quarta-feira, 17 de julho de 2019

A Imigração Holandesa no Brasil Colonial


A presença holandesa no Brasil, não se inicia com a  invasão de Pernambuco em 1630, nem mesmo anteriormente com a invasão à Bahia em 1624, é anterior a elas. Desde 1587 os holandeses comerciavam o açúcar brasileiro para a Europa, aonde refinavam e vendiam. A presença de comerciantes e navios mercantes holandeses em Salvador e Olinda era freqüente. Houve ainda efetivas tentativas de estabelecimento de holandeses no Amazonas, nas proximidades de Belém, desalojados a ferro e fogo por Bento Maciel, que se ufanava de ter morto pra mais de 400 holandeses e ter posto a pique 4 (quatro) de suas naus.

A União Ibérica, que uniu o reino de Portugal e Espanha, e principalmente, a independência da Holanda da Espanha (Guerra de Flandres) foi o estopim que desencadeou a invasão holandesa sobre o Brasil, quando em retaliação, o rei Felipe II, proibiu o comércio com a Holanda.

Em 1624, invadem a então capital do Brasil, São Salvador. E não conseguem sustentar a praça por mais de um ano, ante uma feroz guerrilha que lhes faz os naturais da terra. 

A poderosa expedição que sobrevém em 1630, composta por 64 navios de guerra e 5.400 efetivos, oque era muitíssimo para época, nunca até então tal força havia cruzado o Atlântico, tornou o assédio à Capitania de Pernambuco irresistível. E os holandeses conseguem se estabelecer. Esse domínio durará 24 anos, indo de 1630 à 1654.

O domínio holandês inicialmente restrito a Pernambuco, que compreendia sua extensão do atual Estado das Alagoas a Parahyba, é ampliado com a conquista de Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão. Contudo um relatório holandês, de fins de 1645, dar conta que as províncias do Ceará e de Sergipe eram desabitadas. Sendo efetivamente habitadas por holandeses apenas as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. O relatório não faz menção ao Maranhão, invadido em 1641.
"Todo o território até hoje conquistado sob os auspícios e pelas armas da Companhia das Índias Ocidentais divide-se em seis províncias: Sergipe d’el-Rei, Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará. A primeira e as últimas são desertas; as demais são cultivadas e mais habitadas pelos holandeses."
"Os portugueses senhoreavam o Ceará, havendo ali número mais reduzido de habitantes. Defendiam-no com um forte pouco resistente. Passando este para o nosso poder, guarnecemo-lo com um presídio de quarenta homens. Não auferimos até agora nenhum lucro ou provento notável do solo, mas os soldados e forças de índios dessa região têm às vezes ajudado os interesses da Companhia."
Sobre a população holandesa, o relatório de  Adriaan van der Dussen, nos informa que:
"Os holandeses são divididos em pessoas que prestam serviço exclusivo e atualmente à Companhia e recebem salários; e pessoas que não estão a ela subordinadas [...] Os holandeses não assalariados [pela Companhia] são os que vieram nessa condição da pátria ou os que aqui, depois do término do seu contrato, deixaram o serviço da Companhia. Estes últimos são em número considerável e tendo sido oficiais e soldados contribuem agora para o povoamento do país. [...] Os holandeses livres que vieram da pátria em caráter particular são na maioria comerciantes ou empregados destes ou representantes e os de menor condição fizeram-se taverneiros ou entregaram-se a pequenos negócios, com o que obtiveram algum lucro. Alguns comerciantes experimentaram comprar engenhos, e outros, de situação mais modesta, arrendaram partidos ou canaviais, segundo as suas possibilidades, contribuindo de modo manifesto para o cultivo e povoamento destas terras. Contribuíram também para aumentar as construções e a população do Recife a ponto de não haver agora terreno vago."
Se menciona ainda serem numerosos os mamelucos na capitania, e haverem muitos desses bastardos quer de portugueses, quer de holandeses, e que as mulheres eram muito cobiçadas tanto por portugueses ricos, como por holandeses:
"Do conúbio ilícito de mulheres brasilienses tanto com portugueses como com holandeses, nascem muitos destes bastardos, entre os quais, não raro, se encontram formosos e delicados tipos, quer de homens quer de mulheres.
As mulheres casam com frequência entre a gente da sua casta. Na maioria, porém, são muito honestas e legalmente cobiçadas para esposas legítimas por portugueses, às vezes bastante ricos, e também por alguns neerlandeses abrasados de paixão."
O relatório dos conselheiros Hamel, Bas e Bullestrate, de 1645, nos informa que os portugueses eram ainda amplamente majoritários na colônia, em uma proporção de 10 portugueses para 1 holandês. Se menciona que nas localidades de Cabo Santo Antônio, de Capiguaribe e Goiana, os holandeses eram numerosos. O relatório de Dursen registra um total, em todas as províncias ocupadas, de 6.180 soldados holandeses. A população de Olinda e Recife, contava à época cinco mil almas.

No Maranhão, apesar de tão curto domínio, conta o padre Vieira que algumas mulheres portuguesas, em 1642, "casavam já com eles", holandeses. Cândido Mendes de Almeida, com relação ao Maranhão, diz que "da estada dos holandeses ficaram os Jansens, os Müllers e os Lappenbergs, sendo Müller germânico, e Lappenberg dinamarquês.

Adriaen van Builestrate, em 20 de dez. de 1645, da sua passagem pelo Rio Grande do Norte e Paraiba, relata que: "muitos de nossa nação [holandesa] casaram com viúvas de portugueses".

As estimativas sobre a origem das tropas holandesas, seriam compostas por cerca de 40% de holandeses propriamente, 30% oriundos do que é atualmente a Alemanha, 10% da Inglaterra/Escócia, 10% do que é atualmente a Bélgica, 7% Franceses da Normandia, e 3% da Dinamarca.

O domínio holandês sobre o Brasil se estendeu da foz do rio São Francisco ao Maranhão

Uma estimativa dos descendentes de holandeses no nordeste do Brasil.

Mameluca tupi-holandesa
Alguns levantamentos genéticos, recentes, realizados na população do nordeste do Brasil, confirma a contribuição holandesa em sua formação.  Um estudo da UFMG, constatou haver 19% do gene Haplogrupo 2, de origem nórdica, presente na população branca do nordeste brasileiro, um percentual maior do que os 13% verificados  na população portuguesa. De modo que esse excedente de 6% seriam atribuídos a uma herança holandesa, embora deva haver por certo também uma significativa contribuição normanda, quando das invasões francesas.

Deve-se considerar ainda que determinados marcadores genéticos, são comuns tanto a população holandesa como portuguesa, como no caso da pesquisa em comento do Haplogrupo 1, com 67%, atribuível aos portugueses. Em Portugal esse percentual é de 66%. Esse 1% a mais, se encontra dentro da margem de erro, mas pode revelar uma maior tendencia desse gene na população nordestina, oque poderia ser atribuída aos holandeses. O certo é que nesse universo de 67%, certamente se inclui genes do Haplogrupo 1 de origem holandesa.

Para estimarmos quantos por cento desse universo de 67% do Haplogrupo 1, seria de origem holandesa. Nos baseamos no excedente de 6% do Haplogrupo 2. Esse excedente (6%) representa 32% do total de genes do Haplogrupo 2. Logo deduzimos, que 32% do universo de 67% do Haplogrupo 1, são de origem holandesa, oque se traduz em 12,3%. Ou seja, do total de 67% do Haplogrupo 1 entre os nordestinos, 12,3% seriam de origem holandesa e 54,7% de origem portuguesa. Curiosamente são essas as cifras aproximadas, do Haplogrupo 1, presentes na população do sudeste, sul e norte do Brasil, atribuídos aos portugueses: 56% no sudeste e no norte, e 52% no sul.

Assim, 18,3% (6% Hpl 2 + 12,3% Hpl 1) da população branca do nordeste brasileiro, seriam de origem holandesa.  Isso representa cerca de dois milhões e seis mil pessoas. Esse numero pode ser ainda maior se adentra-se no cálculo a população parda.


Famílias de origem Holandesa no Brasil:

Bastante conhecido, dentre as famílias holandesas no Brasil, é o caso do nobre holandês Gaspar Vanderley (Caspar  van der Ley), que se estabeleceu no Brasil, durante as guerras holandesas, se convertendo ao catolicismo e se casando com D.ª Maria Mello, constituindo numerosa descendência. Contudo há outros casos. Varias famílias de origem holandesa, quando da Guerra de Flandres (no que hoje é a Bélgica e sul da atual Holanda) católicas, imigraram para Espanha e Portugal, quando o norte de Flandres, foi anexado a Holanda, vindo depois, essas famílias, para o Brasil. É o caso da Família Holanda, Brum, Dutra (Urtrech), Lemes (Lems) Betim (Bettinck). O nobre Arnau de Holanda, em Pernambuco, é citado expressamente nos relatório holandeses, como um dos mais empenhados Capitão de Guerra contra os holandeses. Contudo a presença dessas famílias mencionadas, são anteriores a invasão holandesa.

De famílias que se estabeleceram no Brasil, no curso da dominação holandesa, registra-se: 
  • Caspar  van der Ley (aportuguesado como Wanderley);
  • Dirk van Hoogstraten, aportuguesado Teodoro (ou Teodósio) de Estrada, morreu na Bahia, no posto de Mestre de Campo, em 8 de julo de 1675, tendo seu fº Francisco, natural de Pernambuco – que é o mesmo François, batizado na Igreja Reformada do Recife em 1637 – requerido mercês ao Rei de Portugal, em 1692, alegando serviços do pai;
  • Francisco de Brae (aportuguesado para Braz), natural de Rotterdam, com larga descendência na Bahia;
  • Albert Gerritsz Wedda (aportuguesado como Alberto Geraldo Veda/Beda), com descendência em Pernambuco;
  • Johan Heck, casado com portuguesa;
  • Louis Heyns, francês católico, comerciante  e pessoa de confiança do governo holandês do Recife e, mais tarde, principal encarregado da negociação de Francisco Barreto quando Governador-geral do Brasil (1657-1663);
  • Thomas Potts, inglês de New Castle ou de Londres, cirurgião, casado com uma portuguesa;
  • Thomas Colens, escocês, o qual tendo vindo com os holandeses para o Recífe.
  • Adriano Van Trapper casado com Leonor Cabral em Pernambuco.
  • Joris Garstman, aportuguesado para Grasciman.
  • Wensel Smit, capitão "alemão", que teve seu nome aportuguesado para Bento Farias.
  • Johan Wijnants, de Haarlem, casado com uma filha de Luciano Brandão,  senhor do Engenho Nossa Senhora do Rosário de Goiana.
  • Jacques van der Nessen, casado com Genebra Correia.
  • Kaspar van Mere, casado com Isabel Peralda.
  • Martins de Coutre, (aportuguesado como Martim do Couto).
  • HUSS, Hendrick Van. com descendência no Ceará.
  • Abraham Tapper 
Outros amancebaram-se com índias, caso de: Jacob Rabe, alemão de Waldeck, Wilhelm Doncker, Jacob Kint, Gerard Barbier e Casper Beem, que no Ceará, contra expressa proibição do Supremo Conselho, amigou-se com uma índia, pelo que foi deportado. 

Outros flamengos, no Ceará, menos afoitos do que Beem, dirigiram-se, em 1651, por intermédio de uma carta escrita por um certo Kemp, ao governo do Recife, dando conta e pedindo que: "três dos da nossa nação que haviam chegado ao Ceará, estavam desejosos de casar com mulheres brasilianas, desejo também partilhado por diversos outros ["verscheyden anderen"] em serviço na mina e na fortaleza, mas que o receio os havia contido. Sua Reverendíssima é de opinião que isto trará más consequências, não sendo a nação brasiliana conveniente ["bequaem"] para se unir à nossa. Que eles holandeses manterão as mulheres como escravas, o que constituirá um abuso e poderá criar ódios entre as duas nações", pelo que pedia o parecer do Conselho. Este, depois de pesar os pró e os contra, embora reconhecendo que é "uma coisa melindrosa proibir alguém de contrair matrimónio" resolveu que se escrevesse a Mathias Beck, então Capitão-Mor do Ceará, para que este por: "meios suasórios procurasse adiar os tais casamentos".

Com negra parece ser o caso de Christoffel Trampelaer (ou Trampler) e Joana Ribeiro, de Matthijs Serts e Catarina negra.

O sobrenome Pequeno, de difusão na Paraíba e Ceará, é correlacionado a uma possível origem "holandesa" ou alemã, de que adviria da tradução Klein: pequeno, em baixo-saxão, e apelido bastante comum na atual Alemanha.

Quando da eclosão da Insurreição Pernambucana, Hoogstraten, junto com Gaspar Wanderley e Albert Gerritzs, passaram para o lado dos brasileiros, formando o Terço dos Estrangeiros, junto com outros 235 soldados "holandeses" (lembrando que as tropas holandesas eram de diversas partes do norte da Europa). Vários desses, eram holandeses de confissão católica, em especial franceses, ou convertidos, que preferiram ficar no Brasil. 
O termo de rendição, celebrado entre holandeses e o governador Francisco Barreto de Meneses, faz expressa menção que os muitos descendentes de holandeses seriam igualmente tratados como súditos portugueses. 

Proposta de uma Bandeira para os Descendentes de Holandeses no Brasil 

O Círculo Castilhista, secção nordeste, tem como bandeira a da Nova Holanda ( Nieuw Holland ), que foi a primeira bandeira do Brasil. Tendo como única alteração, a retirada das iniciais de Maurício de Nassau: Iohan Maurits van Nassau Catzelnbogen Vianden en Dietz - IMNCVD, e apondo em seu lugar, um hierograma com as iniciais AM - Ave Maria, em alusão a Nossa Senhora, a quem foi creditada a vitória das armas brasileiras. Segue-se assim, a antiga tradição de tomar como armas, as insígnias, do inimigo vencido. Ao mesmo tempo, que se estabelece um pavilhão católico aos descendentes de holandeses, que aqui plantaram raízes, se integrando, e constituindo, parte indelével da nação brasileira.
A Imigração Francesa para o Brasil Independente
A Presença Normando-Bretã na Formação do Brasil
A Imigração Portuguesa para o Brasil
A Imigração Italiana para o Brasil
A Imigração Germânica no Brasil

terça-feira, 16 de julho de 2019

A Imigração Germânica no Brasil


Oque se toma como 'imigração alemã', trata-se na verdade, de populações de língua germânica, com seus inúmeros dialetos, muitas vezes incompreensíveis entre si, que imigraram para o Brasil.  A atual Alemanha se constituiu como Estado nacional somente em 1871 com o Império Prussiano, quando se instituiu o atual alemão padrão, que é uma língua artificial, empregado apenas como língua literária no Séc. XIX com a tradução da bíblia por Martinho Lutero.

Antes, oque se conhece por "alemães" eram imigrantes oriundos da Confederação dos Estados Alemães (1815-66), da Liga Setentrional Alemã (1866-71), dos Estados Meridionais Alemães (1866-71), do Império Austro-Húngaro (1867-1918), do Império Prussiano (1871-1918) e imigrantes de outros países de língua germânica, notadamente Suíça e Holanda.
"A composição da Confederação dos Estados Alemães também chamada de Liga Alemã era, politicamente, muito diversificado: 35 estados independentes e 4 cidades livres. Consistia numa união pouco coesa de estados soberanos. Além da Áustria (até 1866), dela participaram os reinos da Prússia, Baviera, Württemberg, Hannover (sob o domínio do rei da Inglaterra) e Saxônia; os Grão-Ducados Mecklemburg-Schwering-Strelitz, Oldenburg, Hesse-Darmstadt, Saxe-Weimar e Baden; o eleitorado de Hesse-Kassel; os ducados de Brunswick, Nassau, Anhalt-DessauBernburg-Göthen, Saxe-Koburg-Gotha, Saxen-Meiningen-Altenburg-Hildburghausen e Holstein (sob o domínio do rei da Dinamarca); parte da Holanda (sob a jurisdição do Gran-Duque de Luxemburgo); as quatro cidades-livres de Frankfurt/Meno, Bremen, Hamburgo e Lübeck, somados ainda de um grande número de pequenos principados independentes."
Império Áustro-Húngaro era constituído pela Áustria (Boêmia e Morávia - e pelos poloneses - Galitzia). Ambos os países encontravam-se unidos pela instituição monárquica, representada por Francisco José I, ao mesmo tempo imperador da Áustria e rei da Hungria. Cada país responsabilizava-se pela respectiva administração interna; a fusão, entretanto, configurava-se em questões relativas a política externa, à economia e à guerra que eram regidas por ministérios comuns.


Antecedentes:

A presença germânica no Brasil é registrada desde a época do seu Descobrimento, em que se encontravam entre a tripulação da esquadra de Pedro Álvares Cabral, o astrônomo Meister Johann e o cozinheiro, nascidos no que hoje é a Alemanha. Também digna de registro é a presença de Hans Staden que caiu prisioneiros dos Tupis, e escreveu:  "Duas Viagens ao Brasil", em 1557. Sua obra, é um dos registros mais importantes, ainda hoje, no campo antropológico, sociológico, linguístico e cultural sobre a vida, os costumes e as crenças dos tupis.

Essas presenças esparsas, não importou em estabelecimento à terra, oque só ocorrerá com as Invasões holandesas no Brasil, inicialmente em 1624 na Bahia e posteriormente em 1630 em Pernambuco (Nieuw Holland), que perdurará até 1654. Período em que se destaca a figura de Johan Maurits van Nassau-Siegen, que governou Pernambuco e as possessões holandesas no Brasil de 1637 à 1644,  e que pelo brilhantismo de sua administração ficou conhecido como: "Período Naussaviano".

Desse estabelecimento holandês (1630-54) reporta-se ter havido uma numerosa descendência deixada no Brasil, ainda hoje registrada geneticamente na população setentrional no nordeste brasileiro. De mencionar que a composição das tropas holandesas eram bastante heterogêneas, compostas não só por holandeses, como por mercenários de regiões circunvizinhas. Segundo estimativas, as tropas "holandesas" eram compostas por cerca de 30% oriundos do que é atualmente a Alemanha, especialmente das regiões da Vestfalia, Baixo-Saxônia, e Schieswig-Holstein, 3% da Dinamarca, 10% da Inglaterra/Escócia, 7% franceses, da região da Normandia, 10% do que é atualmente a Bélgica, e o restante, 40% de holandeses propriamente, etc... (ver: A Imigração Holandesa no Brasil Colonial)
Estados de origem de
alemães da WIC.


De famílias de origem germânicas, anteriores as invasões holandesas, registra-se a presença da Família Lins/Linz, Lemes (Lems), Holanda, Betim (Bettinck), Peres(Peters), Brum, Dutra (Urtrech), bem como dos irmãos Beckmans, no Maranhão, que protagonizaram o primeiro levante nativista do Brasil: "A Revolta de Beckman", em 1670.

Deve-se mencionar a presença normanda no Brasil, e que foi uma das bases da formação nacional brasileira, ao longo de todo primeiro século de colonização, com as ditas "invasões francesas", no que pese, já serem contingentes "afrancesados", de lingua latina (francesa). (Ver: A Presença Normando-Bretã (francesa) na Formação do Brasil)



O Início da Imigração Germânica no Brasil

O processo de colonização sistemática, e em massa de povos germânicos para o Brasil, só vem a ocorrer no início do séc. XIX, por ocasião do casamento entre o então príncipe D. Pedro de Alcântara com a arquiduquesa austríaca Dª Maria Leopoldina em 1817. O casamento entre ambos era resultado de uma aliança estratégica entre as monarquias de Portugal e da Áustria, com o intuito de fortalecimento dos laços entre os reinos, de ideais absolutistas, como forma de se contrapor à excessiva influência da Inglaterra. Já a Áustria via o novo império luso-brasileiro um importante aliado transatlântico que se inseria perfeitamente nos ideais da Santa Aliança.

Após as guerras napoleônicas, um grande número de veteranos de guerra, de descendência germânica, recebeu asilo político do Brasil, e outros vieram trabalhar nas fazendas como mão-de-obra assalariada.

Esses imigrantes foram trazidos por Georg Anton von Schäffer, alemão radicado no Brasil e major do exército brasileiro, sob ordens da Imperatriz Dª Leopoldina, de ir à Áustria, trazer soldados para formarem o Batalhão de Estrangeiros, afim de reforçar a defesa dos territórios do sul; porém o major não conseguiu recrutar soldados na Áustria, uma vez que o recrutamento de soldados estava proibida na Europa pós-napoleônica. Assim, ele rumou para Baviera, Hesse, Hanôver e Hamburgo, onde angariou apoio de grão-duques e de condes, desejosos de exportar marginais e criminosos para fora da Alemanha, seguindo uma prática de higiene social. Os governantes exigiram um acordo legal que os imigrantes não poderiam voltar à Alemanha para reivindicar proteção social. Para isso, Schäffer forjou documentos que garantiam a naturalização dos imigrantes.

Centenas de presidiários alemães foram recrutados em cadeias e casas de correção de Mecklenburg para serem mandados para São Leopoldo. Contudo, milhares de alemães indigentes, ao saberem que o Brasil estava oferecendo terras, foram para Bremen e Hamburgo em busca de uma passagem, mas se recusaram a assinar contrato de serviço militar. Schäffer recebeu autorização do Rio de Janeiro para permitir a vinda deles mesmo assim.

Por fim Schäffer partiu de Hamburgo em junho de 1824, no navio Germania, com 277 soldados a serem incorporados ao Corpo de Estrangeiros e 124 colonos para serem enviados para a colônia de São Leopoldo, que recebeu esse nome em homenagem à Imperatriz Leopoldina.

A colônia de São Leopoldo, foi o primeiro estabelecimento germânico no Rio Grande do Sul, com 39 imigrantes assentados na margem sul do rio dos Sinos, em julho de 1824.

Antes, a primeira colônia alemã no Brasil foi fundada em 1818 no sul da Bahia, pelo naturalista José Guilherme Freyreiss que criou a colônia Leopoldina, onde foram distribuídas sesmarias para colonos alemães, porém a colonia não vingou. Os colonos se dispersaram e a mão de obra imigrante foi substituída pela escrava.


A Imigração Suíça:

Os primeiros imigrantes suíços chegaram ao Brasil entre 1819-20, oriundos do cantão de Friburgo. Dom João VI batizou o lugar de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Eram ao todo 261 famílias, totalizando 1.682 imigrantes. O segundo movimento seria dos imigrantes alemães, cerca de 400, que também se estabeleceriam em Nova Friburgo no ano de 1824, vindo substituir muitos dos suíços que abandonaram seus lotes e se dispersaram por toda a região serrana e centro norte de estado do Rio de Janeiro em busca de terras férteis e mais acessíveis.

Em 1850, é fundada a colônia de Dona Francisca, atual Joinville-SC, com a vinda de 118 colonos entre alemães e suíços, maioria suíços, e posteriormente noruegueses (61). 


A Imigração Tirolesa (Tirol do Norte):

A colonia D. Pedro II (Juiz de Fora - MG) recebeu os primeiros imigrantes tiroleses (de Tirol do Norte, Áustria) em 1852, cerca de 270.

Embora a presença de imigrantes austríacos de língua alemã seja registrada desde 1824, a primeira colônia austríaca do Brasil é a pequena Colônia Tirol (Dorf Tirol), fundada em 1859 por tiroleses de língua alemã no território da antiga colônia imperial de Santa Leopoldina - ES. Aos austríacos, juntaram-se imigrantes alemães, suíços, luxemburgueses e holandeses.

O jesuíta Teodoro Amstad registrou a comunidade de Novo Tirol no vale do Rio Caí, atualmente no município gaúcho de Nova Petrópolis. Fundada, provavelmente, entre 1873-74 por tiroleses de língua alemã (ou bilíngues) vindos do Tirol Meridional, a comunidade se inseriu na realidade da maioria dos imigrantes alemães.

Os tiroleses e trentinos eram quase todos católicos, no Tirol não se permitia liberdade de culto aos protestantes, tanto é que, ainda em 1837, 400 habitantes do zillertal emigraram para a Silésia, para lá terem direito a exercer livremente a sua fé. A partir da revolução de 1848, foram feitas algumas concessões ao protestantismo austríaco. mas só no ano de 1861, foi decretada a liberdade religiosa total, o que significava cidadania plena e liberdade para as comunidades elegerem seus religiosos.


A Imigração Bohemia:

A identidade austríaca dos imigrantes boêmios se faz notar no Rio Grande do Sul nos nomes da Colônia Nova Áustria (Neu Österreich), fundada em 1873 na região de Paverama, ou na Linha Áustria, no município de Santa Cruz do Sul.

Em 1893, cerca de 50 famílias de imigrantes austríacos de língua alemã se instalaram na Linha 6 Leste, em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Boa parte desses imigrantes era originária da Boêmia.

Imigrantes da Boêmia também se estabeleceram na cidade gaúcha de Venâncio Aires (Linha Cecília, Linha Isabel e Alto Sampaio), bem como nas antigas localidades coloniais de Conde D’Eu e Campos dos Bugres, atualmente nos municípios de Bento Gonçalves e Caxias do Sul. O governo imperial brasileiro havia tentado povoar a Serra Gaúcha inicialmente com boêmios e alemães do Volga (Rússia), introduzindo ali cerca de cinquenta famílias da Boêmia saídas de Venâncio Alves; os alemães não aceitaram o local e se transferiram para a Argentina, ao passo que muitas famílias de boêmios se dispersaram por conta das difíceis condições (Umann, 1997; Amstad, 1999; Frosi, 2000). Na cidade de Farroupilha existe a Linha Boêmia, pertencente ao distrito de Nova Milano e na divisa com o município de Feliz, de colonização alemã.

Demais imigrantes boêmios também se instalaram na cidade catarinense de São Bento do Sul e ali fundaram, entre 1895 e 1898, a Sociedade Auxiliadora Austro-Húngara. O principal motivo da criação de uma sociedade austríaca naquela cidade era o clima de disputa com os colonos alemães, uma vez que estes haviam fundado, em 1895, uma sociedade de atiradores com membros das guerras de 1864-66, na qual os prussianos combateram contra os austríacos.


A Imigração Bucovina:

Bucovinos de língua alemã imigraram para o Brasil entre 1877 e 1878 e se estabeleceram principalmente nas cidades de Rio Negro e Lapa (Colônias Johannesdorf/São João e Marienthal), no Paraná, Mafra (Colônia Imbuial) e Itaiópolis (Colônia Lucena), em Santa Catarina. Um pequeno grupo de bucovinos saiu de Rio Negro e se estabeleceu na região catarinense de Canoinhas.

No Brasil, os imigrantes bucovinos que se estabeleceram em Rio Negro receberam assistência do cônsul austríaco Dr. Okeki.

Em SC foi fundada a colonia de Treze Tílias, que foi a mais recente colonia Austríaca no Brasil, fundada em 1933 por Andreas Thaler, ex-ministro da agricultura da Áustria.

Em 1921, um pequeno grupo de imigrantes da região de Vorarlberg se estabeleceu na cidade paulista de Itararé, onde fundaram a Colônia Áustria, na área conhecida como Bairro da Seda.


A Imigração Danúbio-Suábia (Donauschwaben):

Após a Primeira Guerra Mundial (1914–18), com o fim do Império Austro-Húngaro, um número considerável de austríacos imigrou para o Brasil, estabelecendo-se (às vezes, juntamente com imigrantes prussianos) nas regiões Sudeste e Sul. Também suábios do Danúbio (Donauschwaben), que habitavam a região do Banato, pertencente ao Reino da Hungria, formaram uma próspera comunidade em Entre Rios, no Paraná.


Entre 1895 e 1897, entraram no Brasil aproximadamente 20 mil austríacos de língua ucraniana, todos originários da região austríaca da Galitzia. Estima-se que, até 1918, cerca de 45 mil imigrantes ucranianos de nacionalidade austríaca e russa entraram no Brasil.

A partir de 1870 começaram a chegar as primeiras famílias polonesas no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Originárias da Silésia, da arredores de Opole. Os imigrantes oriundos da Silésia, foram o segundo maior grupo germânico, depois dos pomeranos, no Espírito Santo.


A Imigração Silesiana

Baixa Silésia (róseo), Alta Silésia (lilás), e Silésia austríaca.
A Silésia antes sob domínio Austríaco, foi conquistada pelo rei Frederico II da Prússia em 1740, ficando uma pequena parte, no extremo sudeste, da Silésia, sob domínio do Império Austro-Húngaro.  A Silésia prussiana ainda pode ser subdividida em alta Silésia (ao sul) de maioria católica, e a baixa Silésia (ao norte) de maioria luterana. Foi da Alta-Silésia, do distrito de Opole, de maioria católica e dialeto Wasserpolnisch de onde advieram os imigrantes silesianos para o Brasil. A atual região da Silésia, após a Segunda Guerra, foi anexada a Polônia, sendo sua população de origem alemã, expulsa ou morta, e sua parte Austríaca, anexada a atual República Tcheca.

Houve o estabelecimento de colônias silesianas no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, sendo o segundo grupo germânico mais numeroso, depois dos pomeranos, no Espírito Santo.



Imigrantes Pomeranos

Os imigrantes alemães no Brasil eram provenientes de diversas partes da Alemanha, porém, no caso particular do estado do Espírito Santo, 63% dos imigrantes germânicos eram provenientes da Pomerânia, uma região no nordeste da atual Alemanha, junto ao mar do norte, que acabou anexado a Polônia.

Todavia, em algumas localidades brasileiras, outros falares germânicos predominaram. Nos municípios de Pomerode (Santa Catarina) e Santa Maria de Jetibá (Espírito Santo), predominou o pomerano.

Ao final da segunda guerra, a população pomerana foi expulsa para a Alemanha Oriental, oque resultou na extinção de sua cultura e idioma. E embora de dialeto germânico, os pomeranos eram racialmente bálticos e em sua maior parte de confissão luterana.


A Imigração Hamburguesa no Sul da Bahia

Em 1873 foram criadas quatro colônias: Carolina, Muniz, Teodoro e Rio Branco, todas com famílias alemãs trazidas pelas empresas Moniz, recrutadas em Hamburgo, de língua Plattdeutsch, sendo a primeira (Carolina) instalada nas proximidades do rio Pardo e as três últimas, em Comandatuba, sul da Bahia. 

A Imigração Westfália

Nos municípios de: Westfália (RS) e de Rio Fortuna (SC), houve o estabelecimento de imigrantes da região de Westfália, de maioria católica, no noroeste da atual Alemanha. De modo que nessas localidades, o dialeto westfaliano acabou predominando.


Os Alemães do Volga

É importante destacar a corrente migratória de alemães do Volga (minoria étnica alemã da Rússia) para a província entre 1877 e 1879. Contudo, no Paraná, os alemães não encontraram terras abertas e a concorrência com italianos e poloneses, mais numerosos que eles, os forçou a rumar para os centros urbanos ou se dispersar pelas colônias rurais.

Na região dos Campos Gerais, foram criados três núcleos de colônias de russos-alemães do Volga. Em Ponta Grossa, Otavia; em Palmeira Sinimbú; na Lapa, as colônias de Marienthal, Johannesdorf e Virmond. A maioria dessas colônias não prosperou em razão do insucesso no cultivo do trigo, principal plantação dos imigrantes. Assim, muitos colonos acabaram por se transferir para as cidades.

Áreas de colonização germânica em Santa Catarina
Renânia

Da Renânia advém a maioria dos imigrantes germânicos para o Brasil, de confissão católica e de língua franco-renânio o hunsrückish.

É no estado da renânia Palatinado que se encontra a região do hunsrück, de onde vieram os primeiros imigrantes para a colônia de Santa Isabel, em 1846. A renânia Palatinado, como se conhece hoje, foi formada em 1946, quando foram unidos territórios da Baviera, de hessen e da Prússia, originalmente, uma região pobre.

Com a chegada de imigrantes alemães ao Brasil, que ocorre principalmente a partir do século XIX, os dialetos alemães também se estabeleceram nas áreas de colonização. Assim, enquanto na Alemanha o alemão padrão passou a servir como língua comum para os falantes dos diversos dialetos, no Brasil, devido à incipiente consolidação do alemão padrão quando do início da imigração, esse papel foi desempenhado por um dialeto, o Hunsrückisch, por a maioria dos imigrantes terem vindo do Hunsrück, portanto seu dialeto predominou.

Zonas de colonização germânica no Rio Grande do Sul.
As áreas assinaladas não significam um contingente de
maioria alemã, apenas que nessas zonas houve colônias.
E em todas essas zonas, os colonos alemães foram
contingentes minoritários ante uma já população local. 

Nacionalização e Assimilação:

O modelo de colonização, de assentamentos em pequenas propriedades, articuladas entre si e separadas dos outros grupos étnicos, e aí não só os de língua germânica, como de outros quistos étnicos: italianos, poloneses, etc... constituindo uma maioria católica, favoreceu o papel dos padres, via de regra, as únicas pessoas esclarecidas do lugar e que podiam se comunicar com os imigrantes na sua própria língua, como agentes nacionalizadores. A Igreja católica chegou a criar uma congregação religiosa (os carlistas) para cuidar especialmente dos imigrantes. E que desempenhou importante papel na integração dos colonos a vida brasileira.

Isso se materializou numa rápida integração dos colonos germânicos, ressalvados algumas localidades mais isoladas, aos nacionais. Os dados do censo do Rio Grande do Sul de 1918, reverberam esse fato, revelando que 74% de homens alemães se casaram com brasileiras, ao passo que 26% com alemãs:
" [....] no Rio Grande, os dados que possuímos revelam quanto intensa e rapida é a fusão dos colonos europeus com a nossa população nacional. Realmente, os dados estatísticos dos casamentos, no territorio ·riograndense, durante os annos de 1918 e 1920". (Relatórios da Repartição do Rio Grande do Sul de 1919 e 1920)
A suposição de alguns deslumbrados na atualidade de verem descendentes germânicos como um grupo étnico a parte da população brasileira é um completo anacronismo histórico. Os contingentes de língua germânica, falavam dialetos diversos, e exceto em suas respectivas comunidades, não interagiam com outras colônias germânicas de origem diversa. Estando por assim dizer ilhadas.

A instituição do ensino do português por Getúlio Vargas, mais do que ocasionar um problema, como acusam seus detratores,  ajudou na integração e na melhoria de vida dessas populações, as integrando não só a outras colônias germânicas como de outras origens nacionais: italianas, polonesas, austríacas, etc.... o mesmo fez Hitler e Mussolini em seus respectivos países ao abolir dialetos locais em favor do alemão e do italiano padrão.

Thomas Mann
A considerar ainda que até antes de 1871, os contingentes germânicos não constituíam uma nacionalidade. Posteriormente, quando se unificaram, os próprios alemães, não viam imigrantes que se entrelaçaram com brasileiros, como com outras nacionalidades, como "alemães". Caso bastante ilustrativo é o de Thomas Mann, um dos maiores se não o maior escritor romântico da literatura alemã, com Nobel de Literatura de 1929. Filho de Johann Heinrich Mann, parte de uma tradicional família alemã, e de Júlia da Silva Bruhns, brasileira, filha de pai alemão e de mãe cabocla, e após três gerações, tendo 3/4 de sangue alemão, nascido na Alemanha, e já renomado como um dos maiores escritores alemães, sempre foi visto, pelos seus "nacionais" como um estrangeiro.

Gustavo Barroso é um outro exemplo, seu avô era imigrante alemão, e nem por isso se cria "alemão" antes afirmou mais do que qualquer outro sua brasilidade.


Colonias e Origem dos imigrantes alemães de 1824 à 1933:

1818 - Ilhéus, BA: 165 famílias alemãs, em Ilhéus, Bahia, para cultivar fumo, cacau e cereais.
1818 - Nova Friburgo, RJ: colonos suíços do cantão Friburgo, da Suíça, no reinado de D. João VI.
1819 - São Jorge, BA, cerca de 200 famílias alemãs, instaladas no norte da Capitania da Bahia.

1824 – São Leopoldo, RS: Hunsrück, Saxônia, Württemberg, Saxônia, Coburg (Baviera)
1824 - Três Forquilhas, RS: terceira expedição de colonos enviados pelo major Schaeffer, que fundaram a colônia de Três Forquilhas, também no Rio Grande do Sul.

1825 - Torres, RS: provavelmente a última leva que o major Schaeffer trouxe para o Brasil.
1829 - Santo Amaro, SP: alojados no meio da selva, por exigência dos fazendeiros escravocratas, que não os queriam próximo dos escravos. 17 famílias
1829: Colonos Itapecerica - SP, alojados onde hoje se situa a cidade do mesmo nome, pelos mesmos motivos acima. 21 famílias.
1829: Colonos São Pedro de Alcântara. Eram parte de uma expedição destinada ao Rio Grande do Sul, e fundaram a Colônia São Pedro de Alcântara, em Santa Catarina. Mais tarde, em 1846, para ela foram mandados 300 colonos que estavam no Rio de Janeiro, abandonados.
1829 - Itajaí Grande, SC: segunda expedição chegada em Santa Catarina, também parte de uma expedição mandada ao Rio Grande do Sul, que foi alojada na foz do Rio Itajaí, onde foi fundada a cidade com esse nome.
1830 - Pernambuco - Colônia de Santa Amélia - composta de náufragos.
1835 - Itajaí Pequeno, SC: a terceira a desembarcar em Santa Catarina, tendo se alojado na margem do rio Itajaí Pequeno.
1837: Colonos Justine 283 colonos, que se revoltaram pelas condições de viagem no veleiro francês "Justini", que se destinava a Sydney, Austrália, e desembarcaram no Rio de Janeiro, tendo sido alojados no Caminho das Cabras, na serra da Estrela, em Petrópolis.
1837 - lpanema - SP - o major Jacob Bloem, que dirigia a siderúrgica de Ipanema, fixou 56 alemães ali, e 171 para trabalhar na estrada Cubatão-São Paulo.
1839: Companhia de Operários, ou seja, 196 artífices e suas famílias, destinados ao Recife, para remodelar a cidade.
1839: Batalhão de Polícia do Pará, ou seja, 800 soldados mercenários contratados para enfrentar os revoltosos da Cabanada; vitoriosos, transformaram-se no 1º Batalhão de Polícia do Pará.
1845: Colonos Petrópolis, ou seja, 1.818 colonos alemães que se estabeleceram na fazenda Córrego Seco, de propriedade de D. Pedro II. Muitos não permaneceram e seguiram para o sul.
1847 – Santa Isabel (Domingo Martins - ES):  Hunsrück, Pomerânia, Renânia, Prússia, Saxônia.
1847 - Santa Isabel - SC: às margens do Cubatão, na foz do rio dos Bugres - 256 colonos do Hunsrück.
1847: 80 famílias contratadas pelo Senador Vergueiro, em São Paulo, para trabalhar em sua fazenda, em regime de meação.
1848: Colonos Macaé - RJ (os sobreviventes de 600 famílias importadas pelo governo da província do Rio de Janeiro, abandonadas em Niterói, que foram alojados em Macaé).
1848: Colonos Valão dos Veados - outra parte desses mesmos sobreviventes de 22, que foram alojados na localidade de Valão dos Veados.
1848: Colonos Leopoldina: mais colonos que chegaram no interior de Santa Catarina, onde fundaram a Colônia Leopoldina.
1849 – Santa Cruz, RS: Renânia, Pomerânia, Silésia: contratados pelo governo imperial, fundaram a colônia Santa Cruz, no interior do então São Pedro do Rio Grande do Sul
1850 – Blumenau, SC: Pomerânia, Holstein, Hanôver, Braunschweig, Saxônia: Colônia São Paulo de Blumenau, fundada por Hermann Bruno Otto Blumenau.
1851 – Joinville, SC: Prússia, Oldenburgo, Renânia, Pomerânia, Schleswig-Holstein, Hanôver, Suíça: Colonos Dona Francisca (em terras pertencentes à irmã do imperador, Dona Francisca, esta contratou a Sociedade Colonizadora Hamburguesa para colonizar a área, na divisa do Paraná com Santa Catarina. Das diversas cidades que resultaram desse empreendimento, a mais importante foi Joinville). 118 colonos entre alemães e suíços, maioria suíços, e posteriormente noruegueses (61). 
1851: Tropa Mercenária (tropa de 1.800 homens, com 80 oficiais, que se compunha de um batalhão de infantaria com seis companhias, um grupo de artilharia com quatro baterias e duas companhias de sapadores, contratada do norte da Alemanha pelo governo imperial para combater Manoel Rosas, sob o comando do então Conde de Caxias, que se fixaram no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, após terminada a missão).
1852 – D. Pedro II (Juiz de Fora - MG): Tirol do Norte, Áustria: 1852: Colonos de fazendas (na Fazenda Santa Rosa, do Barão de Baependi, 132 colonos; para a Fazenda Independência, de Nicolau A. N. da Gama, vieram 172. A Fazenda Santa Justa, de Brás Carneiro Belens, ficou com 155 colonos. Destinaram 143 para a Fazenda Coroas, de M.N. Valença. Para a fazenda Martim de Sá, de João Cardoso de Meneses, 67). Em 1861, na inauguração da estrada de rodagem União Indústria, todos foram para Juiz de Fora.
1855: Colonos Rio Novo - quando chegaram à província do Espírito Santo, foram alojados nas selvas do Rio Novo, onde muitos foram trucidados pelos índios ou pelas feras.
1856: Colonos Santa Leopoldina (compostos por colonos alemães e suíços, no Espírito Santo) - resultaram nas colônias de Jequitibá, Santa Maria, Campinho, Califórnia, Santa Joana, Santa Cruz e 25 de Julho.
1856: Colonos Mucuri - MG (contratados por Teófilo Ottoni, chegaram em Nova Filadélfia, no Vale do Mucuri, os primeiros colonos alemães para Minas Gerais). Maria Procópio havia trazido, em 1856, cerca de 250 alemães, especialistas em pontes de ferro, mecânica, carpintaria, ferraria, construção; em 1858, trouxe mais 508 mulheres e 636 homens, incluindo crianças e bebês. Desses últimos, 641 eram católicos e 503, luteranos.
1857 – Assuruá, atual município de Gentio do Ouro, Bahia. 150 alemães foram trazidos para trabalharem na Companhia Metalurgica de Assuruá pela Associação Bahiana de Colonização. 
1857 – Santo Ângelo, RS: Renânia, Saxônia, Pomerânia: 1857: chegaram em 01 Novembro 1857 as primeiras famílias, a maioria prussiana, que se estabeleceram na região do hoje município de Agudo, RS.
1857 – São Lourenço, RS: Pomerânia, Renânia
1857 – Santa Leopoldina, ES: Pomerânia, Renânia, Prússia, Saxônia
Colonos de D. Pedro II: diz respeito a Mariano Procópio e à história de Juiz de Fora. O primeiro embarque aconteceu na barca Teel, que saiu da Alemanha em 21 de abril de 1858, com 232 colonos (116 homens e 116 mulheres; do total, 145 protestantes e 87 católicos ) para a Companhia União e Indústria, tendo chegado ao Rio em 24 de maio. O segundo aconteceu em 25 de junho de 1858, também no Rio, com a barca Rhein: 182 colonos de ambos os sexos. O terceiro desembarque no Rio ocorreu em 25 de julho de 1858, trazendo 285 colonos na barca Gundela. O quarto, em 29 de julho de 1858, trouxe 249 imigrantes, pela barca Gessner. O quinto e último foi pela barca Osnabrück, que chegou em 3 de agosto de 1858, com 215 colonos.
1858 – Colônia Rio Novo, ES: 60 imigrantes holandeses, sendo; 18 de Oosterland; 14 de Zierikzee; 14 de Nieuwerkerk; 13 de Ouwerkerk; todas cidades da província de Zelandia. 
1858 – Colônia Militar de Urucu, ES: 162 imigrantes holandeses e belgas. 
1859 – Colônia Tirol (Dorf Tirol), ES: colônia imperial de Santa Leopoldina, Aos austríacos, juntaram-se imigrantes alemães, suíços, luxemburgueses e holandeses.  
1859 – Nova Petrópolis RS: Pomerânia, Saxônia, Boêmia
1860 – Busque, SC: Baden, Oldenburgo, Schleswig-Holstein, Hanôver
1868 – Teutônia, RS: Vestfália
1873 – criadas as colônias Carolina, Muniz, Teodoro e Rio Branco, todas com famílias alemãs trazidas pelas empresas Moniz, sendo a primeira (Carolina) instalada nas proximidades do rio Pardo e as três últimas, na região de Comandatuba, sul da Bahia.
1878 – Curitiba, PR: teutos (alemães) do Volga
1893 – Ijuí, RS:  Estíria e, Baixa Áustria
1920 - Colônia Álvaro da Silveira (Bom Despacho – MG); se registra cerca de 75 famílias na colônia, contando 444 pessoas. A maioria dessas famílias eram alemães, mas, havia também famílias vindas da Holanda, Áustria e Suíça.
1921 – Colonia Davi Campista (Bom Despacho – MG); foi a segunda colônia alemã  em Bom Despacho. Vinheram inicialmente 274 imigrantes, houveram também famílias da Hungria, Polônia, Áustria e Suíça, com predominância de alemães.
1924 - Uvá-GO: 600 colonos oriundos de Renânia, Pomerânia e Prússia Oriental. 
1924-30 –  Witmarsum, SC: imigrantes alemães provenientes do Volga (Rússia) de confissão menonita, e de língua Plautdietsch, originários da Frísia, norte da atual Holanda e Alemanha. Através da Prússia, imigraram para Rússia no século XVIII, quando em 1929, fugindo do regime comunista vieram para o Brasil. Essa colonia, passará para o Paraná, fundando, em 1951, uma colônia do mesmo nome, Witmarsum, no atual município de Palmeira-PR, na região dos Campos Gerais.
1933 – Treze Tílias, fundada em 13 de outubro de 1933 pelo ex-ministro da agricultura da Áustria Andreas Thaler, com imigrantes provenientes da região de Tirol, tanto da Áustria como da Itália. 

Imigração alemã no Brasil de 1824 a 1969
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Imigração Alemã
Décadas1824-18471848-18721872-18791880-18891890-18991900-19091910-19191920-19291930-19391940-19491950-19591960-1969
Imigrantes8.17619.52314.32518.90117.08413.84825.90275.80127.4976.80716.643
5.659


Sugestão de Bandeira aos Descendentes Teuto-Brasileiros:
 
O Comando Sul do Círculo Castilhista, tanto em homenagem a Johann Heinrich Böhn (vulgo: Henrique Böhn), quanto pela primazia da colonização alemã no sul do Brasil. Usa como estandarte, uma bandeira de panopla amarelo loura, figurando em seu centro uma águia dos Habsburgos entrelaçada a um Dragão Lusitano. Alude assim, a bandeira vigente, do Império Habsburgo, no que viria a ser futuramente a Alemanha, bem como a bandeira do Reino Suevo-Germânico, panopla amarelo louro com um dragão verde, no que é atualmente Portugal e núcleo de sua fundação. Henrique Böhn, comandou as tropas luso-brasileiras na Guerra Hispano-Portuguesa que fincaram as fronteiras brasileiras no sul, bem como foi quem organizou o Exército Brasileiro. 

Bandeira do Comando Sul do Circulo Castilhista


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sexta-feira, 5 de julho de 2019

Brizola e o Trabalhismo Australiano


Quando regressou do exílio em 79, Brizola voltou falando da Austrália, do Trabalhismo Australiano (Australian Labor Party). Sua estadia nos EUA, e posteriormente em Portugal, o fez tomar contato com as outras vertentes trabalhistas no mundo, e enxergou no Trabalhismo Australiano, uma maior similaridade com o Trabalhismo Brasileiro, ante ao mais propalado Trabalhismo Britânico. Oque o motivou a ingressar na Internacional Socialista. 
" [.....] a Austrália é talvez o melhor exemplo que nós podemos invocar para o Brasil. É um país jovem, economia baseada na agricultura, na produção de grãos e nos produtos pecuários e na exportação de minérios, e até tem uma indústria que não chega aos pés da nossa, é um país perdido, distante do mercado, lá nos confins do Oceano Pacífico. A população é menor, mas se nós tirarmos o deserto, verificamos que os 17 milhões que tem a Austrália correspondem a uma densidade demográfica mais ou menos igual à nossa. E como é que aquele povo tem aquele altíssimo padrão de vida, com altos salários a nível europeu? Uma camareira de hotel ganha US$ 950 por mês, uma menina começa a trabalhar numa loja com US$ 800 por mês, o peão rural ganha US$ 800, todos ganham por semana US$ 200, até os militares, até o primeiro-ministro. Como é isto? O padrão de vida lá é mais alto? É, mas não é 30, 40 vezes como é a diferença de salário! É duas, três, quatro, cinco vezes, embora o aluguel lá, por exemplo, seja mais barato que aqui. Uma cidade como Sidney não tem uma rua sem pavimentação, sem cabos telefônicos, sem energia, sem água e sem esgoto! Não há um barraco, não há urna favela! Quer dizer, como é isto? Os mais altos executivos ganham oito vezes, nove salários mínimos. Ganham pouco? Não, o salário mínimo é que é alto! E como chegaram a isso? Esse Fisher, a primeira lei que ele propôs foi chamada de New Protection. E dizia que a proteção alfandegária que se devia dar às empresas não devia ser igual, horizontal, universal; devia ser especifica. Quanto mais altos fossem os salários e os benefícios aos seus operários, maior a proteção. Aí começou tudo." - Brizola. 
Andrew Fisher
Andrew Fisher, a quem se reporta Brizola, era escocês, trabalhava em uma mina de carvão e imigrou para Austrália em 1885. Foi primeiro ministro da Austrália em três mandatos consecutivos pelo Partido Trabalhista Australiano (Australian Labor Party) : 1908-09, 1910-13 e 1914-15. E líder do Partido Trabalhista de 1907 à 1915. 

O governo trabalhista de Fisher de 1910 à 1913 instituiu um vasto programa legislativo que o converteria, junto com o protecionista Alfred Deakin, no fundador da estrutura estatutária da nova nação que se fundava. 

O governo de Fisher representou em 1910 vários marcos: foi a primeira maioria absoluta de um governo federal na Austrália, a primeira maioria no Senado e a primeira vez no mundo que um partido trabalhista tinha a maioria de governo em nível nacional. Ao mesmo tempo, representou o auge da participação dos trabalhistas na política. Com a aprovação de cento e treze leis, o governo de 1910 à 1913 foi um período de reformas sem igual na Commonwealth até a década de 1940. Tendo exercido o poder durante um total de quatro anos e dez meses, Fisher é o segundo primeiro-ministro trabalhista australiano de mandato mais duradouro.

Fischer instituiu um imposto territorial contra os latifúndios que crassavam na Austrália, afim de dar maior alcance para a agricultura de pequena escala. Instituiu ainda uma ampla legislação trabalhista e de seguridade social como a redução da pensão na velhice de 65 para 60 anos. Fez aprovar a maternidade subsidiada, que permitiu o acompanhamento médico as gestantes, reduzindo as taxas de mortalidade infantil. Tornou obrigatório a preferência para sindicalistas em cargos federais, foi também introduzida, para os Marinheiros a Lei de Compensação de 1911 e o Ato de Navegação de 1912, adotados para melhorar as condições para os que trabalham no mar, juntamente com mecanismos compensatórios para os marinheiros e os parentes mais próximos. A Elegibilidade para pensões também foi ampliado. A partir de dezembro de 1912 em diante, naturalizados residentes já não teve que esperar três anos para ser elegível para receber uma pensão. Nesse mesmo ano, o valor de um pensionista do lar foi excluído de consideração ao avaliar o valor de sua propriedade.

Fischer ainda tentou implementar um corpo legislativo para nacionalizar monopólios privados. Sendo derrotado no parlamento por 51% dos votos.

Tudo isso, note, ante da Revolução Russa de 1917.... e ninguém taxava a Austrália de "comunista", ou de ser uma "República sindicalista" como alcunharam posteriormente Vargas e Peron. 

Foi ainda com Fischer, que a industria automobilística australiana floresceu, com a proibição da importação de automóveis ao fim da primeira guerra, liberando apenas o chassi, após a II Guerra, em 1945 o governo australiano proibiu a importação total: nem mais chassi podia importar, foi quando a Austrália, produziu seu primeiro carro nacional, o Holden FJ-215.
Holden FJ-215

Depois da II Guerra, a economia australiana deixou de ser predominantemente rural. Foram descobertas uma quantidade e variedade de recursos minerais que transformou o país, em poucos anos, no principal exportador de matérias primas e combustíveis de origem mineral para o Japão.

A indústria tomou um forte impulso com a injeção de capitais nas empresas já existentes e com a criação de novas unidades produtivas, particularmente refinarias de petróleo, fábricas de veículos motorizados e siderúrgicas. 

O número de fábricas existentes em 1946, que era de aproximadamente 30 mil, mais que dobrou no pós-guerra, e passou a ocupar , apenas na indústria manufatureira, a quinta parte da força de trabalho disponível . 

A indústria automobilística, empregava diretamente 5% da mão de obra industrial, e era responsável pelo funcionamento de grande número  de empresas com atividades afins.  
" [....] eles (australianos) construíram, através do tempo, mecanismos, instituições de defesas da economia nacional, por isso eles se capitalizaram. Eles ficaram, depois da guerra, sob as asas do Commonwealth britânico, e não tiveram, não se submeteram a esse tipo de política econômica em que toda a América Latina e as Filipinas caíram. As elites desses países, depois da guerra, se viram fascinadas pelas fórmulas do sistema americano. Eu até, às vezes, eu até reconheço que, finalmente, era de se fascinar, porque aquela economia enorme que deu certo, um país vitorioso, oferecia para a casta dominante da economia brasileira muitas facilidades: “Não, nós vamos aí com o capital estrangeiro, vocês tem que abrir. Nós levamos tecnologia, levamos tudo. Nós levamos nossos técnicos, levamos as nossas máquinas e o máximo que vocês têm que fazer é ler os nossos catálogos, os nossos livros de instruções, nossos manuais e pronto, vocês ficam manejando essas máquinas. Não se preocupem porque essas máquinas funcionam, nós levamos tudo para vocês. Nem precisam mandar os seus filhos estudarem tecnologia, ficam só de herdeiros, nossos sócios, então, ficam com grandes cartórios.... e deu no que deu. O modelo econômico que assimilaram ali, deu no que deu, foi ao fracasso e os australianos não embarcaram nisso. Logo criaram o mercado interno, criaram os sindicatos, fortaleceram os sindicatos, distribuíram a renda, chegaram àquele enorme mercado interno para sua economia, se auto-sustentaram e estão lá como estão. E nós nesse buraco, na crise, no desastre." - Brizola. 
Lula reporta sua conversa com Brizola, logo após o fim do primeiro turno em 89, quando ele foi ao seu apartamento na avenida Atlântica, pedir seu apoio para o segundo turno. Brizola lhe falou expressamente: "Você sabe, Lula, que estou lembrando de uma coisa? A Austrália teve um primeiro-ministro sindicalista que foi o cara responsável pelo desenvolvimento do país!", continua Lula: "Aí ele levanta, pega minha mão, e vai até a janela". 

Brizola apoia Lula para o 2º Turno em 89
Isso não foi por acaso, Brizola conhecia o antecedente histórico australiano:
" [....] estudei a fundo os antecedentes do Partido Trabalhista australiano porque, lá, alguns sindicalistas ascenderam da militância sindical diretamente para a função de primeiro ministro, à do gabinete. O que é a situação concreta do Lula. Aí por volta de 1910, a Austrália era o próprio capitalismo selvagem, com lutas sindicais, problemas de distribuição de renda, tudo numa situação talvez muito parecida com a situação brasileira de hoje. Houve o confronto e com a vitória do Partido Trabalhista começou a mudança na Austrália. E sabe quem ascendeu a primeiro-ministro, à chefia do governo, ou seja, quem foi o presidente, em termos brasileiros – porque lá o regime é parlamentarista? Pois foi um sindicalista de nome Andrew Fisher, operário das minas de carvão. Este homem foi por três vezes primeiro-ministro. E a partir daí veio toda a legislação social australiana, que foi entrando pelos anos 20, anos 30 e anos 40. Depois,em 1945, foi eleito um maquinista de trem, um maquinista de estrada de ferro que governou de 45 a 49 e antes tinha sido eleito o líder do Sindicato dos Cortadores de Lenha; e antes tinha sido eleito um gráfico e também um secretário do Sindicato de Estivadores. Quer dizer, dos oito primeiros-ministros iniciais do Partido Trabalhista cinco eram lideres sindicais." - Brizola.
Foram sob os governos Trabalhistas, que a Austrália fundou sua base de desenvolvimento, e quando o país mais prosperou.  O subdesenvolvimento que acometia a Austrália em fins do Séc. XIX início do XX, tornam o cenário australiano similar ao brasileiro. A criação pelos Trabalhistas de uma ampla legislação de seguridade social e trabalhista, junto a medidas nacionalistas, viabilizaram ser a Austrália um dos países com melhor padrão de vida, com o segundo melhor IDH do mundo!  

Brizola pretendeu fazer de Lula, o "Andrew Fischer" brasileiro, dotando-o de uma base política trabalhista, que lhe desse suporte (PDT-PT). Lula não teve a mesma grandeza do Brizola, preferiu se enveredar por arranjos fisiológicos ao invés de formar uma base política ideológica de cunho trabalhista. E nada como o tempo....  ao dar as costas para o Brizola, se voltou para as mesmas aves de rapina que atualmente lhe comem as viceras.
"Se é para copiar tudo dos trabalhadores estrangeiros, por que não copiar os salários? É o que interessa ao maior número de pessoas. É o que fazem os países que tem uma soberania relativa como é o caso da Austrália. Eu estive lá e vi com os meus olhos. Vi um peão rural que não só tem as garantias que têm aqui os trabalhadores brasileiros, como ainda ganha duzentos dólares por semana. Um peão rural. Imaginem o que ganha quem trabalha na indústria, nos escritórios, na parte mais avançada da economia."
"Uma vez perguntei a um grande dirigente, a um homem que foi alto dirigente norte-americano, um tipo amável para conversar: por que tratavam a Austrália com juros tão fáceis, emprestavam aos australianos o que eles queriam. Por que lá pagavam tão bem aos trabalhadores e os organismos internacionais não se metiam com o salário mínimo deles? Ele parou, me olhou e disse em inglês, traduzido por um brasileiro: Senhor Brizola, é que eles falam inglês." - Brizola.