Valente, insígne estrategista, amado e idolatrado
pelos seus seguidores, conta-se que tinha uma memória prodigiosa que lhe
permitia conhecer cada palmo do território e um senso de orientação capaz de se
guiar na noite mais sombria, apenas pelos cheiros e ruídos do ambiente.
Generoso, recompensava com terras e dinheiro seus
leais seguidores, muitos dos quais, se tornaram grandes estancieiros, ao passo
que Rafael Pinto Bandeira veio falecer pobre. Registra-se ainda que ambicionava
tornar aquelas terras agrestes, ensangüentadas pela guerra, numa próspera terra
civilizada.
Rafael Pinto Bandeira é uma lenda viva nos
pampas, aonde fincou as fronteiras do Brasil contra os castelhanos, sustentando
uma das mais longas guerras pelas fronteiras do sul. Com 14 anos, em 1754, já
tomava parte nas campanhas militares quando do Tratado de Santo Idelfonso. Descendia
de família paulista assentada na província do Rio Grande de São Pedro como pelo
lado materno de sangue indígena.
Nos anos de
1763-77, o Sul do Brasil foi envolvido pela primeira vez numa guerra. O atual
Rio Grande do Sul sofreu duas invasões que chegaram a controlar cerca de dois
terços de seu território. Ao final, os brasileiros acabaram por restaurar a soberania portuguesa sobre a área em contenda.
Para tal, contribuiram forças dos
atuais Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia,
Santa Catarina e Paraná. Destaca-se também a contribuição militar de civis
paulistas, enviados durante a guerra, num fluxo contínuo para a fronteira de
Rio Pardo. Unidos a um punhado de civis rio-grandenses, e lado a lado com os bravos do Regimento de Dragões do Rio Pardo, ajudaram a conduzir modelar guerra
de guerrilhas contra o invasor, traduzida pelas vitórias militares obtidas:
Monte Grande -
1763,
Reconquista de São
José do Norte - 1767,
Santa Bárbara e
Tabatingaí - 1774,
São Marçotinho -
1775 e
Santa Tecla -
1776).
Dragão do Rio Pardo |
Em
1772, a Espanha invadiu Olivença(território português), diante do receio de que
Buenos Aires(sob domínio da coroa castelhana) fize-se o mesmo com o Rio Grande
de São Pedro, o Gal. Gomes de Freire arregimentou mil homens (800 sulistas -
dragões, milicianos e aventureiros - e 200 aventureiros paulistas já
participantes dos movimentos de demarcação do Sul e da Guerra Guaranítica),
deslocando-os do Rio Pardo para o Arroio do Chuí, de modo a ter condições de
avançar e construir uma fortaleza em Castilhos(Santa Tereza) no caso fosse
Colônia do Sacramento atacada.
Em
10 de outubro de 1762, ao saber que os castelhanos haviam cercado Colônia do
Sacramento, deu-se início à construção de uma Fortaleza em Castilhos,
batizando-a 5 dias após com o nome de Santa Teresa. Ficaram ali 360 alquebrados
Dragões e 640 civis improvisados em militares.
Os
castelhanos atacaram, em 1º de outubro de 1776, Colônia de Sacramento, rendida
após um mês de cerco, apesar dos socorros enviados do Rio. Em seguida as praças
de Santa Tereza, São Miguel e Rio Grande caíram também em mãos dos castelhanos.
Com
o Tratado de Paris, Colônia foi devolvida a soberania portuguesa, contudo os
castelhanos se recusaram entregar a praça de Rio Grande. O governo da Província
do Rio Grande de São Pedro foi transferido para Viamão. Diante dos parcos meios
e a constante ameaça castelhana, a junta governativa do Rio de Janeiro, em
junho de 1773, baixou ordem de fazer guerrilha aos castelhanos.
Em
abril de 1766, foi retomado a márgem norte da fronteira da vila de Rio Grande
(São José do Norte), que há três anos se encontrava sob domínio de castelhano.
reconstituição do uniforme |
A
reconquista de São José do Norte e os ataques a vila de Rio Grande(ainda sob
domínio castelhano) foram mal recebidos em Portugal, que costurava um acordo
com a Espanha para minar a influência dos Jesuítas, apontados como principais
responsáveis pelo fracasso da demarcação de fronteiras no sul e a Guerra
Guaranítica. De modo que os comandantes foram afastados, felizmente não se
cumpriu a ordem de entregar São Jose do Norte aos castelhanos.
Em
1773, os castelhanos invadiram o Rio Grande pela campanha fundando o forte de
Santa Tecla, com objetivo de varrer os brasileiros do Rio Pardo, Taquari, Porto
Alegre e Viamão e finalmente São José do Norte, expulsando os expulsando
definitivamente do continente do Rio Grande de São Pedro.
Em
2 de janeiro de 1774, Rafael Pinto Bandeira, a frente de 100 guerrilheiro e
Dragões, bateu e tomou de assalto toda uma coluna proveniente das Missões,
debilitando enormemente as pretensões castelhanas. 3 dias depois, em 5 de
janeiro, Piquiri foi heroicamente defendida por 21 paulistas apenas, sem
mantimentos posto a coluna proveniente das missões ter sido tomada de assalto,
os castelhanos recuaram para a vila de Rio Grande, sendo perseguidos por Rafael
Pinto Bandeira.
Dessa
vez, a incursão dos castelhanos, foi tomada como uma afronta a Portugal, e o
Marquês de Pombal determinou que fosse eliminado até o último castelhano em Rio
Grande de São Pedro.
Foram enviados efetivos
do Rio, foram destinados ainda todos os rendimentos das provedorias de São
Paulo e Rio de Janeiro, subsídio voluntário e literário de Angola, 200.000
cruzados anuais, o equivalente ao soldo de dois regimentos enviados da Bahia.
Em São José do Norte, fundeou a esquadra com seis unidades, entre as quais a
"Belona" e a "Invencível", construídas em Porto
Alegre. Ao final os efetivos das forças brasileiras contavam 4 mil homens.
As tropas de Cavalaria Ligeira (nome oficial das guerrilhas) eram constituídas
em grande parte por paulistas enviados em socorro ao sul.
Concluída a
concentração de forças, ao final de 1775, teve início a ofensiva para restaurar
o Rio Grande.
Em 31 de outubro
de 1775, o Forte São Martinho foi conquistado de surpresa e arrasado por 205
dragões e guerrilheiros do Rio Pardo, ao comando de Rafael Pinto Bandeira.
Em 19 de fevereiro
de 1776, objetivando criar condições para que o Exército do Sul assaltasse a
vila de Rio Grande, a armada contando nove unidades, tentou destruir a esquadra
castelhana, sem sucesso.
Novo
insucesso na tentativa de assalto a Santa Tecla, próximo a Bajé.
Para a conquista,
recorreram a Rafael Pinto Bandeira, auxiliado pelo Major Patrício Correia
Câmara do Rio de Janeiro.
Foi organizado uma
força de 619 homens, composta de 366 Dragões do Rio Pardo (ao comando de
Patrício), 193 guerrilheiros da Cavalaria Ligeira, e uma Companhia de
Infantaria de Caçadores Índios.
A 1ª tentativa de
Rafael e Correia Câmara, para surpreender Santa Tecla, falhou, submetida a novo cerco durante 26 dias; Durante o cerco, a situação dos
sitiantes ficou crítica pelo desgaste da cavalhada, após um mês de operações,
patrulhamento intenso e confinamento em reduzidas e raspadas pastagens de
verão. Tiveram, então, de alimentar-se de raízes e ervas. E em 25 de março,
capitulou sob condições; e a 26, seus defensores evacuaram-na pelo portão dos
fundos, rumo a Montevidéu. Em 27, suas muralhas foram arrasadas pelos
brasileiros.
Expulsos os
espanhóis de Santa Tecla e São Martinho, faltava a reconquista da Vila de Rio
Grande.
Para reconquistar
a Vila de Rio Grande, além de seus fortes e esquadra, era preciso vencer, com
meios descontínuos, a enorme distância entre São José do Norte e Rio Grande.
Para isso, fundamentalmente, serviriam as jangadas, construídas por soldados
pernambucanos vindos de Santa Catarina com madeira pernambucana.
Em 1º de abril de
1776, dia seguinte ao aniversário da Rainha, foi a data escolhida para tomada
do Rio Grande, ante o festejo ruidoso, com salvas e embandeiramentos, pelo
Exército do Sul e Esquadra. Tudo para iludir os castelhanos em Rio Grande. Com
um efetivo de 1.500 homens por terra e uma esquadra com 8 navios, contra 12
navios castelhanos, após 30h de combates, a vila de Rio Grande foi retomado
pelos brasileiros.
Com a Reconquista
do Rio Grande, as fronteiras brasileiras voltaram a ser Rio Grande e Rio Pardo.
Castelha mandou fazer um exército de 9 mil homens, tomando Santa Catarina afim
de isolar o Rio Grande de São Pedro do Rio de Janeiro.
O exército então
foi reforçado pela Legião de Voluntários Reais de São Paulo e um Regimento de
Infantaria de Santos; a cobertura de Rio Grande, ao norte, foi construído o
Forte São Diogo, que foi guarnecido pela companhia de granadeiros do RI de
Santos. Ao Sul, no Albardão e Taim, pela Cia. de Cavalaria do Vice- Rei e
Dragões do Rio Pardo e, entre o Estreito e São José do Norte (atual), por uma
Companhia de Cavalaria da Legião de Voluntários de São Paulo. Nesta ocasião, o
forte de Santa Tecla foi reocupado pelos castelhanos.
Rafael Pinto
Bandeira, (já coronel de uma Legião de Cavalaria Ligeira), estabeleceu a
cobertura da Vila de Rio Grande face à direção de Santa Tecla, na Serra de
Tapes, em Canguçu atual.
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Antônio Felipe Camarão (Poty)
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