo de desordens sociais que atravessavam as duas províncias. Assim, demorou-se um pouco antes de embarcar para a Europa e deu instruções de como agir para evitar os levantes. Ele dava mais uma mostra de zelo por Sua Majestade Imperial, bem como de sua posição política moderada, sempre combativa às ações que ameaçavam a unidade nacional. Tendo chegado a Falmouth, em 29 de outubro de 1827, Barbacena aguardava a chegada do infante d. Miguel. 

Os acontecimentos que antecederam esse acordo com d. Miguel, estão ligados a querela da sucessão portuguesa e a conjuntura europeia de apoio das potências aos respectivos pretendentes ao trono. Após as guerras napoleônicas, as monarquias europeias buscavam evitar uma revolução “a francesa” que ameaçava se alastrar por todo continente. De modo, que, mesmo os ingleses, a princípio contrários ao absolutismo do Congresso de Viena (1814-15), manteve as alianças de viés absolutistas que firmara durante a guerra. Nessa conjuntura, em Portugal, a Revolução do Porto de 1820, de matiz liberal, embora longe de reproduzir o radicalismo jacobino francês, suscitava antagonismo a corrente absolutista que os via como uma facção maçônica, que atentava contra a religião e a monarquia. De modo que, depois da malfadada conspiração da rua Formosa, a Vila Francada de 27 de maio de 1823 reconduziu d. João VI ao posto de rei absoluto de Portugal. O êxito do movimento liderado por d. Miguel deu-lhe a proeminência do movimento absolutista em Portugal, doravante chamado “miguelismo”.

D. João VI reuniu em si a solução moderada do conflito. Afastou os “radicais”, responsabilizados pela perda do Brasil, e uniu em torno dele, realistas e liberais moderados. No ano seguinte, em 30 de abril de 1824, d. Miguel liderou um novo movimento contrarrevolucionário: a Abrilada. Se no primeiro levante o infante contou com o apoio de seu pai, nesse segundo, após refugiar-se na nau inglesa Windsor-Castle, há versões em sentido contrário, em que ele fora na verdade raptado, e assim forçado a assinar um decreto no qual destituía D. Miguel do posto de comandante em chefe do exército, e o exilando em Viena.

Foi sob esse clima de tensão política que, em 10 de março de 1826, d. João VI faleceu. Poucos dias antes de sua morte, nomeou um Conselho de Regência presidido por sua filha, a infanta d. Isabel Maria. 

Concomitante a esses episódios, ocorria as negociações pelo reconhecimento da independência do Brasil. Além das concessões feitas a d. João VI, como a permanência do título de “imperador do Brasil e rei de Portugal e Algarves”, o tratado deixava em aberto a questão da sucessão do trono português, permitindo a possibilidade da reunião das coroas novamente sobre a cabeça de d. Pedro e a instituição de uma monarquia dual. 

Em 25 de abril de 1826, no Rio de Janeiro, d. Pedro I reuniu seu Conselho de Estado e, decidiu que outorgaria uma Carta Constitucional ao Reino de Portugal assegurando a independência recíproca das duas nações. D. Pedro I pretendia reunir as duas coroas sobre sua cabeça. O marquês de Barbacena, consultado por Sua Majestade Imperial em ofício, inicia seus argumentos destacando que, de fato, não havia qualquer elemento na Constituição do Império do Brasil que impedisse d. Pedro I de herdar a coroa de seu pai, não restando qualquer dúvida jurídica sobre seus direitos enquanto sucessor da Casa de Bragança. No entanto, quando emite sua opinião sobre os resultados políticos que tal ato poderia fazer desenrolar para as duas nações é que se evidencia a ampla capacidade de leitura de Barbacena sobre as conjunturas políticas do mundo luso-brasileiro, surpreendendo, inclusive, a precisa exposição que fez do cenário político do Reino de Portugal:

"Em Portugal, porque estando aquele Reino dividido em três partidos; dois serão contrários a V. M. I. e aproveitarão toda a ocasião de excitar descontentamento e talvez uma revolução. De um lado nenhum português pode gostar de ter um rei a duas mil léguas de distância e de outro, a ideia de converter Portugal em Colônia do Brasil ofende o amor próprio nacional, e excita os maiores excessos, embora seja mui falha e absurda aquela denominação de Colônia pela reunião das coroas. – No Brasil, porque a maior parte de meus compatriotas, ainda mesmo na classe dos melhores amigos de V. M. I. confundem de boa-fé a união das coroas com a união das nações, e então podem ser surpreendidos pelos democratas, que não deixarão de clamar contra a união de Portugal, fingindo sincera persuasão de que voltamos ao tempo do sr. d. João VI."

E assim indicava os inconvenientes e perigos da união, recordando as declarações imperiais a respeito da querela portuguesa. Vale destacar que, Barbacena anexou outro documento nomeado: “medidas secretíssimas que deve tomar o imperador do Brasil”. Brant sabia que suas opiniões sobre a questão portuguesa poderiam desagradá-lo. Logo, as tais “medidas secretíssimas” apresentavam os tortuosos percursos a serem percorridos pelo imperador para que efetuasse a reunião das duas coroas. Dessa forma, Barbacena buscava atender ao desejo mais íntimo de d. Pedro I – ter as duas coroas em sua cabeça –, mas reforçava que, ao escolher aquele caminho, encontraria forte resistência na opinião pública luso-brasileira completamente contrária aos seus anseios. Assim, ao alertar o monarca sobre os perigos envolvidos naquela operação (reunião das coroas), destacava que a solução imposta pelas circunstâncias, a que estavam submetidas o Império do Brasil e o Reino de Portugal, era seguir sua primeira argumentação entregue para avaliação do Conselho de Estado. 

O barão de Alcântara opinou que era contrário à união das coroas e que a ideia era uma agressão à Constituição do Império do Brasil, mas sugeriu que o monarca incorporasse a costa da África e ilhas adjacentes às possessões do império brasileiro. 

As sugestões oferecidas pelo marquês de Barbacena, foram as seguidas pelo imperador do Brasil, isto é, abdicar ao trono de Portugal em favor de sua filha d. Maria da Glória; conceder anistia geral e plena a todos os súditos portugueses; convocar as cortes e apresentar uma Carta Constitucional para sua aceitação e juramento; fazer tudo isso antes da abertura do Corpo Legislativo brasileiro “para introduzir na fala um brilhante artigo que dissesse todas as apreensões”. Os escritos de Barbacena são valiosíssimos e descrevem a ampla percepção que ele tinha dos quadros políticos brasileiro e português. 

No dia 28 daquele mês, o Conselho se reuniu novamente e acordou que d. Pedro I abdicaria do trono português em favor da filha d. Maria da Glória. 

Em 20 de junho de 1826, na cidade de Paris, através do telégrafo de Brest, soube-se das resoluções de d. Pedro: confirmação da regência de d. Isabel Maria, anistia para os crimes políticos, outorga de uma Carta Constitucional e abdicação em favor da filha. A última resolução feita condicionalmente: “a abdicação só teria efeito se fossem cumpridas duas condições, o juramento da Carta Constitucional e o casamento [de d. Maria] com d. Miguel”. 

As potências europeias receberam com surpresa a Carta Constitucional de 1826 outorgada por d. Pedro. Ela não poderia ter encontrado ambiente mais desfavorável. Traumatizados pelas revoluções liberais e decididos a esmagar a “hidra revolucionária”, o concerto das nações absolutistas – Espanha, Áustria, Prússia e Rússia – receberam com hostilidade a “causa de d. Maria II”, pois sua ascensão ao trono estava diretamente associada à Carta e, por fim, à causa liberal. Todavia, uma afronta a d. Pedro I, IV de Portugal, significaria uma contestação escandalosa do princípio de legitimidade, uma das matrizes do Congresso de Viena.

Foi nessa nova conjuntura geopolítica europeia de aproximação dos gabinetes de Viena e Londres que Barbacena chegou à Europa para tratar do que dissemos inicialmente: arranjar uma nova esposa para D. Pedro I e nomear d. Miguel lugar-tenente e seu compromisso de jurar a Constituição e de se casar com Glória Maria quando essa atinge-se sua maior idade. O infante regressava a Lisboa após três anos exilado, excursão que se iniciou em 6 de dez. de 1827, quando saiu de Viena e passou por alguns países europeus, antes de desembarcar em Greenwich em 30 de dez. de 1827, dirigindo-se para a capital londrina. No entanto, Barbacena, começou a suspeitar dos novos arranjos políticos articulados pela Áustria e que, agora, contavam com o apoio do gabinete de St. James, bem como da França. 

Quanto aos arranjos de um novo casamento para D. Pedro I, Francisco I havia se colocado como intermediador das negociações do segundo casamento do imperador do Brasil. Entretanto, Metternich, chanceler da Áustria, não via com bons olhos as novas núpcias de d. Pedro I. A rejeição se dava pela preocupação de que o novo consórcio pudesse colocar em risco os direitos, ao trono brasileiro, de d. Pedro de Alcântara (futuro d. Pedro II), filho de d. Leopoldina, caso a nova imperatriz gerasse um filho varão. Assim, os Habsburgos perderiam a coroa no Brasil. Nesse sentido, membros da corte austríaca espalharam por toda a Europa a má fama de d. Pedro I como esposo, e seu caso com a Marquesa de Santos, fazendo com que o monarca brasileiro recebesse oito recusas para um novo consorte. A família imperial austríaca não partilhava dos planos de sabotagem perpetrados por Metternich,  mas ele “dominava os Habsburgos”. Barbacena conseguiu, com grande diplomacia, retirar das mãos de d. Francisco I os pourparles que o autorizavam a negociar o novo casamento de d. Pedro I. Ele suspendeu as negociações sem deixar transparecer que havia tomado aquela medida por suspeitar da atuação de Metternich para as recusas.

Desde que ficou responsável pelo arranjo das novas núpcias de d. Pedro I, Barbacena recebeu três recusas: das princesas da Suécia e da Dinamarca, assim como da princesa de Baden. O visconde da Pedra Branca, Domingos Borges de Barros, ministro em Paris, lembrou a Barbacena da filha mais velha da duquesa de Leuchtenberg, Amélia Eugênia Napoleona de Leuchtenberg , o autorizando para tratar diretamente das negociações do casamento com a referida duquesa, e que resultou nas negociações que culminaram no acordo de casamento com d. Amélia de Leuchtenberg. O matrimônio com d. Amélia foi usado como um arranjo político dos opositores de d. Domitila, dentre os quais o próprio Brant, para afastá-la da companhia de d. Pedro I, já que ela influenciava a política imperial comandada por José Clemente Pereira, ministro do Império, e que levara ao rompimento de d. Pedro com a câmara dos deputados. 

Diante do juramento de D. Miguel a Carta Constitucional outorgada por d. Pedro, este em nome da rainha Maria II, nomeou por decreto de 3 de set. de 1827, d. Miguel seu lugar-tenente e regente do reino, resolvendo enviar a filha para Viena a completar a educação na corte do seu avô, d. Francisco I. D. Miguel regressou para Portugal, de seu exílio, em 30 de abril de 1828. A rainha Maria II deixou o Rio de Janeiro em 5 de julho de 1828, acompanhada por Felisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena, escolhido pelo próprio d. Pedro I para acompanhá-la.

O Marquês de Barbacena, seguiu com destino por mar para Gênova, para daí ir por terra para Viena, aportou antes em Gibraltar com a rainha em 2-3 de set. de 1828, tendo aí, conhecimento, pelo visconde de Itabaiana, em carta codificada, de que D. Miguel Usurpara o trono de Portugal. Barbacena teve a perspicácia de compreender que Miguel viera de Viena resolvido a pôr-se à frente do movimento absolutista, aconselhado pelo chanceler Metternich, sendo assim perigoso a jovem rainha ir para Viena. Tomando a responsabilidade, mudou o destino da viagem, e partiu para Londres, onde chegou a 7 de outubro. 

Sua chegada a Londres sem aviso prévio, pegou os duques de Wellington e Aberdeen desprevenidos, causando certo mal-estar diplomático entre eles e o marquês. A política inglesa nada favorecia os seus intuitos. O gabinete do Duque de Wellington patrocinava abertamente d. Miguel, de sorte que o asilo que o marquês procurara não era seguro. 

Ainda na Inlgaterra, em Plymouth, aonde se encontravam os refugiados liberais portugueses, Barbacena os reanimou para a causa liberal ao aproximar seus súditos de sua rainha. Foi essa saída encontrada por Barbacena que complicou os planos dos gabinetes de Viena e de Londres para o Reino de Portugal. Pois reanimava na Europa a denúncia de usurpação do trono português por parte de d. Miguel. Apesar do apoio implícito do gabinete inglês à causa miguelista, ele não podia contar com o aval da opinião pública inglesa, amplamente favorável a dona Maria, nem mesmo com o suporte do monarca britânico Jorge IV, também simpático à “causa de d. Maria II”.

Glória Maria, f.ª de D. Pedro I
e da Imperatriz Leopoldina, nascida
no Brasil, foi a 1ª soberana brasileira
de um País europeu, Portugal.
Uma recepção do rei da Grã-Bretanha à rainha d. Maria II foi pedida por Barbacena desde sua chegada na Inglaterra. Após adiamentos, ante a enfermidades enfrentadas pelo Rei da Inglaterra, e protelações de Wellington e Aberdeen, afim de evitar que d. Maria tivesse um cerimonial digno de uma Rainha. Em fim, no dia 22 de dezembro de 1828, o rei Jorge IV recebeu, no Palácio de Windsor, a rainha infanta com todas as circunstâncias reservadas a uma legítima monarca. Era uma vitória do marquês de Barbacena sobre as pretensões de Wellington e Aberdeen. Oque representou uma importante vitória de d. Maria II ao trono.

Em 20 de novembro de 1828, o primeiro-ministro britânico, o duque de Wellington, exigiu do marquês de Palmela, ex-embaixador de Portugal em Londres, a dissolução do “Depósito dos Emigrados Estrangeiros em Plymouth”, sob a alegação de estarem reunidos para fim militares, esperando uma ordem de d. Pedro para atacar Portugal. Assim, o dito duque pediu que os emigrados se dispersassem pela Inglaterra. A medida foi criticada pela imprensa inglesa, afirmando ser ela resultado de um pedido do visconde de Asseca, morador em Welbeck-Street, representante de d. Miguel, que fazia visitas ocasionais ao primeiro-ministro britânico. Nesse sentido, ficava difícil acreditar que aquela ordem configurasse o princípio de neutralidade e não intervenção nos negócios de Portugal como defendido pelo gabinete Tory. No Parlamento inglês, a oposição whig apresentou moção crítica à ação do governo: “A moção, apresentada por James Mackintosh e defendida por Palmerston foi aprovada. O governo não caiu, mas deve ter abrandada a pressão e diminuídos os entraves colocados à reunião na Terceira [...]”.

Nesse ínterim, Barbacena conseguiu convencer Palmela e outras lideranças dos liberais emigrados, bem como incentivou o governo britânico a enviá-los para o Brasil. Em 1º de dezembro, o ministro Aberdeen passou uma ordem para que os emigrados embarcassem rumo ao Brasil. Conforme o ofício do marquês de Barbacena ao marquês de Acarati, ministro dos Negócios Estrangeiros do Império, a medida seria boa para o país, pois cessariam os gastos com os emigrados portugueses para mantê-los na Inglaterra, bem como “se o imperador nosso amo quer fazer a guerra a Portugal, tem bons cooperadores nestes fiéis portugueses, e se o não quer, adquire população branca, que consumirá no Brasil, o dinheiro que ora despende em Plymouth”. Entretanto, tal medida não teve o sucesso projetado pelo marquês e foi amplamente criticada no Brasil, causando desordens nas ruas e forte antipatia entre “brasileiros” e “estrangeiros”.

O marquês de Barbacena ainda foi responsável por três medidas importantes envolvendo a resistência liberal na Europa. Conseguiu arranjar um empréstimo de quarenta mil libras esterlinas para manter os emigrados que preferiam seguir para a Ilha Terceira, bem como influenciou o imperador a tirar do papel a Regência da Terceira, nomeando o marquês de Palmela, conde de Vila Flor, e José Antônio Guerreiro para os cargos de regentes, além de convencê-lo pelo retorno da rainha ao Brasil até que ela completasse a maioridade. O marquês de Barbacena, pretendia que o Império do Brasil tivesse papel destacado na “causa de d. Maria II”. Para ele, uma guerra contra os miguelistas, contando com a participação direta do governo brasileiro, daria ao Império um destaque internacional, perdido na questão da abdicação de d. Pedro I ao trono português (1826), bem como nas imposições humilhantes ao Brasil nas clausulas do Tratado de Independência de 29 de agosto de 1825 com os portugueses. Barbacena queria transformar a causa de d. Maria em causa do Brasil.

Porém, parece que os ministros de d. Pedro não partilhavam do mesmo desejo do marquês, pois não deram qualquer suporte ao projeto de Barbacena. Talvez por medo do Legislativo, completamente contrário à demora e dedicação empenhadas pelo marquês na Europa ou por próprio desinteresse e/ou despreparo, não enxergavam a crise portuguesa como ação de responsabilidade do governo imperial brasileiro. De acordo com Barbacena, o Império do Brasil, ao se direcionar à causa portuguesa, se elevaria em grandeza ao defender o país que antes lutou contra a liberdade.

Um pouco antes do retorno de Barbacena ao Brasil, em 16 de outubro de 1829, o grupo de oposição ao marquês, liderado por José Clemente Pereira e pelo marquês de Queluz, havia conseguido convencer o imperador a destituir Brant de suas missões na Europa, alegando que este não lhe obedecia e que o longo tempo em que a princesa d. Maria encontrava-se em Londres era prova viva do quanto ele não queria que a infanta retornasse ao Brasil e, consequentemente, para os braços do pai. Em seu lugar para substituí-lo nas missões em Londres, fora enviado o marquês de S. João da Palma.

Quando Palma chegou a Londres, Barbacena, a nova imperatriz e a infanta d. Maria já se encontravam embarcados para regressar ao Rio de Janeiro. Nem mesmo o confuso e árduo jogo diplomático enfrentado pelo marquês perante as principais potências europeias – Áustria e Grã-Bretanha –, em razão da crise portuguesa gerada pela usurpação do trono por d. Miguel e, em menor grau, pelo segundo casamento do monarca, que, tomou menos a atenção de Barbacena, foram capazes de desbaratar algum receio que d. Pedro pudesse ter sobre suas aptidões, mostrando, mais uma vez, o gênio do primeiro imperador. Todavia, a felicidade do monarca ao avistar sua filha, finalmente segura em seus braços, e a bela e jovem nova imperatriz, no desembarque de 17 de outubro de 1829, acabaram por desfazer qualquer possível rusga do governante imperial a respeito do marquês, fazendo com que ele ganhasse em definitivo a confiança do imperador.



Artigos correlatos: