A imigração francesa é completamente ignorada pelos dados estatísticos do IBGE, dentre outros, bem como na literatura sobre o tema. Talvez, por falta de dados oficiais. Embora existam e encontrem-se dispersos. Algumas estimativas apontam a vinda de 250 a 300 mil imigrantes franceses para o Brasil, oque a colocaria entre as cinco maiores correntes imigratória para o País. Contudo, dados mais conservadores e lastreados em registros mais fidedignos, sugerem entre 100 a 150 mil franceses. Ainda sim, é um número expressivo que coloca a imigração francesa logo em seguida as cinco maiores. Embora, não figure dentre as maiores, concorre, com a portuguesa e alemã, entre as mais antigas. E a exemplo da portuguesa, embora, diminuta, se revela constante, ante outras que cessam, e também, como a portuguesa, embora tenha uma maior concentração em determinados centros, Rio de Janeiro e São Paulo, notadamente, se faz presente em todo o País.
A Presença Francesa no Período Colonial:
A presença francesa no Brasil concorre com a portuguesa, dentre as mais importantes na sua formação. O brasileiro é fruto do concubio entre pai português e mãe franco-brasileira, e não propriamente índia, como passou para história. Catharina (Paraguaçu) matriarca dos brasileiros é talvez a expressão maior desse entrelaçamento, filha de uma francesa que se casa com um português Diogo Alvares (o caramuru) dando origem a um dos principais troncos formadores da nação brasileira. Esse processo se operou em todo o Brasil, e os casamentos, entre portugueses e mulheres "indigenas" quase que imediato a conquista de tribos inimigas até então aliadas aos franceses, evidenciam de maneira muito clara a preferencia de portugueses solteiros por essas mamelucas franco-brasileiras. Essa presença francesa no Brasil se extende durante todo o primeiro século de formação.
Com as invasões holandesas, estima-se que os franceses compunham 7% das forças da Companhia das Índias Ocidentais, oriundos da região da Picardia (fronteira com a Bélgica) notadamente. E muitos desses, católicos, desertaram, e passaram para o lado dos brasileiros, algo entre quinhentos a mil homens, resultando entre 70 a 140 mil descendentes desses, na atualidade, no nordeste do Brasil.
Nos séculos seguintes, até início do XIX, ainda se registra a presença de franceses, sob a forma de clérigos, comerciantes e por vezes como corsários.
Em 1704, dar-se conta de franceses casados com filhas dos principais da terra em ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foi um francês, Ambrozio Jauffret, de Marselha, radicado em São Paulo durante 30 anos, aonde casou e teve filhos, que prestou informações ao corsário René Duguay-Trouin para o saquear a cidade do Rio de Janeiro em 1711.
Ao longo do século XVIII, com a descoberta das minas, registra-se a vinda de franceses empenhados no ramo mineralogico, ouriversaria, e joaleiria, não somente em Minas Gerais, como em outras regiões que potencialmente vislumbravam essa possibilidade. Caso de: Jean Fontaneilles, que se estabeleceu em Viçosa do Ceará em 1724, mineralogista a serviço da coroa portuguesa, e que deixou larga descendencia; Louis-Claude de Saunier, que se estabeleceu em Paraty, e posteriomente na cidade do Rio de Janeiro (1740); Louis-François Rifflard, comerciante de escravos, diamantes e ouro, se estabelecendo no Rio de Janeiro, Paraty e posteriormente Ouro Preto-MG (1740); Pierre Lecomte, estabelecido em Salvador, Bahia, em 1760, aonde casou e teve filhos; Jean-Pierre Barral, imigrante em Florianópolis-SC, em 1789, casou com Maria Joaquina de Oliveira e Silva, natural da região; dentre outros..... é nesse bojo, embora, já inicio do século XIX, que advem, pelo lado paterno, os avós de Santos Dumont, o parisiense François Dumont, junto com sua esposa, D.ª Eufrásia François Honnorée Dumont, filha de rico ourives de Bordeaux, na primeira metade do século XIX, e se estabelecem em Diamantina, com negócios de mineração de ouro e lavra de diamantes. Na mesma época, outras famílias francesas se estabeleceram em Minas Gerais.
A imigração francesa pós Brasil Independente:
Finda as Guerras Napoleônicas, com a paz de 1815, numerosos franceses começaram a vir para o Brasil, atraídos pela corte portuguesa no Rio de Janeiro, com alguns se dirigido para a Bahia e Pernambuco.
O contra-almirante francês Julien de la gravière, a bordo do navio Le Colosse no Rio de Janeiro, registrou, em 8 de setembro de 1820, que se encontravam somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses, e que eram frequentes a chegadas de mais, que aumentavam sensivelmente esse número: " [...] nous comptons actuellement environ 3 000 Français rien qu'à Rio de Janeiro et les arrivées fréquentes augmentent considérablement ce nombre".
A Missão Artistica Francesa (1816)
A chegada da corte joanina no Brasil, fujidos das tropas napoleônicas, paradoxalmente, trouxe consigo uma enorme influência francesa, antes inexistente no Brasil. A guisa de exemplo, a corte adotava em seus protocolos palacianos, a língua francesa. Oque só foi parcialmente extinto pela Imperatriz D.ª Leopoldina, que fez adotar o português. Oque explica a posterior francofilia de D. Pedro II. A lembrar que a segunda esposa de D. Pedro I, a Imperatriz D.ª Amélia, madrasta do pequeno D. Pedro II, era francesa, sobrinha de Napoleão Bonaparte.
A Missão Artistica francesa ganha destaque nesse contexto. Foi o ministro D. Antônio de Araújo de Azevedo, o conde da Barca, diplomata português e profundo admirador dos ideais franceses, quem teve a iniciativa de chamar um grupo de artistas e intelectuais diretamente da França (1816). Composta por artistas plásticos, arquitetos, músicos, carpinteiros, serralheiros, chefiada por Joachim Lebreton, com objetivo de instalar o ensino das artes e ofícios no Brasil através da construção da Academia de Belas Artes.
A vinda desses franceses mais do que uma “missão”, constituiu uma colônia de refugiados. Compostos, em sua maioria, por partidários da frustrada restauração dos Bourbons, de ideais absolutistas e conservadores.
Em 12 de agosto de 1816, via decreto, foi criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Sendo designado o arquiteto Victor Grandjean Montigny para construção do prédio da Academia das Belas-Artes, logo paralisada em 1817, ante o falecimento do conde da Barca. E só inaugurada em novembro de 1826. Ante esse fato, os franceses foram transformados em funcionários públicos e pouco aproveitados. Houve desentendimentos e eles espalharam-se pelo Rio de Janeiro onde, motivados pela paisagem exuberante e pela existência de uma burguesia rica e desejosa de ser retratada, continuavam seus trabalhos.
Grandjean de Montigny ajudou a organizar o ensino da arquitetura e das artes e a implantar o estilo Neoclássico, que seria a tônica de todo o período monárquico. Foi autor de vários projetos, principalmente no Rio de Janeiro, como o Solar Grandjean de Montigny, a Academia Imperial de Belas Artes, o Chafariz da Carioca, entre outros. Muitos desses projetos, como a Academia em 1937, foram demolidos. A atual Casa França-Brasil, outrora Praça do Comércio, depois Alfândega e Tribunal do Júri, entre outros usos, construída em 1820, foi o primeiro edificio de estilo neoclássico no Brasil. O edifício deveria ser símbolo de poder e modernidade com suas "ideologia da ilustração", "classe" e "proporcionalidade" específicas e novas, levando o Brasil a ingressar oficialmente no estilo mundial. Essas novas concepções cosmopolitas, levantaram fortes oposições dos artistas luso-brasileiros.
Jean-Baptiste Debret, tido como “a alma da missão francesa”. Pintou diversos retratos da família real, quadros históricos e gravuras, que são relatos dos costumes e vida no Brasil do século XIX. Além de pintor, Debret também foi desenhista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil, em 1829. Sua principal obra “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, em três volumes, retratou em suas viagens os indígenas, a sociedade do Rio de Janeiro e assuntos diversos. Debret permaneceu no Brasil até o ano de 1831, aonde dar-se conta, ter deixado um filho. Junto com Nicolas-Antoine Taunay, foi o primeiro artista profissional a chegar ao Brasil desde o século XVII quando da invasão holandesa.
As Colonias Agrícolas Francesas
A imigração francesa para o Brasil foi um fenômeno essencialmente urbano, centrado nas grandes capitais brasileiras. Porém, houveram tentativas de colônias agrícolas. A recordar que os colonos suíços que fundaram, de forma pioneira, a colonia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro em 1818, eram francófonos.
Benoit-Jule Mure |
Jamain, Derrion e cerca de outros quarenta franceses se estabeleceram nas terras do Palmital.
entre fins de 1841 e início de 1844, cerca de 500 colonos vieram da França, oriundos da região de Lorraine-Alsácia. Um relatório de Charles Leclerc de novembro de 1843 fala de 236 os colonos em São Francisco, localidade da colônia. No relatório de Derrion em fins de 1844, aponta menos de três dezenas na área. A maioria dispersou ainda no Rio de Janeiro, bem como na região de São Francisco do Sul - SC, tendo alguns rumado para o Uruguai.
Projeto do que deveria ter sido o Falanstério de Sahy |
Por volta de 1847, foi criada a Colônia Dr. Faivre, rebatizada como Colonia Thereza Christina (em homenagem a então imperatriz do Brasil), atualmente, município Cândido Abreu-PR, às márgens do rio Ivaí, pelo médico francês Dr. Jean Maurice Faivre, que contava 87 colonos: 65 franceses e 22 belgas, e posteriomente brasileiros. Em sua maioria esses "franceses" eram etnicamente alemães de Lorraine-Alsácia, região disputada entre França e Alemanha.
Região de Lorraine e Alsácia disputada por França e Alemanha |
Em 1850, foi fundada a colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá. Em Curitiba, no que hoje é o bairro Bacacheri, foi fundada a colônia argelina, franceses antes estabelecidos na Argélia e que advieram para o Brasil. Em 1858 contava 22 franceses
Em 1875 foi fundada a colônia de Assungui, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, havendo uma dispersão desses colonos para outros locais.
publicação, em 1859, por parte do governo francês de uma "mise em garde" contra as tentativas de engajamento de emigrantes para o Brasil. Em 1875, dois decretos (14/04 e 30/08) proibiram o recrutamento para o Brasil e a Venezuela ( no caso do Brasil proibição só levantada no final dos anos 1890).
1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, advindos do Uruguai, que ante os tumultos políticos locais em Montevideo, não aportaram. Chegados em Recífe, ante as dificeis circunstancias enfrentadas, a maior parte preferiu migrar para o Pará, ou retornar para França.
1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses,
- 1841, Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí
- 1841, Palmital, 40 colonos advindos da colônia do Saí.
- 1847, colônia Tereza Christina, em Cândido de Abreu - PR.
- 1847, colonização do vale do Mucuri-MG.
- 1875, colônia de Assungui - PR, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, que se dispersaram para outras localidades.
- 1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, tendo a maior parte partido, migrando para o Pará, ou retornaram para França.
- 1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses.
- 1880, Colonia de Santo Antonio, Pelotas-RS, colonizada por 50 famílias francesas, advindas em sua maioria de Provença.
A Imigração Francesa para o nordeste do Brasil:
Principais centros de imigração francesa ao nordeste do Brasil. |
Registros da imigração francesa indicam que, entre 1851 e 1914, 35 mil franceses imigraram para o nordeste do Brasil. Dados parciais do consulado da França em Salvador, na época, revelam um crescimento da comunidade francesa na cidade, passando de 592 indivíduos em 1861 para 6 mil em 1872.
Essa presença francesa, é bastante reveladora para a explicação fonética, na ênfase, da pronuncia do "r" aveolar (o "r" de carro) que se verifica na região. Fenômeno também constante no Rio de Janeiro, outro grande centro de imigrantes franceses.
Alguns filologos, sugerem, a título hipotético, sem maiores estudos sobre o tema, e que são bem escássos, uma suposta influencia holandesa para justificar esse "r" aveolar na região. Ocorre, que no interior, nos sertões, aonde tem-se uma descendencia holandesa mais consistente, ante a endogamia remanescente do meio rural, esse "r" não é tão marcante quanto nas grandes capitais. A imigração francesa, nesses grandes centros, explica o fenômeno. Além claro, da influência da língua francesa entre as famílias mais abastadas e com acesso a educação.
Por volta de 1837-1842 | Por volta de 1843-1850 | |||
Europeus | francês | Europeus | francês | |
Brasil | n / c | n / c | 250.000 (estimado) * | 25.000 (estimado) |
Argentina | n / c | 6.000 (estimado) | 300.000 (estimado) | 29.000 (estimado) |
Uruguai | 30.000 | 18.000 | 20.000 | 10.000 |
"Au total, on peut estimer que entre 100 000 et 120 000 Français ont immigré au Brésil entre 1850 et 1930. Ce chiffre est inférieur aux estimations antérieures, qui étaient souvent beaucoup plus élevées. Cependant, il est basé sur une analyse plus rigoureuse des données disponibles."
- 1834: 3.800 (censo da cidade do Rio de Janeiro)
- 1851-1914: 35 mil (dados franceses referentes somente ao nordeste do Brasil)
- 1872: 2.884 (cidade do Rio de Janeiro)
- 1882-91, o porto de Santos registrou a chegada de 1.922 franceses.
- 1875-1910: 19 mil (registro nacional referente, somente, a imigrantes chegados ao Rio de Janeiro)
- 1920: 32 mil (censo republicando, nacional)
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