sábado, 17 de fevereiro de 2018

Vargas e o Integralismo



“Não consentiremos que o esforço e a dedicação patriótica dos bons brasileiros venham a sofrer inquietações e sobressaltos originados pelas ambições personalistas ou desvarios ideológicos de falsos profetas e demagogos vulgares." - Getúlio Vargas.


Estando em viagem pela Itália em 1930, Plínio Salgado escreve uma carta a um amigo se mostrando impressionado pelo regime fascista e seu encontro com Mussolini:

“Tenho estudado muito o fascismo; não é exatamente esse o regime que precisamos aí, mas é coisa semelhante. O fascismo, aqui, veio no momento preciso, deslocando o centro de gravidade política, que passou da metafísica jurídica às instituições das realidades imperativas. (...). Penso que o Ministério das Corporações é a máquina mais preciosa. O trabalho é perfeitamente organizado. O capital é admiravelmente bem controlado. (...) Volto para o Brasil disposto a organizar as forças intelectuais esparsas, coordená-las, dando-lhes uma direção, iniciando um apostolado.”

“Contando eu a Mussolini o que tenho feito, ele achou admirável o meu processo, dada a situação diferente do nosso País. Também como eu, ele pensa que antes da organização de um partido, é necessário um movimento de idéias”. (Apud MEDEIROS, Jarbas; VIEIRA, Margarida. “As idéias políticas de Plínio Salgado”. In: CRIPPA, Adolpho (coord.). As idéias políticas no Brasil.)

Plínio Salgado
Disso derivou a idéia de criar a AIBAção Integralista Brasileira, oque veio a se concretizar em 32. 

O Integralismo nasce assim do fascismo e terá nos imigrantes italianos e alemães seus principais núcleos de apoio, tendo recebido mesmo ajuda financeira ao longo de sua existência de Mussolini.  Havendo também estreita colaboração entre integralistas e o partido nacional-socialista no Brasil, como os jornais Blumenauer Zeitung e Joinvillerser Zeitung, que atuaram na cobertura dos dois movimentos (CARONE, 1977, p. 212; GERTZ, 1987, p. 192); tendo inclusive a NSDAP compartilhado sua sede com a AIB em Rio do Sul – SC. (RIBAS, 1944, p. 129).

O envolvimento de Plínio Salgado com movimentos estrangeiros, e seu relativo distanciamento do governo, embora o movimento desperta-se simpatias em Vargas, provocava também desconfiança em Getúlio. A lembrar que Plínio Salgado fora apoiador da contra-revolução de 32. Assim é que Getúlio registra em seu Diário:

“O integralismo é uma forma orgânica de governo e uma propaganda útil no sentido de disciplinar a opinião... Não confio muito nos seus dirigentes, nem eles têm procurado se aproximar do governo de modo a inspirar confiança.”

Com a instituição do Estado Novo em 37, o fechamento dos partidos políticos será decretado em dezembro desse mesmo ano, incluso a AIB e o partido Nacional-Socialista.

Antes mesmo do decreto de três de dezembro de 1937, começar a valer, em 18 de abril de 1938, Getúlio recebeu o embaixador alemão Karl Ritter, que manifestou desagrado com o fechamento do partido nacional-socialista no Brasil, e que isso implicava ter o Brasil como inimigo. Getúlio contemporanizou alegando que não poderia abrir exceções posto que todos os partidos, inclusos os brasileiros, foram extintos. Eis o teor da conversa:
Karl: " - O Partido Nacional-Socialista é a própria Alemanha [....] Todos os ataques que são dirigidos ao Partido, portanto, são considerados também ataques diretos ao Reich."
Getúlio: " - Ora, não devemos comprometer uma grande questão com outra menor".
Karl: " - Se o senhor considera a proibição do Partido Nacional-Socialista no Brasil uma questão pequena, não vejo por que insiste nela. Os temas políticos são fundamentais para o Führer. E os nossos negócios, mesmo os mais consideráveis, não tem qualquer importância se comparados aos assuntos supremos do Partido".  

O inconformismo de Karl Ritter, com o fechamento do partido nacional-socialista no Brasil, se devia ao projeto alemão de incorporação do sul do Brasil como colônia alemã. 

Segundo Olbiano de Melo, Getúlio prosseguiu em suas negociações com os integralistas mesmo após a extinção dos partidos, oferecendo-lhes o Ministério da Educação. A liderança do movimento chegou a escolher o nome de Gustavo Barroso para a pasta, mas a indicação, transmitida por Alcebíades Delamare a Francisco Campos para que este a levasse até Vargas, misteriosamente.....  jamais chegou a seu destino.
"Encontrei com Plínio Salgado. Caipira astuto e inteligente, entendemo-nos bem." - Getúlio Vargas, 26 de outubro de 1937.

Em 11 de março de 1938, antes do efetivo fechamento dos partidos em 18 de abril. Ocorreu a primeira tentativa de golpe por parte dos integralistas. Uma grande quantidade de armas foi apreendida na casa de Plínio Salgado, onde, segundo Hélio Silva, foram encontrados três mil punhais marcados com a suástica. Tendo Plínio Salgado e Belmiro Valverde — chefe militar do levante — conseguido escapar.

Getúlio registrou em seu diário, antes desse primeiro evento, já ter conhecimento da conspiração dos integralistas contra seu governo, diz:

“12 de fevereiro de 1938: ―Vieram falar-me sobre conspirações que estavam sendo tramadas no Exército etc. Combinei inicialmente providências militares no Rio Grande e em São Paulo, e aconselhei ao chefe de Polícia vigilância aqui, não convindo, por enquanto, fazer prisões.”

Dois dias depois, em 14 de fevereiro, as informações da conspiração chegavam de modo mais grave:

“―O ministro da Justiça, impressionado com os boatos de conspiração, quer apressar as coisas.

E, no dia 16 do mesmo mês,  assim registrava o clima conspiratório dos integralistas contra o governo:

“―A polícia fluminense descobre uma conspiração integralista em Petrópolis e faz prisões.”
"Ambiente de franca conspiração, dirigido por integralistas. Disse ao ministro Campos que ou o Plínio vinha colaborar ou eu teria de adotar medidas de repressão contra seus partidários." - Getúlio Vargas, 05 de março de 1938.
A conspiração prosseguiu e, na véspera da deflagração do segundo levante, ocorrido em 11 de maio de 1938. O movimento foi novamente dominado após algumas horas de cerco dos integralistas ao palácio Guanabara e um levante no Ministério da Marinha. Com as prisões efetuadas. Ficou claro que a tentativa de assassinato a Getúlio não partira tão somente dos integralistas, mas também de liberais, denunciando mais uma vez a relação do Plínio Salgado com os liberais, e de setores de dentro das próprias forças armadas.
10 de maio de 1938 – “à noite, após o despacho, fui deitar-me. Não havia ainda adormecido, quando sobressaltou-me cerrada fuzilaria e descargas de metralhadoras. Era o ataque ao palácio, feito de surpresa. O ministro da Guerra veio até o portão, mas não pôde penetrar porque o espaço era varrido pelas metralhadoras. As forças do Exército e da polícia cercavam os arredores, mas não podiam penetrar. Essa situação manteve-se até a madrugada, quando os rebeldes se renderam.” - Getúlio Vargas.
12 de maio - "Aproveitei para fazer o elogio do ministro da Guerra. Realmente, durante mais de três horas em que estive atacado no Guanabara pelos assaltantes e pela própria guarda do palácio, quase sem defesa, foi ele o único homem entre os altos funcionários da administração que, com o risco da própria vida, procurou salvar-me. Dos outros, os que não fugiram, procuraram primeiro garantir a si próprios." 
28 de junho - (Descobriu-se que um irmão de Oswaldo Aranha estava implicado no ataque ao palácio. O chanceler quer demitir-se) "Oswaldo reiterou seu pedido de demissão, dizendo que sua mãe era de opinião que ele não poderia continuar servindo a um governo que castigara seu irmão."
Belmiro Valverde, um dos integralistas presos, aponta Plínio Salgado como um dos mandantes:

“Plínio Salgado sabia, estava acompanhando os fatos, alegrou-se com as primeiras notícias favoráveis, desesperou-se quando soube do fracasso. Um depoimento por nós ouvido de Francisco San Tiago Dantas acrescenta que Plínio redigiu um depoimento para que ele lesse no Rio de Janeiro, logo que saísse vitorioso o movimento.”

Sobre Plínio, diz ainda Valverde:

“vencidos, ele (Plínio Salgado) nos pôs de lado; vencedores, haveria de querer surgir como grande Messias, o Homem do Destino. Cometemos para ele o pecado de não ganhar a partida”.

Anos depois, o próprio Plínio confessara sua participação no levante:

“A minha autorização, não apenas ao sr. Valderde, mas aos chefes integralistas do DF, era no sentido de articular, preparar e aguardar, e nunca decidir sobre a forma de ação, e nem sobre a data da sua execução”.

O envolvimento com liberais e apoio externo do fascismo italiano se comprova com a prisão de Severo Fournier, liberal e ex contra-revolucionário de 32, que se refugia no consulado italiano.

As correspondências entre o embaixador italiano Vicente Locajono e o ministro fascista do exterior, Galeazzo Ciano, comprovam que a AIB recebia subvenções do governo italiano.

Sede do Partido Nacional-Socialista e da AIB em Rio do Sul - SC. 

Do envolvimento dos integralistas com o partido Nacional-Socialista no Brasil, no que pese haver colaboração, havia divergência ideológica ante o projeto de assegurar a germanização das colônias alemães por parte do partido nacional-socialista do projeto integralista de brasileirização desses contigentes. Plínio Salgado reiteradas vezes chegou a atacar as proposições racialistas do Nacional-Socialismo, bem como acusando-os de pagãos.   Em junho de 1935, Plínio Salgado chegou a enviar um emissário, Dr. José Zamarin da Testa, à embaixada da Alemanha, no Rio de Janeiro, oferecendo a cessação dos insultos que proferia à Alemanha e a manutenção do germanismo no sul após a chegada ao poder, em troca de ajuda financeira do III Reich. (C.f. GERTZ, 1987, p. 135-136).

O alemão Stemmer, agente secreto de Batista Luzardo, revelou a parceria dos nazistas com os integralistas, e a união desses com Flores:
"O Stemmer foi apresentado ao Contreiras pelo Sr. Correia Pires, agente de ligação entre Flores e o elemento florista em Rivera. ( ... ) Acrescentou o Contreiras que os integralistas não carecem de recursos, visto que o Sr. Plínio Salgado teve sempre o auxílio pecuniário de elementos alemães. O Contreiras, no curso das conversas com o Stemmer, disse que a combinação com os alemães é a seguinte: o governo integralista que se instalar no Brasil dará o monopólio das exportações das matérias-primas brasileiras à Alemanha e concederá várias regalias aos alemães no Brasil" - Batista Luzardo, em carta à Getúlio em 04 de outubro de 1938.

Desta forma, Getúlio tinha ciência que, mesmo após o levante de 11 de maio de 1938, os integralistas não desistiram e continuaram articulados ao agente alemão e a Flores da Cunha, além de ainda contar com o apoio de alguns setores militares.

Diante dessas relações do integralismo com o nacional-socialismo e o fascismo, é que Getúlio confessa a sua filha Elzira Vargas, após ser indagado do porque não convocava o plebiscito para legitimar a Constituição de 37, o motivo da instauração do Estado Novo:

"o golpe de primeiro de novembro foi justamente para evitar qualquer movimento eleitoral que só poderia nos prejudicar nesta ocasião, e me perguntas pelo plebiscito? Não te passou ainda pela cabeça que os dois únicos partidos de âmbito nacional têm suas origens fora do Brasil: o comunismo e o integralismo? Todos os outros representam apenas interesses locais ou, quando muito, regionais" – Getúlio Vargas.

Desta forma, o Estado Novo surge como o salvador da ordem, que libertou o Brasil das doutrinas e das interferências externas e o projetou para si mesmo, a fim de evitar o caos e a pobreza gerada pelo liberalismo, ao mesmo tempo eliminar definitivamente os regionalismos que ameaçavam a unidade brasileira.





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O Combate de Getúlio Vargas aos Regionalismos e as Doutrinas Estrangeiras
Biografia de Gustavo Barroso.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Os Mais Antigos da Europa!


Estudo dos Genes de Histocompatibilidade HLA, revelou que os descendentes do primitivo povo que habitava o Norte e o Centro de Portugal, conhecido por Lusitano, possuía dois genes únicos:

• A25-B18-DR2
• A26-B38-DR13

O A26-B38-DR13 é o gene mais antigo da humanidade, enquanto que o A25-B18-DR2 é único, pois apenas existe nos lusitanos! Ou seja, não existe em mais nenhum povo do mundo!

Os portugueses, não são mediterrâneos. Inexiste nos portugueses como nos bascos, o haplótipo mediterrâneo A33-B14-DR1, oque comprova o isolamento dessas duas populações.

O haplótipo paleo-norte africano, A30-B18-DR3, presente nos bascos, argelinos e espanhóis, também não é encontrado nos portugueses.

Em comum com os bascos e castelhanos de Madrid, os portugueses compartilham uma alta freqüência dos HLA-haplótipos A29-B44-DR7 (antigos europeus ocidentais), A2-B7-DR15 (antigo Europeus e paleo-norte-africanos), e A1-B8-DR3 (europeus).

O HLA (human leukocyte antigens) são cicatrizes adaptativas que ficam nos genes do sistema imunitário. Por isso quando os humanos encontraram corpos que lhes eram estranhos o sistema imunitário reage com os antígenos de forma a criar as reações dos anticorpos, do seu sistema imunitário. Por isso esses alelos no cromossoma 6, são uma excelente maneira de saber por onde andaram os seus antepassados.

Ao analisar os portugueses encontramos o HLA A2-B7-DR15. Este é conhecido como Europeu antigo e Paleo norte-africano. Chamemos-lhe EPA. O EPA é partilhado pelos R1b da europa ocidental e pelos Africanos (paleo), aqueles que habitavam a área muito antes da sua população atual, os Árabes. Estamos a falando dos Berberes e Tamazights do norte de África.

As variedades de R1b, comum na Europa Ocidental, são encontradas em 60% dos portuguêses do Sul e cerca de 83% dos portugueses do Norte pertencem a subclasse R1b-DF27 (majoritariamente), conhecido como Haplotype Modal Atlântico (AMH). Há mesmo algumas áreas em Portugal, onde o AMH é encontrado em cerca de 90% dos homens.

O EPA encontra-se em alta frequência nos argelinos, nos portugueses, espanhóis, bascos, austríacos e Reino Unido, com incidências elevadas nos portugueses, bascos franceses, pessoal da Cornualha e atrevo-me a dizer que se procuraram encontram na Irlanda, escócia e Pais de gales, tal como na verdade em todo sul da Inglaterra… porque esta marca seguiu os R1b do estuário do Tejo em toda a sua Celtificação (ou pelo menos largas partes da mesma) da Europa ocidental.

Convém relembrar que os portugueses possuem genes únicos que são o: HLA-A25-B18-DR2 e A26-B38-DR13. Oque significa uma menor admixture.

Os referidos estudos se centraram em pessoas das regiões entre o Tejo e o Douro. Mas a existência da localidade destes genes implica realmente na existência de uma população local que não sofreu uma mistura muito grande com o passar dos milénios e que representará o legado dos misteriosos Oestreminios (provavelmente) mais tarde identificados como os Lusitanos.

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Divisão Breogan.
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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

TESTAMENTO POLÍTICO DE FLORIANO PEIXOTO

Carta encontrada no bolso de Floriano Peixoto, quando veio a falecer. Floriano exalta seus seguidores para que continuem na defesa da República e do Brasil. Esse documento, muito provavelmente, foi que influenciou Getúlio a escrever como exemplo a Carta Testamento quando do seu martírio pelo Brasil. Eis a carta de Floriano: 

Meus amigos – recebo com especial agrado a sincera manifestação do vosso apreço.Ela tem para mim um valor inefável, pois revela a generosidade dos vossos nobres corações.
Ela me enche a alma de um prazer imenso, porque vejo nela um tributo de vossa gratidão a um velho servidor da Pátria, que lhe consagrou de coração o melhor da vida, e da República, por amor da qual sacrificou o resto de sua saúde e vigor que lhe deixou a penosa campanha do Paraguai.
Hoje, como vedes, vivo longe do lar a procurar em vários climas a reparação das forças perdidas nas lutas pela Pátria e pelas novas instituições.
Nessa peregrinação, alimento a esperança de alcançar do Criador a mercê de viver mais algum tempo para prover a educação dos filhos, órfãos há cinco anos dos cuidados paternos; e também para lograr o prazer de contemplar a jovem República livre dos embaraços que ora lhe estorvam os passos, a marcha desassombrada e feliz ao lado das nações mais adiantadas do Velho e do Novo Mundo.
A vós, que sois moços e trazeis vivo e ardente no coração o amor da Pátria e da República, a vós corre o dever de ampará-la e defendê-la dos ataques insidiosos dos inimigos.
Diz-se e repete-se que ela está consolidada e não corre perigo.Não vos fieis nisso, nem vos deixeis apanhar de surpresa.
O fermento da restauração agita-se em uma ação lenta, mas contínua e surda.Alerta! Pois. A mim me chamais o consolidador da República. Consolidador da obra grandiosa de Benjamin Constant e Deodoro são o exército nacional e uma parte da armada, que a Lei e às instituições se conservaram fiéis.
Consolidador da República é a guarda nacional, são os corpos de polícia da Capital e do estado do Rio, batendo-se com inexcedível heroísmo e selando com o seu sangue as instituições proclamadas pela Revolução de 15 de novembro.
Consolidador da República é a mocidade das escolas civis e militares derramando o seu sangue generoso para com ele escrever a página mais brilhante da história das nossas lutas.
Consolidador da República, finalmente, é o grande e glorioso partido republicano, que, tomando a forma de batalhões patrióticos, praticou tais e tantos feitos de bravura, que serão ouvidos sempre com admiração e respeito pelas gerações vindouras.
São esses os heróis para os quais a Pátria deve volver os olhos, agradecida.
À frente de elementos tão valiosos, não duvidei, um momento sequer , do nosos triunfo, e, pedindo conselhos a inspiração e a experiência e procurando amparo no sentimento da grande responsabilidade que trazia sobre os ombros tive a felicidade de poder guiar os nossos no caminho da vitória.
Foi esse o meu papel.
Se mérito existe, não almejo outra recompensa, senão a prosperidade da República e a estima dos que sinceramente lhe consagram o seu amor.
Vou terminar: as prescrições médicas não me permitem o mais leve trabalho mental; mas, para corresponder à vossa gentileza, não duvidei infringir os conselhos da ciência e escrever estas linhas, que vos entrego como penhor e testemunho da minha eterna gratidão. – Divisa, junho de 1895 – Floriano Peixoto.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Os Brasilaicos - A Raíz Identitária do Brasil.

“O Brasil não é uma reprodução de Portugal, nem 
deve pretender sê-lo, mas é uma derivação dele”.


A identidade nacional, é um tema recorrente em países “novos” tal como os países americanos, do sul ao norte: EUA, Canadá, Brasil, Argentina, Uruguai, México.... todos eles apresentam essa questão. No Brasil, como em outros países ibero-americanos, o tema, sem razão, é mais problematizado do que se deveria ante uma clara política imperialista de des-nacionalização, de negação da nacionalidade e seu fracionamento.

Já tratamos em artigo anterior “Nacionalismo e Nacionalidade”, sobre o conceito de nacionalidade. Em suma, a nacionalidade envolve a concepção de uma origem comum, consciência e unidade política. Que faz do Brasil, a formação nacional mais antiga das Américas. Porém a questão da identidade nacional envolve outros aspectos, que envolvem seus elementos caracterizadores: língua, credo, estrutura social e política, arquitetura, organização urbana, etc... . Algo até óbvio na formação brasileira, porém, problematizada, como já dissemos, por razões imperialistas. O Brasil é uma nação derivada diretamente da civilização lusitana adaptada aos trópicos. No caso do Brasil, mais especificamente “galaica”, em referência a população nortenha de Portugal, ante sua numerosa e majoritária preponderância no povoamento do Brasil ao longo da nossa colonização.

Na antiguidade, no período pré-romano, os termos “lusitanos” e “galaicos” eram equivalentes, não havia distinção. Com a criação da província da Lusitânia ao sul e a criação da Gallaecia ao norte, a nomenclatura, passou a designar, com o tempo, os do norte como “galaicos” e os do sul como “lusitanos”, embora tratem-se de uma mesma população. Porém por uma maior influência romana ao sul, na Lusitânia, e que se fez menos presente no norte, a Gallaecia conservou melhor seu substrato céltico originário.

Assim, adotamos o termo “brasilaico” para melhor designar essa influencia nortenha na formação brasileira. Termo antes já empregado por cronistas e historiadores da época quinhentista. O sufixo –aico é um fóssil lingüístico, remanescente da antiga e esquecida língua lusitana, anterior a invasão romana, que remete a uma coletividade de indivíduos.

Isso posto, passaremos a tratar sobre o povoamento do Brasil, e seus desdobramentos caracterizadores da identidade brasileira.


O Elemento Nortenho no Povoamento do Brasil.

Província de Entre Douro e Minho

A gente desta terra he toda alva; os homês mui bem dispostos, e as molheres mui fermosas, que nam ham nenhúa inveja às da Rua Nova de Lixboa”. Assim retrata Pero Lopes de Sousa a população quinhentista de Salvador. A surpresa de Pero Lopes de Sousa, se explica pela relação entre normandos e tupis, que antecederam, em 30 anos, a colonização portuguesa no Brasil e que se prolongará ao longo de todo o primeiro século de formação na guerra de expulsão dos franceses. Assim, é que os primeiros colonos portugueses a virem para o Brasil, se ligarão a essas mulheres fruto dessas relações normando-tupis, bem como na relação direta entre portugueses e tupis. Capistrano de Abreu, tratando da guerra contra os franceses do Rio Grande do Norte a Itamaracá reporta que:

“Muitos franceses mestiçaram com as mulheres indígenas, muitos filhos de cunhãs se encontravam já de cabelo louro: ainda hoje resta um vestígio da ascendência e da persistência dos antigos rivais dos portugueses na cabeleira de gente encontrada naquela e nos vizinhos sertões de Paraíba e Ceará”.

Os dados genéticos corroboram as fontes históricas. Análises genéticas colhidas na população, no nordeste do Brasil, revelam que 19% dos genes oriundos da linhagem paterna são genes nórdicos. É um percentual maior do que o observado na população portuguesa, 13%. Esse percentual por vezes é atribuído a presença holandesa, é um equivoco, pois tanto a presença normanda foi maior, ao longo de todo século XVI, como a relação entre indígenas e normandos foi muito mais intensa. Os holandeses, além de tardios, ficaram reclusos nos fortes do Recife, “d´onde nunca se apartaram mais do que 12 léguas” e ainda permaneceram brevíssimo tempo até serem expulsos.

Os primeiros colonos portugueses que aportam no Brasil, são gente ligada em torno dos donatários, advindos da baixa aristocracia rural do norte de Portugal, no dizer da época: “gente de nome e brasão”. Como relata, por exemplo, Frei Vicente a colonização de Santos e São Vicente:

“Na ilha de dentro há duas povoações, uma chamada de Santos, outra de São Vicente como o rio, a qual veio edificar Martim Afonso de Souza em pessoa, e a povoou de mui nobre gente, que consigo trouxe, e assim floresceu em mui breve tempo.”

Em Pernambuco, Duarte Coelho trouxe consigo colonos de Viana do Castelo, a tal ponto numerosos que ao se insugirem contra emissários de Lisboa diziam: “aqui não Del Rey mas, de Viana!”. 

Na capitania de Porto Seguro, seu donatário Campo Tourinho em menos de 3 anos construiu 7 vilas onde distribuiu alguns colonos que o acompanhavam a maior parte provinha de família de pescadores de Viana do Castelo. Após a morte de Pero Tourinho a capitania entrou em decadência, embora a Vila de Porto Seguro tenha se mantido habitada, assim como os outros povoados fundado por Pero de Campo Tourinho entre eles Santa Cruz, Santo Amaro e Comagi.

Nas demais capitanias em que seus respectivos donatários vieram a tomar posse, o processo é o mesmo. Do Minho afluem as matrizes que virão colonizar o Brasil. A guisa de parâmetro, dos portugueses processados pela Inquisição em Pernambuco e na Bahia metade eram originários do Minho, cabendo um longínquo segundo lugar, 15%, aos de Lisboa.

Dados de São Paulo, em 1801, revelam que 45% dos homens portugueses provinham do Minho, 20% dos Açores e 16% de Lisboa.

A historiadora Júnia Furtado, analisando a origem dos comerciantes portugueses radicados em Minas Gerais no século XVIII, constatou que 74,4% eram oriundos do Norte português. Em Vila Rica, Iraci del Nero, ao levantar dados sobre a população portuguesa radicada, constatou que 68,1% provinha do Norte de Portugal. Entre o período de 1750 e 1779, ainda em Minas, Carla Almeida desvela que 89% dos homens portugueses eram naturais das províncias do norte e 11% provenientes da região central do país e nenhum do sul. Além dos nortenhos, um fluxo notável de colonos provinham das ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores.

No Ceará, estima-se que entre 1750 a 1850, mais de 55% dos portugueses que se estabeleceram na província, eram provenientes do Norte de Portugal.

Essa predominância de nortenhos se explica, além do norte português ser a região mais densamente povoada de Portugal, ainda na atualidade, mas sobretudo pela estrutura familiar minhota, em que somente os primogênitos herdavam terras. Assim os demais filhos, deserdados, preferiam imigrar para o Brasil e se fazerem senhores de terra, “Dominus Brasilia”, e nisso acabavam reproduzindo seu sistema feudal adaptado aos trópicos.

Foi sob esse influxo que se gerou a “nobreza da terra”, sob a qual se estruturou a sociedade colonial que aqui se firmava. É essa nobreza, brasilaica, que levará a cabo a conquista a terra, ganhar e absorver o gentio, iniciar as culturas, fazer as povoações, resistir ao estrangeiro. Trabalharem como obreiros e combatentes, edificavam lutando. Toda a primeira formação foi assim: na boa luta, a que enraíza na terra, e fortifica o patriotismo, porque é dessa nobreza, que advém a consciência de existência nacional e que incita a resistência ao invasor.

“Nos primeiros colonizadores do Brasil encontravam-se as virtudes essenciais do pioneiro português: — solidariedade na compreensão nítida de existência nacional, hábito de atividade disciplinada e, com isto, o sentimento de trazerem consigo uma pátria, no intuito explícito de fazerem um novo país, pelo desenvolvimento das tradições nacionais.” – Manoel Bomfim.

Mais de um século e meio depois, no início do século XX, a imigração portuguesa para o Brasil continuará predominantemente oriunda do Norte português e adjacências, nomeadamente: Trás-os-Montes, Minho, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Litoral e Estremadura, com oscilações de predominância entre estas regiões ao longo do tempo.


A imigração estrangeira para o Brasil e seu impacto na nacionalidade.

A imigração estrangeira, tende a ser superdimensionada. A imigração portuguesa, no que pese ter sido a maior, estranhamente é relegada ao esquecimento, apenas se falando marginalmente. Ao passo que outras, infimamente minoritárias, são postos a relevo para fazer crer numa suposta heterogeneidade.

Após a independência em 1822, os portugueses que afluem para o Brasil passam a serem computados como estrangeiros e a eles se somarão contigentes imigratórios de outras nacionalidades. Contudo, os portugueses serão o maior corpo imigratório no Brasil. E não ocorrerá aqui oque sucedeu em outros países, como: EUA, Canadá, Argentina e Uruguai, em que suas populações originais foram suplantadas por essa massa de imigrantes. A ponto de se dizer na Argentina, que os descendentes dos seus heróis de dezessete, foram substituídos. Darcy Ribeiro chamou a esse fenômeno de “povos transplantados”. No Brasil isso não ocorreu, em nenhuma região do Brasil, mesmo ao sul.

O sul do Brasil, foi colonizado por paulistas do planalto de Piratininga. Posteriormente em 1748 sobreveio a imigração açoriana, inicialmente em Santa Catarina e posteriormente no Rio Grande do Sul, feita por casais, oque regra geral dissociou do restante do país, feito majoritariamente por homens solteiros que se ligavam as mulheres da terra. Foi esse fator que deu a essa população meridional brasileira um aspecto mais branca do que no resto do país, isso já observado pelos cronistas da época e que hodiernamente, é falsamente atribuído a imigração estrangeira operada no Séc. XX. Em 1780,  55% da população do Rio Grande do Sul, eram açorianos. Também de se assinalar que, embora os dados disponíveis não sejam tão precisos, mas um levantamento quanto a origem dos povoadores iniciais nas ilhas dos Açores, revelam que a maioria eram oriundos do norte de Portugal.

De modo que, ainda que levemos em conta a imigraçãoportuguesa, juntamente com outros contingentes, esse número não chega a suplantar a população original. E ainda em comparação com outros países essas cifras verificadas no Brasil são bem menores. A guisa de comparação, a imigração italiana, foi a segunda mais numerosa no Brasil contabilizando 1 milhão e 500 mil. Somente na Argentina, que a época apresentava uma população menor do que a do Brasil, adentraram 3 milhões! O dobro! E se compararmos a operada nos EUA, ai vemos a insignificância, 15 milhões!!!!

Outro aspecto que costuma passar batido, é que o terceiro maior contingente imigratório para o Brasil, foi a imigração espanhola, contabilizando 750 mil indivíduos. E o aspecto a se ressaltar é que 80% desses “espanhóis” eram galegos, a mesma cepa nacional portuguesa. Daí terem passado tão desapercebidos, ainda que sendo o terceiro maior contingente imigratório, posto falarem galaico-português , e assim se integrarem a sociedade brasileira rapidamente.

A imigração alemã, por vezes tão propalada por alguns, foi bem menor do que as três primeiras, orbitando em torno de 300 mil imigrantes. Note.... duas vezes menor do que a espanhola. E logo na primeira geração, ocorre um processo de assimilação. Como parâmetro estatístico temos dados do censo do Rio Grande do Sul de 1918, que revelam que 74% de homens alemães se casaram com brasileiras, ao passo que 26% com alemãs. Note que esse processo de assimilação ocorre muito cedo. Não havendo razões que justifiquem falar, mesmo na época e muito menos na atualidade, passado mais de três gerações, em uma suposta "identidade alemã".

Os japoneses formam o 5º maior grupo imigratório, e juntamente com os alemães são os que mais tiveram dificuldade de integração, em virtude da língua, credo, de terem vindo em boa parte em casais, oque por esse isolamento, acabavam privilegiando casamentos entre si. Porém, pela pouca quantidade, e com o tempo acabam se integrando sem maiores sobressaltos.

Os franceses além de constituirem uma das bases formadoras do Brasil, especialmente normandos e bretões (A Presença Nornando-Bretã na Formação do Brasil), quando do nosso primeiro século de formação. Já no período pós-independencia,  a imigração francesa, é igualmente ocultada. A imigração francesa figura junto com a alemã e a portuguesa dentre das mais antigas, e até o início do século XX foi a terceira maior em numeros absolutos, somente atrás dos imigrantes portugueses e italianos. Tendo imigrado cerca de 150 mil franceses para o Brasil. 

Há ainda um pequeno contingente sírio-libanes, dito: turcos, por estarem na época sob controle do império otomano (Turquia). Também de pequeno vulto, operada quase em sua totalidade por homens solteiros e ao contrário do que vulgo se pensa, em sua maior parte cristãos, adeptos da igreja ortodoxa sírio-libanesa (ramo católico porem de administração independente), os de credo mulçumano foram quase inexistentes.

Disso ainda se deve ponderar, que ao se falar de imigração “italiana”, “alemã”, e mesmo sírio-libanesa, não estamos falando de uma mesma nacionalidade. Itália e Alemanha são países de nacionalidade artificiais que abrigam povos distintos, com diferentes dialetos. Um Veneziano não se identifica com um romano nem muito menos com um siciliano. Os três falam dialetos diferentes e são de origens diversas. Então é ridículo falar em uma identidade “italiana” simplesmente porque não existe tal identidade. O caso dos imigrantes alemães é similar, mesmo dentro da Alemanha, há diversos dialetos, e eles se acentuam conforme se vá ao norte ou para o sul, sendo o sul majoritariamente católico ao passo que o norte é majoritariamente protestante, e sendo racialmente também distintos: o norte saxão e o sul alpino. E a considerar ainda que na imigração alemã, computa-se como tal austríacos e suíços, bem como um ramo mais concentrado no Espírito Santo chamado pomeranos, que são bálticos e não germânicos. Então, como falar de uma identidade alemã? 

De todo esse apanhado oque se depreende é que o contingente português por si só foi majoritário, e tanto mais antigo, a ele se soma a imigração galega que compartilha a mesma origem nacional. Assim se somarmos ambas, temos 2 milhões e 200 mil oque é um contingente superior a soma de todos as outras correntes. E repita-se..... ainda juntando todas, não suplanta a população brasileira original, ao contrário, fica bem aquém, sem maiores impactos.  


A política imigratória Getulista:

Na Era Vargas, houve uma restrição na imigração. Foi limitada a entrada de estrangeiros de todas as nacionalidades no Brasil com a Lei de Cotas de Imigração, exceto para os portugueses em 38. A isso se deve uma maior racionalização na política imigratória, pois tanto o Brasil já não precisava de mão de obra, pois os nacionais já supriam a demanda, como tratava de excluir contingentes com dificuldades de integração e assim "garantir o fortalecimento étnico da nação" através do elemento português. Getúlio fora bem influenciado por Oliveira Viana, Gustavo Barroso e Roquette Pinto, seu ministro, que envergavam essas idéias.

Após a II Guerra, o antropólogo Gilberto Freyre e um grupo de deputados defenderam que os portugueses não deveriam ser considerados estrangeiros no Brasil. Ainda hoje, os portugueses têm tratamento especial dado pela legislação brasileira. Este dispositivo que dar privilégios a uma nacionalidade estrangeira é raro no mundo. Por exemplo, na legislação da Argentina não existe nenhum dispositivo que dê tratamento diferenciado aos espanhóis, tão pouco a lei dos Estados Unidos beneficia os britânicos. Na América do Sul, apenas na Venezuela há algo semelhante.

Após a II Guerra Mundial, os portugueses foram os únicos que continuaram a chegar em grande número ao Brasil. Entre 1945 e 1959, ainda chegaram ao Brasil cerca de 250 mil portugueses.


Os Elementos Característicos da Identidade Brasilaica.

Como dissemos no início a identidade nacional envolve aspectos caracterizadores da nacionalidade: língua, credo, estrutura social e política, arquitetura, organização urbana, etc.... é um tema demasiado abrangente, que não comporta nessa breve exposição que já vai longe. Elencaremos apenas os principais que entendemos ser suficientes para explicitar essa identidade portuguesa em todo o Brasil. 

O Brasil durante sua formação sempre deteve uma unidade linguística única em um país continental, que nem os EUA, Canadá, Rússia, China detém, e por vezes países muito menores como Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e outros.... e um aspecto interessante a ressalta é que isso ocorreu organicamente, justamente por ocasião desse contínuo afluxo português para o Brasil, que assimilava os naturais transmitindo o português aos seus descendentes. Assim se inicialmente tivemos o tupi como língua dominante, a língua portuguesa se impois por um natural processo de assimilação dos contingentes integrados a civilização brasileira.

É conhecido e repetido verborragicamente, que o tupi deixou de ser falado por uma determinação administrativa de Pombal, como se os falantes aprendessem tupi em escolas públicas.... se quer existiam! O tupi foi sendo marginalizado em um processo gradual a medida que essa civilização brasilaica avançava. E embora continua, a imigração portuguesa para o Brasil apresenta picos. O primeiro com os colonos no primeiro século de colonização, uma segunda onda aflui com a descoberta das minas, concomitante a uma explosão demográfica no Minho, que levará  a um dos maiores processos imigratórios da história mundial, com a vinda de minhotos para o Brasil, nesse momento, especificamente para Minas Gerais. Também nesse momento ocorrerá a ocupação dos sertões, e do Mato Grosso embalados por esse fluxo nortenho. É dessa forma que o tupi perde importância e espaço, deixando de ser falado nos grandes centros, se tornando uma língua secundária. 

Esse processo se repete em todo o Brasil, mesmo entre as correntes imigratórias recentes, que assimiladas, repassam a língua portuguesa aos seus descendentes, já brasileiros. 

Interessante mencionar a observação do historiador galego Júlio Cesar Barreto Rocha, citando Lindley Cintra sobre o português do Brasil se assemelhar mais galego do que ao atual português de Portugal, por ter se mantido mais conservado:
"Lindley Cintra, apoiado em Leite de Vasconcelos, alude, por exemplo, à "influência de hábitos articulatórios de um substrato étnico" de celtas, que, sabe-se, deslocaram-se desde o Norte, "cuja presença Estrabão e Plínio assinalam nas margens do Tejo". Desta forma, o próprio filólogo português explicita que o sistema vocálico luso teria sofrido influxos desde o Norte galego. A presença das vogais mais escandidas no galego atual, que possui menos força ao Sul, em Portugal (cujos falantes obscurecem as ocorrências destes sons, como em "m'nino" ou em "p'ssoa"), permanece mais integral no território brasileiro, cuja população, em sua quase absoluta totalidade, encontra parâmetro distintivo do falante português justamente nesta vocalização mais "perfeita" nossa, por assim dizer, igualando-se ao falante galego --que inegavelmente mantém também mais acesa esta "característica celta". A língua falada na Galiza, que é a real Pátria da Língua, que instituiu o sistema vocálico e a musicalidade do galego, faz-se presente no Brasil."
Outro fator característico na formação brasileira é a sua unidade religiosa, católica. A crença católica brasileira ao contrário do que possa parecer, não foi propriamente uma imposição do Estado, que ao longo da vida colonial se fez muito pouco presente, quase inexistente no seio da população. Isso foi agravado com o não reconhecimento por Roma, da restauração de Portugal, ao fim da união ibérica, quando Roma não reconheceu a nomeação de padres e bispos pela nova dinastia (Braganças) e que só virá a reconhecer em fins do Séc. XVIII. Durante todo esse período o catolicismo no Brasil se desenvolve organicamente, as populações a professam por pura tradição, porque descendem de católicos, a fé de sua linhagem. E disso vai resultar o catolicismo popular brasileiro de forte cunho medieval e que guarda substratos da antiga fé céltica ("pagã"). Veja que isso não ocorre nas colonias hispânicas, posto uma ostensiva e atuante doutrinação romana.

Outro aspecto a ilustrar, é a estrutura social e seus tipos humanos. Tema também demasiado abrangente e que nem de longe pretendemos esgotar. Apenas pontuamos que em grande parte, a estrutura social minhota se conserva no Brasil, sua estrutura familiar, as relações sociais, política, guardam uma proximidade muito grande com a observada no norte português. No Brasil as relações sanguinias eram bastante valoradas, revelando uma estrutura de clãs e uma rede de clientelia em torno de um chefe. Há ainda um rico arcabouço de tipos humanos, o padre que encarnava a figura de juiz de paz, intermediando conflitos e sendo guia espiritual da comunidade, e muitas vezes a figura mais letrada da comunidade. Vários antropólogos e historiadores traçam um paralelo a figura dos padres as funções dos druidas, oque seria uma adaptação dessa estrutura sob uma roupagem cristã. A figura dos menestréis (antigos bardos celtas), na figura de cantadores, ainda presentes tanto nos sertões setentrionais do Brasil quanto ao sul. Em fim, são rápidas pinceladas que ilustram essa reprodução da vida nortenha no Brasil com as devidas adaptações a vida nos trópicos.

Oliveira Viana, faz uma interessante análise da estrutura urbana das cidades coloniais brasileiras, eis oque diz:

"desta transplantação de cultura que o português realizou no Brasil, trouxeram eles o tipo de construção e povoados, vilas ou cidades, implantando entre nós a mesma disposição na colocação dos edifícios, das ruas, das praças, das casas. Do mesmo tipo de aldeia ou cidade portuguesa é que se fez o povoado ou vila brasileira.: "os habitantes amontoados em ruas sinuosas e estreitas garimpando o dorso dos montes a procura de alcançar a torre. Pouco afastada a igreja matriz, geralmente no mesmo largo dominado pelas paços do conselho, e entre os dois edifícios o pelourinho, onde a justiça por vezes tão cruel fazia pública a sua autoridade." O desenho é de afonso Arinos de Melo e Franco, que acrescenta: "retirando o elemento descaracterístico da torre feudal, o quadro se aplica a uma tipica cidade colonial brasileira".

Na arquitetura há também um paralelo fortíssimo entre a arquitetura nortenha e brasileira, também presente em todo território nacional, do Oiapoque ao Chuí e mesmo ao Prata em Colonia do Sacramento. E que se acentua nas cidades históricas brasileiras.


Penso que esses elementos já são bastantes, ainda que sem adentrar em profundidade, oque poderemos tratar em outra oportunidade trazendo aspectos bem mais interessantes e reveladores de nossa identidade brasileira, brasilaica. O elemento fundamental na nacionalidade reside na descendência comum, sanguínea, e que uma vez conscientes, se unem politicamente, nisso resulta a nacionalidade. Os brasileiros mais do que serem uma nacionalidade, oque não é pouca coisa, apresentam uma identidade nacional muito bem consolidada, apesar de tantos quantos, a serviço do imperialismo queiram negá-la.
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A Cepa - Os Lusitanos.

“Cumpre ter sempre presente que a Lusitânia é habitada pela mais poderosa das tribos da península ibérica; e que, achando-se já subjugadas as outras, é esta a que se atreve ainda a deter as armas romanas. Não provém a sua força do número dos seus habitantes, mas da sua resistência, devida a um temperamento tenaz e incansável, a uma dignidade individual que antes prefere a morte a qualquer aparência de servidão a Roma.”

Caio Lélio, cônsul romano, 190 A.C.


Foi na resistência aos romanos que os lusitanos se tornaram famosos, incorporando-se definitivamente à história do mundo antigo. De modo geral, o poder de Roma foi sempre menos sensível no Oeste do que no Leste da Península Ibérica. No primeiro século de ação, ali, verifica-o Mommsen, limitavam-se os romanos a conter as incursões dos lusitanos sobre a Espanha citerior, na parte ocidental, o domínio era puramente nominal; nem havia contato com os celtas do noroeste(galegos). E foi no esforço contra as reações dos lusitanos, que os romanos provocaram a guerra genialmente conduzida por Viriato, natural de Viseu. Nota-se, que esses povos, dos mais bárbaros da península, foram os únicos que se uniram e se levantaram, num movimento de caráter geral – nacional, acentuadamente político. Pelo resto da Espanha, os casos de resistência, mesmo os mais célebres e heróicos, como em Sagunto e Numância, são absolutamente locais, sem significação política. Na Lusitânia, não: o ânimo geral das tribos levantadas para resistir é que faz do humilde pastor, um grande general, o único da Ibéria primitiva.

Foi nas márgens do baixo Tejo que Viriato bateu o exército romano do pretor Caio Palutius; e nunca mais a Roma avassaladora conheceu vitórias sobre ele. Finalmente, a perfídia do conquistador a todo preço fez assassinar o inimigo invencível, e os lusitanos não tiveram quem os substituísse. Mas, nem por isso se rendem submissos: continuam numa resistência tão temível, por tanto tempo, com tantas provas de valor e decisão, que Sertório os escolhe para fazer com eles a sua grande campanha contra a Roma aristocrática, e criar, ali, uma segunda pátria, latina, mais democrática. À frente dos lusitanos, por oito anos, o grande general resistiu aos exércitos romano, repetidamente refeitos, e repetidamente batidos. Houve momentos em que foram mobilizados contra os lusitanos de Sertório 130.000 homens. No baixo tejo também, quase onde é Lisboa (em Longóbriga), de uma feita, foi aprisionada uma divisão inteira de tropas romanas comandada pro Aquino, sendo o grande Metelo obrigado a retirar-se com o resto das forças. Mommsen considera Sertório o maior romano, até então, mas, ao mesmo tempo reconhece que foram os lusitanos que lhe permitiram revelar-se; que sua superioridade esteve em adaptar-se a eles, deixando de ser o romano pesado, enfático, para ser o capitão cavalheiroso, vivaz, guerrilheiro como o próprio Viriato: "Todos os sucessos de Sertório se ligavam ao país (Lusitânia), às aptidões dos seus habitantes". Também com Sertório - só o assassínio desembaraçou os romanos do inimigo invencível. Ainda assim,, obtida a vitória do punhal traiçoeiro, não coube a Roma ser senhora desassombrada dos temíveis lusitanos. Nem César, apesar de representar as mesmas idéias de Sertório, e de admitir, em princípio, as pretensões da Lusitânia. Ainda foi preciso a Augusto uma campanha, mais política do que militar, e que conformou definitivamente a velha nação guerreira em província romana. 

De todo modo – Lusitânia, ou Portugal, quele pedaço de península nunca esteve inteiramente fundido, ou confundido, no resto da Ibéria. Oliveira Martins, em busca de explicação racional para essa tendência dos lusitanos em distinguir e afirmar o seu caráter nacional, admite que tudo seja devido a uma forte dose de sangue celta.

Nos antepassados dos portugueses, as energias de raça guardaram o seu valor intrínseco; mas, desde cedo, a tradição lhe acentuou o caráter numa divergência de formas que ao expandirem-se, diferenciam-se de mais em mais, até firmarem-se em feição abertamente distinta, inconfundível, e, por muitos aspectos, contrastantes com o caráter nacional dos outros iberos. Certamente, mais homogêneos, por mais bárbaros, os lusitanos uniram-se melhor dentro do grupo e, por isso mesmo, foram levados a resistir ao romano nacionalmente, lutando mais eficazmente do que os outros. Assim dispostos, a reação contra Roma facilitou-lhes o desenvolvimento das virtudes coletivas. Está reconhecido e consagrado, em tais casos, o efeito dos motivos exteriores – orientando a ação interior nos grupos sociais, afeiçoando-lhes o caráter. É uma teoria longamente exposta e documentada por W . Malgaud, no seu livro O problema lógico da sociedade. De tudo isso resultou, para os lusitanos, a relativa superioridade política, e uma acentuada tendência para a unificação nacional explícita. A união formal e coerente com que eles fazem as suas campanhas, e em que se fortalecem, pressupõe o instinto de pátria, ainda que a idéia não seja patente no nome. Tal não se nota no resto da Espanha antiga, onde, como levante geral, só se conhece o de Viriato, repetido com Sertório.

Com a queda de Roma, nas crises que se seguem, dada a extensão das consequências, o motivo limitado - a alma lusitana, pareceu anulado; e, através da ocupação sueva, o objetivo explícito de uma pátria lusitana ainda não se define. Invadida a Ibéria, foi a Lusitânia ocupada pelos alanos, num domínio frustro, e que não teve ali, importância análoga ao da parte leste, aonde, por isso mesmo, ficou o nome Catalunha. Na Galiza e norte de Portugal, estiveram os suevos, numa forma de domínio ainda menos acentuado, e que não tocou fundo a vida nacional. Vieram por sua vez os árabes; mas, ao passo que, em Castela, a sua presença vai até a entrada do Séc. XVI, no noroeste, eles não demoram nem um século. E Portugal nasceu nessa parte da ibéria, no norte, que gerou-se Portugal, que reagiu mais cedo ao sarraceno, em tais condições de força e espontaneidade que toda a região de Porto, Braga e Viseu.... não conheceu o domínio mulçumano mais de cinqüenta anos. Mesmo no sul, o seu domínio cessa com o Séc. XIII.

Os ânimos se retemperam na campanha da reconquista, ao primeiro pretexto, destaca-se Portugal, levado por uma iniludível necessidade de soberania e individualidade.

Isto significa que estava feita a comutação das energias: os espírito orientaram-se por outros impulsos sociais - esses que tornaram os portugueses mais aptos  que quaisquer outros povos peninsualres para a realização da idéia nacional. Vigorosos sempre, até o heroísmo e, com isto, intimamente disciplinados, tal nos aparecem  os povos que devem fazer o Portuga histórico e glorioso. Tudo que nos outros ibéricos é orgulho do indivíduo, afirmação pessoal, viço de intransigência retumbante, fulgor de manifestação e expressão.... é pura força de ânimo no português tradicional. Para ele, os impulsos não arrebentam em gestos e vozes.... difundem-se em profundidade, e vão alimentar uma vontade pertinaz, para esforços indomáveis e persistentes. Pertinácia, valor definitivo na pertinácia, intransigêncianos objetivos - eis as constantes no caráter português. Nessa formula de ação, o grupo humano primitivo se transformou em povo nacionalizado.

Manoel Bomfim,