domingo, 1 de abril de 2012

64 - Um Golpe Contra o Nacionalismo Brasileiro.



O objetivo da ditadura era varrer os políticos ligados ao getulismo
(sendo o comunismo apenas o pretexto invocado para o golpe).
Golbery do Couto e Silva,  sempre foi transparente a esse respeito: 
"expurgar da cena política brasileira os políticos ligados ao
populismo getulista.".

O processo subversivo que desencadiou no Golpe de 64 antecede a deposição de Vargas em 45, a tentativa de impedir sua posse em 51, a “novembrada” em 55 contra Jucelino, a tentativa de golpe em 62, para findar na deposição de Goulart em 64. Esses fatos revelam a ação sistemática de um mesmo grupo na tentativa de tomada do poder, orquestrados e subvencionados pelos EUA a fazer oposição a esses governos nacionalistas.

Em cada tentativa de golpe, a UDN invocava um pretexto diferente: em 1954 eram a "corrupção" , o "atentado da rua Toneleros" e a "república sindicalista"; em 1955 era a "corrupção" bem como em 1956 e 1959; em 1964 era a "ameaça comunista.".

1964 foi o coroamento de uma longa sequência de golpes fracassados: 1954, 1955, 1956, 1959, 1961 e finalmente 1964. O pretexto para o golpe - como bem acontece com as ações de pessoas oportunistas - mudava de acordo com a ocasião, mas o objetivo final dos conspiradores sempre foi o mesmo: afastar do comando do País a corrente nacionalista getulista e implantar um governo que alinhasse definitivamente a economia brasileira aos interesses do capital internacional.

Não por acaso, vários historiadores diferentes dizem sempre a seguinte frase, quando se referem ao suicídio de Getúlio Vargas: "com seu suicídio, Getúlio adiou o golpe militar em uma década."

Para se ver como a tal "ameáça comunista" era conto da carochinha, basta dizer que, no auge da guerrilha urbana e rural comunista contra a ditadura, em 1970, haviam cerca de no máximo 1000 pessoas em armas no Brasil todo contra o regime, e isso somando os vários grupos que haviam. Um efetivo de mil pessoas contra o poderio combinado do Exército, Marinha e Aeronáutica! Que enorme "ameáça"!

Lembrando que na mesma época a Itália esteve também as voltas com as ações violentas de grupos extremistas, mas não precisou abrir mão de seu regime democrático para combater essas ações.

O suposto "comunismo" de Goulart foi o pretexto usado. Contra Getulio usaram o pretexto da "corrupcao" . Quando Jango era Ministro do Trabalho de Getúlio, acusavam-no de "peronista" , de que ele e Getulio teriam uma aliança terrível com o presidente argentino Juan Peron para transformar o Brasil numa "Republica Sindicalista" (seja lá o que for que isso quer dizer). Como Peron foi derrubado por um golpe militar em 1955, nao dava mais para usar o espantalho do peronismo, entao Lacerda e seus asseclas passaram a usar o espantalho do comunismo para fazer as pessoas terem medo de Goulart.

João Goulart não era, nunca foi, nem jamais seria comunista. Jango era riquíssimo, um milionário mesmo, e isso não apenas em função da herança herdada de seu pai, mas também, merecidamente, por seu incrível talento empresarial. Quando Jango herdou as terras de seu pai ( em 1943, se não me falha a memória ) os negócios estavam até meio mal. Jango, jovem advogado e herdeiro pecuarista, administrou tão bem o patrimônio herdado que o aumentou enormemente em poucos anos. Jango "pegava no pesado" mesmo, fazendo juz ao ditado de que "o boi só engorda com o olho do dono" , ele fazia trabalho pesado junto com os peões para administrar as muitas terras que possuia, muitas vezes comendo e dormindo em locais totalmente desconfortáveis. Jango era nos anos 50 um dos maiores pecuaristas do Brasil. Ele tinha um talento gerencial tão notável que até o doutor Getúlio confiou a ele (e não a um de seus filhos) a administração de suas estâncias em São Borja. Imaginar que um homem que trabalhou tanto para construir um notavel patrimonio fosse ser o agente consciente de seu proprio empobrecimento e loucura. Amaral Peixoto disse que o maior prazer de Jango era adquirir terras.

A articulação para o golpe só ficou mais séria depois do dia 22 de novembro de 1963. O que aconteceu nesse dia? Com a morte de Kennedy, assumiu o vice, Lyndon Johnson, que, por motivos de politica interna norte-americana, precisava "legitimar-se" frente aos setores mais reacionários do establishment dos EUA, e para isso, passou a dar apoio total aos golpistas brasileiros. Como em 1945 e 1954, o golpismo interno brasileiro só se sentiu realmente "fortalecido" quando passou a ter a certeza de poder contar com o "backing" do "Grande Irmão do Norte". Lyndon Johnson, tido como um politico oportunista e "liberal" (liberal no sentido norte-americano do termo, ou seja, progressista em assuntos de politica interna) só se mostrou confiável e seguro para a Linha Dura norte-americana ao apoiar o golpe contra Jango no Brasil.

Muito da agitação da época foi fabricado pela própria direita, com o intuito de "preparar psicologicamente" a classe media para aderir ao golpe. Esse era o caso, por exemplo, dos famosos "motins" de marinheiros, liderados pelo infame Cabo Anselmo, que, após o golpe, descobriu-se que era (surpresa!) um agente da CIA.

O empresário paulista Mario Wallace Simonsen (nenhum parentesco com o celerado Mario Henrique Simonsen), era dono de fazendas de café, da TV Excelsior de São Paulo, da TV Excelsior do Rio de Janeiro e da lendária companhia de aviacão Panair do Brasil. Esse empresário APOIOU O GOVERNO DE JANGO ATE O FINAL, SOFRENDO TERRIVEIS PERSEGUICÕES CONTRA SUAS EMPRESAS POR ISSO. Será que um grande empresário apoiaria um governo "comunista"?

Em verdade o objetivo da ditadura era varrer os políticos ligados ao getulismo (sendo o comunismo apenas o pretexto invocado para o golpe e para a ditadura). A ditadura cassou os direitos políticos e perseguiu o ex-Presidente Juscelino Kubitschek. Pergunta-se, JK era comunista?

O mentor intelectual dos golpistas de 1964, general Golbery do Couto e Silva, sempre foi transparente acerca do OBJETIVO PRINCIPAL do regime de 1964: "expurgar da cena política brasileira os políticos ligados ao populismo getulista."

E o que o Brasil ganhou com tudo isso? Qual foi o legado deixado por esse regime MALDITO implantado em 1964?

Politicamente, foi um grande retrocesso: não apenas os ditadores militares rasgaram uma Constituição democrática(de 1946) como tiraram do povo o direito de escolher o Presidente da República, os governadores e os prefeitos de inúmeras cidades. Extinguiram os partidos políticos mais autênticos e representativos que o Brasil teve ao longo de toda a sua História: o PTB, o PSD e a UDN, e criaram no lugar duas legendas completamente artificiais, a ARENA e o MDB. Somente essa decisão de extinguir os velhos partidos criados em 1945 eu considero profundamente criminosa, foi um desastre que fez muito mal à cultura política brasileira. Atrasou em muito nossa evolução política, e o resultado disso são essas meras siglas eleitorais de hoje, partidos desprovidos de ideais e conteúdo, que não representam praticamente nada exceto interesses mesquinhos. A ditadura é a mãe da atual zorra partidária. Lembrando que nossos vizinhos - Argentina, Uruguai e Paraguai - tem os mesmos partidos políticos desde o século XIX.

A destruição da democracia brasileira desgostou até o homem que desencadeou o golpe em 1964; um ano depois da tomada do Poder pelos militares, o general Olímpio Mourão Filho falava abertamente contra sua criação, dizendo: "o Brasil regrediu à ignomínia de 1937."

O legado econômico-social da ditadura de 64:

Economicamente internacionalizou nossa economia, quebrando diversas empresas privadas nacionais e levando as à fundirem-se ou serem compradas por multinacionais, aumentado assim a dominação da economia brasileira pelo capital estrangeiro. Revogou a Lei de Remessa de Lucros, aumentando a sangria de divisas do Brasil para o exterior. Uma frase de Juracy Magalhães, ministro das Relações Exteriores do governo Castelo Branco, resume bem o pensamento dominante entre os golpistas acerca de como o Brasil devia ser conduzido: "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil."

A ditadura afundou o Brasil no endividamento externo e na dependência junto ao FMI. Foram tomados empréstimos gigantescos para financiar as famosas "obras faraônicas" (entre essas a desatrosa rodovia Transamazônica, que hoje é um gigantesco lamaçal no meio da selva). Em 1964 o Brasil devia cerca de 6 bilhões de dólares. 20 anos depois, em 1984, o Brasil devia 120 bilhões de dólares. A economia brasileira quebrou, e o resultado foi a famosa "década perdida", a década de 80, na qual a economia não cresceu e a inflação atingiu índices estratosféricos.

Socialmente a ditadura trouxe o arrocho salarial, o aumento da carga tributária e o sucateamento do ensino público à partir de 1972. Aumentou a concentração de terras nas mãos de latifundiários, provocando um grande êxodo rural que provocou um processo de favelização agudo em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Foi assim que a criminalidade cresceu assustadoramente no Rio de Janeiro e na capital paulista.

O lado nefasto da "obra social" do regime de 1964 acabaria sendo reconhecido por um dos conspíradores, o udenista histórico Afonso Arinos de Melo Franco. No fim da vida, ele assim definiria o fato de seu partido, a UDN, ter sido contra a ditadura de Vargas mas ter, paradoxalmente, apoiado a ditadura militar:
"Fomos contra a ditadura quando ela significou avanço social [ a ditadura Vargas ] e fomos à favor da ditadura quando ela significou retrocesso social [ a ditadura militar ]."
Os defensores da ditadura sempre poderão dizer que a ditadura fez o Brasil sair da posição de 40ª economia do mundo (em 1964) para a de 8ª (nos anos 70), mas isso não significa, nem de longe, que o Brasil ficou mais Soberano ou que se gerou bem estar social. Parafraseando um ministro da própria ditadura, o "bolo cresceu mas não foi distribuído." A riqueza se concentrou violentamente nas mãos de uma minoria. O crescimento econômico do período 1968 - 1973 beneficiou sobretudo as grandes multinacionais instaladas no Brasil. Houve um incrível aumento na geração de riqueza, mas em grande parte essa riqueza não ficou aqui para beneficiar os brasileiros. Ter uma economia grande não significa necessariamente bem-estar para o povo: países como a Argentina e o Uruguai, no nosso continente, e a Áustria, na Europa, tem economias muito menores que a brasileira e no entanto seus povos vivem melhor que os brasileiros.

Enfim, 1964 foi a tragédia maior de nossa História - longe de nos salvar de uma "ameáça comunista" que jamais existiu, foi, isto sim, a vitoria final de Joaquim Silverio dos Reis, o triunfo daqueles que, desde 1945, tramavam a destruicao do modelo nacionalista de desenvolvimento economico gerado por Getulio Vargas. Nao por acaso, os grandes nomes de 1964 foram Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Roberto Marinho, o brigadeiro Eduardo Gomes ( arquiinimigo de Getulio desde 1945, e que foi prontamente nomeado por Castelo Branco para o Ministerio da Aeronáutica ) o marechal Juarez Távora ( outro terrivel, sinistro antigetulista desde os anos 40, que tambem ganhou uma boquinha ministerial sob Castelo Branco )além do próprio Castelo Branco, Costa e Silva, Golbery e outros TODOS antigetulistas históricos, integrantes do famigerado "Grupo Sorbonne" da ESG ( Escola Superior de Guerra ), grupo de "intelectuais" militares direitistas, que inclusive fundaram a ESG em 1949 com toda a assistência de militares norte-americanos para que a ESG fosse uma versao tupiniquim do "War College" norte-americano. Não por acaso, o regime de 1964 foi, repito, feito contra o legado getulista.

Texto de Rodrigo Nunes.


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sexta-feira, 23 de março de 2012

O Modelo Republicano Brasileiro Vs O Modelo Republicano Estadunidense

Bandeira idealizada por Rui Barbosa,
dirá Miguel Lemos:
"cópia servil do pavilhão da república norte-americana"
Embora comumente se diga que a 1º Constituição Republicana fora de inspiração positivista.... não há engano maior, o projeto positivista de Miguel Lemos e Teixeira Mendes fora rejeitado na Constituinte, quando então Júlio de Castilhos, um dos deputados constituintes,  levará para o Rio Grande do Sul implementando-a em toda sua pureza, a consagrando na Constituição de 14 de julho de 1891 do RS, dita Castilhista. Sobre essa constituição dirá Miguel Lemos ser:  
"o código político mais avançado do ocidente".



Quando da instituição da República havia um embate ideológico entre 2 modelos republicanos, o liberal de matiz estadunidense e o positivista baseados nas idéias de August Comte. A distinção entre esses 2 modelos se funda entre a liberdade do homem público subordinado aos interesses coletivos(positivista), e a do homem privado, onde o coletivo é a soma dos interesses individuais(liberal).
Bandeira de São Paulo, de inspiração
maçônica tal como a bandeira estadunidense
ideologia que norteava os liberais e
ex-monarquistas da oligarquia cafeicultora.

O modelo republicano liberal era defendido por ex-monarquistas, proprietários rurais, especialmente pela bancada paulista, para esses os EUA era o modelo republicano a ser seguido. Convinha-lhes a definição individualista do pacto social, a participação popular era evitada e ao definir o interesse público como a soma dos interesses individuais, fonercia a justificativa para a defesa de seus interesses particulares.

O modelo republicano positivista era defendido por pequenos proprietários, militares, profissionais liberais, jornalistas, professores e estudantes. Para essas pessoas, o modelo liberal não era atraente, pois não controlavam recursos de poder econômico e social capazes de se fazerem ouvir. Prezavam os ideais de liberdade, de igualdade, de participação. Igualmente, a idéia de ditadura republicana, o apelo a um executivo forte  e intervencionista, agradava especificamente os militares. Progresso e ditadura, o progresso pela ditadura, pela ação do Estado, eis o ideal de despotismo ilustrado que tinha longas raízes na tradição luso-brasileira, desde os tempos pombalinos do Séc. XVIII. Por último a proposta positivista de incorporação do proletariado a sociedade, de uma política social a ser implementada pelo Estado, abria caminho para a idéia republicana entre o operariado, especialmente estatal.

Flâmula Nacional apresentada por Ramundo Teixeira Mendes e  Miguel Lemos
 em substituição a vergonhosa proposta de Rui Barbosa 

É oportuno compreender a figura do “ditador”, o dictador commteano não se equivale ao déspota ou ao tirano, que governa segundo seus interesses pessoais e muitas vezes usurpando o poder. O Dictador Commteano não usurpa o poder por que na concepção commteana o Poder é legítimo quando exercido para o bem comum e na figura do governante competente, o mais apto a governar, rememora a antiga figura do “dictator” romano nomeado para governar em momentos de críses, é nessas circunstâncias que Vargas irá se reportar a si como “dictator”.

Os positivistas brasileiros, como Benjamin Constant um dos principais difusores da doutrina, desenvolveram uma doutrina que distoava do concebido por Commte, a figura do ditador perpétuo era rejeitada por esses positivistas, carecendo as eleições como fator legitimador para a ocupação do poder, como foi expresso pela Constiuição Castilhista através do instituto da reeleição contínua. A concepção de liberdade desses positivistas, era a que caracterizara as antigas repúblicas de Atenas, Roma e especialmente Esparta. 
Era a liberdade de participar coletivamente do governo, da soberania, era a liberdade de decidir na praça pública os negócios da república. Em contráste, a pseudo-liberdade dos liberais, a que convinha aos novos tempos, era a liberdade do homem privado, a liberdade dos direitos de ir e vir, de propriedade, de opinião, de religião. A pseudo-liberdade dos liberais não exclui o direito de participação política, mas esta se faz agora pela representação e não pelo envolvimento direto como o pregado pelos castilhistas”.

O Sistema Representativo (modelo liberal) foi gestado e parido nos EUA com o fito de privilegiar sua elite financeira, apartando do povo as decisões políticas por meio de representantes. O parlamento é o reduto dessa oligarquia, não por menos, o parlamentarismo é o regime ideal concebido pelos liberais, uma vez que se funda na representação classista, como a eleição desses representantes é determinado pelo poder econômico, majoritariamente o parlamento sempre será um reduto privilegiado da oligarquia sempre a postos para barrar qualquer processo que distoe dos interesses oligárquicos.

Esse modelo de Estado não toca apenas na organização institucional, ele reflete diretamente a política econômica que irá ser seguida. A ocupação do Estado pela oligarquia mediante o parlamento e muitas vezes mesmo o Executivo direcionará as ações do governo no favorecimento daquele setor economicamente dominante. É oque se observa nos embates entre nacionalistas que defendiam um modelo protecionista e industrializante(bancada positivsta) contra os liberais a defender a continuidade da política do Império, permanecendo como uma imensa fazenda da Inglaterra baseados nas teses de Adam Smith.

Esse modelo republicano estadunidense acabou se implantando no Brasil e esse modelo liberal, só terá fim com a Revolução de 30, e o advento da Constituição de 37, que nem se quer teve uma década de vida, sendo estirpada antes mesmo de vigorar quando a oligarquia, agora de par com forças estrangeiras(EUA notadamente), abortaram a Campanha Queremista em que Vargas amoldaria a Constituição de 37 aos tempos de pós-guerra.
De modo que o modelo republicano brasileiro, comprendia um Executivo forte, dando-lhe isenção para governar, concentrando as funções legislativas, em que as leis são elaboradas por órgãos técnicos e isentos, sendo essas leis  submetidas ao crivo popular mediante referendos e plebiscitos, mecanismos de Democracia Direta, ao contrário do modelo republicano estadunidense em que as funções legislativas ficam entregues ao parlamento, tendo ainda o Executivo substanciais limitações em seu exercício pelo parlamento.


Artigos correlatos:



A Política de Floriano Peixoto - Florianismo.








Excelente Artigo de Roberto Moreno Sobre a Vanguarda da Língua Portuguesa no Mundo Latino.

“Nasci na cidade de São Paulo (Brasil) neto de espanhol e italiano, nunca tive dificuldade em compreender estas duas línguas. Cresci sonhando, falando e escrevendo em português do Brasil. Já adulto, percebi que o privilégio de entender o espanhol, também é dos mais de 220 milhões de pessoas que se comunicam em português, situados nas terras mais ricas e estrategicamente localizadas no planeta, e, isto é um facto! Além de, ser o português uma língua de cultura aberta e que dá acesso a outras literaturas e civilizações originais e variadas, nos quatro cantos do mundo.”

> Essa é aliás a grande singularidade da língua portuguesa e a razão essencial pela qual acreditamos na providencialidade de Portugal e da Lusofonia: servir de ponte entre as várias línguas latinas, elas próprias as mais diretas descendentes do Latim, a língua matricial do Ocidente e, ainda mais remotamente das línguas indoeuropeias. Por limitações resultantes do escasso leque fonético disponível no castelhano, e não somente por falta de vontade ou arrogância, a verdade é que um falante do castelhano dificilmente consegue compreender o português, este, contudo, porque tem uma língua mais rica do ponto de visa do uso das vogais, consegue entender facilmente o castelhano. Assim se entende porque um falante do português entende o castelhano e o inverso nem sempre é verdade. Isto quer também dizer que os portugueses conseguirão servir de ponte, cumprir a sua vocação de Quinhentos (Gilberto Gil) e ligar os povos da Lusofonia aos da Latinidade. Esse é o “império da Língua” sonhado por Fernando Pessoa e transposto para o plano político e social por Agostinho da Silva que advogava uma união lusófona, apenas como primeiro passo para uma união mais global que passaria sempre, primeiro, pela reunião de todos os povos de língua latina numa “união latina”, antecâmara primeira para uma união pacífica e total de todos os povos do planeta num único corpo político.

“Foi em 1214 que surgiu o primeiro documento oficial na língua portuguesa, o testamento de D. Afonso II, que até então era o galaico-português, uma solidariedade natural entre duas línguas irmãs. No século XVI, a língua portuguesa começou a se espalhar e enriquecer-se, tomando dos outros povos não só expressões linguísticas novas como também formas de estar e pensar, dando inicio ao multiculturalismo Era o início da Globalização, via Comunicação, e não como é hoje, somente pela via política-económica.”

> A língua portuguesa descende diretamente das formas popular do latim, é assim uma legítima herdeira dos padrões culturais que formataram a mentalidade daquela que foi – nas palavras de Nietzche – a mais perfeita forma de governo jamais concebida pelo Homem… Obviamente, o filósofo alemão referia-se à República romana e aos governos de alguns imperadores, como Augusto, Adriano, Marco Aurélio, Antonino Pio, mas ainda mais ao falso milagre de o império ter sobrevivido a tantos e a tão maus imperadores, permanecendo durante quase mil anos. Uma estrutura política capaz de resistir a uma tremenda extensão geográfica numa época em que o transporte mais rápido era o cavalo e tão resiliente que poderia sobreviver aos ditames absurdos e aleatórios de Nero ou Calígula teria que ser extraordinária, e era-o, efetivamente… Ora sendo a cultura tão interligada e interdependente das matrizes oriundas da língua, o facto puro de falarmos ainda hoje – essencialmente – latim implica que esses romanos de antigamente vivem ainda dentro de nós, falantes do português…

> Portugal nunca deu à Galiza a atenção merecida, apesar de uma tremenda e comovente similitude linguística, cultural e de temperamentos, Portugal partilha com a Galiza o próprio vocábulo original. Partindo da povoação romana, situada na foz do Douro de nome Portus Cale, nasceu quer o termo Cale – Gale + iza, assim como o quase literal Portu(s) + Gal(e), mas também o menos conhecido Cale – Gaia.

Apesar de todos os pontos de semelhança, as vicissitudes da História e da “Real Politik” obrigaram Portugal a sacrificar os seus irmãos galegos a uma relação mais ou menos pacifica com o poder hegemónico que Castela e Madrid exercem ainda hoje sobre a Espanha.

Hoje, é pela proximidade linguística entre Portugal e Espanha que mais depressa se hão de reaproximar essas duas metades da mesma nação, separadas pela Historia, pelos jogos maquiavélicos das estratégias políticas portuguesas e castelhanas e pelo “império padronizador e anti-espiritualista” da União Europeia. A fagulha linguística que une Portugal e a Galiza há de reacender a alma que ambos possuem em comum e potenciar a união daquilo que as circunstâncias separarem. Para tal é preciso manter viva a língua galega, deixá-la resistir às incursões cada vez mais poderosas de Madrid e, sobretudo e porque a grafia de uma língua é a forma material imediata que assumem as almas nacionais, impedir que Madrid (a “Castela” de hoje) prossiga a sua estratégia de impor a grafia do castelhano à língua galega, a fase em que atualmente corre o plano anexador contra a liberdade linguística e cultural galega.

“Como se sabe, entre as línguas românicas, o português e o espanhol são as que mantém maior afinidade entre si. Tidas como irmãs da mesma família linguística, possuem um tronco comum, o latim, e uma história evolutiva paralela, a da popularização diaspórica do idioma latino na península ibérica e de lá para a América, África e Ásia. Entretanto, é bom salientar que é mais fácil para um “lusófono” comunicar-se em “Portunhol” do que para um hispânico comunicar-se em “Hispanês”.”
- um fenómeno por demais evidente a quem quer que viaje em férias até Espanha e que se traduz numa quase total facilidade do português em compreender o castelhano e uma aparente incapacidade do falante da língua de Cervantes em compreender o português, ou, pelo menos, partes daquilo que dizemos e numa percentagem bem superior à correspondência oposta. Geralmente, associamos este desfasamento a um sentimento exacerbado de nacionalismo que impele os castelhanófonos a recusarem-se (intencionalmente) a entenderem aquilo que dizemos. Mas foi Carolina de Michaelis, a insigne filóloga portuguesa do século passado que deitou o dedo na ferida pela primeira vez, expondo o fenómeno que Roberto Moreno aqui enuncia: a incompreensão não advém de um desejo expresso ou consciente, mas de uma maior pobreza fonética do castelhano:

“A razão para este facto é que há algo muito especial na língua portuguesa, o elemento descodificador do espanhol, do italiano e do francês. A nossa língua possui um sistema fonético vocálico de 12 entidades, composto de sete fonemas orais e cinco nasais. O espanhol tem apenas cinco fonemas orais o AEIOU. Eis o porquê de entre as cinco línguas latinas, o português ser o “Ferrari” deste comboio linguístico.

É importante divulgar o quanto se pode ganhar com a aprendizagem da língua portuguesa.

Por exemplo: – Grande promoção da Língua Portuguesa, pague uma, leve duas e meia! – Dado que ganhamos 90% do espanhol e 50% do italiano, e até, uns 20% do francês. É um valor acrescentado que a nossa língua possui e que nunca foi publicitado. Daí a importância de uma aliança entre os países Iberófonos, que tire partido do facto de conseguirem se entender nas suas línguas maternas. Lembrando que, o Brasil equivale a metade da população e território da América Latina, sendo que, neste século, o centro de gravidade do desenvolvimento económico mundial será transferido para a China, Rússia, Índia e Brasil, ao invés da América do Norte e Europa.

Visto que, os países de língua portuguesa e espanhola somam 700 milhões de pessoas em metade do mundo, geograficamente falando, e que não possuem problemas de comunicação entre si, deve-se com urgência, elaborar um plano de marketing estratégico para a língua portuguesa! Diante dos FACTOS já descritos, propõe-se promover a auto-estima pela língua e a cultura nos 30 países que compõem a Comunidade Iberófona através de variadas acções concertadas, por exemplo, nas áreas da Educação, Saúde e Segurança, além de fomentar o português como 2ª língua nos países hispânicos e também nos seguintes países, geo-estratégicos, por acréscimo:


França, onde há cerca de um milhão de “lusófonos”, sendo o português a segunda língua mais falada, alem de que, poderá ser usada como arremesso ao bilinguismo; Itália, pelo facto de entendermos 50% do italiano e por ser o Brasil a maior colónia de italianos do mundo, sendo, após o espanhol, a língua italiana a mais próxima da nossa; EUA, onde há cerca de 50 milhões de Iberófonos e por factores geo-politico, económico e estratégico. A ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas), por exemplo, é inviável sem o Brasil e caso os EUA adoptem o português como 2ª língua, o poder de comunicação de um cidadão Anglo-Iberófono alargar-se-á para 1 bilhão de pessoas. (… é a “Super ALCA”, trabalhando pela via do diálogo na língua do cliente). China, pelo facto de o Mandarim estar restrito ao próprio país e, se cada chinês tiver o português como 2ª língua, serão 2.300.000 milhões de Sino-Anglo-Iberófonos, e ainda pela sua aproximação ao Brasil, que em conjunto com a Rússia e a Índia, representam, no aspecto comercial, científico e geopolítico, a nova «Ordem Mundial»;

Índia, onde há 23 línguas correntes e 1.000 dialectos, a maior industria de audiovisual e informática do mundo. Os Hindi-Sino-Anglo-Iberófonos serão 3.400.000 milhões; Indonésia, por razões semelhantes às referidas para a China e para a Índia, pelo facto de fazer fronteira com Timor-Leste, e pela promoção de uma verdadeira, saudável e frutífera democracia de cultos e religiões, através do DIALOGO que assim se estabeleceria entre o maior país muçulmano do mundo e o mundo católico. Sendo os Sino-Hindi-Anglo-Iberófonos, bilingues, (mantendo a sua língua materna, mais o português como 2ª língua) a comunicação entre os mesmos exclui o monolíngüismo.

Visto que, o “lusófono” é naturalmente bilingue (característica única no mundo) e sendo o português a 2ª língua para os hispânicos, a comunicação entre os mesmos exclui o monolíngüismo. Portanto deveremos promover este “Segredo” guardado desde o ano 1214 em Portugal. É o “Quinto Império”, da espiritualidade e comunicação. É o GEO-Código! (… antes de Da Vinci, ter existido) Outro facto é: no âmbito da política linguistica do Mercosul, os países hispânicos já estão assumindo o português como 2ª língua, visto que o Brasil já oficializou o espanhol como segunda língua, praticando a reciprocidade e fortalecendo a Iberofonia.”

Eis o prenúncio da profecia anunciada por Darcy Ribeiro:
 
Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical. O Brasil é já a maior das nações neolatinas, pela magnitude populacional, e começa a sê-lo também por sua criatividade artística e cultural. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura civilização, para se fazer uma potência econômica, de progresso auto-sustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à conveniência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra.”

domingo, 18 de março de 2012

Política Externa Brasileira por Darc Costa


Esse Blog há muito esta em falta com as teses de Darc Costa, economista, ex-vice presidente do BNDES, parte do conselho do Centro Estratégico da Escola Superior de Guerra, presidente da Câmara de Comércio Brasil - Venezuela cumulado com a presidência da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul, oportunidade em que supriremos com outros vídeos e artigos futuros de sua autoria.

Darc Costa é o principal pensador e o responsável pelas diretrizes da atual política externa brasileira.

Nessa palestra, Darc Costa expõe uma visão geral da estratégia nacional brasileira com ênfase na integração sul-americana. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

BRASILIE REGIO, BRASILIA INFERIOR, BRASILIA AVSTRALIS – Os Nomes do Continente Antártico nos Mapas Antigos.

Um primeiro mapa de 1515, de autoria de Johannes Schöner, astrônomo e geográfo de Nuremberg, registra pela primeira vez a grafia do atual continente “Antártico” como “BRASILIE REGIO”. Posteriormente em 1520, Schöner publica uma atualização do seu mapa grafando o atual continente antártico como: BRASILIA INFERIOR, em referência ao Brasil grafado como BRASILIA.

Em 1531,Oronce Finé publicará um mapa com uma configuração muito similar a atual Antártica, designando como BRASIELIE REGIO uma área mais ocidental do que a assinalada anteriormente por Shöner. Shönner publicará em 1533 uma nova atualização do seu mapa, aparentemente, com base nesse mapa de Finé.

Finalmente em 1533, Schöner, publica seu Geographicum Opusculum uma copilação de mapas e anotações em um livro no qual define oque chama de Brasilia Australis como:  "uma imensa região em direção ao antarcticum recém-descoberto, mas ainda não totalmente conhecido, que se estende até Melacha e um pouco mais além; próximo a esta região encontra-se a grande ilha de Zanzibar".

Essa nomenclatura, em referência ao Brasil,  sugere ter os mapas fontes de origem portuguesa, provavelmente oriundo dos serviços de espionagem contra os segredos marítimos das cartas portuguesas chamadas “portulanos”. Um outro indicativo nesse sentido, observado nesses mapas, é a linha de 0º de Longitude, que passava pela ilha da Madeira, assinalada pelos portugueses como marco de medida das longitudes. Tudo isso, ratifica o conhecimento prévio da Coroa portuguesa na existência de terras ao sul: a Brasilia Australis.
   
    Brasilie Regio:

    Shöner, 1515.

             
             Basilia Inferior:

             Shöner, 1520.


A Descoberta da Antártica pela Coroa Portuguesa:

Território Antártico Brasileiro:

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A Descoberta da Antártica Pela Coroa Portuguesa.

Anotações que aparecem nos mapas do século XVI, mostram que navegadores portugueses teriam sidos os primeiros a chegar na Antártica.
Américo Vespúcio em sua segunda viagem ao Brasil, em 1502, relata ter avistado altas montanhas cobertas de neve além dos 50º graus de latitude sul, oque supõe-se ser a atual ilha “Georgia do Sul”, dando como certo a existência de terras mais ao sul pelos indícios observados como aves e algas. A descoberta foi lavrada em cartório e transcrita por tabelião alemão, colocando sob a coroa portuguesa segundo Tereza de Castro: “os arquipélagos subantárticos, por quase setecentas léguas [....] até a altura do Polo Antártico, a 53º”.

O famoso Mapa do almirante otomando Piri Re'is, de 1513, consta inscrito na altura do estreito de Magalhães: "dos infiéis portugueses" (isso antes da viagem de Magalhães), anota ainda que os dias e as noites tinham 22 horas, revelando que as expedições portuguesas estiveram no círculo polar antártico.
João Afonso, navegador português do início do século XVI, afirma em seu livro Les Voyages Aventureux (As Viagens Aventureiras), ter estado numa região austral na qual o dia durava três meses.  Obviamente isso só poderia ocorrer numa área situada a mais de 70º graus de latitude, portanto, em pleno continente antártico.
João Afonso veio a se desentender com o Rei português Dom Manoel e foi aliciado pela França, em 1528, como fonte de informações dos segredos marítimos de Portugal. Num País(França) que não sabia nada sobre a arte da navegação, o experiente João Afonso foi recebido como uma aquisição preciosa.
Em 1531, foi publicado em Paris um mapa mundi por Oronce Finé, que delineia a Antártica de uma forma incrivelmente próxima da sua atual configuração. Essa carta traz a inscrição: "Terra Austral recentemente descoberta, mas não plenamente conhecida".
“TERRA AVSTRALIS REcenter inventa, fed nondu plene cognita.”
Nesse mesmo mapa a porção leste do continente é denominada “Brasielie Regio” (Região do Brasil).

Atualmente ainda não há como comprovar as ligações entre Finé e Afonso, mas é muito provável que o navegador português seja a fonte das informações utilizadas pelo astrônomo.
Um outro mapa de 1597, desenhada pelo geógrafo João Baptista Lavanha, como outros do período, mostra uma vasta extensão de terra na porção meridional do mundo. Até aí, nada de mais: a existência de um hipotético continente austral era admitida, então, por todos os geógrafos.
 
O que chama a atenção na carta de Lavanha é uma inscrição em latim sobre a praia do tal continente situada bem abaixo da África. Diz ela: "Região dos Papagaios, assim chamada pelos Lusitanos, devido ao incrível tamanho que nela têm as ditas aves". O historiador Luís Thomas, da Universidade Nova de Lisboa, diz serem as tais aves na verdade pingüins. Pingüins Imperadores tem peitos e bicos em tons laranjas e amarelo fortes atigindo 1,20 metro de altura, essas aves coloridas teriam realmente um tamanho incrível comparado a um papagaio.  

Pfitacorum Regio, fit á Lufitanis appellata ob incredibilem earum avium ibidem magnitudinem
Se a inscrição de Lavanha ainda dá margem a alguma controvérsia, o mesmo não pode ser dito de uma outra, que aparece num mapa elaborado por Manuel Godinho de Erédia.






Navegador e cartógrafo de prestígio, Erédia foi criado em Goa, na Índia, e participou da exploração das ilhas da atual Indonésia. Em sua carta, ele registra a data de um pretenso desembarque português na costa antártica: 1606.

E o historiador Luís Thomas menciona ainda outra prova a favor da primazia portuguesa. Trata-se de um esboço desenhado por um certo Alexandre Zorzi. Dele, pouco se sabe: apenas que era veneziano e, anos antes, teria colaborado na produção das cartas náuticas da expedição de Cristóvão Colombo à América. Em seu esboço, Zorzi apresenta o continente antártico com a denominação costumeira de Terra Australis Incognita. E acrescenta: "Vista pelos portugueses, 600 milhas ao  sul do dito Brasil".
O relato de João Afonso em conjunto com os mapas é uma prova definitiva da presença lusitana no que se designou nos mapas antigos como "Brasilia Australis" atual Antártica.



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BRASILIE REGIO, BRASILIA INFERIOR, BRASILIA AVSTRALIS - Os Nomes do Continente Antártico nos Mapas Antigos:
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2012/03/brasilie-regio-brasilia-inferior.html

Território Antártico Brasileiro:
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2009/05/territorio-antartico-brasileiro.html

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Primeiro Governo Nacionalista da Nossa História, Floriano Peixoto (1891-94)


O Governo de Floriano Peixoto, além de consolidar a República, é um marco, por se verificar pela primeira vez em toda História Brasileira, um governo nacionalista, assim entendido como de viés ideológico de beneficiamento consciente e dirigido dos interesses brasileiros.

O projeto republicano idealizado por estes consagrava justamente esse fim, uma instituição (a República) capaz de concretizar os anseios nacionalistas, em contestação a monarquia ligada aos interesses estrangeiros. De modo que ser republicano significava ser nacionalista, ao menos para os republicanos históricos que idealizaram a República Brasileira, como Benjamin Constant, Júlio de Castilhos com quem será aliado e o próprio Floriano Peixoto, abolucionista e republicano desde o curso da monarquia.

Uma das primeiras medidas de Floriano no dia em que assumiu o governo, foi revogar um decreto de Deodoro da Fonseca que arrendava a estrada de ferro Central do Brasil e a incorporação das ações da Companhia da Estrada de Ferro.

O programa de governo de Floriano Peixoto é apresentado formalmente em 12 de maio de 1892, uma explícita política de desenvolvimento nacional (estímulo à indústria, investimento em ferrovias, em educação, etc.), é a afirmação ideológica nacionalista de Floriano, herdeira do progressismo militar da segunda metade do século XIX.

O Governo de Floriano, fará uma política de fornecimento de crédito à indústria e de medidas protecionistas para determinados setores da atividade industrial. No que diz respeito a esta última, o governo, através de uma lei aprovada pelo Congresso em novembro de 1892, eleva em 30% as tarifas alfandegárias sobre produtos têxteis, móveis de luxo e mercadorias de luxo em geral, ao mesmo tempo em que reduz em 30% as tarifas sobre máquinas importadas, implementos agrícolas e gêneros alimentícios básicos; a redução da taxação sobre esses produtos se explica pelo fato de que o Brasil do final do século XIX, um país essencialmente agrário e com uma burguesia industrial incipiente e precária, era carente de um setor produtor de bens de capital., oque faria com que a indústria nacional saísse prejudicada de uma política de protecionismo generalizado, que encareceria, por exemplo, a maquinaria estrangeira da qual aquela necessitaria para seu maior desenvolvimento. 

Quanto a política de fornecimento de crédito, ela se fará através dos bancos, aos quais caberá repassar o dinheiro fornecido pelo governo, à indústria. Embora, à primeira vista, esta política possa parecer um retorno ao emissionismo de Rui Barbosa e do Barão de Lucena, no fundo ela é radicalmente diferente. Em primeiro lugar porque sua finalidade é desenvolver a industria nacional, enquanto que no período de Deodoro oque encontrávamos era uma política de indenização aos antigos proprietários de escravos e de aumento do meio circulante visando beneficiar a burguesia bancária do Rio de Janeiro. Por outro lado, enquanto que no Período Deodoro o poder de emissão era ilimitado e sem nenhum controle, com Floriano e Serpzerdelo, seu ministro, ele passa a ser controlado pelo Estado: além de exigir, por parte dos bancos encarregados de repassar dinheiro, títulos que garantissem os adiantamentos, Floriano decretará, em 17 de dezembro de 1982, a fusão do Banco do Brasil e do Banco da República num novo Banco da República do Brasil, o único com o privilégio de emitir dinheiro e que, embora permanecendo privado, terá seu presidente, seu vice-presidente e um de seus diretores nomeados pelo governo(que ainda terá o poder de veto sobre todas as suas decisões e que exigirá que dois terços dos industriais beneficiados por essa política de fornecimento de crédito tenham suas fábricas fora da Capital Federal). Depois da política de emissionismo desenfreado de Rui Barbosa e Lucena e do liberalismo ortodoxo de Rodrigues Alves, passamos a um dirigismo econômico (ainda que bem longe do dirigismo econômico do período do Estado Novo) visando o desenvolvimento da indústria nacional. Quanto à alta finança européia, ela já teria demonstrado insatisfação para com a nova orientação econômica, como nos faz supor  o telegrama, exposto pelo Jornal do comércio, dos Rothschild (os mesmos que viram com bons olhos a derrubada de Deodoro) ao Ministro da Fazenda, no qual alertavam para os efeitos maléficos da emissão de apólice para auxiliar às indústrias brasileiras.

Por tudo isso, Getúlio Vargas que nutria grande admiração por Floriano, desde que promovera seu pai a General honorário por sua destacada atuação na guerra contra os reacionários maragatos. Como Presidente ergueu monumento à Floriano Peixoto no Rio de Janeiro, quando fez publicar seus arquivos em resgate a sua memória.



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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Não Permitiremos um Novo Japão ao Sul do Equador".

A frase é de Henry Kissinger, Secretário de Estado estadunidense ininterruptamente de 1953 a 1977, quando articulou e derrubou as principais democracias latino-americanas.

Kissinger se referia ao Japão anterior a II Guerra, da éra Meiji, nacionalista, que tornou o Japão uma potência.

Findo a II Guerra, o mundo foi dividido entre as potências vencedoras. Os EUA ficou com sua área de influência sobre as Américas, a Europa com a África, a então URSS com uma área que compreendia o leste europeu passando por parte do médio oriente até o índico.

Com essa divisão do mundo, essas potências pactuaram não intervir nas respectivas áreas de influência das outras. Observe que após a II Guerra a URSS não fomentou nenhum levante comunista nas américas. A revolução cubana foi um movimento interno, sem qualquer auxílio externo. Bem como a instauração dos Estados comunistas de Mozambique e Angola, em que não houve intervenção soviética em suas respectivas formações. Assim como os EUA não interviram no Afeganistão por estar sobre a área de influência soviética (só o fazendo, após a "crise dos mísseis" com Cuba, ainda sim de forma indireta). A guerra na península coreana foi um prolongamento da II Guerra mundial por esta na zona limítrofe assim como o Vietnam.

De modo que a alegada “ameaça comunista” quando do Golpe de 64 é uma falácia. Ainda sobre Cuba, o Presidente estadunidense John Kennedy assumiu publicamente terem sido eles que empurraram Cuba para a URSS, quando a revolução cubana ainda não era comunista, uma crítica a condução da política externa conduzida por Kissinger. A intransigência ianque levou a radicalização do movimento dos cubanos. A “crise dos mísseis” foi algo tão sério, justamente porque quebrava esse pacto de não intervenção nas áreas de influência dos outros. E o caso se resolveu pelo restabelecimento do status quo anterior.
John Kennedy e João Goulart
 



A política externa de John Kennedy primava pelo princípio da não intervenção. Essa postura contrariava a orientação traçada por Kissinger, que já tinha nas suas costas derrubado Vargas e Perón. Kennedy tornou-se uma pedra no sapato na política externa estadunidense contrariando o cartel armamentista com as promessas de por fim a guerra do Vietnam e frustrando os planos de conquistar o Brasil via um governo marionete subalterno aos interesses ianques.

O desdobramento disso, todos conhecemos, Kennedy foi assassinado e Goulart deposto.

Voltemos ainda no tempo.... apesar do trágico desfecho (especialmente para nós brasileiros), Getúlio frustrou os planos estadunidenses de dominar o Brasil durante os 10 anos que se seguiram de 54 a 64.

A deposição de Vargas em 45, a tentativa de impedir sua posse em 51, a “novembrada” em 55 contra Jucelino, a tentativa de golpe em 62, para em fim a deposição de Goulart em 64. Revela a ação sistemática de um mesmo grupo na consecução da tomada do País, todas elas orquestradas e subvencionadas pelos EUA.

Castelo Branco, o principal artífice do golpe, era amigo pessoal de Vernon Valters, adido militar estadunidense no Brasil, com o qual cooperou na operação Brother Sam, na articulação do golpe chegando a convencionar a:
 “entrega clandestina de armas de origem não-americana(para impedir identificação e evitar acusações de intervencionismo) a serem repassada aos cúmplices de Castelo Branco em São Paulo. Bem como “a operação de um porta-aviões, um porta helicópteros, um posto de comando aerotransportado, seis contratorpedeiros (dois equipados com mísseis teleguiados), carregados com 100 toneladas de armas (inclusive um gás lacrimogêneo para controle de multidões, chamado CS agent) e quatro navios-petroleiros que traziam combustível para eventual boicote das forças legalistas”. 

Os arquivos de Estado dos EUA demonstram em detalhes a intervenção dos EUA no Brasil via aliciamento da cúpula das forças armadas.

Em um 1º de abril, nosso País voltou ao status de colônia, agora não mais de Portugal, mas, dos EUA. E as palvras de Kissinger revelam com clareza que o golpe de 64, não se destinava ao combate ao comunismo, mas sim a de castrar as esperanças nacionalistas brasileiras de uma Pátria próspera e desenvolvida.


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