Ao estudarmos a Semana de Arte Moderna de 22, vemos a subdivisão que dela adveio entre o movimento Pau-Brasil que se desdobrou no movimento antropofágico, e o verde-amarelismo, esse pintado como "fascista", oque é uma deslavrada mentira. Dos três fundadores: Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, apenas Plínio seguiu a vertente fascista, e mesmo quando participava, ainda não havia aderido, enquanto Menotti aderiu, posteriormente, ao Trabalhismo. Logo, é completamente sem fundamento tal alcunha.
De toda sorte, o verde-amarelismo tomou dois rumos a nível político: o Integralismo e o Bandeirismo. O Integralismo com Plínio Salgado e seu movimento homônimo, e o Bandeirismo com Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo, dentre outros, de apoio ao modelo político de Getúlio Vargas, o Trabalhismo. O silêncio sobre o Bandeirismo é sepucral na literatura, oque só se explica por ranço ideológico presente na oligarquia paulista, em redutos como a USP, que mais do que silenciar disseminam para o restante do país, mentiras sobre o período.
O Movimento Bandeira, foi organizado entre 1935-37 por dois dos
principais poetas verde-amarelos: Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo. Tendo como principal meio
de difusão o jornal Anhangüera. O movimento
bandeirista parte da idéia alegórica, expressa no poema Martin Cererê de
Cassiano Ricardo, que narra a origem mítica da Nação por intermédio de uma
“criança travessa” que deve ser orientada e disciplinada.
No que se refere a polêmica entre
os movimentos políticos oriundos do verdeamarelismo, tanto o Integralismo como o Movimento Bandeira, se colocavam
como defensores da unidade, pelo nacionalismo
e contra influências estrangeiras.
O Movimento Bandeira não se
colocava simplesmente como terceira via, mas como uma quarta via frente ao
Comunismo, Integralismo e à Oligarquia Liberal. De modo que o Movimento Bandeira se apresentava como uma “novidade original”.
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Movimentos derivados da Semana de Arte Moderna de 1922 |
A Academia Verde-amarela
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Menotti del Picchia |
O início oficial do Verdeamarelo
se deu em 25 de julho de 1926, com a publicação de um artigo de Hélios (pseudônimo
de Menotti del Picchia) no Correio Paulistano em que esse anunciava a criação
da “Academia Verde e Amarela”, formada por ele, Plínio Salgado e Cassiano Ricardo.
A coletânea O Curupira e o Carão
publicada em 1927, publicações de autoria coletiva dos três: Menotti del
Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado. A tríade verde-amarela afirmava que
alguns desacordos não deveriam refletir na constituição do grupo, uma vez que o
importante era criar um pensamento, uma arte e uma política genuinamente
brasileira. Segundo esses escritores, o verde-amarelismo estava pautado na
liberdade de cada um procurar o Brasil como quisesse.
Um traço essencial do
verde-amarelismo era o anti-academicismo. O próprio nome “Academia Verde e
Amarela” era uma sátira à Academia Brasileira de Letras e suas congêneres, com
suas regras sobre como escrever uma boa literatura, estatutos e a glorificação
de literatos passadistas, significando, enfim, o encarceramento da literatura
em instituição.
Contra isso, o autor sugeria
liberdade de criação e exaltação das características essenciais do Brasil. O
objetivo principal do grupo era o “descobrimento do Brasil”. Descobrimento de
toda uma riqueza cultural escondida pelo formalismo da literatura passadista e
também pela interpretação errônea dada por outros grupos modernistas
contemporâneos, dentre eles o da revista Terra
Roxa. Dizia Hélios: “nós, filhos da terra, cantaremos suas plantas, seus
animais, seus caboclos e seus heróis, com a língua nativa a que daremos nosso
devotamento e nosso amor”.
A Escola da Anta e a Polêmica entre a Anta e a Loba.
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Menotti e Cassiano contemplavam que a cultura brasileira, alegoricamente, advinha da Loba. Alusão a cultura latina, romana. Plínio Salgado reclamava uma suposta herança indígena, simbolizado pela anta. |
A polêmica entre a anta, a loba e
outros símbolos sugeridos, como o manitôs e o caracu, se estendeu
aproximadamente por um mês no Correio Paulistano. No final das contas, os
demais membros do grupo aderiram à causa – embora, com ressalvas – e,
finalmente, elegeu-se a Anta como o símbolo da campanha verde-amarela. A eleição
do símbolo acabou por determinar qual seria a linha de pensamento assumida pelo
grupo a partir de então.
Menotti defendia metaforicamente,
que a herança cultural brasileira provinha da loba “nas colinas do Capitólio”
por intermédio dos portugueses. Ainda que reconhece-se o simbolismo racial do indígena
como fator assimilatório, atribuia ao
meio ambiente, a terra, a verdadeira força de integração étnica. Plínio Salgado
defendia a origem tupi:
“Nós não bebemos leite da Loba, mas
sugamos o leite da Anta – totem racial brasileiro – na seiva americana! Não
viemos da colina de Capitólio, mas dos planaltos bolivianos enamorados dos
Ibiturunas.”
Plínio tentava sustentar que a herança
tupi estava presente pela herança cultural e mesmo biológica constitutiva do
brasileiro, e assim, justificar a Anta como totem.
Menotti concordava quanto a Anta como símbolo integrador de uma raça
futura, contudo ainda rejeitando a raça indígena como sua delineadora.
Já Cassiano Ricardo admitia, em
parte, a influência do índio, mas de forma passiva, sem maior contribuição
cultural:
“Eu poderia dizer, em resumo: o
indígena influiu justamente por isso. Por essa incultura que o fez pacífico e
acolhedor, desconhecendo ódios de raça e preconceitos de inteligência – coisas
que tanto separam os homens. E não precisava dizer mais nada. Limitar o índio a
uma figura decorativa é evidente.”
A posição de Plínio Salgado, preponderou,
dando ao índio tupi a personalidade constitutiva. O resultado da polêmica foi
resumido meses depois de anunciado o fim do grupo, no artigo O atual momento literário, chamado de Manifesto Nhengaçu. Contudo como
registra Cuccagna, a adesão dos demais, se deveu mais a conveniência do que por
convencimento:
“Se, por exemplo, dois signatários do
manifesto como Menotti del Picchia e Cândido Motta Filho aderiram à Anta, foi
mais pelo interesse em defender objetivos sociopolíticos e culturais comuns,
valorizados na luta para o prestígio e a supremacia sobre os da Antropofagia,
do que pelo endosso sincero à concepção de um Brasil formado e a se formar pela
ação de forças étnico-culturais tupis, que eles, conforme haviam motivado na
polêmica de 1927, rechaçavam com decisão. Apenas Cassiano Ricardo, dos quatro
autores que auxiliaram Plínio Salgado na composição do manifesto (além dos
citados, o outro foi Alfredo Ellis Júnior) foi quem realmente abraçou boa parte
das ideias indianistas da Anta e as divulgou (...) no primeiro Martim Cererê,
de 1928”. In: CUCCAGNA, C.. Op. cit.. p. 213.
No final de 1927, o grupo declarou seu fim. Quem
primeiramente expressou a decisão foi Menotti, que considerava acabada a
tarefa. Segundo ele, as preocupações, inicialmente focadas em questões
estéticas, alargaram-se, principalmente após o exame de obras
tradicionais como as de Alberto Torres e de Tavares Bastos. Tomava-se
consciência da realidade brasileira, o que contribuía para:
“(...) a formação de uma vasta
consciência nacionalista, autônoma, pessoal, de características tão próprias,
capazes de dar uma fisionomia típica aos nossos processos de vida e de
trabalho, à nossa estrutura político-jurídica, às nossas tendências, à nossa
língua, a tudo, enfim, que caracteriza este formidável acampamento humano, que
vitoriosamente realiza a maior experimentação democrática sob os trópicos, na
acertada observação de um escritor ilustre.
Alguns dias mais tarde, Plínio
Salgado escreveu artigo intitulado: Matemos o verdeamarelismo, em que concordava
com a dissolução. Justificava a leitura de pensadores políticos como Alberto
Torres, Tavares Bastos, Euclides da Cunha, Farias Brito e Oliveira Viana, na
medida em que ajudavam a pensar no “problema social brasileiro”, para com os
quais outros grupos modernistas eram indiferentes.
Os verdeamarelos sentiram a
necessidade de fundir, num só corpo, “a arte e o senso econômico-social, de
sorte a [construir] um Brasil absolutamente novo”. Por seu turno, “uma
filosofia, genuinamente brasileira, ou sulamericana, se poderia aparecer quando
consolidada a unidade étnica e estabilizada a situação econômica”.
Salgado não concordava com
Menotti, entretanto, quando o companheiro dizia que a missão estava finda. Ao
contrário, acreditava que havia muito a fazer para atingir o objetivo de dar ao
Brasil uma consciência social. “Entretanto, não devemos mais caminhar juntos.
Separemos as nossas atuações. Com a mesma finalidade, lutamos conservando as
nossas personalidades. Com responsabilidade própria. Pela imprensa do país,
pelo livro, pela palavra.” Dizia o autor:
“Separemo-nos, para agirmos melhor. O
rótulo de verdeamarelo estava já se tornando insuportável. Todas as nossas
atitudes e gestos, as nossas obras literárias, a nossa atuação social era
formada segundo regras e fórmulas de tal grupo. Éramos os verdeamarelos. A
nossa combinação libérrima estava, de tempos para cá assumindo um caráter de
intolerância literária e doutrinária. E estando nós num regime de procura, as
realizações transitórias que íamos efetivando já vinham (sic) tomadas como
modelos. Acabaríamos tornando-nos acadêmicos. Teríamos os nossos preconceitos.
E, afinal, o verdeamarelismo terminaria por formar corpo de doutrina,
assimilando-nos, sem que o percebêssemos. Matemos o verdeamarelismo. Era mais
um ismo. Não queremos mais ismos. Queremos, agora, entrar num período fecundo
de arte, com um alto sentido social.”
Somente após alguns meses depois
de encerradas as atividades, em 17 de maio de 1929, Menotti, Plínio, Cassiano,
Alfredo Elis, e Cândido Mota Filho lançaram um texto no Correio intitulado O
atual momento literário, por ocasião do ingresso dos quatro primeiros na Academia
Paulista de Letras, oque foi motivo de deboche por parte dos antropofagistas, ante a incongruência de se dizerem anti-acadêmicos e contraditoriamente ingressarem na Academia. O texto procurava ser uma explicação da orientação do grupo
“na obra de renovação intelectual brasileira” e, mais tarde, ficaria conhecido
como Manifesto Nhengaçu Verdeamarelo.
Em sua escrita memorialista,
Cassiano Ricardo afirma que a diferença entre o verde-amarelismo e a Escola da
Anta, é que este último era inspirado pelas obras de Alberto Torres, Barbosa
Rodrigues, Couto de Magalhães, Roquete-Pinto e Alarico Silveira.
Cassiano Ricardo relata que defendia que ele
e Plínio Salgado “deveriam se entender” sobre o Integralismo. Cassiano Ricardo convidou Plínio para dialogar sobre
“o partido que ele iria fundar”, nesta conversa, lembrou que, se eles haviam combatido os “ismos” literários de importação na
década de 1920, então “por que [deveriam] importar” um “outro ‘ismo’ mais grave
porque político-ideológico”. Na ocasião, o poeta defendeu a opinião de que o
grupo deveria se chamar Bandeirismo ou “qualquer outro ‘ismo’ histórico”
brasileiro. Imbuído da subjetividade e veracidade pertencente a escrita
memorialista, Cassiano Ricardo afirma que Plínio prometeu “estudar melhor o
problema”, mas dias depois, o poeta viu um “grupo integralista em formação
paramilitar, com seus ‘anauês!’ e
sinais do sigma”. Esses relatos memorialistas expõem o ressentimento de
Cassiano Ricardo frente a recusa de Plínio Salgado em rever seu interesse em
fundar o Integralismo sob signos contrários a estética defendida pelo poeta.
Anos posteriores a fundação da
AIB, Cassiano Ricardo expõe sua não adesão ao Integralismo em seu ensaio O Brasil no original (1937, p. 136) –
livro propaganda do Movimento Bandeira – o ensaísta afirma que não sabe:
por que cargas
d’água o encarregado de redigir esse […] documento revolucionário de 32 foi
Plínio Salgado. Só sei que convidado a escrevê-lo, o atual chefe do
Integralismo cometeu a maior perfídia que um homem de inteligência poderia
cometer: deu feição política às ideias literárias que o “Correio” […] vinha
publicando desde 1922.
Tanto Menotti quanto Plínio eram descrentes do liberalismo, mas Plínio, explica Menotti: “já pendia para a direita e eu para o ideal trabalhista”. Menotti ainda lembra
que, por não concordar com sua orientação, ele juntamente com Candido Motta
Filho, Cassiano Ricardo, Alfredo Ellis Jr. e outros, separaram-se do líder
integralista e organizaram o movimento da “Bandeira”, pela a adoção por parte do Integralismo das influências estrangeiras.
Cassiano Ricardo explica que inicialmente o
movimento modernista foi dividido em dois grupos, os quais poderiam explicar “a
superfetação da esquerda e da direita”: o Integralista e o Bandeirismo. Embora tendo origem no mesmo
movimento literário (verde-amarelismo), Cassiano Ricardo afirmava que as diferenças eram radicais:
1. a oposição ao “caráter internacionalista” da AIB, pois a
“Bandeira” é nacionalista; 2. a AIB é “contra a liberdade individual” e a
Bandeira é “pela valorização do indivíduo como ser social”; 3. a AIB é
contrária à “autonomia dos Estados” e a “Bandeira é federalista”; 4. a AIB é
pelo racismo, já a Bandeira é pela valorização das contribuições de cada raça;
e 5. a AIB é “um partido político” enquanto a Bandeira é um movimento cultural.
Ressalva que na comparação entre o
“chefe da Bandeira” e “o chefe fascista”; o primeiro “dispensa o copiado
figurino romano”. Por essas razões, Cassiano afirmava que tal “fascismo redundaria num artifício, numa caricatura. Seria uma imitação desajustada e grosseira”. Por essas
razões, advertia que os brasileiros deveriam refletir:
"Hoje, como quando o sertão era um jogo livre de forças descêntricas […] o mundo apresenta o mesmo espetáculo alarmante e agressivo. Retornar ao espírito das “bandeiras” é a única forma de recompor, dentro da disciplina e da força do comando, as energias que se anulam, se combatem e se dispersam. Não é preciso procurar fora de nossa Pátria, no exotismo de fórmulas políticas de enxerto a estrutura espiritual de nosso grupo humano, uma vez que nossa própria história contém o esquema seguro e instintivo das normas sociais que criaram uma nacionalidade."
Prevenindo contra o comunismo, os
redatores anhangüeras perguntavam: a “Bandeira é Comunista?”. A resposta é
categórica: “Não […] porque é pela Pátria, pela religião e pela família”
(ANHANGUERA, 1937, 29 de junho, ano 1, n. 3, p. 3). Os bandeiristas
questionavam: “se a Bandeira é por Deus, pela Pátria e pela família, será acaso
fascista?”. A resposta também é direta: “Não”, pois se o Fascismo era “uma
solução nacional italiana […] não podia ser uma solução brasileira”.
Menotti del Picchia (1936, p. 9), considera que a
tríade “Deus, Pátria e Família” era fundamento da civilização cristã, sendo o
Brasil criado sob esse signo; a Bandeira defendia esses princípios. Completando
o argumento de Picchia, Cassiano Ricardo afirma que mesmo tendo como ponto de
encontro a tríade “Deus, Pátria e Família”, existia vários pontos de desacordo
entre a AIB e o Movimento Bandeira.
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Menotti del Picchia, Monteiro Lobato e Cassiano ricardo, principais expoentes do Movimento Bandeira. |
Sobre
a posição dos “novos bandeirantes” entre a tensão capital e o
trabalho. Os bandeiristas argumentavam que o comunismo russo não abolira o capital, apenas transferiram para o Estado e aboliram as iniciativas privadas. Também
questionavam o conceito de “ditadura do proletariado”, uma vez que, segundo
eles, no Brasil não existia um “proletariado”. Segundo os bandeiristas, para
justificar sua “sangrenta doutrina no Brasil”, os comunistas repetiam como
“papagaios, as fórmulas de sua mística”, inventando que entre nós também existe
o “camponês”. O que temos, de acordo com os “novos Bandeirantes”, são
“trabalhadores, cheios de tarefa [...] dispostos a mandar às favas todos os
Lenines, Prestes, Trotzkis, Bergers e Stalins”.
De acordo com a posição dos
bandeiristas, o “paraíso terreal revelado pelo Integralismo ao operariado corre
parelhas com o céu rasgado pela demagogia bolchevista” (ANHANGUERA, 1937, 9 de
agosto, n. 37, ano 1, p. 3). E concluíam: “parece
que foi um comunista escarlate quem concebeu a doutrina” e, “apesar dos
disfarces”, é “apenas uma denominação nova à sovietização”. Os
bandeiristas perguntavam o que seria do “operariado, sem direito de pensar,
desarmado, fiscalizado pelos capatazes do sigma, obrigados a bradar trinta
‘anauês’ por dia” e, ao menor protesto, ser atirado “nas algemas do inferno
disciplinador”
No que se refere à solução da tensão entre trabalho e o capital defendida pela AIB, os “novos bandeirantes” afirmavam que somente havia “promessa e divagação” e que os integralistas pretendiam transformar o Brasil em um “Estado policial […] senhor da produção e ordenador absoluto da atividade obreira”.
Os
“novos bandeirantes” defendiam “que o trabalho e o capital” eram duas forças
que precisavam ser harmonizadas. Para eles, o capital tinha “seu complemento no
trabalho”, daí a necessidade de se criarem leis trabalhistas que harmonizem “os
interesses do empregador com os dos empregados”, de forma que o Estado
protegesse as “classes menos favorecidas sem atentar os interesses das classes
capitalistas”. A respeito
dessa posição, os “novos bandeirantes” acusam o Comunismo de destruir a
autoridade e o Integralismo por ser irracional frente à autoridade. Os
bandeiristas afirmam que, para que se justificasse a aplicação do Comunismo ou
do Integralismo no Brasil, era preciso ter os mesmos problemas da Rússia,
Alemanha ou Itália. Além da ausência de características para suas implantações,
os “novos bandeirantes” também criticavam o imperialismo russo, italiano e
alemão na Europa.
Em seu ensaio O Brasil no original, Cassiano Ricardo alerta que em razão das eleições marcadas para 1938, os
integralistas vinham falando de democracia. E por isso, defende que até nisso a AIB faz “pensar no Fascismo e no hitlerismo que, de vez
em quando, também se dizem adeptos da democracia”. Segundo os bandeiristas,
essa era outra incoerência dos integralistas, uma vez que eles se colocavam
“contra o voto, mas votavam. Eram contra os partidos, mas eram um
partido. Eram contra a democracia, mas só existiam por favor da democracia”. Paralelamente a afirmação de que os integralistas se
pareciam com o Fascismo europeu ao se aproveitarem da democracia, os
bandeiristas afirmavam que o grupo de Plínio Salgado eram uma cópia. De acordo com os bandeiristas, são
copiadas as camisas, o “sigma, que é um disfarce da cruz suástica”, e o “gesto
romano, que nunca foi nosso”. Para os “novos bandeirantes”, o “Chefe
verde” é o “maior plagiador” de estrangeirismos, sendo o Estado Integralista
uma “transposição ipisis literis do Estado totalitário corporativo fascista”. Segundo eles, a AIB copia “a
doutrina, a organização, a técnica, o ritual”, até a “maneira de falar do seu
chefe”.
A respeito do “fenômeno nacional”, Cassiano
Ricardo propõe que não “se trata de uma democracia que só funcione em razão dos
partidos”, do direito ao voto concedido pelos “direitos políticos” ou da
confusão que “Fascismo e Comunismo praticam para iludir massas”.
Ressalta, ainda, que, frente a essas confusões, “o conceito de democracia” não
“pode sofrer deturpação” e que, para não haver deturpação, o Bandeirismo seria
o movimento que organizaria a democracia, “modernizando-a, limpando-a da
politicagem” (RICARDO, 1937, p. 227-228).
Frente a um regime que funcione em razão dos partidos, do direito ao
voto e das confusões das “duas pragas”, Cassiano Ricardo propõe uma “forma de
governo” que melhor “assegure a sua existência” (RICARDO, 1937, p. 228). Para
os “novos bandeirantes”, a única forma capaz de recuperar a originalidade
nacional é a Democracia Social Nacionalista. No artigo “Os três caminhos”,
escrito para o jornal Anhanguera – e como de costume, sem autor declarado –, os
bandeiristas defendem o ideal “nem bolchevismo, nem Fascismo”, nem “Democracia
Liberal”, mas a “Democracia Social Brasileira” (ANHANGUERA, 1937, 4 de agosto,
ano 1, n. 33, p. 3).