quinta-feira, 24 de outubro de 2024

São Rafael Arcanjo - O Anjo da Guarda do Brasil.

"cada paróquia e diocese, cada cidade e país tem seu próprio anjo da guarda particular e poderoso."

Anne Catherine Emmerich


Desencadeada a Revolução de 30, também dita Revolução de Outubro, a três do dito mês, após 21 dias, no dia 24 de outubro a Revolução chegava ao seu fim, com a deposição de Washington Luís, evitando uma sangrenta batalha fratricida que teria se dado entre as duas forças em Itararé.  Por ter findada na data de festejo de São Rafael Arcanjo (24 de outubro), que a tradição já creditava como o anjo guardião do Brasil, São Rafael Arcanjo foi oficializado como o anjo da guarda do Brasil. 

A devoção de São Rafael Arcanjo no Brasil, esta umbilicalmente ligado a Nossa Senhora de Aparecida, posto que na antiga basílica de Aparecida figurava uma imagem do Arcanjo Rafael aos seu pés. Na bíblia, o Arcanjo Rafael, realiza curas através de um peixe, assim foi associado a Nossa Senhora de Aparecida, que surgiu em meio a rede de pescadores.  

Nas comemorações da Revolução de 30, a igreja a celebrava dizendo:

O Brasil, jovem nação, que suportou durante 40 anos um regime constitucional absurdo, eivado do confucionismo doutrinário das éras passadas e de um exótico liberalismo agnóstico, como o filho de Tobias, necessitava de um guia para conduzi-lo na viagem de regresso as suas tradições católicas. Daí a Providencia Divina, permitindo que fosse invocado São Rafael, quando o País, em armas lutava por uma reforma constitucional e regeneração política; consagrando o dia de sua festa litúrgica (24 de Outubro) com o término da luta fratricida, que, havia 21 dias, ensanguentava o território brasileiro.... Foi assim São Rafael, mais uma vez o portador da alegria – Ele que saudou a Tobias dizendo “Gaudium sit tibi semper” – alegria seja sempre contigo. E podemos afirmar que nunca o Brasil vibrou tanto de alegria tão explosiva, como naquele memorável 24 de Outubro de 1930.

É mister que o Brasil nunca se esqueça de tamanha proteção, em tão singular acontecimento, e que cultue São Rafael como seu Anjo da Guarda. Se hoje os brasileiros regem-se por um Constituição que reconhece e acata os Direitos de Deus e de sua Santa Igreja, podemos afirmar que não pode ser senão graças à proteção de São Rafael, invocado de norte a sul do País, por mais de 300 mil fiéis. 

Aos pés do trono de Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, assiste o Arcanjo São Rafael, como primeiro Ministro do seu abençoado Reino!


São Rafael Arcanjo

O nome Rafael significa "Cura de Deus" ou, também, "Curador divino". É considerado o chefe dos anjos da guarda. Também invocado como o anjo da Providência, que está sempre velando por toda a humanidade. Na missão de São Rafael Arcanjo, está inclusa a cura das feridas da alma e do corpo. Também é um dos sete espíritos que assistem mais próximos de Deus. O Arcanjo Rafael é o terceiro mencionado na Bíblia, no livro de Tobias, velho testamento.

O Arcanjo Rafael é o guia e o defensor do jovem Tobias, enviado por Deus para ajudá-lo na tarefa que lhe foi confiada por seu pai, que se tornou cego, e o envia para receber um crédito que ele havia deixado em uma cidade na Média, na antiga Pérsia. No caminho, Arcanjo Rafael consegue um feliz casamento para Tobias com a jovem Sara, a cura dos sofrimentos causados por forças demoníacas e cura também Tobit, o pai de Tobias, da cegueira. Somente no final de sua missão, antes de retornar para o céu, ele se revela, declarando-se “um dos sete espíritos que estão sempre prontos para entrar na presença da majestade do Senhor” e se encarregando de escrever o que aconteceu.

Sendo um personagem de um Livro da Bíblia não reconhecido pelos protestantes, Arcanjo Rafael não é reconhecido pela maioria das confissões evangélicas. 

No Novo Testamento, quando Jesus cura um paralítico que tentava tocar a água do tanque de Betesda. Embora não seja mencionado o nome do anjo, se intelege ser o Arcanjo Rafael, que vez em quando descia no tanque e agitava a água, afim de curar qualquer doença ao primeiro que mergulha-se em seguida ao movimento das águas (João 5,4). 

Essa identificação permaneceu no culto, tanto que o trecho da cura do cego era lido nas missas dedicadas ao santo.

Posteriormente, o hábito de celebrar a festa litúrgica em 24 de outubro foi consolidado, e aceita pelo Papa Bento XV, que estendeu a festa de São Rafael a toda a Igreja Católica.

Particularmente devotado ao arcanjo Rafael era São João de Deus, a quem o anjo teria aparecido, garantindo-lhe proteção em sua obra de cuidar dos doentes e dos pobres; essa devoção continuou na ordem que ele fundou, os Irmãos Hospitalários.

Em consequência da influência de Arcanjo Rafael no catolicismo e dos hospitais católicos, inúmeros hospitais são dedicados a Rafael.


O Catecismo Católico Sobre os Anjos

§ 336 Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida." Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.

Imagens nas artes

§ 1192 As santas imagens, presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nelas representadas.

§ 2131 Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que (sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova "economia" das imagens.

§ 2502 A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde, por sua forma, à sua vocação própria: evocar e glorificar, na fé e na adoração, o Mistério transcendente de Deus, beleza excelsa invisível de verdade e amor, revelada em Cristo, "resplendor de sua glória, expressão de seu Ser" (Hb 1,3), em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2,9), beleza espiritual refletida na Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, nos anjos santos. A arte sacra verdadeira leva o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Santo e Santificador.

Identidade e encargos

§ 329 Santo Agostinho diz a respeito deles: "Angelus officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen huius naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est; quaeris officium, angelus est, ex eo quod est, spiritus est, ex eo quod agit, angelus - Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são "poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103,20).

§ 332 Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu filho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por seu ministério, conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas, para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.

§ 333 Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da adoração e do serviço dos anjos. Quando Deus "introduziu o Primogênito no mundo, disse: - Adorem-no todos os anjos de Deus- " (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor da Igreja: "Glória a Deus..." (Lc 2,14). Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda os anjos que "evangelizam", anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará.

§ 334 Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos.

§ 335 Em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adora o Deus três vezes Santo; ela invoca a sua assistência (assim em In Paradisum deducant te Angeli... - Para o Paraíso te levem os anjos, da Liturgia dos defuntos, ou ainda no "hino querubínico" da Liturgia bizantina). Além disso, festeja mais particularmente a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael, os anjos da guarda).

§ 336 Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida." Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.

§ 350 Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem a seus desígnios salvíficos em relação às demais criaturas: "Ad omnia bona nostra cooperantur angeli. - Os anjos cooperam para todos os nossos bens"

§ 351 Os anjos cercam Cristo, seu Senhor. Servem-no particularmente, no cumprimento de sua missão salvífica para com os homens.

§ 352 A Igreja venera os anjos que a ajudam em sua peregrinação terrestre e protegem cada ser humano

§ 1034 Jesus fala muitas vezes da "Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo. Jesus anuncia em termos graves que "enviar seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente" (Mt 13,41-42), e que pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o fogo eterno!" (Mt 25,41).

Na anáfora

§ 1352 A anáfora. Com a Oração Eucarística, oração de ação de graças e de consagração, chegamos ao coração e ao ápice da celebração. No prefácio, a Igreja rende graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras, pela criação, a redenção, a santificação. Toda a comunidade junta-se então a este louvor incessante que a Igreja celeste, os anjos e todos os santos cantam ao Deus três vezes santo.

Nas aparições de Fátima o Santo Anjo da Guarda de Portugal apareceu aos pastores e deu diversas instruções, entre elas, ensinou duas orações para serem rezadas em reparação pelos fiéis no mundo todo, são elas:

“Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Amém”

“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.

São Tomás de Aquino em sua obra Suma Teológica diz que os anjos são espíritos puros, criados por Deus, imortais e dotados de inteligência e vontade. Na mesma obra sistematiza uma hierarquia angélica, segundo o qual:

Todo o Coro Angélico se divide em três hierarquias. A Primeira Hierarquia se divide em três ordens:

1ª Ordem, a dos Serafins (ardor caritativo: imagem do amor divino);

2ª Ordem, a dos Querubins (plenitude de ciência: imagem da sabedoria divina) e a

3ª Ordem, a dos Tronos (assento de Deus: compreendem o juízo divino).

A Segunda Hierarquia se divide em três ordens:

1ª Ordem, Dominação (governo dos próprios anjos: domina e distingue o que fazer);

2ª Ordem, Virtude (executa a ordem da dominação com relação à natureza física) e a

3ª Ordem, Potestade (ocupa-se do combate aos anjos caídos).

A Terceira Hierarquia também se divide em três ordens:

1ª Ordem, Principado (guia na execução dos atos e dirigem os destinos das nações);

2ª Ordem, Arcanjo (anuncia importantes missões aos homens e guarda as pessoas que desempenham importantes funções para a glória de Deus, como o Papa, bispos e sacerdotes) e a

3ª Ordem, Anjo (anuncia, comunica e protege individualmente cada homem). 

Esta é a ordem hierárquica dos anjos estabelecida em relação à perfeição da glória e ao que a natureza tem e recebeu na origem de sua criação.


A beata Anne Catherine Emmerich em uma de suas revelações  disse que: "cada paróquia e diocese, cada cidade e país tem seu próprio anjo da guarda particular e poderoso.".

Outro que devotava grande devoção aos anjos era Padre Pio, que desde criança, dizia vê-los. Dizia, aos seus filhos espirituais, que se precisassem: "enviem-me o seu anjo da guarda.". E assim, durante várias horas, de dia ou noite, ouvia as mensagens trazidas por seus respectivos anjos da guarda. Dentre tantos casos relacionados entre Padre Pio e Anjos da Guarda, registra-se um em que: "Um homem contou para Padre Pio: 

- Não posso vir vê-lo freqüentemente. Meu salário não me permite tais viagens longas e caras. 

Ao que respondeu Padre Pio: 

- Quem lhe disse que precisa vir aqui? Você tem seu Anjo da guarda, não o tem? Conte-o o que quer, e o envia a mim, e você terá a resposta!


Querida filha de Jesus:

Que o teu coração sempre seja o templo da Santíssima Trindade, que Jesus aumente em teu espírito o ardor do seu amor e que Ele sempre te sorria como a todas as almas a quem Ele ama. Que Maria Santíssima te sorria durante todos os acontecimentos da tua vida, e abundantemente substitua a mãe terrena que te falta.

Que teu bom anjo da guarda vele sempre sobre ti, que possa ser teu guia no áspero caminho da vida. Que sempre te mantenha na graça de Jesus e te sustente com suas mãos, para que tu não tropeces em nenhuma pedra. Que te proteja sob suas asas de todas as armadilhas do mundo, do demônio e da carne.

Esforça-te, Annita, por ter uma grande devoção a esse anjo tão benéfico. Que consolador é saber que perto de nós há um espírito que, do berço ao túmulo, nunca nos abandona, nem mesmo quando nos atrevemos a pecar! E este espírito celestial nos guia e protege como um amigo, um irmão.

É mais consolador ainda saber que esse anjo ora sem cessar por nós, oferece a Deus todas as nossas boas ações, nossos pensamentos, nossos desejos, se são puros.

Por caridade, não te esqueças desse companheiro invisível, sempre presente, sempre pronto a nos escutar e mais ainda a nos consolar. Ó deliciosa intimidade! Ó feliz companhia! Se soubéssemos pelo menos compreendê-la…!

Mantém sempre [teu anjo] diante dos olhos da alma, recorda-te com frequência da presença desse anjo. Agradece, ora, nutre sempre para com ele uma boa companhia. Abre-te e confia a ele teus sofrimentos. Toma sempre cuidado para não ofenderes a pureza do seu olhar: toma conhecimento e fixa bem esta verdade em tua alma. Ele é muito delicado, muito sensível. Dirige-te a ele em momentos de suprema angústia e experimentarás os seus benéficos efeitos.

Nunca digas que estás sozinha na batalha contra os teus inimigos. Nunca digas que não tens ninguém com quem te possas abrir e confiar. Isso seria uma grande ofensa que se faria a este mensageiro celestial.

No que diz respeito às locuções interiores, não te preocupes, fica tranquila. O que sim deves evitar é prender o teu coração a estas locuções. Não dês muita importância a elas, mostra-te indiferente. Não a desprezes; porém não ames nem desejes tais coisas. Deves sempre responder a estas vozes assim: “Jesus, se sois vós quem me falais, fazei-me ver concretamente os efeitos da tua palavra, ou seja, as santas virtudes em mim.”

Humilha-te diante do Senhor e confia nele. Gasta tuas melhores energias com a graça divina praticando as virtudes, e deixa então que a graça opere em ti conforme a vontade de Deus. São as virtudes que santificam a alma, e não os fenômenos sobrenaturais.

Não te perturbes procurando saber entender quais locuções vêm de Deus. Um dos principais sinais de que estas locuções vêm de Deus é que, tão logo ouvimos estas vozes, nossa alma se enche de temor e perturbação, mas logo em seguida deixam a alma numa paz divina. Por outro lado, quando as locuções interiores provêm do inimigo, no início provocam uma falsa segurança, mas logo em seguida vêm uma perturbação e um mal-estar indescritíveis. Não duvido em absoluto de que Deus seja o autor de tais locuções; mas é preciso que sejas cautelosa, porque muitas vezes o inimigo pode misturar ali coisas que são dele.

Mas isso não te deve assustar: esta é uma provação à qual foram também submetidos os maiores santos e as almas mais iluminadas que, não obstante tudo isso, foram agradáveis ao olhar de Deus.

Deves somente prestar atenção a nunca crer facilmente nestas locuções, e de forma especial quando se trata daquelas que exigem que faças algo ou indicam o modo de agir. E cuida de, ao recebê-las, submeter tudo ao juízo de quem te dirige espiritualmente, obedecendo às suas decisões.

Recebe, portanto, tais locuções com muita cautela e com humilde e constante indiferença. Comporta-te dessa maneira e tudo fará crescer teus méritos diante do Senhor. Põe teu espírito em paz: Jesus te ama e muito. Quanto a ti, procura corresponder a este amor, sempre progredindo em santidade diante de Deus e dos homens.

Faze também orações vocais, pois ainda não chegou a hora de deixá-las e suporta com humildade e paciência as dificuldades que experimentas ao fazer isto. Prontifica-te também a sofrer as distrações e a aridez, mas nunca abandones a oração e a meditação. É obra do Senhor que assim deseja tratar-te para teu proveito espiritual.

Perdoa-me se termino por aqui. Só Deus sabe o muito que me custou escrever esta carta. Estou muito doente; reza bastante para que o Senhor queira logo me livrar deste corpo.

Eu te abençoo, e também à querida Francisca. Desejo que vivais e morrais nos braços de Jesus. 

Frei Pio

 

Padre Pio tinha rezava diariamente ao seu Anjo da Guarda, a seguinte oração:

Anjo de Deus, meu guardião,

a quem a bondade

do Pai Celestial me confia,

Ilumine, proteja e guie-me agora e para sempre.

Amém.


durante a noite  “Oração do Santo Anjo para Antes de Dormir.”:

“Santo anjo da guarda, meu poderoso protetor, guardai-me sempre na paz de vosso amor. 

Dos perigos, livrai-me; do mal, libertai-me; e nos momentos de angústia, consolai-me! Durante o sono, velai sobre o meu descanso, não deixeis o mal de mim se aproximar. 

Sob as asas do seu amor, possa meus sonhos habitar! Nesta noite de luz, afugentai as trevas do medo, afastai também as tentações, para que minha alma tranquila descanse sem aflições. 

E que no alvorecer de um novo dia, eu acorde feliz e restaurado, e seja para o mundo testemunha de ser sempre por vós amado!”




ORAÇÃO AO  ANJO DA GUARDA DO BRASIL 

Santo Anjo do Brasil, vós fostes encarregado pelo Pai Eterno de guardar esta Terra de Santa Cruz e ajudá-la a crescer e desenvolver-se conforme Seus desígnios benevolentes. 
Nós cremos no vosso poder junto de Deus e confiamos na vossa prontidão em socorrer-nos. Sede, pois, nosso guia para que cumpramos convosco a nossa missão no mundo. 
Ajudai a Igreja no Brasil a anunciar Cristo com franqueza e alegria e penetrar toda a sociedade com o fermento do Evangelho. 
Afastai, com a força da Santa Cruz, todos os poderes inimigos que ameaçam os brasileiros. 
Unimos as nossas preces às vossas. Apresentai-as diante do Trono de Deus, para que, unidas ao sacrifício de Jesus, oferecido diariamente em nossos altares, alcancem aquelas graças que mais precisamos nesta hora de combate espiritual. 
E guardai-nos sempre debaixo do manto protetor de Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe e Rainha, para que permaneçamos fiéis no caminho de Jesus, o único que nos conduz da terra ao Céu. Lá na assembleia de todos os povos, unidos como uma só família de Deus, louvaremos e agradeceremos convosco ao Pai Eterno, com seu Filho e Espírito de Amor, por toda eternidade. Amém. 
 04/11/1934, Ação Católica, A Cruz. 

 

Artigos Correlatos:

A Infiltração Religiosa - A Fórmula Imperialista de Desfragmentar Nações



quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A Imigração Francesa Para o Brasil


A imigração francesa é completamente ignorada pelos dados estatísticos do IBGE, dentre outros, bem como na literatura sobre o tema. Talvez, por falta de dados oficiais. Embora existam e encontrem-se dispersos. Algumas estimativas apontam a vinda de 250 a 300 mil imigrantes franceses para o Brasil, oque a colocaria entre as cinco maiores correntes imigratória para o País. Contudo, dados mais conservadores e lastreados em registros mais fidedignos, sugerem entre 100 a 150 mil franceses. Ainda sim, é um número expressivo que coloca a imigração francesa logo em seguida as cinco maiores. Embora, não figure dentre as maiores, concorre, com a portuguesa e alemã, entre as mais antigas. E a exemplo da portuguesa, embora, diminuta, se revela constante, ante outras que cessam, e também, como a portuguesa, embora tenha uma maior concentração em determinados centros, Rio de Janeiro e São Paulo, notadamente, se faz presente em todo o País. 


A Presença Francesa no Período Colonial:

A presença francesa no Brasil concorre com a portuguesa, dentre as mais importantes na sua formação. O brasileiro é fruto do concubio entre pai português e mãe franco-brasileira, e não propriamente índia, como passou para história. Catharina (Paraguaçu) matriarca dos brasileiros é talvez a expressão maior desse entrelaçamento, filha de uma francesa que se casa com um português Diogo Alvares (o caramuru) dando origem a um dos principais troncos formadores da nação brasileira. Esse processo se operou em todo o Brasil, e os casamentos, entre portugueses e mulheres "indigenas" quase que imediato a conquista de tribos inimigas até então aliadas aos franceses, evidenciam de maneira muito clara a preferencia de portugueses solteiros por essas mamelucas franco-brasileiras. Essa presença francesa no Brasil se extende durante todo o primeiro século de formação. 

Com as invasões holandesas, estima-se que os franceses compunham 7% das forças da Companhia das Índias Ocidentais, oriundos da região da Picardia (fronteira com a Bélgica) notadamente. E muitos desses, católicos, desertaram, e passaram para o lado dos brasileiros, algo entre quinhentos a mil homens, resultando entre 70 a 140 mil descendentes desses, na atualidade, no nordeste do Brasil.

Nos séculos seguintes, até início do XIX, ainda se registra a presença de franceses, sob a forma de clérigos, comerciantes e por vezes como corsários. 

Em 1704, dar-se conta de franceses casados com filhas dos principais da terra em ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foi um francês,  Ambrozio Jauffret, de Marselha, radicado em São Paulo durante 30 anos, aonde casou e teve filhos, que prestou informações ao corsário René Duguay-Trouin para o saquear a cidade do Rio de Janeiro em 1711.

Ao longo do século XVIII, com a descoberta das minas, registra-se a vinda de franceses empenhados no ramo mineralogico, ouriversaria, e joaleiria, não somente em Minas Gerais, como em outras regiões que potencialmente vislumbravam essa possibilidade. Caso de: Jean Fontaneilles, que se estabeleceu em Viçosa do Ceará em 1724, mineralogista a serviço da coroa portuguesa, e que deixou larga descendencia; Louis-Claude de Saunier, que se estabeleceu em Paraty, e posteriomente na cidade do Rio de Janeiro (1740); Louis-François Rifflard, comerciante de escravos, diamantes e ouro, se estabelecendo no Rio de Janeiro, Paraty e posteriormente Ouro Preto-MG (1740); Pierre Lecomte, estabelecido em Salvador, Bahia, em 1760, aonde casou e teve filhos; Jean-Pierre Barral, imigrante em Florianópolis-SC, em 1789, casou com Maria Joaquina de Oliveira e Silva, natural da região; dentre outros..... é nesse bojo, embora, já inicio do século XIX, que advem, pelo lado paterno, os avós de Santos Dumont, o parisiense François Dumont, junto com sua esposa, D.ª Eufrásia François Honnorée Dumont, filha de rico ourives de Bordeaux, na primeira metade do século XIX, e se estabelecem em Diamantina, com negócios de mineração de ouro e lavra de diamantes. Na mesma época, outras famílias francesas se estabeleceram em Minas Gerais.


A imigração francesa pós Brasil Independente:

Finda as Guerras Napoleônicas, com a paz de 1815, numerosos franceses começaram a vir para o Brasil, atraídos pela corte portuguesa no Rio de Janeiro, com alguns se dirigido para a Bahia e Pernambuco.

O contra-almirante francês Julien de la gravière, a bordo do navio Le Colosse no Rio de Janeiro, registrou, em 8 de setembro de 1820, que se encontravam somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses, e que eram frequentes a chegadas de mais, que aumentavam sensivelmente esse número: " [...] nous comptons actuellement environ 3 000 Français rien qu'à Rio de Janeiro et les arrivées fréquentes augmentent considérablement ce nombre".

Na década de 30 do Séc. XIX, ocorre uma intensa imigração de franceses da região da Gasconia, uma região pobre e agrícola, no sudoeste da França, para a América do Sul, especialmente Uruguai e Argentina, tendo uma pequena parte desse contingente aportado no Brasil. Além da pobreza, e falta de terras agrícolas, especialmente, entre os bascos, ante o terreno montanhoso e íngrime dos Pirineus, vigia na época uma política anti-católica pelos liberais, perseguições políticas, oque impeliu muitos bascos do lado francês a imigração. 

No Rio de Janeiro no ano de 1834 contava-se a presença de 3.800 franceses. Constituindo na segunda maior comunidade estrangeira no Rio de Janeiro. Entre 1837-42 estima-se que tenham imigrado para o Brasil 25 mil franceses. A guisa de comparação para a Argentina, nesse mesmo período, 29 mil, e para o Uruguai 10 mil. Ao final desse ciclo, décadas mais tarde, esse contingente totalizará 239 mil imigrantes da França (maioria bascos) para a Argentina. Para a América do Norte esse contingente foi ainda maior, 480 mil. Houve na década de 40 do Séc. XIX um grande fluxo imigratório de franceses para os EUA, atraidos pela descoberta do ouro californiano. Quando esse ciclo finda em 1851, esse fluxo é direcionado para as grandes capitais da América do Sul, especialmente Buenos Aires, Montevideo e Rio de Janeiro. Daí pode-se mais uma vez mensurar o quão infíma foram os contingentes imigratórios para o Brasil. 

Doravante, gascões representarão o principal contingente imigratório francês, conjuntamente com bascos do lado francês, posto imigrarem via porto de Bordeaux e Bayonne. Mais das vezes um gascão será tomado por basco e vice-versa. Na Argentina e Uruguai, muitos imigrantes bascos advem desse período, pelo lado francês. Nesse bojo, concorrerá também uma minoria de outras regiões, muitos desses, profissionalmente bastante qualificados: engenheiros e profissionais autononomos. 

A Missão Artistica Francesa (1816)

A chegada da corte joanina no Brasil, fujidos das tropas napoleônicas, paradoxalmente, trouxe consigo uma enorme influência francesa, antes inexistente no Brasil. A guisa de exemplo, a corte adotava em seus protocolos palacianos, a língua francesa. Oque só foi parcialmente extinto pela Imperatriz D.ª Leopoldina, que fez adotar o português. Oque explica a posterior francofilia de D. Pedro II. A lembrar que a segunda esposa de D. Pedro I, a Imperatriz D.ª Amélia, madrasta do pequeno D. Pedro II, era francesa, sobrinha de Napoleão Bonaparte. 

A Missão Artistica francesa ganha destaque nesse contexto. Foi o ministro D. Antônio de Araújo de Azevedo, o conde da Barca, diplomata português e profundo admirador dos ideais franceses, quem teve a iniciativa de chamar um grupo de artistas e intelectuais diretamente da França (1816). Composta por artistas plásticos, arquitetos, músicos, carpinteiros, serralheiros, chefiada por Joachim Lebreton, com objetivo de instalar o ensino das artes e ofícios no Brasil através da construção da Academia de Belas Artes. 

A vinda desses franceses mais do que uma “missão”, constituiu uma colônia de refugiados. Compostos, em sua maioria, por partidários da frustrada restauração dos Bourbons, de ideais absolutistas e conservadores.

Em 12 de agosto de 1816, via decreto, foi criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Sendo designado o arquiteto Victor Grandjean Montigny para construção do prédio da Academia das Belas-Artes, logo paralisada em 1817, ante o falecimento do conde da Barca. E só inaugurada em novembro de 1826. Ante esse fato, os franceses foram transformados em funcionários públicos e pouco aproveitados. Houve desentendimentos e eles espalharam-se pelo Rio de Janeiro onde, motivados pela paisagem exuberante e pela existência de uma burguesia rica e desejosa de ser retratada, continuavam seus trabalhos.

Grandjean de Montigny ajudou a organizar o ensino da arquitetura e das artes e a implantar o estilo Neoclássico, que seria a tônica de todo o período monárquico. Foi autor de vários projetos, principalmente no Rio de Janeiro, como o Solar Grandjean de Montigny, a Academia Imperial de Belas Artes, o Chafariz da Carioca, entre outros. Muitos desses projetos, como a Academia em 1937, foram demolidos. A atual Casa França-Brasil, outrora Praça do Comércio, depois Alfândega e Tribunal do Júri, entre outros usos, construída em 1820,  foi o primeiro edificio de estilo neoclássico no Brasil. O edifício deveria ser símbolo de poder e modernidade com suas "ideologia da ilustração", "classe" e "proporcionalidade" específicas e novas, levando o Brasil a ingressar oficialmente no estilo mundial. Essas novas concepções cosmopolitas, levantaram fortes oposições dos artistas luso-brasileiros.

Jean-Baptiste Debret, tido como “a alma da missão francesa”. Pintou diversos retratos da família real, quadros históricos e gravuras, que são relatos dos costumes e vida no Brasil do século XIX. Além de pintor, Debret também foi desenhista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil, em 1829. Sua principal obra “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, em três volumes, retratou em suas viagens os indígenas, a sociedade do Rio de Janeiro e assuntos diversos. Debret permaneceu no Brasil até o ano de 1831, aonde dar-se conta, ter deixado um filho. Junto com Nicolas-Antoine Taunay, foi o primeiro artista profissional a chegar ao  Brasil desde o século XVII quando da invasão holandesa.


As Colonias Agrícolas Francesas

A imigração francesa para o Brasil foi um fenômeno essencialmente urbano, centrado nas grandes capitais brasileiras. Porém, houveram tentativas de colônias agrícolas. A recordar que os colonos suíços que fundaram, de forma pioneira, a colonia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro em 1818, eram francófonos. 

Benoit-Jule Mure
Entre essas iniciativas, destaca-se a fundação da Colonia Industrial de Sauí em 1841,  em Santa Catarina, na atual divisa com o Paraná, no estuário do rio Ivaí,  que protagonizou a primeira experiencia real de socialismo no Brasil. Inspirado nos ideais socialistas de Charles Fourier, que pregava uma forma de trabalho cooperativo ante os malefícios do capitalismo e sua degeneração moral, organizada em "Phalanstères": 

O Falanstério seria uma estrutura social e arquitetônica destinada a reunir um grupo de pessoas que viveriam e trabalhariam juntas em harmonia. O falanstério visava abrigar um número relativamente grande de pessoas em uma comunidade autossuficiente, onde todos contribuiriam para o trabalho e compartilhariam os frutos desse trabalho. Fourier acreditava que a sociedade deveria ser organizada em grupos chamados de "falanges", com cerca de 1.600 a 2.000 pessoas. Esses grupos deveriam cooperar em todas as áreas da vida, desde a produção até o lazer. O trabalho seria dividido de maneira que todos pudessem se dedicar a atividades que achassem agradáveis e produtivas, promovendo a ideia de que o trabalho deveria ser uma fonte de prazer e realização pessoal. O falanstério deveria ser projetado de forma a promover a convivência e a colaboração, com edifícios que facilitassem a interação e a eficiência. Fourier também enfatizava a importância da educação e da cultura dentro do falanstério, garantindo que todos tivessem acesso a atividades culturais e intelectuais.

Benoît-Jules Mure, foi o responsável pela implementação deste projeto no Brasil. 

A descoberta de jazidas carboníferas em Santa Catarina, pareceu propiciar a Mure, o local ideal para instalação de um falanstério (uma colonia industrial de regime cooperativista).

Jamain, Derrion e cerca de outros quarenta franceses se estabeleceram nas terras do Palmital.

entre fins de 1841 e início de 1844, cerca de 500 colonos vieram da França, oriundos da região de Lorraine-Alsácia. Um relatório de Charles Leclerc de novembro de 1843 fala de 236 os colonos em São Francisco, localidade da colônia. No relatório de Derrion em fins de 1844, aponta menos de três dezenas na área. A maioria dispersou ainda no Rio de Janeiro, bem como na região de São Francisco do Sul - SC, tendo alguns rumado para o Uruguai. 

Projeto do que deveria ter sido o Falanstério de Sahy

Por volta de 1847, foi criada a Colônia Dr. Faivre, rebatizada como Colonia Thereza Christina (em homenagem a então imperatriz do Brasil), atualmente, município Cândido Abreu-PR, às márgens do rio Ivaí, pelo médico francês Dr. Jean Maurice Faivre, que contava 87 colonos: 65 franceses e 22 belgas, e posteriomente brasileiros. Em sua maioria esses "franceses" eram etnicamente alemães  de Lorraine-Alsácia, região disputada entre França e Alemanha.

Região de Lorraine e Alsácia
disputada por França e Alemanha
Na mesma época, também no Paraná, na década de 1850, franceses se estabeleceram na Colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá. Em 1868 foi criada a Colônia Argelina na região que hoje é o bairro do Bacacheri, em Curitiba. Em Curitiba é realizado desde 1988 pela Aliança Francesa a Festa da Francofonia. Estima-se que na década de 2010 o Paraná tinha cerca de seiscentas famílias descendentes de franceses.

Em 1850, foi fundada a colônia de Superaguy, na baía de Paranaguá.  Em Curitiba, no que hoje é o bairro Bacacheri, foi fundada a colônia argelina, franceses antes estabelecidos na Argélia e que advieram para o Brasil. Em 1858 contava 22 franceses 

Em 1875 foi fundada a colônia de Assungui, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, havendo uma dispersão desses colonos para outros locais. 


 publicação, em 1859, por parte do governo francês de uma "mise em garde" contra as tentativas de engajamento de emigrantes para o Brasil. Em 1875, dois decretos (14/04 e 30/08) proibiram o recrutamento para o Brasil e a Venezuela ( no caso do Brasil proibição só levantada no final dos anos 1890).


1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, advindos do Uruguai, que ante os tumultos políticos locais em Montevideo, não aportaram. Chegados em Recífe, ante as dificeis circunstancias enfrentadas, a maior parte preferiu migrar para o Pará, ou retornar para França.

1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses, 

  • 1841, Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí
  • 1841, Palmital, 40 colonos advindos da colônia do Saí. 
  • 1847, colônia Tereza Christina, em Cândido de Abreu - PR.
  • 1847, colonização do vale do Mucuri-MG.
  • 1875, colônia de Assungui - PR, no município de Cerro Azul, com 338 franceses e 875 brasileiros, que se dispersaram para outras localidades.
  • 1875, Pernambuco, o financista português Joaquim Lopes Machado, facilitou a imigração de 295 franceses, tendo a maior parte partido, migrando para o Pará, ou retornaram para França.
  • 1876, Benevides-PA, 106 colonos franceses.
  • 1880, Colonia de Santo Antonio, Pelotas-RS, colonizada por 50 famílias francesas, advindas em sua maioria de Provença.


A Imigração Francesa para o nordeste do Brasil: 

Principais centros de imigração francesa
ao nordeste do Brasil. 
A França por volta de 1840, foi afetada por uma grave seca, que atingiu em cheio sua população rural. A miséria e o desemprego, forçou um grande contingente a imigração para as Américas. Como já dito, em sua maioria bascos e gascões do sudoeste da França, que tiveram como especial destino a  Argentina e o Uruguai. Com uma parte vindo para o Brasil, marcadamente, para as grandes capitais do nordeste do país: Salvador, Recífe, Fortaleza, e São Luís.

Registros da imigração francesa indicam que, entre 1851 e 1914, 35 mil franceses imigraram para o nordeste do Brasil. Dados parciais do consulado da França em Salvador, na época, revelam um crescimento da comunidade francesa na cidade, passando de 592 indivíduos em 1861 para 6 mil em 1872.

Essa presença francesa, é bastante reveladora para a explicação fonética, na ênfase, da pronuncia do "r" aveolar (o "r" de carro) que se verifica na região. Fenômeno também constante no Rio de Janeiro, outro grande centro de imigrantes franceses.

Alguns filologos, sugerem, a título hipotético, sem maiores estudos sobre o tema, e que são bem escássos, uma suposta influencia holandesa para justificar esse "r" aveolar na região. Ocorre, que no interior, nos sertões, aonde tem-se uma descendencia holandesa mais consistente, ante a endogamia remanescente do meio rural, esse "r" não é tão marcante quanto nas grandes capitais. A imigração francesa, nesses grandes centros, explica o fenômeno. Além claro, da influência da língua francesa entre as famílias mais abastadas e com acesso a educação.

 
As Cifras da Imigração Francesa

A embaixada da França em 2013, informava haver 2 mihões de descendentes de franceses no Brasil. Em uma progressão, isso equivalia a cerca de 100 mil imigrados originalmente. Outras estimativas levantadas a cerca da imigração basca, notadamente, advinda do lado francês, apontava 100 mil imigrados entre 1850 e 1965. 

Como dissemos inicialmente, os números são conflitantes, e variam. O IBGE, ao menos publicamente, se quer menciona a imigração francesa. O Arquivo Público Nacional registra apenas 34 mil imigrados franceses. É um número bem aquem da realidade. 

Dados oficiais franceses, registram que somente para o nordeste do Brasil, imigraram 35 mil franceses entre 1851 à 1914 . A considerar que o fluxo imigratório francês para centros como Rio de Janeiro e São Paulo foram muito maiores. E se iniciam em 1815, com o fim das guerras napoleônicas, com fluxo tanto para o Rio, quanto para Bahia e Pernambuco. Em 1820, o contra-almirante francês Julien de la gravière, dizia haver somente no Rio de Janeiro 3 mil franceses. No ano de 1834, ainda no Rio de Janeiro, contava-se 3.800 franceses. Constituindo a segunda maior comunidade estrangeira da cidade. 

Na década de 40 do Séc. XIX, houve uma grande imigração francesa para os EUA, atraidos pela descoberta de ouro na California. Quando esse ciclo finda em 1851, esse fluxo é direcionado para as grandes capitais da América do Sul, especialmente Buenos Aires, Montevideo e Rio de Janeiro. Dados parciais da imigração basca na América do Sul, estima em 25 mil imigrantes franceses de origem basca para o Brasil entre 1837 à 1842. A guisa de comparação, nesse mesmo período, para a Argentina, registrou-se 29 mil, e para o Uruguai 10 mil. Ao final desse ciclo, décadas mais tarde, esse contingente totalizará 239 mil imigrantes da França (maioria bascos) para a Argentina. Para a América do Norte esse contingente foi ainda maior, 480 mil. Daí pode-se mais uma vez mensurar o quão infíma foi os contingentes imigratórios para o Brasil. 

Por volta de 1837-1842Por volta de 1843-1850
EuropeusfrancêsEuropeusfrancês
Brasiln / cn / c250.000 (estimado) *25.000 (estimado)
Argentinan / c6.000 (estimado)300.000 (estimado)29.000 (estimado)
Uruguai30.00018.00020.00010.000


O arquivo Nacional registra que entre 1875-1910, 18.920 franceses aportaram no Rio de Janeiro.

O consulado da França em fevereiro de 1911, estimava em 11 mil a presença de franceses vivendo no Rio de Janeiro, em resposta ao ministro Stephen Fichon.

Em 1915, 14 mil imigrantes franceses, 6 mil em São Paulo, 4 mil no Rio de Janeiro, 1 mil no Rio Grande do Sul, 700 no Paraná, e 350 Bahia.

O Censo Republicano de 1920, apontava 31.984 franceses morando no Brasil. São Paulo contava com a maior parte desses imigrantes, contabilizando 13.576. Em seguida, vinham o Distrito Federal (na época, a cidade do Rio de Janeiro) com 10.538 franceses e o Rio Grande do Sul com 4.216. No estado de São Paulo, as cidades com os maiores números eram a capital (3.859), Santos (581), Campinas (389), Taubaté (371) e Ribeirão Preto (361). No Rio Grande do Sul, Porto Alegre tinha 2.356 franceses, seguido por Pelotas (775) e Rio Grande (730).

Outras fontes francesas estimam em 30 mil imigrados entre 1850 à 1889, 60 mil entre 1889 à 1914, e de 30 à 40 mil entre 1914 e 1930. Totalizando entre 100 à 120 mil franceses que imigraram para o Brasil. Ponderando que são cifras inferiores as anteriores. A notar o lapso temporal de 1815 à 1850:
"Au total, on peut estimer que entre 100 000 et 120 000 Français ont immigré au Brésil entre 1850 et 1930. Ce chiffre est inférieur aux estimations antérieures, qui étaient souvent beaucoup plus élevées. Cependant, il est basé sur une analyse plus rigoureuse des données disponibles."
É dificil mensurar nas estatísticas, que se seguem a outros levantamentos estatísticos de anos posteriores, quantos seriam os remanescentes e quantos seriam novos imigrados. De modo, que nos valendo de cifras mais isoladas podemos chegar a numeros mais fidedignos sem incorrer em erro. Assim, por exemplo, a menção de 3 mil franceses no Rio de Janeiro em 1820, limitamos essa quantidade ao censo de 1834 da cidade do Rio de Janeiro que registrava 3.800 franceses.

Ante os numeros oficiais e fidedignos registrados podemos fazer um balanço que se chega ao número de cerca de 95,5 mil imigrantes franceses entre 1820 à 1920:
  • 1834: 3.800 (censo da cidade do Rio de Janeiro)
  • 1851-1914: 35 mil (dados franceses referentes somente ao nordeste do Brasil)
  • 1872: 2.884 (cidade do Rio de Janeiro)
  • 1882-91, o porto de Santos  registrou  a  chegada  de 1.922  franceses. 
  • 1875-1910: 19 mil (registro nacional referente, somente, a imigrantes chegados ao Rio de Janeiro)
  • 1920: 32 mil (censo republicando, nacional)
Os dados de 1851 à 1914, de 35 mil imigrantes franceses, são referentes apenas ao nordeste do Brasil, há um lapso geral referente a imigração para o sul, e que por certo houve uma imigração tão ou mais forte quanto a que se dirigiu para o nordeste. De 1875-1910 temos 19 mil imigrantes, somente na cidade do Rio de Janeiro! Novamente, um imenso silêncio no restante do País. E no censo republicano, nacional, de 1920,  32 mil.

Somadas, essas cifras alcançam 97,5 mil imigrantes franceses. Ressaltamos a imensa lacuna, no mesmo período, verificadas em outras regiões do País, que por certo receberam imigrantes. Um paralelo, com outras correntes imigratórias, mostram que as décadas de 20 à 40, houve um surto imigratório tão ou mais alto do que em períodos anteriores. Então é de supor, que mesmo, inferior a outros contingentes, tenha havido nesse período, também, um afluxo de imigrantes franceses para o Brasil. E que, espantosamente, não aparece nas estatísticas. Assim cifras que estimam entre 100 a 120 mil imigrantes franceses, são bastante realistas. 


A Influência Francesa

A imigração francesa, dentre as outras, foi a mais desejada durante todo período monárquico e que, paradoxalmente, a que menos se efetivou. No que pese, ter sido até o início da República, a terceira maior, atrás somente da portuguesa e italiana, e a frente da alemã.  Ainda, que menor do que as outras 5 maiores, ao menos, no plano intelectual, foi indiscutivelmente a de mais larga influência. Se os jesuítas, foram nossos professores primevos nos dois primeiros séculos de nossa formação, ao longo do Séc. XIX e parte do XX, esse posto foi ocupado pelos franceses.  Com a chegada da Missão Francesa em 1816, não somente a arte neoclássica atracou no Brasil, mas idéias de higiene e saneamento, iriam modificar o urbanismo das cidades. A cidade-luz foi referência constante e direta para o desenvolvimento das artes plásticas, da arquitetura, da literatura, da gastronomia, da educação e também do setor industrial e político. As idéias socialistas, eugenistas (Conde Gobineau, um dos mais destacados difusores das idéias eugênicas, era amigo pessoal de D. Pedro II), o positivismo que virá a infuenciar o surgimento do Castilhismo, são influências diretamente francesas. E que influirão a intelligentsia brasileira até a Segunda Guerra, quando essa influência decai em favor da estadunidense. Traçando um paralelo entre a influencia francesa e estadunidense, podemos dizer que ambas sufocam um pensamento nacional autóctone, que enxergue com lentes mais realistas nossos problemas. Mas, há diferenças. O pensamento francês, visava como fim único um bem público, essencialmente humanista, o estadunidense reduz tudo e a todos a mercadorias, a um individualismo todo contrário a tradição civilizacional latina, ocidental, do qual a França também é como nós parte e herdeira. 




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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Literatura

“A língua de um povo é a voz de seus ancestrais ecoando no tempo, suplantando a morte e mantendo viva sua memória, ligando seus descendentes ao veio antigo e comum aos quais pertencem. Bastião de sua identidade!”



Eneias, o Modelo Romano do Homem Ocidental


A Eneida de Virgílio, mais do que a Ilíada ou a Odisséia de Homero, encarna o ethos do homem ocidental. Apesar da inegável influência helênica sobre os romanos, essa influência foi mais intelectual e estética do que moral. No âmbito moral, o romano é a antítese do homem grego, já decadente na época da conquista romana. No entanto, mesmo antes, em confronto com os grandes pensadores gregos da antiguidade, entre os quais o próprio Homero, o romano demonstrava total aversão à moral helênica. O filósofo grego pré-socrático, Xenófanes, crítico da moralidade da época, diz: "Homero e Hesíodo atribuíram aos seus deuses todas as coisas que são uma desgraça para os mortais: roubo, adultério, enganar uns aos outros." Enquanto Odisseu, na obra de Homero, é ardiloso, vingativo e sem nenhum escrúpulo moral, Enéias, personagem central da Eneida de Virgílio, encarna o romano ideal, detentor de três das mais estimadas virtudes romanas: 

virtus: conjunto  de  qualidades morais, como a bravura, a retidão e a coragem, forjada no crisol da honra; 

fides: a fidelidade, o respeito e a lealdade que tecem os laços entre homens e as instituições; e  a 

pietas: a mais nobre das três, que abraça regras de comportamento, reverência e obediência. É a devoção à gens (linhagem), à Pátria e aos laços naturais com pais, filhos e parentes.

primeiros versos da Eneida em vernáculo nacional, português, por três diferentes autores em diferentes épocas. Poucas línguas no mundo 
permitem traduções tão fidedignas e líricas como o original, e claro, concomitante ao talento dos autores.

A pietas, dentre as três, é mais estimada, por sintetizar as demais. Os membros da comunidade familiar, unidos sob a proteção da patria potestas e projetada pelo culto aos antepassados. Daí provém o sentido cristão de piedade, como prática de veneração ao divino e compaixão para com a divindade. 

Júpiter todo ­poderoso, se tu não odeias ainda os troianos até o último, se a tua antiga piedade lança ainda um olhar sobre as misérias humanas, concede à nossa frota escapar agora às chamas, ó pai, e salva da destruição o pobre recurso dos Teucros! (Eneida V)

Enéias revela-se como o portador da pietas, a qualidade essencial que o distingue. Manifesta em seu respeito e obediência aos deuses, permeando todas as suas decisões. Tamanha é sua obediência que, mesmo apaixonado pela rainha Dido, a abandona para cumprir sua sina, guiado pelo fatum, a crença no destino, a que até os próprios deuses estão submetidos, e que impunha, aos romanos, as agruras, vicissitudes, guerras e ódios a suportar, para, assim, alcançar seu glorioso destino revelado naquele momento pelo próprio Deus Júpiter.

Enquanto Enéias foge de Tróia (Livro 2), Virgílio o descreve carregando seu pai idoso (Anquises) nas costas enquanto conduz seu filho (Ascânio) pela mão. E dá instruções à sua família sobre como escapar de Tróia:

Venha então, querido pai, segure meu pescoço: vou

Carrega-lo em meus ombros: essa tarefa não me é um peso.

Aconteça o que acontecer, será para nós dois, o mesmo risco compartilhado,

e a mesma salvação. Deixe o pequeno Lulus vir comigo,

e deixa minha esposa seguir nossos passos à distância.

Vocês, servos, prestem atenção ao que estou dizendo.

Na entrada da cidade há um monte, um antigo templo

de Ceres abandonado, e um venerável cipreste próximo,

protegido ao longo dos anos pela reverência de nossos ancestrais:

vamos para aquele lugar por diversos caminhos.

Você, pai, pegue os objetos sagrados e os Deuses de nosso País,

em suas mãos: até que eu tenha lavado as minhas em água corrente,

seria um pecado para mim, vindo de tal luta

e matança recente, tocá-los.

Enéias, detém dois componentes importantes da pietas, a devoção à família e aos deuses. A preocupação com o bem-estar de sua gens também é prova de sua pietas. Ao aportar no norte da África, após uma tempestade (Livro I), busca um terreno elevado para avistar sobreviventes dos outros navios de sua frota. Em seguida, dedica-se à caça, assegurando de abater carne suficiente para todos os que o acompanham. Consciente do abatimento de seus seguidores, Enéias esforça-se para confortá-los, ocultando suas próprias ansiedades. Em muitos aspectos, Enéias encarna o líder romano ideal: capaz de assumir o comando, mas preocupado com o bem maior do grupo, e não com seus próprios interesses pessoais. 

Apesar das pietas inerentes de Enéias, ele muitas vezes é vítima de suas próprias emoções e sucumbe ao furor. Durante o saque de Tróia, apesar das repetidas mensagens dos deuses, ele é freqüentemente dominado pela luxúria da batalha e pelo desejo de se vingar dos gregos, e só quando sua mãe deusa intervém que ele aceita seu destino de salvar os sobreviventes de sua pessoas e encontrar um novo lar. Da mesma forma, no norte da África, ele se apaixona apaixonadamente pela rainha cartaginesa Dido, é a "loucura" do amor que faz Enéias esquecer temporariamente sua viagem e ficar em Cartago. O caso de amor de Enéias e Dido é descrito em termos que evocam furor, com imagens de fogo e tempestades. Mas o maior conflito no poema entre furor e pietas vem bem no final.

Quando Enéias chega à Itália, ele inicialmente recebe uma recepção calorosa da população local (os latinos), cujo rei, Latinus, predestina Enéias a se casar com sua filha Lavínia. No entanto, outro príncipe italiano, Turnus, também deseja casar com Lavínia, fica furioso com a chegada dos troianos e, instigado pela deusa Juno, provoca uma guerra entre os itálicos e os troianos. A segunda parte da Eneida narra os acontecimentos desta guerra e, quando chegamos ao último livro do poema (Livro 12), encontramos muitos jovens personagens solidários que perderam a vida. Neste ponto do poema, Turnus matou o jovem amigo de Enéias, Pallas, e Enéias foi dominado pela fúria e pela tristeza. No Livro 11, houve uma breve trégua entre os dois lados, para permitir-lhes reunir os cadáveres e pranteá-los, e Enéias propôs que ele e Turnus se encontrassem em um combate individual para resolver o conflito, mas a trégua foi quebrada. antes que uma decisão pudesse ser tomada.

No início do Livro 12, Turnus decide enfrentar Enéias em um combate individual, e um tratado solene é redigido segundo o qual ambos os lados respeitarão o resultado do duelo. No entanto, os seguidores de Turnus estão descontentes com este acordo, e são instados pela irmã de Turnus, a deusa Juturna, a quebrar o tratado e atacar os troianos enquanto eles estão desprevenidos. Enéias tenta impedir que seus homens participem da luta, mas é ferido por uma flecha perdida, enquanto Turnus se junta à batalha com entusiasmo. Mas quando Enéias é curado magicamente por sua mãe, a deusa Vênus, e retorna à luta, Turnus percebe que deve poupar seu povo de mais sofrimento e então concorda em um duelo novamente. O rei e a rainha dos deuses, Júpiter e Juno, que têm observado os acontecimentos desde os céus, concordam entre si que a guerra deve terminar agora, e Juno concorda em desistir de seu apoio a Turnus e de seu ódio pelos troianos, que irão casar com os italianos e tornarem-se romanos.


Resumo da Eneida

Canto I

A Eneida principia com uma tempestade furiosa, ordenada pela Deusa Juno, quando Eneias parecia próximo de alcançar o fim de sua jornada, a Itália. O ódio de Juno permeia toda a Eneida. Virgílio aponta as duas razões para tal: ela havia apoiado os gregos contra os troianos, dos quais Eneias fez parte durante a Guerra de Troia. E, acima de tudo, Eneias estava destinado a fundar Roma, que destruiria Cartago, cidade amada por Juno. Esta cena de tempestade pode ser comparada à do Canto V da Odisseia, onde Netuno levanta uma tempestade enquanto Odisseu está à vista de Corcyra. Aqui, porém, os papéis se invertem: como Eneias não é grego, mas troiano, Netuno não se apresenta como adversário, mas sim como um aliado, e é ele quem força Éolo a acalmar a tempestade.

Desembarque na Líbia e a intercessão de Vênus:

Os troianos então pisaram na Líbia e partiram para caçar. Após a refeição, Eneias se mostra preocupado com o destino dos demais navios de sua frota (apenas sete barcos haviam conseguido atracar na Líbia). Vênus então intercede junto a Júpiter, a fim de garantir o futuro dos troianos resgatados. Este último a tranquiliza sobre o futuro de Eneias. Ele previu as guerras que Eneias teria que travar no Lácio, a fundação de Alba, a história de Rômulo e Remo, e a ascensão ao trono do imperador Augusto.

Viagem a Cartago e encontro com Dido:

Posteriormente, Eneias e seus companheiros viajaram para Cartago, que não estava distante de onde seus navios haviam atracado. Eneias e seus companheiros decidem então conhecer Dido, a rainha da cidade. Esta era originária de Tiro, onde se casou com Siqueu, um rico comerciante fenício. No entanto, este último foi assassinado pelo rei Pigmaleão, irmão de Dido, que tinha ciúmes de suas riquezas. Dido, então, decidiu fugir, junto com seus companheiros e o dinheiro de seu marido. Ela então foi para a costa da Tunísia, onde fundou Cartago.

Chegada ao palácio e banquete:

Chegando ao palácio, Eneias então encontra alguns de seus companheiros, que haviam sobrevivido ao naufrágio. Os troianos são bem recebidos por Dido, que os convida para um grande banquete à noite.

Depois das libações rituais, a rainha, apaixonada por Enéias, pede que lhe conte sobre suas aventuras.


Canto II: A Narrativa de Enéias: A Queda de Tróia

Enéias narra a queda de Tróia e suas provações:

Os Cantos II e III da Eneida apresentam uma narrativa embutida: Enéias, a pedido da rainha Dido, narra o saque de Tróia (Canto II) e as provações que enfrentou desde então (Canto III).

A artimanha do cavalo de Tróia:
A história da captura de Tróia inicia com o episódio do cavalo de madeira: Odisseu e outros guerreiros gregos se escondem dentro de um cavalo colossal, "tão alto quanto uma montanha" (instar montis equum), enquanto o restante do exército grego se oculta na ilha de Tenedos, à vista de Tróia. Simulando sua retirada, os gregos induzem os troianos a levar o cavalo para dentro da cidade, acreditando ser uma oferenda aos deuses.

A queda de Tróia e a fuga de Enéias:
Ao cair da noite, Odisseu e seus homens saem do cavalo, abrem os portões da cidade por dentro e incendeiam Tróia. Em meio ao ataque, Enéias, em sono profundo, é visitado por Heitor em um sonho. O espectro anuncia a queda de Tróia e ordena que ele salve os penates e fuja. Despertado pelo clamor da batalha, Enéias ignora os avisos de Heitor e, ao presenciar sua cidade em chamas e entregue aos gregos, decide lutar até a morte ao lado de seus companheiros. No entanto, sua mãe Vênus o visita e o persuade a fugir com alguns homens, levando consigo Anquises, seu pai, que carrega nas costas, sua esposa Creusa e seu filho Ascânio (Iule). Apesar de seus esforços, Enéias é incapaz de salvar Creusa, que é morta por um grego após se separar do grupo.


Canto III: Conto de Enéias: A Viagem

A Jornada de Enéias: Destino Revelado

Após a fuga de Tróia, Eneias empreende uma árdua jornada. Em seu périplo, busca um novo lar para o povo troiano, guiado por oráculos e visões divinas.
Em Delos, Eneias consulta o oráculo do deus Apolo, buscando saber onde fundar a nova Tróia. O oráculo profetiza que será na terra ancestral dos troianos.

Interpretação errônea e viagem a Creta:
Inicialmente, Eneias interpreta mal a profecia, segue para Creta, acreditando ser a terra natal de Teucro, o progenitor dos troianos, mas logo percebe que não é o destino final.

Os Penates intervêm e lhe revelam a verdade:
Os Penates, deuses protetores da família troiana, intervêm e revelam a Eneias o verdadeiro significado da profecia. A terra profetizada é o Lácio, na península itálica, terra natal de Dardano, genro de Teucro e fundador de Tróia.


Canto IV: Amor de Eneias e Dido

Dido e Eneias: Amor e Destino 

Dido, persuadida por sua irmã Ana, entrega-se ao amor por Eneias, olvidando o voto de fidelidade ao esposo morto pelo irmão Pigmaleão.
Rumores do romance espalham-se por Cartago. Iarbas, pretendente de Dido, indignado, implora a Júpiter que intervenha. Júpiter envia Mercúrio a Eneias, lembrando-lhe do destino traçado: a Itália.
Dido, ao perceber a partida iminente de Eneias, tenta retê-lo em vão. Surdo às súplicas, Eneias parte à noite com seus companheiros rumo ao Lácio.
Dido, ao despertar e notar a ausência de Eneias, decide suicidar-se. Amaldiçoando Eneias, Dido põe fim à sua vida. Juno, compadecida, acalma sua dor.
No reino dos mortos, Eneias reencontra Dido, mas ela, fiel ao esposo, o ignora.


Canto V: Escala na Sicília e jogos fúnebres

Eneias na Sicília: Tempestades, Jogos e Destino 

Uma tempestade implacável obriga Eneias e seus companheiros a desembarcarem na Sicília. Aceste, troiano de origem, reina na ilha, onde jaz enterrado Anquises, pai de Eneias, morto há um ano.
 Eneias celebra rituais fúnebres e organiza jogos em sua memória. Regatas, corridas, lutas e arco e flecha preenchem a canção.
Juno, inimiga de Eneias, incita Íris a explorar o cansaço das mulheres. Disfarçada como mortal, Íris incita as mulheres a incendiar os navios de modo a forçar os homens a se estabelecerem permanentemente na ilha. Júpiter intervém com chuva, salvando a frota.
Um companheiro, inspirado por Palas, sugere deixar os fracos na Sicília e partir para o Lácio. Anquises aparece em sonho a Eneias, apoiando o conselho e recomendando a visita à Sibila de Cumae. A Sibila guiará Eneias ao Submundo para um encontro com o pai. Eneias parte para Cumae sob a proteção de Netuno, mas o piloto Palinuro morre para salvar a todos.


Canto VI: A Descida de Eneias ao Submundo

A descida ao submundo, a catábase, é uma das passagens mais famosas do épico. Uma viagem iniciática, onde Enéias, guiado pela Sibila, adentra no mundo dos mortos, tomando contato com seus ancestrais, mas, também com seus, futuros, descendentes. A sua Grei.

Chegando em Cumae, Enéias vai para a Sibila. Ela confirma a ele que ele alcançará seus objetivos após provações e guerras. Ele pede que ela o ajude a entrar no submundo para encontrar seu pai Anchises. Sibila o aconselha a levar um ramo de ouro para ofertar a alguém venerável, Caronte. O barqueiro é assim distinguido não só pela idade avançada como pelo labor que desempenha a favor dos deuses junto às almas. O ramo, seria uma paga/recompensa para Caronte e um instrumento, ou meio, de crença para Enéias alcançar o que deseja ­ ver seu pai.

Ele perpassa as diferentes regiões do submundo, até os Campos Elíseos, aonde se encontra com seu pai: Anquises, que mostra a Eneias seus futuros descendentes: os reis de Alba, Rômulo (fundador de Roma), seus sucessores, Bruto, o Velho, Pompeu, Júlio César e, finalmente, Augusto, chamado a fundar um poderoso Império. Eneias então torna à superfície, e parte em direção ao Lácio.


Canto VII: A Chegada ao Lácio

O Livro VII abre uma segunda parte da epopeia: a história das viagens de Eneias é substituída pela das guerras no Lácio.

Os troianos chegam ao Lácio. Em uma observação de Ascânio, Eneias entende que as profecias do oráculo se cumpriram, que chegaram à terra profetizada (cano). Oráculos deixam claro para o rei local, Latinus, que ele deve casar sua filha Lavínia com Enéias, e não com Turno, o belo e jovem rei dos Rutuli.
Juno, para atrasar o destino, envia a fúria Alecto, que desperta ódio contra os troianos entre a esposa de Latinus, Amata, e entre os camponeses latinos. Almon, um jovem escudeiro de Latinus, é fatalmente atingido por uma flecha durante a luta com os troianos. A porta de Jano se abre contra a vontade do rei, e a guerra irrompe.


Canto VIII - Turno, Eneias e a Busca por Aliados 

Turno, resoluto a guerrear contra os troianos, convoca reforços das cidades vizinhas.
Em sonho, Eneias recebe a visita do deus Tiberino, que o tranquiliza sobre seu futuro e o aconselha a se aliar a Evandro, líder dos Arcadianos no Monte Aventino.
Despertando, Eneias encontra em Evandro um lar para os troianos e o apresenta a seu filho Pallas.
Evandro e Eneias buscam aliados. Evandro propõe a Eneias liderar os etruscos de Agylla, libertos do tirano Mezêncio, refugiado com Turnus.
Os etruscos, em pé de guerra, exigem o rei e sua tortura, aguardando apenas um líder estrangeiro para atacar, segundo um oráculo.
Evandro fornece a Eneias um contingente de cavaleiros Arcadianos liderados por Pallas, enquanto Eneias escolhe os mais valentes de seus companheiros.
Os aliados se dirigem ao líder etrusco Tarchon, para cujo filho Vênus traz armadura. Ela pede a Vulcano que forje um escudo para Eneias, adornado com cenas da história de Roma, desde Rômulo até a Batalha de Actium.
O motivo do escudo, como o da tempestade e do catalisador, remete aos épicos homéricos (cf. escudo de Aquiles na Ilíada).


Canto IX

Juno aconselha Turno a atacar os troianos entrincheirados em seu acampamento, enquanto Enéias, com Evandro, está fora para encontrar alianças. A luta parece se voltar para a vantagem dos latinos, apesar do heroísmo de Euríale e Niso, que deixam o acampamento à noite para procurar Enéias: eles são mortos antes de completar sua missão. Ascânio participou da guerra pela primeira vez, e mostrou seu valor matando Numanus, cunhado de Turno. Durante a batalha, os troianos abriram as muralhas da fortaleza, mas as fecharam em Turnus, que conseguiu escapar pulando no Tibre do topo das muralhas.


Canto X

Os deuses, vendo o que está acontecendo no Lácio, decidem se encontrar no Olimpo. Vênus pede a Júpiter que poupe os troianos, enquanto Juno acusa Vênus de desencadear toda essa violência. Júpiter não toma partido.
Por sua vez, Eneias navega para o acampamento de Tróia, acompanhado por seus aliados etruscos e latinos contrários a Mezêncio.
A batalha foi sangrenta e os massacres se sucederam. Quando Turnus consegue matar Pallas, Eneias entra em fúria negra. Para salvar Turnus em perigo, Juno cria um fantasma na imagem de Enéias, que ela dirige para a frota dos Rutuli, e faz com que Turnus o siga. Uma vez que Turnus está a bordo de um navio, ela faz o fantasma desaparecer e o barco zarpa.
Mézence, então, assumiu o comando. Atacando Enéias, ele joga seu dardo nele, que salta do escudo de seu alvo. Eneias então revida, e fere Mezêncio. Lauso, filho de Mezêncio, então decide cobrir a retirada de seu pai, e desafia Enéias, que o mata. Quando Mézentius, que se refugiou mais longe, fica sabendo da morte de seu filho, ele decide, embora ferido, voltar atrás e confrontar Eneias para vingar seu filho. Eneias também o mata com uma espada na garganta.


Canto XI

Os latinos foram divididos em dois campos: de um lado, os partidários de Drances, hostis à guerra, e do outro, os da rainha Amata, favoráveis a Turno. Eneias recebeu Drancès e anunciou sua intenção de fazer uma trégua para honrar os combatentes que haviam perecido durante a batalha. Também insiste em seu desejo de fazer a paz, acusando Turnus de iniciar a guerra.
Turnus, ao saber que os troianos estavam se aproximando da cidade, lançou um novo ataque. As duas cavalarias se enfrentaram e, depois de amargas lutas, os latinos finalmente tiveram que se retirar para sua cidade; Aqueles que não puderam se refugiar antes das portas se fecharem foram impiedosamente massacrados. Turnus consegue voltar a coberto da noite.


Canto XII

Eneias e Turno decidem resolver o conflito em combate único. No entanto, pressionados por Juturno, os italianos interviram na luta, contra as regras, o que provocou uma nova batalha: uma flecha atingiu Enéias. Curado por uma intervenção discreta de Vênus, Eneias consegue fazer com que Turnus retome o combate individual. Ele sai vitorioso. Turnus implora sua misericórdia. Enéias, a princípio tentado a concedê-lo, vê o arreio roubado do jovem Pallas morto por Turno: indignado, Eneias dá o golpe de misericórdia ao chefe de Rutula. O épico termina com uma cena de violência no final da qual Eneias mata um inimigo indefeso. No entanto, acredita-se que a obra esteja inacabada.




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