segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Que é Castilhismo?


O Castilhismo surge como evolução histórica da tradição pombalina(modelo administrativo de Marquês de Pombal) na segunda metade do séc. XVIII, quando moderniza a estrutura do Estado em Portugal, substituindo a concepção religiosa de gestão do Estado pelo científico, como sustentáculo do poder político.

Assim sendo o administrador(governante) deveria gerir e explorar adequadamente os recursos disponíveis segundo uma metodologia científica, ao qual inspiraria não só a ação do governo(política) como as relações entre os homens(moral).

Trata-se da Tecnificação do Estado administrado por parâmetros científicos, a meritocracia dentro da Administração Pública, o absoluto respeito e probidade a coisa pública, marcas profundas dos governos castilhistas(Castilhos, Borges de Medeiros, Vargas, Goulart e Brizola).

É sobre esse estrado de concepção científica do modelo de administração do Estado (permeado no Brasil pela Real Academia Militar - 1810, ulterior Escola Politécnica) que inspirarão os Republicanos na promoção da República. O Positivismo é abraçado, não por carência ideológica, mas por convergir com a tradição nacional e de par com os anseios nacionalistas forjam o modelo republicano brasileiro em antagonismo ao Império com sua política liberal e posteriormente nos embates contra os que sustentavam modelo estadunidense(liberal).

Com a rejeição do projeto constituinte(Positivista) de Miguel Lemos e Texeira Mendes, a bancada cafeicultora(majoritária no parlamento) impõe um modelo republicano liberal. Contudo, Júlio de Castilhos levaria para o Rio Grande do Sul oque deveria ter sido a Constituição do Brasil idealizado pelos republicanos históricos, que se materializa na Constituição de 1891 do Estado do Rio Grande do Sul, que se designou chamar: "Castilhista", vigorando durante quase 4 décadas, tendo inclusive Getúlio governado com ela. Fazendo do Rio Grande do Sul, antes um Estado pobre e atrasado, já em fins do Séc. XIX na segunda maior economia do País e o de menor índice de analfabetismo.

Concomitante a esse processo que ocorria no Rio Grande, à nível nacional esse ideário republicano de matiz positivista e nacionalista se coadunava com o "florianismo", quando do surgimento dos Batalhões Patrióticos durante a revolta da armada, os clubes jacobinos pelo país a fora compostos exclusivamente por brasileiros natos, que deram origens aos batalhões, espécie de milícia organizada para defender a República e difundir seus ideais organizando reuniões, protestos, atos bélicos, com uma imprensa atuante e disseminada por todo País.

Do pensamento "jacobino"(designação imprópria que não reflete o brasileiro) será incorporado os princípios democráticos, de tomada de decisões em praça pública, e participação direta dos cidadãos nos negócios públicos (um escamotiamento do pensamento positivista do “dictator perpétuo”), isso ocorre como adaptação as instituições republicanas, materializada na Constituição do Rio Grande do Sul de 1891, que susbtitui a figura do "dictator perpetum" de Commte e estabelece a reeleição ilimitada no cargo de Presidente(atual governador) do Estado.

Outro aspecto incorporado, será o militarismo também rejeitando o pensamento pacifista dos positivistas ante a necessidade de defesa militar contra os levantes liberais (“Revolução Federalista” e a “Revolta da Armada”), bem como o expansionismo imperialista das potências na época(tentativa de invasão do Amapá pelos franceses e da ilha de Trindade pelos Ingleses).
Acusada de "autoritária", sem razão, por seus opositores(liberais), a Constituição Castilhista prima pela Democracia Direta, com a institucionalização de mecanismos de participação direta da população nas tomadas de decisões políticas, tal como referendos e plebiscitos populares:
"... O Estado do Extremo sul, guiado pelo seu grande organizador(referência a Júlio de Castilhos) [....] ergueu dentro do sistema da Constituição Federal, um regime institucional em que admiravelmente se consorciam a autoridade com a liberdade. Melhor compreendendo a natureza do regime presidencial, instituiu um poder executivo forte, facultando-lhe, sem receio, consagrar e manter as mais amplas franquias liberais". "Lá [no Rio Grande do Sul] o Presidente do Estado propõe a lei que toma a forma plebiscitária, com a publicidade ampla, a colaboração direta do povo na apresentação de emendas e referendum dos Conselhos Municipais....” – Getúlio Vargas.
Durante mais de quatro décadas, o castilhismo testou com sucesso, a consulta plebiscitária. O castilhismo valoriza enfaticamente os processos democráticos diretos, como os empregados na antiga Grécia e Roma, consideradas superiores a "democracia" representativa dos liberais. O plebiscito é a forma ideal de consulta popular, eliminando dessa forma a influência perniciosa dos representantes oligárquicos reunidos na assembléia legislativa. Estabelecendo uma relação direta entre cidadãos e governante, propiciando assim, isenção para o Executivo governar em favor do bem comum.
Com a Revolução de 30, o projeto castilhista chega ao poder e inicia a modernização do Estado Brasileiro, atrasado em mais de quadro décadas.
“A época é das assembléias especializadas, dos conselhos técnicos integrados à administração. O Estado puramente político, no sentido antigo do termo, podemos considerálo, atualmente, entidade amorfa, que, aos poucos, vai perdendo o valor e a significação." - Getúlio Vargas. Discurso em 4-5-1931.
É a Tecnificação do Estado, gerido sob parâmetros científicos, a representação política é substituída pelos Conselhos Técnicos integrados à administração pública. A tarefa legislativa não pode ser entregue a parlamentares(que defendem interesses particularistas contra a coletividade) mas à órgãos técnicos. Os técnicos elaboram as normas legais; os interessados são convidados a opinar; e o governo intervém para exercer função mediadora e impor uma diretriz, um rumo. Em vários níveis essa modalidade achava-se institucionalizada nos Conselhos Técnicos, que posteriormente deveriam ser submetidos a referendos populares como expresso na Constituição de 1937 em seu art. 63, que versava sobre o poder decisório do Conselho da Economia Nacional – CEN (de feição corporativa), ao atribuir ao povo via plebiscito “poderes de legislação sobre algumas ou todas as matérias de sua competência”, o velho gosto castilhista pela democracia direta. Esse esvaziamento do poder decisório da CEN, foi a razão do rompimento de Francisco Campos com Vargas.  
A proposta corporativista de Francisco Campos foi descartada, em virtude dos elementos não modernizadores que implicava. A idéia de Campos de que “O Estado assiste e superintende mediante o Conselho de Economia Nacional, de feição corporativa”, só intervindo para assegurar os interesses da Nação, impedindo o predomínio de um determinado setor da produção, em detrimento dos demais”, implicava, no terreno econômico, uma perda de forças do Estado empresário e centralizador da tradição castilhista. 
Para Vargas era inaceitável a idéia de um Estado patrimonial modernizador, que entregasse às corporações o aspecto fundamental da administração da economia. Isso equivaleria, no mínimo, a um retrocesso que fortaleceria de novo a ascensão dos interesses particularistas.
O Estado getuliano deglutiria, no entanto, a idéia corporativista, libertando-a do vezo romântico presente na proposta de uma economia administrada organicamente pela Nação, e inserindo-a no contexto do Poder central forte e modernizador.
Com a Constituição de 1937 se materializa o sonhado modelo Republicano Brasileiro que desde 1891, com a fundação da República, deveria ter sido instituído no Brasil, inspirada na Carta de 14 de julho de 1891 do Rio Grande do Sul, sob a qual Getúlio inclusive governou quando Presidente(atual cargo de governador) do Rio Grande do Sul. Mal nasceu, a briosa Carta de 37 não terá 7 anos de vida quando sobrevém o golpe com a deposição de Getúlio em 45.
Com o golpe que depois Getúlio, pondo fim ao Estado Novo, Getúlio tratou de organizar o PTB - Partido Trabalhista Brasileiro, afim de preencher a lacuna de representação dos trabalhadores no novo cenário político que se formava. É com a adesão de Getúlio ao PTB, que o trabalhismo incorpora o ideário nacionalista de Vargas. O PTB não será apenas um meio para pleitear reivindicações trabalhistas, ele será o próprio bastião de defesa do projeto político de Vargas para o Brasil é oque podemos chamar apartir de então de Nacional-trabalhismo Brasileiro.
Características do Estado Castilhista

1. Concentração de Poderes no Executivo, acabando com a chantagem do Parlamento(Congresso/assembléias), historicamente reduto da oligarquia.;

2. Mecanismos de Participação Direta como Plebiscitos e Referendos populares de forma obrigatória, estabelecendo um elo direto entre Executivo e povo(escamoteando mais ainda o poder do parlamento para desespero dos oligárcas);

3. Estado Intervencionista (como já citado), mas não só na área econômica mas também como educador, zelando pela moralização pública(não confundir com moral religiosa mas com a "RES(Coisa) PÚBLICA", coisa pública, a probidade com a coisa pública, bem como a ética dos seus cidadãos, a promoção da cidadania. Na seara econômica melhor aclarando trata-se do Estado Empresário não só regulando e intervindo ocasionalmente na economia, mas sobretudo atuando diretamente no domínio econômico através de Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista geridas pelo Estado, traduzindo-se ainda na Planificação da Economia (Getúlio reiteradas vezes batia nesse ponto como fator primordial). Soma-se a isso a promoção dos Direitos Trabalhistas, intermediadas por um órgão estatal(Justiça trabalhista) na mentalidade Liberal e mesmo social-democrata as relações sociais devem se operar segundo composições de forças por meio de seus representantes, o Trabalhismo se opõe a isso segundo o qual as relações sociais devem ser intermediadas pelo Estado.

Artigos Correlatos:
V Geração Castilhista
O Estado Castilhista.
As Raízes Socialistas no Pensamento Getulista.
As Relações da Igreja Com a Monarquia e o Castilhismo..

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Do Intervencionismo Estatal na Economia.

A intervenção do Estado por meio de empresas estatais na economia foi uma inovação castilhista, empregada no curso do governo de Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul, tornando o Estado Empresário, promotor da atividade econômica. O Estado não só regula a economia como atua diretamente em seus setores considerados estratégicos, essenciais, tanto para atividade econômica bem como para promoção do bem estar dos seus cidadãos naqueels serviços considerados essenciais. Esse modelo será continuado a nível nacional por Getúlio Vargas quando de sua ascenção ao poder na Revolução de 30. Tornando o Intervencionismo Direto do Estado na economia por meio de estatais bem como a regulação da economia pilares basilares do modelo de Estado Castilhista.

O Estado como pêndulo na regulação macroeconômica, o faz de forma direta via empresas estatais em setores estratégicos, como forma de promover o desenvolvimento econômico nas áreas que constituem monopólios naturais, qual seja: as que não haja possibilidade física de concorrência.

É o caso da "distribuição de energia", "fornecimento e tratamento de águas e esgotos", telefonia fixa, etc.... que além de serem serviços essenciais, devendo serem prestados diretamente pelo Estado sem finalidade de lucro, constituem "monopólios naturais", aonde não há possibilidade de concorrência. Afinal, no caso da distribuidoras de energia a guisa de exemplo, como seria a distribuição? Cada "distribuidor" teria sua substação, sua fiação, seus postes, sua voltagem específica? É inviável.

Outra característica dos monopólios naturais é a necessidade de uma alta escala de demanda pelo serviço, ou seja, um número relativamente alto de consumidores, sem o qual o custo de fornecimento do serviço se torna inviável economicamente. Os monopólios naturais são conforme conceituação de JOHNSON B.B.:
"Os serviços de utilidade pública que interferem com o uso efetivo das áreas urbanas, em que a concorrência não permite estabelecer tarifas que remunerem os investimentos necessários à expansão dos sistemas e porque a existência de mais de uma empresa as leva a incorrer em custos médios superiores aos de um monopolista. O efeito conhecido como economia de escala, no qual a redução dos custos pela aumento da escala de produção, permite a prestação do serviço com tarifas mais baixas do que em regime de concorrência."
No que toca a importância política da atuação na economia pelo Estado nos setores estratégicos via estatais, se insere nos setores vitais da economia. Assim é que: Produção e distribuição de energia; Telecomunicações; extração de minérios de relevante valor econômico; Serviço Postal; Energia Nuclear; Setor Aeroespacial.... Todos esses são áreas estratégicas, sem o qual acarreta prejuízos ao desenvolvimento nacional, dependência externa e uma conseqüente perda de soberania com a transferência do poder econômico para o exterior, implicando ainda na deficiência tecnológica o que agrava o quadro de dependência, relegando o País ao subdesenvolvimento.

Finalmente, importa destacar que a internacionalização dos setores vitais da economia brasileira vem resultando na restrição dos espaços geo-econômicos mais importantes para as empresas de capital brasileiro e para o próprio Estado-Nação. A perda desses espaços implica, inevitavelmente, na transferência do poder de decisão para além fronteiras do País (decisão de investir, quanto, onde, com que tecnologia etc.) e no futuro acarretará sérios problemas geopolíticos, como consequência do esvaziamento da soberania nacional.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Heliconair HC-II Convertiplano - O Avião-Helicoptero de Vargas.


Helicoptero projetado por Heinrich Focker durante a II Guerra
Em meados de 1945, Heinrich Focke, ex-AG Flugzeugbau Focke-Wulf, engenheiro que projetou e construiu os primeiros helicopteros da história, proporcionando a Alemanha aeronaves revolucionárias, foi contactado pelo governo de Getúlio Vargas via Casimiro Montenegro, que viria a fundar o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), e em 1950 Heinrich Focke veio para o Brasil afim de auxiliar a fundação do CTA e trabalhar no projeto de um helicoptero-avião que poria o Brasil na vanguarda da indústria aeronáutica mundial, o "Heliconair HC-II Convertiplano".

Estrutura interna do motor e maquete no canto inferior direito
No protótipo foi utilizado a fuselagem de um "Supermarine Spitfire Mk", inserindo um duplo motor de turbina a gás ligando a 4 asas, pequenas conduções hélices em contra-rotação de cada lado, 2 hélices na frente em cada lado da asa da cabine do piloto e outras 2 hélices nas asas da calda do avião.




A Inglaterra sabotou a venda do motor "Mamba" para o Brasil, curiosamente.... forneceu o mesmo motor para a Argentina e para a União Soviética, um Estado comunista, através da Roll-Royce Nene II. Ante esse fato, foi reprojetado a estrutura do Convertiplano para aceitar um "R Wright -3350-DA3 Turbo Composto de 18 cilindros sobrealimentado radial tirada de um Super Lockheed Constellation",
com a mudança a fuselagem se mostrou muito pesada porque o motor a jato originalmente que seria posto pesava 320 Kgs e o substituto pesava 1.212 Kgs.

Heliconair CTA HC-I Convertiplano em transição para o HC-Ib.

Foi adquirido nos EUA um motor da General Electric GE T-58, motor a jato de turbina a gás de 250 kg, o projeto original, com o compartimento de passageiros, foi restaurada, com nova designação do HC-II. Quatro motores foram ligados, um para cada turboélice. Peso do motor combinado foi de 450 kgs., menos de 50% do motor a pistão e apenas 30% a mais que o motor a jato original.


Após a conclusão do Heliconair HC-II Convertiplano foi capaz de atingir velocidades de até 500 km/h, assim como decolagens e pousos quase diretamente verticais. Contudo a capacidade de carga ficou comprometida ante o peso do motor General Eletric, superior ao originalmente previsto, e a elevada trepidação que produzia.

Após a conclusão dos testes Heinrich Focke voltou para a Alemanha, e com o martírio de Vargas e a mudança de governos, ineptos, a aeronave foi posta em armazenamento e praticamente esquecida.
Ainda em 1954, antes de voltar para a Alemanha, Heinrich Focke de par com o CTA, projetou 2 helicopteros: o Beija-flor I e o Beija-Flor II. Projetos posteriormente igualmente abandonados pelos des-governos, pós-Vargas, que se seguiram.

      O Beija-flor, fez seu vôo inicial em fevereiro de 1960, apresentava, em comparação aos seus congêneres da época, as vantagens de segurança, facilidade de manejo e simplicidade de construção. Com este vôo, algo de importante era marcado no histórico da aeronáutica brasileira, pois tratava-se do primeiro helicóptero projetado e construído no Brasil

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Consolidação da República!

“Jacobino é o termo de que se valem á guisa de baldão todos os inimigos da Pátria, todos os abutres carniceiros [...] para deprimir os que commettem o grande crime de trabalhar com amor e fé na obra santa da nossa regeneração social, para enxovalhar os que almejam a glorificação da nossa nacionalidade e a consolidação da forma de governo inaugurada a 15 de Novembro. [...]. Malevolamente deram a esses patriotas o nome de jacobinos, procurando assim os inimigos aproximá-lo do partido de igual nome que outrora existio em França, sem curar da propriedade histórica do termo, nem do antagonismo de suas respectivas doutrinas, pois era de conveniência desprestigiar-se a briosa mocidade que levou a effeito uma das mais gloriosas resistências [...]. E a intenção estigmativa do termo ainda perdura e, generalisando-se, vae apanhar até os mais moderados espíritos, desde que estes se apliquem ao bem estar social e mostrem estimar a República.” - Annibal Mascarenhas, ‘Jacobinos’, O Nacional, 17/10/1895, n. 114, capa.


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O advento da República ao contrário do que se propaga, não foi um evento aonde a população “assistiu bestializada”, mas sim um dos raros momentos em que houve uma forte mobilização popular quando chegou o momento de defendê-la.
É quando se observa o surgimento dos Batalhões Patrióticos durante a revolta da armada.  Formam-se os clubes jacobinos pelo país a fora, compostos exclusivamente por brasileiros natos. Esses clubes deram origens aos batalhões, uma espécie de milícia organizada para defender a República e difundir seus ideais. Organizavam reuniões, protestos, atos bélicos. Sua imprensa era atuante e disseminada por todo país. O movimento tinha como principais características:
1. A paixão pela República.
2. O Nacionalismo
3. O militarismo
4. A Defesa do Presidencialismo e de um governante forte.
No período de implantação da República, a nova instituição era atacada por monarquistas desalojados do poder, representantes dos interesses portugueses, especialmente no privilégio comercial, mantido no correr de todo o Império, daí o destacado caráter anti-lusitano desses republicanos. De outro lado o Brasil passava por conturbadas relações com as grandes potências (invasão do Amapá pela França e da ilha de Trindade pela Inglaterra) bem como nas pressões internacionais, especialmente dos Rotchshilds, por mudanças da legislação financeira do País, no que uma República nacionalista e militarizada, se apresentava como capaz de resistir as ameaças internacionais.
É com Floriano Peixoto que esse modelo se materializa. Forja-se um nacionalismo militante, a defesa da república empolga a população: o povo se engajou em sua defesa, integrando os batalhões republicanos, participando de comícios e manifestações, houve uma mobilização espontânea!
Durante o governo de Floriano, especialmente na revolta da Armada, dão-se confrontos com países como França, Portugal e Inglaterra, os quais viam com desconfiança a República, militarista, em relação a pacífica monarquia. Estas nações alarmam-se com os combates; ameaçam o país, temendo pelos seus negócios. A ameaça de intervenção, como a da Inglaterra, são relatados com veemência e indignação no congresso e nos jornais pelos Jacobinos. Que a ideia de invasão estrangeira no Brasil não era um delírio xenófobo será demonstrado já no ano de 1895, quando os ingleses invadem a ilha de Trindade e os franceses o Amapá. Essas invasões aliás, inserem-se na conjuntura internacional, que era de expansão imperialista: em 1893, Daomé(Benin) foi incorporado a França e o Havaí aos EUA. Em 1894, a Itália, invade a Abissínia. Há lutas aqui também na América Latina: em 1895, José Martí, lidera a revolução contra a Espanha em Cuba.
Floriano reagiu com energia as investidas estrangeiras, ameaçando “responder à bala” às ameaças de invasão.
Então, é entorno de Floriano que se funde as correntes que irão sustentá-lo: jacobinos e positivistas que ao fim chamar-se-ão “floranistas”.
Do pensamento jacobino(designação imprópria em referência ao movimento francês e que não reflete o brasileiro) será incorporado seus princípios democráticos, de tomada de decisões em praça pública, o princípio de participação direta dos cidadãos nos negócios públicos, um escamotiamento do pensamento positivista do “dictator perpétuo”, isso ocorre mesmo como adaptação as instituições republicanas, materializada na Constituição do Rio Grande do Sul de 1891 que estabelece a reeleição ilimitada no cargo de Presidente (atual governador) do Estado. Outro aspecto incorporado, será o militarismo também rejeitando o pensamento pacifista dos positivistas, as circunstâncias históricas também impeliram para isso ante a “Revolução Federalista” e a “Revolta da Armada”, bem como o expansionismo imperialista das potências na época.
Do positivismo se herda o ideal de governante austero e de modernização do Estado.
É nesse cenário que se dará o embate entre 2 modelos republicanos: o Brasileiro de feição Positivista e o Estadunidense de feição Liberal. (Ver: O Modelo Republicano Brasileiro x O modelo Republicano Estadunidense).



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Economia

Coletânea de Artigos versando sobre teorias econômicas e políticas industriais:



Nenhum outro Governo Combateu Tanto o Capital Estrangeiro Quanto o de Getúlio Vargas!

A Globalização é Irreversível? 

Economista Aarão Reis, Pioneiro na Teoria do Intervencionismo Estatal.

"Japão: O Capital se Faz em Casa." - Barbosa Lima Sobrinho.

A Rejeição do Corporativismo pelo Castilhismo

"New Deal" Foi Inspirado em Getúlio Vargas.

O Processo Desindustrialização da Economia Brasileira, Entrevista com o Presidente da ABIMAQ, Luiz Albert Neto.

Destruam a IBAP - Indústria Brasileira de Automóveis Presidente.

A Sabotagem a Indústria Nacional, O Dramático Caso da IBAP.

Os Embargos dos Estados Unidos a Indústria Bélica Brasileira Afim de Impedir sua Autonomia Tecnológica.

A Saga do 1º Carro 100% Nacional! - Tributo a João Amaral Gurgel.

As Lições de Edson Moura, A Tentativa de "Dumping" contra as Batérias Moura.

Do Intervencionismo Estatal na Economia. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Revolução de 1930 - O Fim da República Liberal.

"A única que tivemos digna desse nome(Revolução de 30), pela profunda transformação social modernizadora que operou sobre o Brasil. Que, proscreveu do poder os coronéis-fazendeiros com seus currais eleitorais e destitiuiu os cartolas do pacto "café-com-leite"" - Darcy Ribeiro.

Foram 21 dias de combates (de 3 a 24 de Outubro de 1930, em todo o território nacional). Na verdade, até houveram relativamente poucos combates, porque a Nação já estava tão farta da carcomida e corrupta República Velha, que em vários locais houve adesão imediata dos militares que deveriam defender o regime agonizante.

De fato, as fotografias, filmes e textos jornalísticos de Outubro de 1930 não deixam margem para dúvidas: em todas as cidades por onde passou o "Expresso da Vitória" ( o trem conduzindo Getúlio, que partiu de Porto Alegre por volta do dia 6 e chegou no Rio de Janeiro no dia 31 ) a aclamação à Vargas e aos revolucionários era ENTUSIÁSTICA e FRENÉTICA.

Um cronista escreveu que em São Paulo:

"uma multidão, como nunca antes São Paulo vira igual, gritava em coro: Nós queremos, nós queremos Getúlio!".

Isso na Estação da Luz, onde o trem conduzindo Vargas chegou nos últimos dias de Outubro.

Mesmo nos EUA (cujo governo - de Herbert Hoover - era CONTRA a Revolução Brasileira) a imprensa tinha que se render aos fatos: a revista "Time" (existente desde 1923) descrevia a Revolução em curso no Brasil como "épica" e muito diferente das meras quarteladas em curso no mesmo ano em outros países da América Latina.

A Revolução de 1930 foi a mais bela, a mais heróica, a mais gloriosa página da História do Brasil no século XX... talvez de TODA a História do Brasil. Além de ter sido um momento de grande força da Nacionalidade, de grande virilidade do nosso Povo, foi a ÚNICA ruptura de Verdade que tivemos em 509 anos de História. Foi ali que o Brasil saiu da lama em que se encontrava desde o descobrimento, ou da "ganga obscura que envolveu o Povo pelos séculos afora", como disse Vargas em 1934.

Com a Revolução de 30, os ideais que motivaram a instituição da República em 1889 voltava ao cenário nacional, um Estado Positivista, racionalizador, científico, nacionalista e social, que se concretizaria na Constituição 1937, abortada com a deposição de Getúlio. Enquanto esses ideais vigeram, foram anos dourados que se viveu no Brasil que ainda se mantém no inconsciente popular.


Artigos correlatos:


As Raízes Socialistas no Pensamento Getulista


domingo, 16 de setembro de 2012

Castilhismo, Orígens.


Marquês de Pombal, promoveu
importantes reformas no Estado 
português ao assumir em 1750.
O Castilhismo surge como evolução histórica da tradição pombalina . Na segunda metade do séc. XVIII, sob o Marquês de Pombal, se moderniza a estrutura do Estado em Portugal, ao ser substituída a tradição religiosa pela ciência, como sustentáculo do poder político.

Antes de Pombal, o Estado português era marcado pela administração Patrimonialista que se caracterizava pelo nepotismo e o clientelismo. O patrimônio do Estado confundia-se com o patrimônio do governante e os interesses públicos eram constantemente apropriados por particulares.

Com Pombal, dois novos elementos viriam modificar essa concepção administrativa que se designou chamar patrimonialismo modernizador, de inspiração pombalina:

a)      A “crença de que a ciência é o meio hábil para a conquista da riqueza”;

b)      “a ciência não corresponde apenas ao processo adequado de gerir e explorar os recursos disponíveis, mas igualmente de inspirar a ação do governo(política) e as relações entre os homens(moral).

Apareceu, assim, como alternativa modernizadora, no seio da cultura lusitana, o despotismo ilustrado ou patrimonialismo modernizador, veio exercer forte influxo no desenvolvimento do Estado brasileiro.

Essas idéias manifestaram-se primeiramente no radicalismo liberal de Frei Caneca(1774-1825), que sustentava poder-se organizar a sociedade em bases puramente racionais e se disseminou dentro do movimento liberal-radical que influenciou, dentre outros, os revolucionários farroupilhas.

Antiga sede da Real Academia Militar, depois sede da Escola
Politécnica, atual prédio da UFRJ.
Posteriormente, como escola de formação dentro do Estado, deu-se a criação da Real Academia Militar(1810) pelo Conde de Linhares, ex-aluno da Universidade Pombalina. A finalidade da Academia consistia em garantira formação científica de oficiais do exército e engenheiros. E através dele o ideário pombalino seria preservado ao longo do Império.

Outras influências se fizeram presentes, sobretudo nas Faculdades de Direito e Medicina, como de resto na esfera política.

Contudo, no estabelecimento que daria origem à Escola Politécnica mantinha-se o culto da ciência na mesma situação configurada pelo Marquês de Pombal, isto é, nutrindo o pensamento de que a ciência é competente para gerir todas as esferas da vida social. É dela que egressa Aarão Reis.

A obra de Aarão Reis na Escola Politécnica, ao fazer um combate frontal ao liberalismo econômico, formulando ao mesmo tempo uma ampla doutrina centrada no intervencionismo estatal na economia, e ao ter como pressuposto a crença na capacidade ético-normativa da ciência, revelou mais uma vez o influxo das idéias científicas de orígm pombalina no contexto da República Velha.

A proclamação da República(1889), levada a cabo por alunos da Acadêmia Militar, tendo a frente Benjamim Constant, aderem ao Positivismo justamente porque enxergam nessa filosofia a expressão do cientificismo de inspiração pombalina. O ulterior afastamento de Constant do movimento positivista no Rio, se justifica, pelo próprio, pelo caráter pouco científico que o movimento estava rumando.

Contudo no Rio Grande do Sul, através de Júlio de Castilhos, se consegue implantar o projeto constituinte de matiz positivista que fora rejeitado a nível federal, materializada na Constituição de 1891 do Estado do Rio Grande do Sul, que se designou chamar de Castilhista, que vigorou durante quase 4 décadas, tendo inclusive Getúlio governado com ela, quando “governador”(se designava chamar Presidente o governado de Estado) pelo Rio Grande do Sul.

O Castilhismo constituiu-se na primeira experiência integral de patrimonialismo modernizador e de cientificismo a La pombal na era republicana. Da suas fileiras saiu Getúlio Vargas, que levou a experiência castilhista até o nível nacional com a Revolução de 30. E implanta o almeijado Estado Positivista idealizado desde os primordios da República e desde sempre sabotado pelos liberais.

É quando se da o processo de tecnificação do Estado. Getúlio cria o DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público, que passou a exigir, dentre outras mudanças, realização de concurso público para a ocupação de cargos públicos. Os liberais viam e vêem a máquina pública como oportunidade de empregos e as vagas eram preenchidas por meio de indicações pessoais, a velha prática clientelista. Quando depuseram Getúlio em 1945, o DASP foi reduzido a mero órgão de estudo e orientação, permitindo a volta da velha orientação de distribuição de empregos por indicação, antes banida por Getúlio.


ARTIGOS RELACIONADOS:

O Modelo Republicano Brasileiro

http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com.br/search?q=modelo+republicano



O Socialismo Moreno de Brizola
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2011/04/o-socialismo-moreno-de-brizola.html

Senador Pinheiro Machado, A Projeção do Castilhismo a Nível Nacional.
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2010/12/senador-pinheiro-machado-projecao-do.html

A Contribuição de Alberto Pasqualini ao Trabalhismo.
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2009/04/contribuicao-de-alberto-pasqualini-ao.html

O Nacional-Trabalhismo Brasileiro por Getúlio Vargas
http://ressurreicaonacionalista.blogspot.com/2009/02/o-nacional-trabalhismo-brasileiro-por.html




segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Contra-revolução de 1932



Tropa Federal Riograndense no Ibirapuera
A Contra-revolução de 32 foi a reação da oligarquia em seus espamos finais contra a Revolução de 30, quando usou parte da classe média em São Paulo como bucha de canhão na consecução de seus intentos, ao que a classe trabalhadora se pois ao lado de Getúlio com quem sempre esteve!


A mesma oligarquia que antes fraudava sem a maior parcimônia eleições e mergulhava na mais sombria corrupção, usava como embuste uma pretensa "democracia"(que sempre renegaram) contra um governo revolucionário que ainda se encontrava em formação. Pretexto, reles pretexto para abortar a Revolução em curso.

O empresário Octavio Frias de Oliveira (falecido proprietário do jornal "Folha de São Paulo"), participou como voluntário daquele movimento (mais um que serviu como buxa de canhão para os apetites de poder insaciáveis da oligarquia cafeeira). Em sua biografia, contou o que foi realmente aquela rebelião:
"aquilo era sacanagem dos paulistas da UDN. Sempre achei isso. Porque nenhum filho de gente importante estava lá? Só estavam o povinho ou os ingênuos como eu. Foi uma das sacanagens mais bem armadas que eu já vi.".
Lembrando que, enquanto os filhos da oligarquia escapavam de ir lutar, o filho de Getúlio, Lutero Vargas, na época apenas um adolescente, foi para a frente de combate, pois como escreveu Getúlio em seu Diário:
"não podia privá-lo de fazer aquilo que julgava ser o seu dever. Meus inimigos não poderão dizer que este aspecto sentimental me desinteressava" .
Hodiernamente esse cadáver de 32, mantido insepulto pela oligarquia, é usado por separatistas, sob manto de "regionalismo" para atacar Getúlio, e a unidade Nacional, fomentando divisões internas. E alguns inocente úteis, ou mau-caráteres mesmo, que se alcunham "nacionalistas"(?) defendem essas mesmas pautas, que foram expressamente combatidos por Vargas.

Alguns, são tão descarados, que chegam ao cúmulo da desfaçatez em negarem a própria existência da nacionalidade brasileira, que é a própria razão de ser de alguém que se alcunhe como "nacionalista".

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domingo, 17 de junho de 2012

Guerreiros de Selva - Os Guardiões da Amazônia Brasileira.


O Centro de Instrução de Guerra na Selva - CIGS, tem sido nos últimos anos um dos mais importantes atores no desenvolvimento da chamada “Estratégia de resistência” do Exército Brasileiro, para a eventualidade de um confronto militar entre nossas forças e as de um país ou coligação de países com poderio militar bem superior.

Com esse fim desenvolveu todo um arcabouço de treinamento, táticas e provimentos  adequados para a Infantaria de Selva do Exército Brasileiro, tornando-se um centro de excelência, reputado como a melhor formação de combatentes de selva em todo o mundo.

PREPARAÇÃO:

Na selva, a sensação de ter o metabolismo alterado é massacrante. Apesar de estar sempre molhado, seja pela chuva, pela travessia dos inúmeros cursos d’água (rios e paranás), lagos, igapós e igarapés, ou simplesmente pela transpiração, o combatente está sempre com sede. Os cuidados com a alimentação devem ser enormes, pois problemas intestinais que provocam diarréia agravam o quadro. A perda de oito, dez e até 20 quilos em operações prolongadas na selva é comum para os guerreiros de selva.

Exatamente devido ao impacto que o ambiente provoca sobre o corpo do combatente de selva, um dos principais trabalhos exercidos no CIGS para aumentar a eficiência do combatente de selva é aquele desenvolvido em seu Laboratório, subordinado à Divisão de Saúde. Por meio de parceria com a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Geral de Manaus (HGeM), é desenvolvido o Projeto de Pesquisa e Monitoramento Clínico-Laboratorial do Combatente de Selva. Este projeto tem por objetivo acompanhar o perfil corporal, hematológico, urinário, parasitológico intestinal e bioquímico dos alunos do COS, proporcionando dados valiosos sobre as alterações que a internação prolongada do combatente na selva produz no organismo humano. Os resultados desta pesquisa vêm sendo usados para a otimização do desempenho do guerreiro de selva brasileiro.

O papel do CIGS e de sua Divisão de Doutrina e Pesquisa no aperfeiçoamento do combatente de selva brasileiro vai muito além de pesquisar e ensinar a construção e uso de abrigos e armadilhas, emprego de armas e equipamentos, etc. Chega-se ao nível de detalhar, por exemplo, o tipo de tecido ideal para uso nos uniformes, a técnica de amarração ideal dos cadarços usados nos coturnos, a composição da ração operacional, o projeto de uma rede de selva adequada, e muitos outros.

A definição de um tecido ideal para ser usado na confecção dos uniformes foi tarefa para vários anos, até se chegar ao modelo atual, de forma a permitir a secagem rápida do uniforme, constantemente exposto à umidade, sem que apresente desconforto ao militar. O mesmo empenho foi aplicado ao estabelecimento da técnica de amarração dos cadarços dos coturnos, de modo a permitir sua rápida desamarração ou mesmo o corte com faca, para que o combatente possa liberar rapidamente seu equipamento e nadar com maior desenvoltura, se isso significar sua sobrevivência na hipótese de, por exemplo, cair em águas profundas e turbulentas.

A definição da composição da ração operacional também mereceu por parte do CIGS intensos estudos, incluindo a análise de rações utilizadas por exércitos de outros países. A ração do exército americano, por exemplo, foi analisada e testada no ambiente da selva amazônica. Devido ao seu elevado teor de gordura, foi constatado que o combatente de selva que fizesse uso dela estaria fora de combate em menos de três dias, com sérios problemas intestinais e diarréia. A ração brasileira, além de estar adaptada ao paladar do soldado brasileiro —com pratos como arroz e feijão, carne assada e frango , tem elevado teor protéico e de fibras.
Também faz parte das responsabilidades do CIGS instruir os participantes dos Cursos de Operações na Selva sobre o correto uso dos recursos da floresta, seja para a construção de armadilhas (voltadas aos oponentes, ou à caça e pesca), cuidados com animais peçonhentos, e como usar animais e vegetais para os mais diversos fins, incluindo a alimentação. Frutas e animais comestíveis abundam na floresta, assim como os venenosos ou tóxicos. Note-se que, entre os animais considerados comestíveis, encontram-se algumas larvas e insetos de aspecto nada apetitoso para o homem da cidade.

Se a selva já é extremamente perigosa e desconfortável durante o dia, à noite o perigo e o desconforto são ainda maiores. Para permitir que o guerreiro de selva possa manter e recuperar suas energias, com repouso e conforto adequados, e mantendo-se a salvo de mosquitos, ofídios, aracnídeos e outros riscos, o CIGS não mediu esforços para desenvolver uma rede de selva ideal. O modelo aprovado e em uso atualmente possui mosquiteiro, toldo para abrigo da chuva (que, sendo impermeável, também pode ser usado para recolher a água da mesma), compartimento na parte inferior para armazenar as armas e os equipamentos individuais do combatente, e tirantes de lona resistentes nas laterais, que permitem sua transformação em uma maca improvisada, simplesmente passando-se duas hastes de madeira nas laterais.

ARMAMENTO:

Diversas armas, táticas e equipamentos vêm sendo exaustivamente testados, modificados ou aperfeiçoados pelo EB nos últimos anos, com vistas ao seu emprego na guerra de selva. Muitos são aprovados e muitos são recusados. A constatação de que equipamentos receptores GPS não funcionam corretamente sob a densa cobertura vegetal da floresta, por exemplo, fez com que o Exército restringisse seu uso somente à instrução e a casos nos quais a determinação de coordenadas precisas é imprescindível, como numa evacuação aeromédica. Nesta situação, entretanto, o militar com o receptor seria obrigado a se deslocar até uma clareira ou até a margem de um rio para usar o equipamento. No dia a dia das operações de selva do Exército, o que se usa são as tradicionais cartas e bússolas. Forças excessivamente dependentes de recursos tecnológicos como o GPS poderiam ficar em sérios apuros na Amazônia.

No que se refere ao armamento individual do guerreiro de selva, o EB tem, ao mesmo tempo, o problema e a solução. Fuzis de assalto de diversos tipos foram e são avaliados, incluindo armas de alta qualidade, como o fuzil alemão Heckler & Koch HK33 e o norte-americano M16A2, ambos no calibre 5,56mm, e o tradicional FAL do Exército Brasileiro, no calibre 7,62mm. O fuzil padrão das tropas de selva brasileiras é o Pára-FAL, a versão com coronha rebatível, usada também pelas tropas pára-quedistas brasileiras e outras unidades. O Pára-FAL tem se mostrado a arma ideal para emprego na selva por suas características de peso, rusticidade e simplicidade de manuseio. Por outro lado, sua substituição no futuro será, certamente, um sério problema para o Exército. O calibre 5,56mm, usado na maior parte dos modernos fuzis de assalto, é considerado inadequado para o combate de selva, devido ao pequeno peso do projétil e à sua tendência de assumir uma trajetória instável ao colidir com pequenos obstáculos, como folhas e galhos de árvores. Isso acaba retirando do projétil muita energia e, consequentemente, poder de parada (stopping power).

 O respeito que o Pára-FAL conquistou entre os combatentes de selva justifica-se, por exemplo, pelo resultado de um teste realizado numa das bases de instrução do CIGS, quando um exemplar de cada do HK33, do M16A2 e do Pára-FAL foram comparados, com o objetivo de determinar sua resistência às condições da floresta. Numa manhã, cada uma das armas recebeu limpeza e a necessária manutenção, de acordo com as recomendações do fabricante, foi municiada e colocada sobre cavaletes de madeira, e exposta ao Sol e à chuva durante todo o dia e a noite seguinte.

Pela manhã do outro dia, um oficial retirou o HK33 do cavalete e tentou disparar uma rajada contra um alvo: a arma travou várias vezes. Ao repetir a experiência com o M16A2, verificou-se que este não disparou um só tiro, pois estava grimpado. Finalmente, o oficial dirigiu-se ao Pára-FAL, conhecido como “pit-bull” entre a tropa e, surpreendentemente, não somente conseguiu descarregar todo o pente no alvo, como ainda remuniciou a arma e repetiu a dose. Este oficial confidenciou ao autor que não coloca em dúvida a qualidade das outras duas armas, mas o teste evidencia o fato de que ambas necessitam de muito mais cuidados e manutenção do que o tradicional e confiável Pára-FAL.
Mas as armas disponíveis para o uso na selva não se resumem ao fuzil, à faca de combate e ao inseparável facão de mato. Armas incomuns, como bestas e até mesmo a tradicional zarabatana dos indígenas da região, podem fazer parte do arsenal do guerreiro de selva. Os modelos de bestas usados têm grande precisão e poder de penetração, podendo atravessar um corpo humano a quase 100 metros de distância. Silenciosa e mortal, a besta é considerada uma arma excelente para eliminar sentinelas. O mesmo se aplica à zarabatana, principalmente associada a dardos com venenos cujo preparo é um segredo bem guardado pelo EB e pelos soldados indígenas que, em número cada vez maior, engrossam as fileiras dos Batalhões de Selva na Amazônia, com excelente avaliação por parte de seus comandantes.

A importante participação dos índios brasileiros na formação das tropas de selva brasileiras pôde ser exemplificada durante a Operação Ajuricaba II, em outubro/novembro de 2003, quando as Forças do Partido Azul, responsáveis pela defesa da região, usaram soldados indígenas como rádio-operadores. Falando em sua própria língua, eles evitavam que as comunicações fossem decifradas pelas forças invasoras, ou Partido Vermelho, compostas por elementos da Brigada Pára-quedista, Fuzileiros Navais e outras tropas de elite, sediadas em diferentes regiões do país. Essas, diga-se de passagem, tinham efetivos maiores e eram dotadas de armas e equipamentos de alta tecnologia, tendo total controle sobre o espectro eletromagnético na área da operação.
Acima O CIGS foi o responsável pela retomada dos estudos visando a utilização de duplas de caçadores (Snipers) nas unidades de guerra na selva do Exército Brasileiro. O atirador da foto utiliza a roupa de camuflagem aprovada pelo CIGS e o fuzil Imbel Fz .308 AGLC, no calibre 7,62x 51mm, especialmente desenvolvido para uso por atiradores de elite.
Num conflito na Amazônia, as forças de selva do EB agiriam em pequenas frações, mas capazes de inflingir pesadas perdas ao adversário, fazendo uso do seu conhecimento da floresta para desaparecer sem deixar vestígios. Dentro deste espírito, uma tática que voltou a ter força dentro do EB nos últimos anos foi o emprego de equipes de atiradores de elite (snipers), denominados "caçadores" no Exército. Uma equipe de caçadores é formada por dois sargentos, sendo um o atirador (o sniper, propriamente) e o outro o observador (spotter). A arma já testada e aprovada para o uso por essas equipes é o fuzil Imbel Fz .308 AGLC, de projeto e fabricação nacionais. O AGLC é uma arma de precisão baseada na ação Mauser, de reconhecida e inegável confiabilidade e segurança. Com um cano flutuante, tipo “match”, forjado a frio e adaptado para o tiro com luneta, e usando munição 7,62 x 51mm, a arma saiu-se muito bem quando comparada a diversos tipos de fuzis de precisão de fabricação estrangeira. O tipo de camuflagem (ghillie suit) usado pelas equipes de caçadores também já teve sua eficiência determinada pelo trabalho do CIGS.

Um grupo de guerreiros de selva desloca-se pela floresta. O primeiro elemento, o esclarecedor, consulta um receptor GPS que só é usado para fins de instrução, uma vez que seu uso é desestimulado no dia-a-dia. Notar a escopeta calibre 12 levada pelo soldado (Foto: Raimundo Valentim).

Outra arma testada e adotada para uso por tropas de selva é a tradicional escopeta calibre 12, empregada pelos esclarecedores dos grupos de combate. Como o esclarecedor é o elemento que vai à frente da formação, precisa de uma arma com o máximo de poder de fogo, para a possibilidade de um encontro com uma patrulha inimiga. Outras armas que tiveram seu uso aprovado para guerra na selva graças aos estudos realizados pelo CIGS foram o lança-granadas de 40 mm e o lança-chamas.
Mas o trabalho desenvolvido pelo CIGS em busca de meios que possam fazer valer a chamada “estratégia de resistência” foi ao ponto de testar e aprovar o emprego da tradicional e popular carabina Puma, modelo Winchester, de ação por alavanca, fabricada pela empresa Amadeo Rossi, enquanto a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) fabrica sua munição, calibre .38. A idéia por trás disso era encontrar uma arma que fosse de fácil manuseio, relativamente precisa e barata, que pudesse ser distribuída para reservistas e mesmo entre a população civil, no evento de uma intervenção militar estrangeira na Amazônia, e cuja munição fosse facilmente encontrada no comércio. Nos testes realizados pelo CIGS, ficou demonstrado que a carabina Puma pode ser precisa em distâncias superiores a 100 metros. Bons atiradores conseguem tiros precisos a quase 200 metros. E, na opinião dos oficiais instrutores do CIGS, 100 metros pode ser a largura de uma margem a outra de um rio, separando o atirador com a Puma de uma fração de tropa inimiga.



Uma tática desenvolvida pelo CIGS e já disseminada entre as tropas de guerra na selva é o emprego de “cachês”, como meio de pré-posicionamento de armas, munição, medicamentos, rações e outros suprimentos fundamentais às frações de tropa. Os cachês são, basicamente, depósitos de suprimentos enterrados, com a finalidade de ressuprimento de tropas nacionais, que estejam operando em nosso território, em área sob intervenção de uma nação ou força multinacional incontestavelmente superior, em meios, à brasileira. Os cachês são enterrados em locais de difícil acesso e percepção pelo invasor, mas de fácil abordagem pela tropa interessada. Os buracos são resistentes a intempéries, forrados por madeiras nas laterais e com drenagem no fundo, sendo usados para acondicionar containers de fibra de vidro com suprimento para pequenas frações (10 a 15 homens). A camuflagem dos “cachês” é tão eficiente que não eles são percebidos por animais ou nativos.

No primeiro semestre de 2004, o CIGS deverá se envolver na avaliação de um exemplar do Combat Boat CB90H, uma lancha produzida pela empresa sueca Dockstavarvet AB, que deverá enviar um exemplar a Manaus em abril. O CB90H é capaz de transportar 20 soldados totalmente equipados (o equivalente a cerca de 2,8 toneladas), em velocidades de até 40 nós e com relativo conforto, mesmo em condições climáticas adversas, sendo capaz de realizar abicagens violentas em praias ou margens de rios, ocupadas por forças adversárias. As tropas desembarcam através de uma rampa lançada por sobre a proa. O CB90 é largamente utilizado pela marinha sueca (172 unidades do CB90H), e foi exportado para a Noruega (20 CB90N), Malásia (17 CB90H) e México (40 CB90H).

O projeto Búfalo
Uma das primeiras preocupações do CIGS era resolver a questão do transporte de armas, munição, água, rações e outros equipamentos por frações de tropa empenhadas na guerra de selva. Assim, na busca de um meio de transporte eficiente e de baixo custo para o ressuprimento nas operações na selva, tentou-se a utilização de animais de carga ou que pudessem ser adestrados para esse fim.

Uma das primeiras tentativas desenvolvidas pelo CIGS foi durante o Comando do Cel Gélio Fregapani, com a utilização de uma anta, criada desde cedo no zoológico do Centro com este fim. A experiência infelizmente não obteve sucesso, já que o animal, selvagem, jamais aceitou que fosse transportada qualquer carga nas costas.

Outra tentativa, também frustrada, mas que começou a demonstrar a validade do conceito da utilização de animais, foi executada a partir de 1983 com a utilização de muares. Estes, apesar de historicamente já haverem sido bastante utilizados, não só pela população civil como em operações militares, infelizmente não se adaptaram à Amazônia, sendo que o principal problema verificado foi de natureza veterinária. O animal teve sérios problemas com apodrecimento de cascos e doenças de natureza epidérmica.
Com a continuidade dos estudos chegou-se finalmente ao búfalo, animal já criado com sucesso na Amazônia em pelo menos quatro espécies, rústico e com diversas características que foram ao encontro das necessidades militares para o emprego de animais.
O chamado Projeto Búfalo nasceu em 2000, e tem demonstrado ser uma das soluções para as necessidades das tropas de selva brasileiras, devido à resistência do animal, sua adaptação ao ambiente e, principalmente, à sua capacidade de transportar 400 kg ou mais de carga no lombo, ou até três vezes isso quando tracionando carroças.

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