quinta-feira, 16 de abril de 2015

Rafael Pinto Bandeira, O Centauro dos Pampas.



Valente, insígne estrategista, amado e idolatrado pelos seus seguidores, conta-se que tinha uma memória prodigiosa que lhe permitia conhecer cada palmo do território e um senso de orientação capaz de se guiar na noite mais sombria, apenas pelos cheiros e ruídos do ambiente.

Generoso, recompensava com terras e dinheiro seus leais seguidores, muitos dos quais, se tornaram grandes estancieiros, ao passo que Rafael Pinto Bandeira veio falecer pobre. Registra-se ainda que ambicionava tornar aquelas terras agrestes, ensangüentadas pela guerra, numa próspera terra civilizada.

Rafael Pinto Bandeira é uma lenda viva nos pampas, aonde fincou as fronteiras do Brasil contra os castelhanos, sustentando uma das mais longas guerras pelas fronteiras do sul. Com 14 anos, em 1754, já tomava parte nas campanhas militares quando do Tratado de Santo Idelfonso. Descendia de família paulista assentada na província do Rio Grande de São Pedro como pelo lado materno de sangue indígena.

Nos anos de 1763-77, o Sul do Brasil foi envolvido pela primeira vez numa guerra. O atual Rio Grande do Sul sofreu duas invasões que chegaram a controlar cerca de dois terços de seu território. Ao final, os brasileiros acabaram por restaurar a soberania portuguesa sobre a área em contenda.

Para tal, contribuiram forças dos atuais Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina e Paraná. Destaca-se também a contribuição militar de civis paulistas, enviados durante a guerra, num fluxo contínuo para a fronteira de Rio Pardo. Unidos a um punhado de civis rio-grandenses, e lado a lado com os bravos do Regimento de Dragões do Rio Pardo, ajudaram a conduzir modelar guerra de guerrilhas contra o invasor, traduzida pelas vitórias militares obtidas:

Monte Grande - 1763,
Reconquista de São José do Norte - 1767,
Santa Bárbara e Tabatingaí - 1774,
São Marçotinho - 1775 e
Santa Tecla - 1776).

Dragão do Rio Pardo
As guerrilhas na área do Rio Grande do Sul, por dez anos, mantiveram as invasões circunscritas. Criaram condições para o Exército do Sul, com o concurso de uma Esquadrilha Naval, tudo ao comando do Tenente- General Henrique Böhn, completar a restauração com a reconquista da Vila de Rio Grande, em 1º de abril de 1776.

Em 1772, a Espanha invadiu Olivença(território português), diante do receio de que Buenos Aires(sob domínio da coroa castelhana) fize-se o mesmo com o Rio Grande de São Pedro, o Gal. Gomes de Freire arregimentou mil homens (800 sulistas - dragões, milicianos e aventureiros - e 200 aventureiros paulistas já participantes dos movimentos de demarcação do Sul e da Guerra Guaranítica), deslocando-os do Rio Pardo para o Arroio do Chuí, de modo a ter condições de avançar e construir uma fortaleza em Castilhos(Santa Tereza) no caso fosse Colônia do Sacramento atacada.

Em 10 de outubro de 1762, ao saber que os castelhanos haviam cercado Colônia do Sacramento, deu-se início à construção de uma Fortaleza em Castilhos, batizando-a 5 dias após com o nome de Santa Teresa. Ficaram ali 360 alquebrados Dragões e 640 civis improvisados em militares.

Os castelhanos atacaram, em 1º de outubro de 1776, Colônia de Sacramento, rendida após um mês de cerco, apesar dos socorros enviados do Rio. Em seguida as praças de Santa Tereza, São Miguel e Rio Grande caíram também em mãos dos castelhanos.

Com o Tratado de Paris, Colônia foi devolvida a soberania portuguesa, contudo os castelhanos se recusaram entregar a praça de Rio Grande. O governo da Província do Rio Grande de São Pedro foi transferido para Viamão. Diante dos parcos meios e a constante ameaça castelhana, a junta governativa do Rio de Janeiro, em junho de 1773, baixou ordem de fazer guerrilha aos castelhanos.

Em abril de 1766, foi retomado a márgem norte da fronteira da vila de Rio Grande (São José do Norte), que há três anos se encontrava sob domínio de castelhano.

reconstituição do uniforme
A reconquista de São José do Norte e os ataques a vila de Rio Grande(ainda sob domínio castelhano) foram mal recebidos em Portugal, que costurava um acordo com a Espanha para minar a influência dos Jesuítas, apontados como principais responsáveis pelo fracasso da demarcação de fronteiras no sul e a Guerra Guaranítica. De modo que os comandantes foram afastados, felizmente não se cumpriu a ordem de entregar São Jose do Norte aos castelhanos.

Em 1773, os castelhanos invadiram o Rio Grande pela campanha fundando o forte de Santa Tecla, com objetivo de varrer os brasileiros do Rio Pardo, Taquari, Porto Alegre e Viamão e finalmente São José do Norte, expulsando os expulsando definitivamente do continente do Rio Grande de São Pedro.

Em 2 de janeiro de 1774, Rafael Pinto Bandeira, a frente de 100 guerrilheiro e Dragões, bateu e tomou de assalto toda uma coluna proveniente das Missões, debilitando enormemente as pretensões castelhanas. 3 dias depois, em 5 de janeiro, Piquiri foi heroicamente defendida por 21 paulistas apenas, sem mantimentos posto a coluna proveniente das missões ter sido tomada de assalto, os castelhanos recuaram para a vila de Rio Grande, sendo perseguidos por Rafael Pinto Bandeira.

Dessa vez, a incursão dos castelhanos, foi tomada como uma afronta a Portugal, e o Marquês de Pombal determinou que fosse eliminado até o último castelhano em Rio Grande de São Pedro.

Foram enviados efetivos do Rio, foram destinados ainda todos os rendimentos das provedorias de São Paulo e Rio de Janeiro, subsídio voluntário e literário de Angola, 200.000 cruzados anuais, o equivalente ao soldo de dois regimentos enviados da Bahia. Em São José do Norte, fundeou a esquadra com seis unidades, entre as quais a "Belona" e a "Invencível", construídas em Porto Alegre. Ao final os efetivos das forças brasileiras contavam 4 mil homens. As tropas de Cavalaria Ligeira (nome oficial das guerrilhas) eram constituídas em grande parte por paulistas enviados em socorro ao sul.

Concluída a concentração de forças, ao final de 1775, teve início a ofensiva para restaurar o Rio Grande.
Em 31 de outubro de 1775, o Forte São Martinho foi conquistado de surpresa e arrasado por 205 dragões e guerrilheiros do Rio Pardo, ao comando de Rafael Pinto Bandeira.

Em 19 de fevereiro de 1776, objetivando criar condições para que o Exército do Sul assaltasse a vila de Rio Grande, a armada contando nove unidades, tentou destruir a esquadra castelhana, sem sucesso.
 Novo insucesso na tentativa de assalto a Santa Tecla, próximo a Bajé.

Para a conquista, recorreram a Rafael Pinto Bandeira, auxiliado pelo Major Patrício Correia Câmara do Rio de Janeiro.

Foi organizado uma força de 619 homens, composta de 366 Dragões do Rio Pardo (ao comando de Patrício), 193 guerrilheiros da Cavalaria Ligeira, e uma Companhia de Infantaria de Caçadores Índios.

A 1ª tentativa de Rafael e Correia Câmara, para surpreender Santa Tecla, falhou, submetida a novo cerco durante 26 dias; Durante o cerco, a situação dos sitiantes ficou crítica pelo desgaste da cavalhada, após um mês de operações, patrulhamento intenso e confinamento em reduzidas e raspadas pastagens de verão. Tiveram, então, de alimentar-se de raízes e ervas. E em 25 de março, capitulou sob condições; e a 26, seus defensores evacuaram-na pelo portão dos fundos, rumo a Montevidéu. Em 27, suas muralhas foram arrasadas pelos brasileiros. 

Expulsos os espanhóis de Santa Tecla e São Martinho, faltava a reconquista da Vila de Rio Grande.

Para reconquistar a Vila de Rio Grande, além de seus fortes e esquadra, era preciso vencer, com meios descontínuos, a enorme distância entre São José do Norte e Rio Grande. Para isso, fundamentalmente, serviriam as jangadas, construídas por soldados pernambucanos vindos de Santa Catarina com madeira pernambucana.

Em 1º de abril de 1776, dia seguinte ao aniversário da Rainha, foi a data escolhida para tomada do Rio Grande, ante o festejo ruidoso, com salvas e embandeiramentos, pelo Exército do Sul e Esquadra. Tudo para iludir os castelhanos em Rio Grande. Com um efetivo de 1.500 homens por terra e uma esquadra com 8 navios, contra 12 navios castelhanos, após 30h de combates, a vila de Rio Grande foi retomado pelos brasileiros.

Com a Reconquista do Rio Grande, as fronteiras brasileiras voltaram a ser Rio Grande e Rio Pardo. Castelha mandou fazer um exército de 9 mil homens, tomando Santa Catarina afim de isolar o Rio Grande de São Pedro do Rio de Janeiro.

O exército então foi reforçado pela Legião de Voluntários Reais de São Paulo e um Regimento de Infantaria de Santos; a cobertura de Rio Grande, ao norte, foi construído o Forte São Diogo, que foi guarnecido pela companhia de granadeiros do RI de Santos. Ao Sul, no Albardão e Taim, pela Cia. de Cavalaria do Vice- Rei e Dragões do Rio Pardo e, entre o Estreito e São José do Norte (atual), por uma Companhia de Cavalaria da Legião de Voluntários de São Paulo. Nesta ocasião, o forte de Santa Tecla foi reocupado pelos castelhanos.

Rafael Pinto Bandeira, (já coronel de uma Legião de Cavalaria Ligeira), estabeleceu a cobertura da Vila de Rio Grande face à direção de Santa Tecla, na Serra de Tapes, em Canguçu atual.


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