quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A Imigração Francesa Para o Brasil


A imigração francesa é completamente ignorada pelos dados estatísticos do IBGE, dentre outros, bem como na literatura sobre o tema. Talvez, por falta de dados oficiais. Embora existam e encontrem-se dispersos. Algumas estimativas apontam a vinda de 250 a 300 mil imigrantes franceses para o Brasil, oque a colocaria entre as cinco maiores correntes imigratória para o País. Contudo, dados mais conservadores e lastreados em registros mais fidedignos, sugerem entre 100 a 150 mil franceses. Ainda sim, é um número expressivo que coloca a imigração francesa logo em seguida as cinco maiores. Embora, não figure dentre as maiores, concorre, com a portuguesa e alemã, entre as mais antigas. E a exemplo da portuguesa, embora, diminuta, se revela constante, ante outras que cessam, e também, como a portuguesa, embora tenha uma maior concentração em determinados centros, Rio de Janeiro e São Paulo, notadamente, se faz presente em todo o País. 


A Presença Francesa no Período Colonial:

A presença francesa no Brasil concorre com a portuguesa, dentre as mais importantes na sua formação. O brasileiro é fruto do concubio entre pai português e mãe franco-brasileira, e não propriamente índia, como passou para história. Catharina (Paraguaçu) matriarca dos brasileiros é talvez a expressão maior desse entrelaçamento, filha de uma francesa que se casa com um português Diogo Alvares (o caramuru) dando origem a um dos principais troncos formadores da nação brasileira. Esse processo se operou em todo o Brasil, e os casamentos, entre portugueses e mulheres "indigenas" quase que imediato a conquista de tribos inimigas até então aliadas aos franceses, evidenciam de maneira muito clara a preferencia de portugueses solteiros por essas mamelucas franco-brasileiras. Essa presença francesa no Brasil se extende durante todo o primeiro século de formação. 

Com as invasões holandesas, estima-se que os franceses compunham 7% das forças da Companhia das Índias Ocidentais, oriundos da região da Picardia (fronteira com a Bélgica) notadamente. E muitos desses, católicos, desertaram, e passaram para o lado dos brasileiros, algo entre quinhentos a mil homens, resultando entre 70 a 140 mil descendentes desses, na atualidade, no nordeste do Brasil.

Nos séculos seguintes, até início do XIX, ainda se registra a presença de franceses, sob a forma de clérigos, comerciantes e por vezes como corsários. 

Em 1704, dar-se conta de franceses casados com filhas dos principais da terra em ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foi um francês,  Ambrozio Jauffret, de Marselha, radicado em São Paulo durante 30 anos, aonde casou e teve filhos, que prestou informações ao corsário René Duguay-Trouin para o saquear a cidade do Rio de Janeiro em 1711.

Ao longo do século XVIII, com a descoberta das minas, registra-se a vinda de franceses empenhados no ramo mineralogico, ouriversaria, e joaleiria, não somente em Minas Gerais, como em outras regiões que potencialmente vislumbravam essa possibilidade. Caso de: Jean Fontaneilles, que se estabeleceu em Viçosa do Ceará em 1724, mineralogista a serviço da coroa portuguesa, e que deixou larga descendencia; Louis-Claude de Saunier, que se estabeleceu em Paraty, e posteriomente na cidade do Rio de Janeiro (1740); Louis-François Rifflard, comerciante de escravos, diamantes e ouro, se estabelecendo no Rio de Janeiro, Paraty e posteriormente Ouro Preto-MG (1740); Pierre Lecomte, estabelecido em Salvador, Bahia, em 1760, aonde casou e teve filhos; Jean-Pierre Barral, imigrante em Florianópolis-SC, em 1789, casou com Maria Joaquina de Oliveira e Silva, natural da região; dentre outros..... é nesse bojo, embora, já inicio do século XIX, que advem, pelo lado paterno, os avós de Santos Dumont, o parisiense François Dumont, junto com sua esposa, D.ª Eufrásia François Honnorée Dumont, filha de rico ourives de Bordeaux, na primeira metade do século XIX, e se estabelecem em Diamantina, com negócios de mineração de ouro e lavra de diamantes. Na mesma época, outras famílias francesas se estabeleceram em Minas Gerais.


A imigração francesa pós Brasil Independente:

Finda as Guerras Napoleônicas, com a paz de 1815, numerosos franceses começaram a vir para o Brasil, atraídos pela corte portuguesa no Rio de Janeiro, com alguns se dirigido para a Bahia e Pernambuco.

O contra-almirante francês Julien de la gravière, a bordo do navio Le Colosse no Rio de Janeiro, registrou, em 8 de setembro de 1820, que se encontravam somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses, e que eram frequentes a chegadas de mais, que aumentavam sensivelmente esse número: " [...] nous comptons actuellement environ 3 000 Français rien qu'à Rio de Janeiro et les arrivées fréquentes augmentent considérablement ce nombre".

Na década de 30 do Séc. XIX, ocorre uma intensa imigração de franceses da região da Gasconia, uma região pobre e agrícola, no sudoeste da França, para a América do Sul, especialmente Uruguai e Argentina, tendo uma pequena parte desse contingente aportado no Brasil. Além da pobreza, e falta de terras agrícolas, especialmente, entre os bascos, ante o terreno montanhoso e íngrime dos Pirineus, vigia na época uma política anti-católica pelos liberais, perseguições políticas, oque impeliu muitos bascos do lado francês a imigração. 

No Rio de Janeiro no ano de 1834 contava-se a presença de 3.800 franceses. Constituindo na segunda maior comunidade estrangeira no Rio de Janeiro. Entre 1837-42 estima-se que tenham imigrado para o Brasil 25 mil franceses. A guisa de comparação para a Argentina, nesse mesmo período, 29 mil, e para o Uruguai 10 mil. Ao final desse ciclo, décadas mais tarde, esse contingente totalizará 239 mil imigrantes da França (maioria bascos) para a Argentina. Para a América do Norte esse contingente foi ainda maior, 480 mil. Houve na década de 40 do Séc. XIX um grande fluxo imigratório de franceses para os EUA, atraidos pela descoberta do ouro californiano. Quando esse ciclo finda em 1851, esse fluxo é direcionado para as grandes capitais da América do Sul, especialmente Buenos Aires, Montevideo e Rio de Janeiro. Daí pode-se mais uma vez mensurar o quão infíma foram os contingentes imigratórios para o Brasil. 

Doravante, gascões representarão o principal contingente imigratório francês, conjuntamente com bascos do lado francês, posto imigrarem via porto de Bordeaux e Bayonne. Mais das vezes um gascão será tomado por basco e vice-versa. Na Argentina e Uruguai, muitos imigrantes bascos advem desse período, pelo lado francês. Nesse bojo, concorrerá também uma minoria de outras regiões, muitos desses, profissionalmente bastante qualificados: engenheiros e profissionais autononomos. 

A Missão Artistica Francesa (1816)

A chegada da corte joanina no Brasil, fujidos das tropas napoleônicas, paradoxalmente, trouxe consigo uma enorme influência francesa, antes inexistente no Brasil. A guisa de exemplo, a corte adotava em seus protocolos palacianos, a língua francesa. Oque só foi parcialmente extinto pela Imperatriz D.ª Leopoldina, que fez adotar o português. Oque explica a posterior francofilia de D. Pedro II. A lembrar que a segunda esposa de D. Pedro I, a Imperatriz D.ª Amélia, madrasta do pequeno D. Pedro II, era francesa, sobrinha de Napoleão Bonaparte. 

A Missão Artistica francesa ganha destaque nesse contexto. Foi o ministro D. Antônio de Araújo de Azevedo, o conde da Barca, diplomata português e profundo admirador dos ideais franceses, quem teve a iniciativa de chamar um grupo de artistas e intelectuais diretamente da França (1816). Composta por artistas plásticos, arquitetos, músicos, carpinteiros, serralheiros, chefiada por Joachim Lebreton, com objetivo de instalar o ensino das artes e ofícios no Brasil através da construção da Academia de Belas Artes. 

A vinda desses franceses mais do que uma “missão”, constituiu uma colônia de refugiados. Compostos, em sua maioria, por partidários da frustrada restauração dos Bourbons, de ideais absolutistas e conservadores.

Em 12 de agosto de 1816, via decreto, foi criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Sendo designado o arquiteto Victor Grandjean Montigny para construção do prédio da Academia das Belas-Artes, logo paralisada em 1817, ante o falecimento do conde da Barca. E só inaugurada em novembro de 1826. Ante esse fato, os franceses foram transformados em funcionários públicos e pouco aproveitados. Houve desentendimentos e eles espalharam-se pelo Rio de Janeiro onde, motivados pela paisagem exuberante e pela existência de uma burguesia rica e desejosa de ser retratada, continuavam seus trabalhos.

Grandjean de Montigny ajudou a organizar o ensino da arquitetura e das artes e a implantar o estilo Neoclássico, que seria a tônica de todo o período monárquico. Foi autor de vários projetos, principalmente no Rio de Janeiro, como o Solar Grandjean de Montigny, a Academia Imperial de Belas Artes, o Chafariz da Carioca, entre outros. Muitos desses projetos, como a Academia em 1937, foram demolidos. A atual Casa França-Brasil, outrora Praça do Comércio, depois Alfândega e Tribunal do Júri, entre outros usos, construída em 1820,  foi o primeiro edificio de estilo neoclássico no Brasil. O edifício deveria ser símbolo de poder e modernidade com suas "ideologia da ilustração", "classe" e "proporcionalidade" específicas e novas, levando o Brasil a ingressar oficialmente no estilo mundial. Essas novas concepções cosmopolitas, levantaram fortes oposições dos artistas luso-brasileiros.

Jean-Baptiste Debret, tido como “a alma da missão francesa”. Pintou diversos retratos da família real, quadros históricos e gravuras, que são relatos dos costumes e vida no Brasil do século XIX. Além de pintor, Debret também foi desenhista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil, em 1829. Sua principal obra “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, em três volumes, retratou em suas viagens os indígenas, a sociedade do Rio de Janeiro e assuntos diversos. Debret permaneceu no Brasil até o ano de 1831, aonde dar-se conta, ter deixado um filho. Junto com Nicolas-Antoine Taunay, foi o primeiro artista profissional a chegar ao  Brasil desde o século XVII quando da invasão holandesa.


As Colonias Agrícolas Francesas

A imigração francesa para o Brasil foi um fenômeno essencialmente urbano, centrado nas grandes capitais brasileiras. Porém, houveram tentativas de colônias agrícolas. A recordar que os colonos suíços que fundaram, de forma pioneira, a colonia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro em 1818, eram francófonos. 

Benoit-Jule Mure
Entre essas iniciativas, destaca-se a fundação da Colonia Industrial de Sauí em 1841,  em Santa Catarina, na atual divisa com o Paraná, no estuário do rio Ivaí,  que protagonizou a primeira experiencia real de socialismo no Brasil. Inspirado nos ideais socialistas de Charles Fourier, que pregava uma forma de trabalho cooperativo ante os malefícios do capitalismo e sua degeneração moral, organizada em "Phalanstères": 

O Falanstério seria uma estrutura social e arquitetônica destinada a reunir um grupo de pessoas que viveriam e trabalhariam juntas em harmonia. O falanstério visava abrigar um número relativamente grande de pessoas em uma comunidade autossuficiente, onde todos contribuiriam para o trabalho e compartilhariam os frutos desse trabalho. Fourier acreditava que a sociedade deveria ser organizada em grupos chamados de "falanges", com cerca de 1.600 a 2.000 pessoas. Esses grupos deveriam cooperar em todas as áreas da vida, desde a produção até o lazer. O trabalho seria dividido de maneira que todos pudessem se dedicar a atividades que achassem agradáveis e produtivas, promovendo a ideia de que o trabalho deveria ser uma fonte de prazer e realização pessoal. O falanstério deveria ser projetado de forma a promover a convivência e a colaboração, com edifícios que facilitassem a interação e a eficiência. Fourier também enfatizava a importância da educação e da cultura dentro do falanstério, garantindo que todos tivessem acesso a atividades culturais e intelectuais.

Benoît-Jules Mure, foi o responsável pela implementação deste projeto no Brasil. 

A descoberta de jazidas carboníferas em Santa Catarina, pareceu propiciar a Mure, o local ideal para instalação de um falanstério (uma colonia industrial de regime cooperativista).

Jamain, Derrion e cerca de outros quarenta franceses se estabeleceram nas terras do Palmital.

entre fins de 1841 e início de 1844, cerca de 500 colonos vieram da França, oriundos da região de Lorraine-Alsácia. Um relatório de Charles Leclerc de novembro de 1843 fala de 236 os colonos em São Francisco, localidade da colônia. No relatório de Derrion em fins de 1844, aponta menos de três dezenas na área. A maioria dispersou ainda no Rio de Janeiro, bem como na região de São Francisco do Sul - SC, tendo alguns rumado para o Uruguai. 

Projeto do que deveria ter sido o Falanstério de Sahy

Por volta de 1847, foi criada a Colônia Dr. Faivre, rebatizada como Colonia Thereza Christina (em homenagem a então imperatriz do Brasil), atualmente, município Cândido Abreu-PR, às márgens do rio Ivaí, pelo médico francês Dr. Jean Maurice Faivre, que contava 87 colonos: 65 franceses e 22 belgas, e posteriomente brasileiros. Em sua maioria esses "franceses" eram etnicamente alemães  de Lorraine-Alsácia, região disputada entre França e Alemanha.

Região de Lorraine e Alsácia
disputada por França e Alemanha
Na mesma época, também no Paraná, na década de 1850, franceses se estabeleceram na Colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá. Em 1868 foi criada a Colônia Argelina na região que hoje é o bairro do Bacacheri, em Curitiba. Em Curitiba é realizado desde 1988 pela Aliança Francesa a Festa da Francofonia. Estima-se que na década de 2010 o Paraná tinha cerca de seiscentas famílias descendentes de franceses.

Em 1850, foi fundada a colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá.  Em Curitiba, no que hoje é o bairro Bacacheri, foi fundada a colônia argelina, franceses antes estabelecidos na Argélia e que advieram para o Brasil. Em 1858 contava 22 franceses 

Em 1875 foi fundada a colônia de Assungui, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, havendo uma dispersão desses colonos para outros locais. 


 publicação, em 1859, por parte do governo francês de uma "mise em garde" contra as tentativas de engajamento de emigrantes para o Brasil. Em 1875, dois decretos (14/04 e 30/08) proibiram o recrutamento para o Brasil e a Venezuela ( no caso do Brasil proibição só levantada no final dos anos 1890).


1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, advindos do Uruguai, que ante os tumultos políticos locais em Montevideo, não aportaram. Chegados em Recífe, ante as dificeis circunstancias enfrentadas, a maior parte preferiu migrar para o Pará, ou retornar para França.

1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses, 

  • 1841, Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí
  • 1841, Palmital, 40 colonos advindos da colônia do Saí. 
  • 1847, colônia Tereza Christina, em Cândido de Abreu - PR.
  • 1847, colonização do vale do Mucuri-MG.
  • 1875, colônia de Assungui - PR, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, que se dispersaram para outras localidades.
  • 1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, tendo a maior parte partido, migrando para o Pará, ou retornaram para França.
  • 1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses.
  • 1880, Colonia de Santo Antonio, Pelotas-RS, colonizada por 50 famílias francesas, advindas em sua maioria de Provença.


A Imigração Francesa para o nordeste do Brasil: 

Principais centros de imigração francesa
ao nordeste do Brasil. 
A França por volta de 1840, foi afetada por uma grave seca, que atingiu em cheio sua população rural. A miséria e o desemprego, forçou um grande contingente a imigração para as Américas. Como já dito, em sua maioria bascos e gascões do sudoeste da França, que tiveram como especial destino a  Argentina e o Uruguai. Com uma parte vindo para o Brasil, marcadamente, para as grandes capitais do nordeste do país: Salvador, Recífe, Fortaleza, e São Luís.

Registros da imigração francesa indicam que, entre 1851 e 1914, 35 mil franceses imigraram para o nordeste do Brasil. Dados parciais do consulado da França em Salvador, na época, revelam um crescimento da comunidade francesa na cidade, passando de 592 indivíduos em 1861 para 6 mil em 1872.

Essa presença francesa, é bastante reveladora para a explicação fonética, na ênfase, da pronuncia do "r" aveolar (o "r" de carro) que se verifica na região. Fenômeno também constante no Rio de Janeiro, outro grande centro de imigrantes franceses.

Alguns filologos, sugerem, a título hipotético, sem maiores estudos sobre o tema, e que são bem escássos, uma suposta influencia holandesa para justificar esse "r" aveolar na região. Ocorre, que no interior, nos sertões, aonde tem-se uma descendencia holandesa mais consistente, ante a endogamia remanescente do meio rural, esse "r" não é tão marcante quanto nas grandes capitais. A imigração francesa, nesses grandes centros, explica o fenômeno. Além claro, da influência da língua francesa entre as famílias mais abastadas e com acesso a educação.

 
As Cifras da Imigração Francesa

A embaixada da França em 2013, informava haver 2 mihões de descendentes de franceses no Brasil. Em uma progressão, isso equivalia a cerca de 100 mil imigrados originalmente. Outras estimativas levantadas a cerca da imigração basca, notadamente, advinda do lado francês, apontava 100 mil imigrados entre 1850 e 1965. 

Como dissemos inicialmente, os números são conflitantes, e variam. O IBGE, ao menos publicamente, se quer menciona a imigração francesa. O Arquivo Público Nacional registra apenas 34 mil imigrados franceses. É um número bem aquem da realidade. 

Dados oficiais franceses, registram que somente para o nordeste do Brasil, imigraram 35 mil franceses entre 1851 à 1914 . A considerar que o fluxo imigratório francês para centros como Rio de Janeiro e São Paulo foram muito maiores. E se iniciam em 1815, com o fim das guerras napoleônicas, com fluxo tanto para o Rio, quanto para Bahia e Pernambuco. Em 1820, o contra-almirante francês Julien de la gravière, dizia haver somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses. No ano de 1834, ainda no Rio de Janeiro, contava-se 3.800 franceses. Constituindo a segunda maior comunidade estrangeira da cidade. 

Na década de 40 do Séc. XIX, houve uma grande imigração francesa para os EUA, atraidos pela descoberta de ouro na California. Quando esse ciclo finda em 1851, esse fluxo é direcionado para as grandes capitais da América do Sul, especialmente Buenos Aires, Montevideo e Rio de Janeiro. Dados parciais da imigração basca na América do Sul, estima em 25 mil imigrantes franceses de origem basca para o Brasil entre 1837 à 1842. A guisa de comparação, nesse mesmo período, para a Argentina, registrou-se 29 mil, e para o Uruguai 10 mil. Ao final desse ciclo, décadas mais tarde, esse contingente totalizará 239 mil imigrantes da França (maioria bascos) para a Argentina. Para a América do Norte esse contingente foi ainda maior, 480 mil. Daí pode-se mais uma vez mensurar o quão infíma foi os contingentes imigratórios para o Brasil. 

Por volta de 1837-1842Por volta de 1843-1850
EuropeusfrancêsEuropeusfrancês
Brasiln / cn / c250.000 (estimado) *25.000 (estimado)
Argentinan / c6.000 (estimado)300.000 (estimado)29.000 (estimado)
Uruguai30.00018.00020.00010.000


O arquivo Nacional registra que entre 1875-1910, 18.920 franceses aportaram no Rio de Janeiro.

O consulado da França em fevereiro de 1911, estimava em 11 mil a presença de franceses vivendo no Rio de Janeiro, em resposta ao ministro Stephen Fichon.

Em 1915, 14 mil imigrantes franceses, 6 mil em São Paulo, 4 mil no Rio de Janeiro, 1 mil no Rio Grande do Sul, 700 no Paraná, e 350 Bahia.

O Censo Republicano de 1920, apontava 31.984 franceses morando no Brasil. São Paulo contava com a maior parte desses imigrantes, contabilizando 13.576. Em seguida, vinham o Distrito Federal (na época, a cidade do Rio de Janeiro) com 10.538 franceses e o Rio Grande do Sul com 4.216. No estado de São Paulo, as cidades com os maiores números eram a capital (3.859), Santos (581), Campinas (389), Taubaté (371) e Ribeirão Preto (361). No Rio Grande do Sul, Porto Alegre tinha 2.356 franceses, seguido por Pelotas (775) e Rio Grande (730).

Outras fontes francesas estimam em 30 mil imigrados entre 1850 à 1889, 60 mil entre 1889 à 1914, e de 30 à 40 mil entre 1914 e 1930. Totalizando entre 100 à 120 mil franceses que imigraram para o Brasil. Ponderando que são cifras inferiores as anteriores. A notar o lapso temporal de 1815 à 1850:
"Au total, on peut estimer que entre 100 000 et 120 000 Français ont immigré au Brésil entre 1850 et 1930. Ce chiffre est inférieur aux estimations antérieures, qui étaient souvent beaucoup plus élevées. Cependant, il est basé sur une analyse plus rigoureuse des données disponibles."
É dificil mensurar nas estatísticas, que se seguem a outros levantamentos estatísticos de anos posteriores, quantos seriam os remanescentes e quantos seriam novos imigrados. De modo, que nos valendo de cifras mais isoladas podemos chegar a numeros mais fidedignos sem incorrer em erro. Assim, por exemplo, a menção de 3 mil franceses no Rio de Janeiro em 1820, limitamos essa quantidade ao censo de 1834 da cidade do Rio de Janeiro que registrava 3.800 franceses.

Ante os numeros oficiais e fidedignos registrados podemos fazer um balanço que se chega ao número de cerca de 95,5 mil imigrantes franceses entre 1820 à 1920:
  • 1834: 3.800 (censo da cidade do Rio de Janeiro)
  • 1851-1914: 35 mil (dados franceses referentes somente ao nordeste do Brasil)
  • 1872: 2.884 (cidade do Rio de Janeiro)
  • 1882-91, o porto de Santos  registrou  a  chegada  de 1.922  franceses. 
  • 1875-1910: 19 mil (registro nacional referente, somente, a imigrantes chegados ao Rio de Janeiro)
  • 1920: 32 mil (censo republicando, nacional)
Os dados de 1851 à 1914, de 35 mil imigrantes franceses, são referentes apenas ao nordeste do Brasil, há um lapso geral referente a imigração para o sul, e que por certo houve uma imigração tão ou mais forte quanto a que se dirigiu para o nordeste. De 1875-1910 temos 19 mil imigrantes, somente na cidade do Rio de Janeiro! Novamente, um imenso silêncio no restante do País. E no censo republicano, nacional, de 1920,  32 mil.

Somadas, essas cifras alcançam 97,5 mil imigrantes franceses. Ressaltamos a imensa lacuna, no mesmo período, verificadas em outras regiões do País, que por certo receberam imigrantes. Um paralelo, com outras correntes imigratórias, mostram que as décadas de 20 à 40, houve um surto imigratório tão ou mais alto do que em períodos anteriores. Então é de supor, que mesmo, inferior a outros contingentes, tenha havido nesse período, também, um afluxo de imigrantes franceses para o Brasil. E que, espantosamente, não aparece nas estatísticas. Assim cifras que estimam entre 100 a 120 mil imigrantes franceses, são bastante realistas. 


A Influência Francesa

A imigração francesa, dentre as outras, foi a mais desejada durante todo período monárquico e que, paradoxalmente, a que menos se efetivou. No que pese, ter sido até o início da República, a terceira maior, atrás somente da portuguesa e italiana, e a frente da alemã.  Ainda, que menor do que as outras 5 maiores, ao menos, no plano intelectual, foi indiscutivelmente a de mais larga influência. Se os jesuítas, foram nossos professores primevos nos dois primeiros séculos de nossa formação, ao longo do Séc. XIX e parte do XX, esse posto foi ocupado pelos franceses.  Com a chegada da Missão Francesa em 1816, não somente a arte neoclássica atracou no Brasil, mas idéias de higiene e saneamento, iriam modificar o urbanismo das cidades. A cidade-luz foi referência constante e direta para o desenvolvimento das artes plásticas, da arquitetura, da literatura, da gastronomia, da educação e também do setor industrial e político. As idéias socialistas, eugenistas (Conde Gobineau, um dos mais destacados difusores das idéias eugênicas, era amigo pessoal de D. Pedro II), o positivismo que virá a infuenciar o surgimento do Castilhismo, são influências diretamente francesas. E que influirão a intelligentsia brasileira até a Segunda Guerra, quando essa influência decai em favor da estadunidense. Traçando um paralelo entre a influencia francesa e estadunidense, podemos dizer que ambas sufocam um pensamento nacional autóctone, que enxergue com lentes mais realistas nossos problemas. Mas, há diferenças. O pensamento francês, visava como fim único um bem público, essencialmente humanista, o estadunidense reduz tudo e a todos a mercadorias, a um individualismo todo contrário a tradição civilizacional latina, ocidental, do qual a França também é como nós parte e herdeira. 




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